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O tempo passara rápido levando longos anos com ele para um lugar distante e desconhecido onde não havia como voltar, anos tão tranquilos e desinteressantes que seria um terrível erro mencioná-los, apenas citá-los seria mais coerente.

No decorrer das primaveras a vila era o que sempre fora, um lugar pacífico, sem guerras ou terror para devastá-la e roubar a encantadora e até misteriosa harmonia que durante muitas gerações apodera-se daquele lugar, esta era uma das vantagens em se morar entre bosques e montanhas da bela Península Balcânica. Embora a dor contava a história do país e o sangue manchava a imagem da Romênia, aquele lugarzinho escondido nos braços da mãe natureza parecia não sofrer nenhum tipo de abalo.

Muitas lendas originadas dos Bálcãs cercavam aqueles relevos montanhosos de climas continentais, porém a maioria eram mentirosas, apenas histórias inventadas para apavorar homens que nem sequer saíram das fraldas, os mais destemidos não se importavam, para eles eram somente palavras jogadas ao vento, nada nem ninguém era capaz de assustá-los e os mesmos eram considerados aventureiros e até protetores dos pequenos vilarejos escondidos entre as árvores do resto da Romênia.

O inverno ia e vinha e sempre levava vidas quando partia, uma delas era a do bondoso pai de Ionel, deixando-o desolado. Cabia a ele agora tomar conta da ferraria e trabalhar dobrado para suprir os pedidos, consertos e encomendas das pessoas da comuna e sustentar seu amado filho.

O pequeno Damian crescera e tornara-se um rapaz belo e gentil, com o passar dos anos sua beleza acentuava-se ainda mais precisamente. Sua pele tornou-se ainda mais alva e fria como a neve, tão delicada quanto a seda, seus cabelos negros caídos aos ombros tinham um brilho intenso como se fossem o céu noturno refletido pela luz do luar, lábios de linhas finas e de um vermelho tão vivo quanto o sangue que corria profundamente em seu corpo, traços joviais e delicados desenhavam um semblante angelical, quem o fitava relatava como se fosse a imagem fiel da perdição, do pecado encarnado, tudo realçado por penetrantes e reluzentes olhos azuis.

Era um rapaz forte e ágil, muito querido pelo povoado, desde muito pequeno tomava aulas de esgrima com seu pai e nos dias atuais era um dos melhores lutadores de combates simulados que o vilarejo já conhecera, despertava desejo das donzelas e até de mulheres mais velhas, mas parecia que nenhuma garota era boa o bastante para ganhar seu tenro coração.

Muitos outros garotos o invejavam, todavia o idolatravam, com o passar dos anos Damian fora conquistando seu lugar entre aquela pequena população sem perder o sorriso humilde e encabulado que não deixava ninguém se esquecer de que não passava de um menino brincalhão e aparentemente cheio de sonhos.

Trabalhava na ferraria ao lado de seu pai, faziam ferraduras, armaduras, escudos para os combates e até espadas, adagas, porém eram as balestras que mais o encantavam, o garoto achava aquele instrumento fascinante.

Uma vez um homem encomendara uma e contara-lhe que precisava para caçar vampiros que cercavam as regiões da pequena Chiajna e atacavam os vilarejos, contou que apenas uma estaca de madeira arremessada diretamente no semimorto coração da sanguinária criatura era o que bastava para nunca mais sair e sugar o sangue de seres inocentes. O adolescente lembrava-se sempre desta história, porém entristeceu-se quando ao perguntar ao pai sobre vampiros, Ionel dissera que não passava de mais uma lenda contada por ciganos nômades e que não eram reais.

Ionel ainda era um homem forte e bonito, entretanto não tanto quanto Damian, os cabelos estavam encanecidos, havia algumas rugas ao redor de seus olhos, mas ainda lembrava o doce rapaz que desmanchara-se de alegria ao ouvir o fino e estridente choro do belo garoto que agora estava diante de si e que tinha até alguns centímetros a mais que o ferreiro.