Nascido Do Sangue

Vinham-se os Problemas... Vinham-se as Decisões


Alguns poucos dias se seguiram monótonos, Damian sempre muito calado e pensativo como de costume, intrigado com a proposta que Andreea Voiculescu o fizera, queria aceitá-la, mas ao mesmo tempo recusá-la, não sabia o que fazer, não sabia o que seria se dissesse sim a ela, porém sabia que se não aceitasse iria continuar com sua tediosa vida rumo a nada.

Esta dúvida lhe rendera noites de insônia, não somente pensando na resposta em si, mas em suas consequências, se concordasse em ser o acompanhante da rica viúva, iria esbaldar-se de luxo e riqueza, iria conhecer pessoas novas e abastadas, ir a festas, frequentar mansões de amigos da donzela, iria ser invejado por todos os homens da comuna, o que não fazia muita diferença naquele momento, pois quando a ganhou como prêmio todos já o invejaram.

Começou a lembrar-se dos fatos de algumas noites atrás, a casa de Grigore. Será que estivera mesmo naquele palacete tão deslumbrante ou fora apenas mais uma brincadeira cruel de sua desleal mente? Tudo lhe parecia tão real, as fibras dos lençóis roçando em sua tez, o vinho delicioso descendo amargamente doce em sua garganta, a voz grave e sedutora de Benjamin soando em seus ouvidos, o corpo lascivo de Andreea sobre o seu proporcionando-lhe um prazer que nem ao menos pôde contemplar pelo efeito do álcool ou porque estava prestes a despertar.

Começou a praguejar contra si próprio mentalmente, teve a grande oportunidade de perguntar à viúva Voiculescu se aquela noite estranha fora ou não real, mas ao invés disso, caíra mais uma vez na tentação da carne saboreando as recentes e dantes desconhecidas sensações de um ato sexual. Podia ter encontrado respostas a todas as suas questões, mas falhou e agora era ele quem devia uma resposta à dama.

Lembrou-se também de Benjamin, se tudo aquilo fora mesmo um sonho, então não mais o vira depois da noite em que finalmente lhe entregara sua tão querida encomenda, uma parte de si sentia falta do ar elegante e misterioso daquele sujeito, o modo como andava, falava, até a forma como lhe direcionava os olhos azulados lhe dava um assustador arrepio na espinha.

Adoraria aproximar-se daquele homem, não fazia ideia por que, mas ele o atraíra, sentia que havia uma certa semelhança entre ambos, porém ainda não sabia qual era, gostaria de ganhar sua amizade, sua confiança para enfim poder descobrir, o julgava um rapaz tão digno e educado e gostaria muito de vê-lo outra vez.

Damian seguiu através dos dias aparentemente saudável, nem mais um sinal da suposta pneumonia ou até algo mais grave, entretanto, apenas sua veste carnal estava bem, sua alma parecia machucada, como se algo lhe faltasse, algo que desconhecia o que era, mas que doía e muito esta ausência.

Pensou em procurar Rosalind para saber se a noite em que estavam juntos no bosque fora real ou não passara de um devaneio, todavia sentiu vergonha em vê-la, alguma coisa lhe indicava que aquele momento fora real e se estivesse certo, não saberia como encará-la depois daquela noite, depois daquele beijo, depois do que sentira que tanto o apavorara fazendo com que a deixasse sozinha no escuro.

Na ferraria, o jovem mal conseguia concentrar-se em seus serviços, Ionel precisava supervisioná-lo para que nada saísse errado, os habitantes precisavam daquelas peças e de mais materiais, não poderiam decepcioná-los, o garoto não conseguia parar de pensar na proposta da viúva, nas imagens que aos poucos começava acreditar que eram fantasiosas, mas ainda havia uma pontada de incerteza, em tudo que estava acontecendo.

Começou a estranhar, tudo estava mudando ao seu redor, nada mais era como antes, vinham-se os problemas, vinham-se as decisões, Damian não era mais criança para esconder-se nos braços de sua ama quando tinha medo, era já um homem feito e teria de agir como tal, mas algo o impedia, o medo. De quê?... Nem mesmo ele sabia responder.