Nascido Do Sangue

Álcool Não é a Melhor Solução


No dia seguinte Damian acordara tarde, pois somente conseguiu pegar no sono assim que sentiu a cálida luz do amanhecer empestear o quarto, mesmo com as janelas fechadas e cobertas pelas cortinas ainda podia sentir o cheiro da brisa quente de uma manhã de verão, nunca gostou muito de manhãs e tardes ensolaradas, mas naquele instante era apenas disso que precisava para sentir-se seguro ao fechar os olhos e entregar-se a seu traiçoeiro subconsciente.

Quando desceu até a sala de jantar, viu os empregados preparando a mesa para o almoço, havia uma garrafa de um dos refinados vinhos da adega, uma enorme coxa de frango, pão fresco assim como as frutas, e da cozinha estava vindo um suculento aroma de torta de maçã que acabara de sair do forno, de maneira que o jovem não se surpreendia, não sentiu atração por nenhum dos itens disponíveis em seu banquete, exceto o vinho.

O velho mordomo de ar perturbador adentrou a sala e tentou dar-lhe um sorriso amigável, porém aquilo o tornava ainda mais assustador e difícil de confiar.

___ Ah, boa tarde, senhor Petrescu! Como vai?

___ Onde está Grigore?

___ Ah, o senhor Grigore teve que sair assim que o sol despontou, tinha um compromisso, mas mandou-me avisá-lo de que retornaria à noite.

___ Certo.

___ Sente-se, senhor, o almoço irá esfriar.

___ Não estou com fome.

___ Como queira, senhor ___ o sujeito deu de ombros ___, e como posso lhe ser útil?

___ Não quero nada no momento, apenas vou para a sala de estar e não quero que ninguém me incomode até a noite quando Ben voltar.

___ Encarregar-me-ei disto, senhor.

___ Pode ir agora.

___ Estarei na cozinha se precisar.

O velho deu às costas ao moço e andou tranquilamente até a cozinha, Damian nunca gostara dele, sua aparência era séria, usava uma longa barba e bigode grisalhos tais quais seus cabelos curtos, estava ficando calvo e havia várias rugas em volta dos olhos castanhos penetrantes, a voz era tão sombria quanto uma marcha fúnebre e o andar tão lento quanto ao de um morto-vivo, porém com ar elegante e ereto, assim como Benjamin. Andreea havia dito uma vez que ele estava lá desde quando seu falecido marido não passava de um adolescente feito ele.

Assim que ficou sozinho na sala de jantar, Damian pegou a garrafa de vinho e seguiu para o outro cômodo, trancando-se lá e pondo a beber a ponto de absorver até a última gota daquela excelente safra.

Gole após gole e o rapaz ia ficando ainda mais confuso, tinha uma vaga sensação de não lembrar-se de nada, a não ser o momento em que Grigore veio visitá-lo noite passada para dar-lhe os pêsames pela morte da formosa viúva e conversar um pouco com o garoto no intuito de reconfortá-lo, fora isto não recordava-se de mais nada, porém ainda assim algo lhe dizia que não fora apenas isto que acontecera na noite anterior.

A cada dose que ingeria ficava ainda mais incerto dos fatos, não mais sabia o que realmente aconteceu, acordou com uma terrível enxaqueca que somente piorava a cada gole amargamente doce que descia por sua garganta sem propósito algum, estava bebendo por beber.

Precisava ter algo suave e quente ondulando em sua língua, não podia selar seus lábios e mantê-los adormecidos, era quase um pecado lábios tão lascivos quanto os seus serem dispensados assim, precisavam ter uma função, um fim útil para não murcharem, não padecerem.

Abandonara a taça que caíra leve sobre o felpudo tapete, beijava frivolamente a boca da garrafa no intuito de esquecer-se de outras bocas que tocou, apertava os dedos por sobre o vidro escuro querendo poder não mais se lembrar dos corpos em que estes mesmos dedos já desenharam caminhos rubros, engolia secamente o vinho lamentando-se da noite em que provara de outro líquido tão mais sensual e avermelhado.

Os segundos eram contados apesar das batidas de seu coração, ouvia-o com clareza, ali trancafiado entre os muros de ossos, ele gritava, implorava, mas Damian fazia questão de calá-lo ou simplesmente ignorar seu chamado, rejeitar o eco de um desejo que a cada minuto tornava-se incontrolável.

A cada vez que sua boca encostava-se à garrafa, queria realmente tocar lábios verdadeiros, lábios ardorosos e macios, quando apertava a garrafa e a segurava firmemente, queria ter em mãos um pequeno e delicado corpo cansado após ter atingido o orgasmo que o fizera estremecer e quando sentia o vinho doce em sua língua...

À noite Grigore havia retornado à mansão, entrou logo na sala de estar gritando pelo nome do menino, encontrou-o desfalecido no sofá, a garrafa vazia e trincada sobre o tapete e a chama fraca da lareira iluminando o inexpressivo semblante ébrio.

___ Damian? Ei!

Com o polegar e o indicador curvados em forma de gancho ou garras de caranguejo, o lorde levantara delicadamente o pulso do rapaz certificando-se de que estava completamente embriagado e inconsciente, soltou-o fazendo com que a mão de Damian pousasse bruscamente em seu abdômen, observou-o por alguns segundos e com um pesado suspiro falou:

___ Ah, seu idiota!

Uma semana havia se passado e tudo que Damian sabia fazer era embebedar-se e ficar frustrado que não mais conseguia atingir o ponto alto da embriaguez como antes, estava começando a ficar mais resistente e então, a cada manhã procurava aumentar seu teor de álcool no sangue, mas parecia em vão.