Nascido Do Sangue

Uma Vontade Incontrolável


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Aquela noite fora como muitas outras, durante o jantar não havia a menor diferença entre uma colher de sopa de legumes e um pedaço suculento de carne de carneiro, que Andreea mandara preparar especialmente para o rapaz. Damian estava confuso, quando despertara naquela tarde estava disposto e entusiasmado, como se o sono lhe revigorara, mas agora encontrava-se afogado numa enferma tristeza.

O prato diante de si fazia com que a sensação de enjoo ondulasse por sua mente, a fumaça que ascendia penetrando em suas narinas não sortiam efeito, qualquer um que estivesse sentindo aquele cheiro de carne assada já estaria afogando-se na própria saliva, mas não Damian. Por mais que tentasse manter a carne entre seus dentes, passando por sua língua, o sabor não estava mais lá.

Ainda havia o tormento da fome, este nunca lhe abandonava e gostava de lhe afligir. Ouvia o som de seu corpo pedindo por algo que estava além de sua compreensão, algo irracional, mas que sabia que era a única coisa que lhe acalmaria. Podia ver o reflexo esquálido de seu rosto diante dos talheres de prata, tal qual uma estátua de mármore.

Poderia ser pior. Com a fome vinha a terrível enxaqueca, uma dor indescritível, mas que podia ser comparada a uma sessão de tortura na qual era usada um minúsculo martelo que lentamente batia em sua cabeça no intuito de parti-la em mil pedaços, e com a dor vinham eventos perturbadores. Era como uma corrente arrastando milhares de cruéis consequências.

Se fechasse os olhos poderia ouvir claramente a pacífica respiração da viúva Voiculescu do outro lado da comprida mesa de jantar, parecia-se com uma rajada de vento, destes que destruíam casas e derrubavam árvores, soprando rumo aos seus ouvidos, um som tão alto que surpreendia-se por ela própria não estar ouvindo. É claro que não estava, isto era apenas fruto de sua travessa imaginação.

Pobre Damian, sempre culpando a imaginação quando estava diante de situações inexplicáveis, mas e se não fosse sua imaginação? Temia ver por este ângulo, temia que algo realmente estivesse ocorrendo, porém a cada dia e noite era ainda mais improvável lutar ou fugir de algo que já o estava cercando.

O ruído estava ali! Tão claro quanto o maldito sol que lancina ao tocar seus olhos, aquele som tão agradavelmente insano, uma macabra e jubilosa melodia que lhe torturava e ao mesmo tempo lhe enchia de prazer. Oh como era doce aquele som e queria ouvir mais.

Sentiu sua alma flutuando como uma pena, tão alta e tão leve. Aquilo o excitava como lascivas carícias em áreas tão sensíveis ao toque, desunia os lábios para deixar que o ar entrasse e saísse de seus pulmões, era uma deliciosa agonia que o alimentava, mesmo sabendo que padecer em prazer não era o suficiente, Damian por ora contentava-se.

O cheiro. Finalmente um odor lhe aguçara o olfato e não, não era o carneiro assado a menos de trinta centímetros de seu nariz, não era o vinho plano na taça de cristal muito menos as rosas vermelhas distribuídas pelos quatro cantos do lugar. Era algo mais suculento, mais denso e mais puro.

Sabia o que era, mas não queria acreditar. Era um martírio aceitar que havia uma solução para sua fome, algo que podia matar sua sede, preencher um vazio amargo em seu peito e responder todas as perguntas, mesmo àquelas que nem pensara em fazer.

Seus olhos foram ao encontro de Andreea, logo desceram até seu pescoço desnudo. Aquela pele tão macia e perfumada, como lhe despertava prazer! Então ouviu, viu, cheirou! As veias se mostravam tão nítidas debaixo da pele a ponto de quase rasgá-la e saltarem, certamente indo ao encontro dos lábios do rapaz.

A bela dama notara os olhares indiscretos do garoto e com um leve sorriso lhe indagou:

___ Por que está me olhando assim?

Suas exuberantes safiras baixaram novamente concentrando-se no pescoço da viúva, ela engoliu em seco e ele pôde ouvir aquele som oco e os movimentos que suas veias fizeram feito raízes de uma árvore saindo da terra.

Damian levantou-se caminhando na direção da mulher.

___ O que houve, draga mea?___ perguntou ela sendo surpreendida por um fervoroso beijo.

Petrescu a envolveu em seus braços como se a dama fosse fugir e começou a cobri-la de beijos famintos e carícias desvairadas, sabia que isto a excitava e que logo não poderia mais suportar.

Puxou ferozmente a toalha da mesa levando pratos, talheres e tudo mais ao chão, o som dos cristais se partindo nem um pouco lhe incomodara. Atirou Andreea contra a mesa fazendo-a ficar debruçada com o rosto colado à madeira.

Inclinou-se, uma de suas mãos segurava o tronco da mulher junto à mesa enquanto a outra desbravava um terreno já conhecido e apreciado por ele durante tantas noites naquela mansão. Seus dedos sentiam o calor que havia entre as pernas douradas, afastava uma da outra e tateava procurando por um deleite que abrandasse o desejo que mais fundo lhe apunhalava.

Seu nariz próximo ao pescoço da viúva, sentia o doce perfume impregnado àquela pele suave e macia, tão mais suculenta quanto um frívolo pedaço de carne, tão mais excitante quanto um gole quente de vinho. O cheiro lhe atordoava e lhe excitava, parecia um animal selvagem que podia farejar o medo exalando pelos poros de sua presa.

O garoto não desgrudava os lábios da cútis cálida da bela dama, só o fez para que, com suas mãos, desamarrasse bruscamente o espartilho também reduzindo a camisola de cetim a nada mais do que trapos, mais uma vez voltando a beijá-la. Seus dedos ágeis desabotoaram e baixaram suas calças, Andreea franziu a testa fechando os olhos quando sentiu o pênis do rapaz penetrando-lhe incomodamente, não estava esperando por tal ação.

Novamente a voluptuosa sensação de êxtase, saboreava cada canto mais oculto do corpo daquela mulher tendo como trilha sonora os gemidos desconfortáveis afagando-lhe os ouvidos. Parecia não se importar, pelo contrário, sua libido apenas tendia a aumentar cada vez que ouvia a respiração pesada dela.

Os finos gemidos adentrando seus ouvidos, assim como uma parte de seu corpo invadia o corpo de Andreea sem pedir licença, isto era revertido em prazer, um prazer que ardia feito a chama dançante de uma fogueira e que a cada minuto tornava-se mais forte, alastrava-se para todos os lugares sem ninguém para deter, entretanto, este fogo que o alimentava, também o destruía.

O ferreiro ainda não estava satisfeito, decidiu então aumentar a velocidade de seus movimentos e com isso, tudo que pôde ouvir foi o som arfante da respiração dela junto à sua pele. Respirando mais rápido significava que o coração acelerara as batidas e assim, mais sangue correria por todo o seu esbelto corpo.

Naquele momento, naquele exato momento, Damian sentiu um resquício de regozijo, já havia alguns minutos que estava deliciando-se do íntimo da fogosa viúva e não sentira uma única vez vontade de continuar, até agora. Odiaria ter de parar sem sentir-se realizado, mas aquele momento o incitou a prosseguir.

Como na noite em que tivera Rosalind em seus braços, a excitação viera com um ruído peculiar, algo que antes nada significava, porém agora lhe fazia cometer atos tão impulsivos como um dia jamais imaginou.

Aquele instante em que ouvira os batimentos de Andreea, foi a melhor sensação que pôde ter, um quente arrepio propagando-se por seu corpo fazendo-o estremecer. Damian segura ainda mais firme o tronco da mulher contra a mesa intensificando seus movimentos. A viúva sente-se incomodada com a força exercida pelo rapaz, o sexo já não era mais tão prazeroso e os gemidos vinham acompanhados por uma gota de descontentamento.

Petrescu sentia seu prazer aumentando, mas como uma onda isto apenas ia e vinha sem atingir o ponto alto. Já estava começando a ser derrotado pelo cansaço, há dias não comia nem bebia corretamente, sempre sentindo-se fraco e nauseado, mas ainda carregando o fardo de uma vontade misteriosa.

Quando acabara, ao invés de sentir uma deliciosa sensação exalando por cada um de seus poros, sentiu o peso da raiva nascendo em seu peito e se propagando por cada minúsculo e obscuro canto de seu ser, não esvaíra-se na ledice como dentre tantas outras ocasiões, fracassara.

Ainda sentia um desejo contido, escuso e mortificante rasgando suas entranhas, mesmo após ter atingido o orgasmo não estava satisfeito. Ainda queria suprir esta vontade ensandecida que lhe devorava a razão.

Andreea sentiu-se livre. Damian havia se afastado, não somente isto, ele havia deixado a sala de jantar, o ouvira subir apressadamente as escadas e bater de modo feroz e violento a porta de seus aposentos. Recompôs-se, pelo menos por fora, por dentro ainda sentia o calor do quente esperma do garoto chocando-se com os gélidos tremores, ambas as sensações térmicas dando origem a uma lágrima que escorreu solitária por seus olhos opacos.

No quarto, Damian começou a destruir cada pequena coisa que fixava suas belas safiras, não entendia o real motivo por esta cólera lhe sufocar tanto, estava frustrado, fraco e insatisfeito, só desejava ter algo em suas mãos que pudesse reduzir a nada.

Rasgou os lençóis como rasgara a carne crua banhada em água salgada numa tigela sobre a pia numa madrugada perturbadora. Golpeou a penteadeira onde Andreea passava longos períodos do dia e até da noite como atingira a cabeça de um asqueroso rato que ouvira roer a parede de seu quarto. Gritou a plenos pulmões como Mihaela havia gritado na noite anterior.

Seus lábios sequiosos e sem cor estavam entreabertos deixando o ar circular por seu corpo, estava enlouquecido, contudo, não podia dar continuidade aos seus atos desvairados, a fraqueza pouco a pouco o dominava, o derrotava. Sentia seus ossos se partindo e seus músculos atrofiando, a terrível enxaqueca vinha lhe agonizar e sussurrar que daqui poucos segundos, tudo seria trevas diante de seus olhos.