Nascido Do Sangue

Eu Não Posso Viver Sem Você


___ Isso não é possível... ___ falou Petrescu entrecortado pelos seus soluços.

___ Obviamente é, Damian, vampiros podem se reproduzir, podem ter relações sexuais, porém isso não é mais tão prazeroso, não é mais tão querido quanto o mais novo desejo da vida de um imortal e você sabe o que é.

___ Não, eu não sei de nada.

___ É claro que sabe!

O olhar que Grigore direcionava para Petrescu resplandecia de ternura, uma estranha e fria ternura, o máximo de amor que poderia demonstrar.

___ Oh Damian, você amou cada ser humano que passou por sua vida, amou da forma mais pura e intensa que o amor se faz entender, não só amou, você idolatrou, odiou, perdoou e sofreu, viveu ardorosamente cada sentimento e emoção que um alguém pode possuir, porém não era o bastante e você queria mais, o que fez? Sugou-os, um a um. Tragou suas essências como se fossem um refinado charuto que lhe corrói os pulmões lhe dando um ilusório alívio. Embebedou-se de suas tétricas lágrimas, alimentou-se de seus fúnebres martírios até não serem nada além de ossos, ossos usados para construir tua sólida e pérfida fortaleza de dor, uma dor sem rosto e sem nome, mas que a conhece tão bem, pois o acompanha desde que deste teu primeiro suspiro, todavia não era somente a dor, havia também um vazio, um imenso e cruel vazio que nunca lhe abandonou e jamais lhe abandonará. Sabe como ele poderia se extinguir, eu sei que sabe, meu de tineri! Você amou, Damian, mas ninguém vive apenas de amor, meu garoto, há algo bem mais forte, bem mais puro, algo no qual o fogo dentro de ti reacende a cada vez que toca estes lábios sequiosos, sabe o que é, pois eu sei! Eu sinto a tua dor, eu choro as tuas lágrimas, conheço os teus medos porque o sangue que corre em tuas veias... É o mesmo que corre nas minhas... Você nasceu do meu sangue!

___ Não... Não pode ser, eu não sou como você!___ gritou o menino comprimindo as sobrancelhas ao mesmo tempo em que mordia o lábio inferior.

___ Certamente que sim, meu caro, é mais parecido comigo do que pensa... Sempre foi. Antes mesmo de nascer já tinha desejo por sangue.

___ O quê?!___ indaga o garoto perplexo.

___ Apenas culpa a mim pela morte de Katrina, mas... Será que a culpa realmente é inteiramente minha?

Um estranho silêncio começou a se formar e Benjamin começou a satisfazer-se da confusão reunida no olhar marejado de seu tão amado menino.

___ Eu acompanhei cada mês de gravidez, podia ver claramente você se desenvolvendo, ali tão protegido, tão vulnerável e então eu via, eu sentia, Katrina a cada amanhecer ficava mais fraca, mais pálida, perdia peso, perdia o apetite, perdia a luz que emanava de seu corpo, morria aos poucos, será que realmente tenho culpa deste acontecimento?

As lágrimas voltaram a nascer nos brilhantes olhos de Damian, seus lábios se contorciam e se apertavam, sentia-se sufocado pela dor e pela força para conter o choro.

___ Você a matou, Damian. Cada lento mês que se seguia, era preciso que alguém morresse para que você pudesse viver e a pessoa escolhida foi a garota que lhe amou desde o primeiro momento em que soube que estaria te esperando, o que foi que você fez, meu de tineri?___ a voz de Benjamin parecia doce, mas seu tom era de condenação.

___ Não... ___ fora como um último suspiro após um longo período de batalha, se o jovem prolongasse sua fala seria inútil, palavras não lhe vinham à mente muito menos poderia dizer alguma coisa.

___ Sim!___ pronunciou Grigore arregalando os olhos ___ Foi você e somente você, Damian. Sugou cada gota da beleza, do sangue, da vida de Katrina, eu podia ver tudo, enquanto ela ficava mais fraca você ficava mais forte, băiatul meu. Será que é por isso que você lembra tanto ela? Por que cada pedacinho dela está em você? Por que você sugou a vida dela? Não venha me dizer, depois disto, que não somos iguais. Por isso me deixou entrar na sua vida, me deixou ser você, confiou em mim... Mais do que confiara na carcaça daquele desgraçado! Era isto que eu queria de você, draga mea, eu queria que me amasse, que me tornasse parte de ti... E eu o fiz. Eu sempre sonhei com a chegada deste dia, dezoito longos anos se passaram até que pudesse estar com a criatura que mais amo neste mundo, eu nunca faria mal algum a você, eu nunca deixaria ninguém machucá-lo, eu o amo, eu o quero, mais do que meu próprio sangue...

Benjamin tentava se aproximar, mas a cada passo dado para frente era um passo que Damian dava para trás, mas sem desgrudar os olhos do lorde, pensava que ele se assemelhava a um animal selvagem, que com apenas um descuido, daria o bote.

___ Eu nunca serei como você... Você é um monstro, uma besta, uma maldita aberração... Vá embora, suma da minha vida, vá e nunca mais volte!

___ Não fale assim, fiul meu ___ falou Ben de modo carinhoso e arriscando mais alguns passos.

A fúria de Petrescu fora incontrolável ao ouvir aquelas palavras e num rápido movimento, seu punho fora de encontro ao queixo de Grigore fazendo com que caísse a alguns centímetros de distância dele.

___ Nunca mais me chame assim! Você não é o meu pai! Eu sinto nojo de você!

O som agressivo das palavras tocavam dolorosamente o morto interior de Grigore, mesmo sem um coração pulsante ou qualquer sentimento a flor da pele, ainda podia chorar e então, Petrescu surpreendeu-se pela primeira vez avistar uma solitária e cristalina lágrima escorrer pelo rosto tão semelhante ao seu.

___ Pode fazer o que quiser contra mim, mas saiba que não importa o que aconteça, sempre o amarei! Arriscaria uma estaca em meu fenecido coração ou a luz do sol sobre minha pútrida carne para mantê-lo salvo e seguro.

___ Nem uma estaca, nem luz do sol, apenas vá embora... Deixe-me em paz, já tirou tudo de mim, vá e não mais volte...

___ Não... Eu não vou. Eu nunca vou deixá-lo.

___ Por que não?

O lorde recompõe-se.

___ Nunca iria me perdoar... Nunca iria parar de me martirizar ao saber que deixei-o entregue à mortalidade, que esperei sem fazer coisa alguma o tempo esculpir-lhe rugas e sugar-lhe a vitalidade até um dia não ser nada além de pó. Eu nunca permitiria...

Benjamin queria que o jovem dissesse alguma coisa, porém o silêncio fora ainda mais agonizante que qualquer resposta que poderia oferecer.

___ Eu não vou deixá-lo... Eu não vou deixar que a morte tire de mim a única pessoa que me faz querer continuar. Não sabe o quanto é doloroso para um alguém como eu sempre estar sozinho, não saber o que é envelhecer ao lado de uma pessoa, esperar pelo descanso, até renascer para uma nova vida, sempre vagueando na noite à procura do breve prazer de ver a vida de alguém se esvaindo pelos seus lábios. Você suga outras vidas no intuito de que preencham o vazio que reside em seu âmago, mas sabe que isso nunca irá acontecer, se não encontrar uma companhia a quem dividir a dor de ser imortal.

Seu olhar buscava o nada enquanto falava, porém encontrou as brilhantes e jovens safiras horrorizadas e ao mesmo tempo tocadas por cada palavra dita.

___ Você nunca poderá fugir de mim. Aonde quer que vá, eu irei encontrá-lo. Você pertence a mim!

___ Ben, vá embora antes que...

___ O quê?!___ o rapaz interrompeu a fala de Damian ____ O que vai fazer contra mim? O que você fará contra mim, Damian? O garoto que você sempre confiou... O seu verdadeiro pai!

Grigore empurrou o ferreiro fazendo com que caísse por cima do sofá, ele fora se arrastando até ser barrado por uma das paredes da sala, o vampiro então fora se aproximando do menino, que não tinha para onde fugir. Seus rostos estavam quase se tocando, Ben sentia a respiração quente do ferreiro em sua pele fria, a expressão de medo nos olhos e o cheiro efervescente do sangue o fizeram recuar os instintos, como dissera, nunca faria mal a ele.

___ Ainda sou eu, Damian, ainda sou eu, meu de tineri ___ o lorde continha as lágrimas enquanto pousava suavemente a mão sobre um dos ombros do moço.

___ Você está morto, Benjamin...

___ Mas quando eu olho para você, eu ainda vivo. Ainda há um meio para ficarmos juntos.

___ Eu não quero morrer, eu não quero ficar como você, nunca!

Um rapaz aparentemente morto com um coração que não mais batia e pulmões que não mais inspiravam e expiravam ainda podia sofrer e se zangar, dera um soco na parede a apenas dez centímetros da face aterrorizada do jovem, Damian pôde ver as lágrimas banhando os olhos celestiais tão semelhantes aos seus.

___ Eu não posso continuar... Se você não estiver comigo, eu não posso passar o resto da eternidade sozinho, eu não posso deixar que o tempo e a morte o tirem de mim!

___ O que aconteceu com você foi terrível, mas não há como voltar atrás...

___ Eu posso mudar isso, eu posso torná-lo um filho da noite, um anjo da morte, uma criatura bela e noturna, uma linda família feliz... É isso o que seremos ___ dizia Ben entre suspiros esperançosos.

___ Se você me transformar, viverá infeliz como antes, pois sempre fugirei de você, sempre o odiarei, então não faça, vă rog, não.

___ Por que está tornando as coisas mais difíceis para nós, Damian? Pensei que fôssemos amigos?

___ Você mentiu para mim, desde o início. Amigos não mentem...

___ Está confundindo proteção com mentiras.

___ Proteção? E do que realmente queria me proteger?___ falou o adolescente livrando-se da presença sombria do sujeito e afastando-se.

___ De você mesmo... Se não estivesse por perto certamente já estaria morto! Mihaela apareceria gritando em meio à multidão do baile de máscaras, Viorica desesperar-se-ia e faria com que Ionel despertasse, a empregada da mansão Voiculescu também e Tristan... Além de tê-lo matado, você adoeceria pelo sangue dele.

___ Pare, pare de dizer estas coisas!___ bradou Damian abafando o som com suas mãos.

___ Não fui eu quem tirou tudo de você, mas você mesmo! Matou até seu melhor amigo por conta de sua tão preciosa fúria!___ insistiu Benjamin.