Nascido Do Sangue

Não Se Esqueça De Mim!


Rosalind saltara da cama naquela manhã com o barulho de sua mãe abrindo bruscamente a porta de seu quarto gritando seu nome. A moça sentou-se esfregando os olhos cansados e ainda sensíveis à luz, não conseguira impedir que a mulher desesperada separasse as cortinas para que os raios brandos do amanhecer adentrassem o recinto.

___ O que houve, mamãe?___ perguntou a jovem preguiçosamente.

___ Vista-se rápido, querida ___ falou a senhora abrindo o armário da filha escolhendo apressadamente um vestido para ela.

___ Por quê?

___ Florin Dumitrescu está lá embaixo.

___ Tristan está com ele?

___ É sobre isso que viera conversar.

Levara precisos trinta minutos para a senhorita tomar um banho e vestir-se de maneira singela, porém elegante para seu futuro sogro, Rosalind e a mãe desceram calmamente até a sala de visitas, onde estava o senhor Iordache e o rechonchudo senhor Dumitrescu, ambos fumavam charutos cubanos e tomavam um pouco de cerveja.

O pai da garota avistou-as na porta do ambiente e levantou-se dizendo:

___ Finalmente estão aqui.

Florin levantou e gentilmente inclinou-se diante da garota.

___ Milady.

___ Milord ___ respondeu Rose ao gesto do senhor.

A pequena dama aproximou-se um pouco retraída sentando-se ao lado da mãe num sofá enquanto no outro, bem em frente, sentavam Florin e seu pai.

___ Aconteceu alguma coisa, senhor?___ perguntou notando a expressão apreensiva no olhar de ambos os cavalheiros ___ Onde está Tristan?

___ Tristan desapareceu ___ respondeu o homem após tragar e expulsar um pouco de fumaça pela boca e nariz com um pesado suspiro.

___ Desapareceu?!___ inquiriu a adolescente, que por reflexo, levou a mão ao peito.

___ Sim, desde ontem a tarde que não o vejo e nem voltara para casa ___ relatou o velho gorducho.

___ Oh, meu Deus!___ exprimiu a mãe de Rosalind levando uma das mãos à boca.

___ Já comuniquei à polícia, enviei um telegrama a Bucareste para pedir reforços ___ contou Dumitrescu soltando um suspiro triste ___. Tristan nunca fora de passar uma noite longe de casa, sim, ele é um garoto dominador e ignora algumas leis, mas... É um bom menino e ama muito você, Rosalind.

A jovem via nitidamente a tristeza nos olhos daquele homem que aparentava ser tão frio e mesquinho, comoveu-se com seu drama e pegando delicadamente em sua mão, disse:

___ Tenha calma, milord, ainda há esperança... Sempre haverá.

Florin sorriu diante da compaixão da senhorita, porém não disse nada.

Os minutos que se seguiram, foram para que ambos os chefes de família tratassem do casamento de seus filhos, com o desaparecimento de Tristan, Florin relutante, decidiu que a cerimônia seria adiada, mas este fato não seria divulgado, seu filho poderia ser encontrado a qualquer momento e não precisavam da pressão da população para causar-lhe mais dor.

Rosalind ouvia tudo calada, sem palpitar, sem questionar, era apenas um objeto de troca, das mãos de seu pai para as mãos de Tristan, mas estas mãos não estavam ali para recebê-la.

Florin deixou a casa dos Iordache e os pais da moça pareciam abalados, todavia não Rosalind, estava com pena do velho por não saber onde estava seu filho, mas não lamentava por isso, o que prevalecia em sua mente eram pensamentos ruins em relação ao desaparecimento do futuro noivo.

A jovem passou a maior parte do dia bordando em seu quarto, sua cabeça não queria esquecer-se de Tristan, tantas explicações para o que lhe acontecera, uma mais absurda que a outra, conhecia o jovem, sabia que não recusaria uma ocasião em que poderia provar que era o melhor para qualquer um que o desafiasse, isto era a mais concreta das explicações.

Rosie era boa demais para desejar a morte de alguém, mesmo que este alguém fosse Tristan Dumitrescu, o queria de volta, não como noivo, não como carcereiro, não como seu “comprador”, mas como amigo, assim como eram, antes de tudo.

Queria que tudo voltasse a ser tão simples, Damian e Tristan juntos duelando nos festivais de primavera, suas amigas e ela observando e acenando para os competidores, uma linguagem não verbal e completamente mágica, cândida, algo tão tênue que causava regozijo ao se recordar.

Mas isso não iria voltar, nunca... Damian... Finalmente alguém para fazê-la esquecer-se do robusto e convencido rapaz. Damian era diferente, era estranho, nunca tivera medo de dizer-lhe, pois sabia que nunca interpretaria aquilo como uma ofensa, podia ver por detrás daqueles olhos coriscantes que ele próprio sabia que não era como os outros.

Por que Damian nunca se aproximara? Por que nunca tomou coragem? Agora enfrentavam complicações, ambos separados por suas escolhas erradas, sofriam sozinhos, choravam sozinhos, buscavam o nada imaginando um ao outro, será que para sempre seria assim?

Uma lágrima manchou a toalha que Rosie estava bordando, ela nem ao menos se importou, por mais que lutasse para não ser como as outras garotas, a sociedade lhe capturara, não havia como escapar, ninguém estava a seu favor, ninguém viria lhe salvar.

Aquele pensamento a fizera ver, também era diferente, não queria uma vida presa a um homem, a uma casa, a uma família precocemente formada, queria voltar à França, queria andar a cavalo por entre as árvores do bosque, queria dançar e passar a noite falando besteiras, queria ser livre.

Invejava Damian, queria a vida que lhe dera às graças que atualmente possuía, queria não só a liberdade que aquela vida lhe oferecia, queria aproveitá-la ao lado do ferreiro, sabia que seus planos não eram permanecer naquela comuna, queria que o mundo coubesse entre seus braços, os braços que uma noite a aconchegaram e a carregaram até a porta de sua casa, por uma noite, ela fora seu mundo.

Tinha medo de que ele fosse embora, não saberia como continuar se Damian a deixasse, sabia que ainda pertencia a ela, sempre pertencera, assim como pertencia a ele, mas nunca puderam dizer, nunca puderam demonstrar. Ao contrário de si, Damian era tão mais forte e era este o seu medo, a força que Petrescu possuía, um dia iria dominá-lo e fazê-lo esquecer, esquecer-se dela.