Nascido Do Sangue

A Vitória que Sempre Seria Sua!


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Isto não podia ter acontecido, como pôde ser tão tolo? Tristan havia ganhado! Como pôde deixá-lo vencer? Dois anos de dedicação e vitória agora jogados fora por sua própria culpa, por nem ao menos conseguir permanecer concentrado, seu amigo teria o que durante duas primaveras lhe fora concedido, o que tanto apreciava.

Dumitrescu teria tudo que um vencedor merecia enquanto o tenro rapaz não teria absolutamente nada, apenas a vergonha de ter perdido, sairia da arena ocultando-se nas sombras das tendas enquanto o sol atingia o campeão e o iluminava com uma forte luz assimilando-se a um deus varonil, corajoso, invencível.

Esta batalha não poderia ter tal qual desfecho, Damian tivera novamente sua visão coberta pela sanha, levantou-se lentamente buscando sua espada enquanto o outro competidor estava vangloriando-se de costas para ele, ao entrelaçá-la em seus dedos correu em direção ao moço e antes de golpeá-lo, o adversário vira defendendo-se com o escudo.

___ O que é isto, Damian?!___ indaga Tristan confuso e surpreso.

___ Ainda não acabou ___ disse o ferreiro abrindo novamente seu enigmático sorriso.

A luta começara novamente, os golpes agora eram mais rápidos, o jovem estava mais do que concentrado, queria acertar o adversário de qualquer forma, porém disfarçando sua fúria através dos movimentos ensaiados frequentemente durante a estação anterior.

A agilidade falava por Damian, seus braços e mãos controlados por sua fúria e fome por vitória, isto não era mais uma saudável diversão, era mais, muito mais! Os olhos corriam feito estrelas cadentes e o que mais lhe surpreendia, era saber exatamente quais golpes Tristan iria desferir contra ele e, antes que o outro pudesse executá-los, já estava pronto para se defender e mandar-lhe um contra golpe, tudo tão rápido e perfeitamente pensado.

A platéia de nada estava ciente, todos ficaram muito confusos com a atitude de Petrescu, estavam de pé se entreolhando com um grande ponto de interrogação refletido em suas pupilas, nada fizeram a não ser voltarem a se sentar e apreciar aquele combate que ainda se sucedia.

Num rápido ato, Tristan consegue tirar a espada das mãos do amigo atirando-a longe, as pessoas ficaram surpresas, porém permaneceram caladas apenas observando como iria terminar. O ferreiro voltou seus olhos celestes para o oponente e o ouviu dizer:

___ Acabou, Damian!

O hercúleo rapaz virou-se e deu alguns passos afastando-se de Petrescu, sua ira fora ainda maior e outra vez o garoto aproximara-se tomando a espada do inimigo num rápido movimento acertando-o no estômago com o punho da arma, nada acontecera, ambos estavam protegidos por armaduras do mesmo material que as espadas e escudos, Tristan caiu ao chão apenas por conta do impacto do golpe deixando seu escudo voar para longe, Damian estava em pé apontando a espada para o companheiro e fitando-o raivosamente.

Um estranho e breve silêncio se formou, toda a população encarando aquela cena com olhos arregalados, isto nunca havia acontecido em mais de três décadas de torneio, cada um ali presente se entreolhava na dúvida do que fazer, eis que Viorica levanta-se e começa a aplaudir fazendo com que todos repetissem sua ação, no início foram palmas desconfiadas e incertas, porém logo transformaram-se em aplausos altos e orgulhosos, mais uma vez o jovem ferreiro era o vencedor.

___ Agora acabou ___ disse Damian olhando para o amigo.

O adolescente atirou a espada longe e deu as costas ao adversário caminhando por toda a arena, banhando-se com sua glória, a glória que sempre seria sua!

Costel adentrara a arena e erguera com satisfação o braço do menino gritando:

___ Senhoras e senhores, eu lhes apresento o nosso campeão invicto, durante três anos consecutivos... Damian Petrescu!

Os gritos e aplausos foram ainda mais intensos e o jovem ferreiro estava deliciando-se com aquele prazer, o prazer da vitória, a vitória que sempre seria sua!

___ Felicitări, meu garoto ___ falou o velho abraçando-o.

___ Mulțumesc, senhor ___ agradeceu o adolescente voltando a ser a pessoa tímida e retraída que sempre fora, como se durante o combate estivesse possuído por alguma força sobrenatural que agora se esvaíra de seu corpo devolvendo-lhe completamente sua sanidade.

___ Bom, agora como prometido, darei o seu prêmio.

O homem acenou em direção à uma das tendas e então uma jovem aproximou-se trajando um longo e decotado vestido azul escuro com rendas pretas nas mangas, suas luvas e véu eram da mesma cor que as rendas impossibilitando ver seu rosto, assim como da vez em que Rosalind fora entregue a Tristan como recompensa.

___ E como prêmio por este grande feito, o jovem Petrescu levará esta bela dama escolhida especialmente para ele!

O moço observou atentamente à figura feminina revelar seu rosto, seus lindos olhos arregalaram-se quando vira o semblante daquela mulher. Era magnífica, sua face delicada e vibrante, seus olhos de um verde lascivo, seus lábios vermelhos e carnudos esticados num convidativo sorriso, seus cabelos louros e cacheados caídos soltos até o bico de seus seios fartos que podiam ser admirados pela abertura de seu insinuante vestido, ele a conhecia, o que o deixara ainda mais excitado e um pouco acanhado, ela era um símbolo de desejo entre os homens do vilarejo e fora dada especialmente a ele, o vencedor.

Inclinou-se e beijou-lhe suavemente a mão dizendo:

___ Milady.

___ Milorde, sou sua ___ falou a dama com um tom sensual em sua voz.

___ Agradeça-me na manhã seguinte, meu caro ___ sussurrou Costel ao pé d’ouvido do ferreiro.

Passado-se alguns minutos, os competidores encontravam-se nas tendas retirando suas armaduras e descansando após um torneio tão ilustre diante dos olhos da população. Damian desamarrava suas luvas e as depositava sobre uma mesa de madeira sendo observado atentamente por Tristan, este também retirava sua armadura e acessórios em silêncio, até que não mais controlara-se virando para Petrescu vociferando:

___ Pode me explicar o que foi aquilo?

___ Aquilo o que?___ perguntou o jovem em tom calmo demasiado provocador.

___ Como o que?___ inquiriu Tristan alterando ainda mais a voz, via-se até um veia saltada que separava suas sobrancelhas ___ O que fizera na arena há alguns minutos! Derrubar-me daquela maneira! Parecia que estava buscando a vitória a todo e qualquer custo!

___ Îmi pare rău, não foi o que ocorreu.

___ Pois me pareceu que foi exatamente isso! Eu nunca o vi agir daquela maneira antes, Damian, o que o fez mudar, o tornou tão violento?

___ Nada, eu apenas estava jogando... Assim como você também estava.

___ Eu estava me divertindo e devia ter feito o mesmo! Nunca deixamos que a competição nos enfeitiçasse.

___ Realmente não, não a deixei me dominar.

___ Mais uma vez digo que não foi o que me pareceu.

___ Pense o que quiser, Tristan, eu estava jogando.

___ Estava jogando? ___ insinuou o outro.

___ Exatamente.

Uma breve pausa, Dumitrescu não tirava os olhos do garoto mais novo e novamente começou a falar, desta vez sua voz era baixa, mas não deixava fugir o tom raivoso em cada sílaba pronunciada:

___ Eu devia ter vencido, eu deveria ter levado o prêmio.

Damian olhou fixamente para o rapaz respondendo-lhe com uma voz rouca e a ponto de explodir:

___ É uma pena, prietenul meu, eu venci! Eu sempre vencerei!

Ao dizer aquilo, o ferreiro deixou a tenda em silêncio.