Nascido Do Sangue
A Noite Apenas Começara
Damian afastou-se procurando o sofá mais próximo, precisava sentar-se ou cairia. Estava de costas para o outro, respirava com dificuldade e as lágrimas não queriam sair, parecia que haviam secado, mas a vontade de chorar e gritar ainda permanecia e o silêncio tornava tudo ainda mais pérfido e soturno naquela noite.
Grigore o admirava com espantosa frialdade, os suspiros e choramingos do adolescente pareciam não lhe significar absolutamente nada, como se já estivesse preparado há muito tempo para a situação e já houvesse previsto estas reações por parte de Petrescu.
O jovem levantou-se subitamente após tomar fôlego, recompôs-se e então mais uma vez encarou os olhos tão azuis quanto os seus.
___ Não é verdade... Não pode ser.
___ Eu nunca mentiria para você.
___ É impossível...
___ Nada é impossível. As pessoas apenas criam barreiras mentais e corpóreas que as fazem crer no inalcançável.
___ Pare de dizer estas coisas, está mentindo para mim!
___ Eu nunca mentiria para você em toda a minha vida, Damian!___ bramiu Ben.
___ Você não mais tem uma vida.
___ Exato ___ afirmou o lorde gentilmente inclinando a cabeça, como se assentindo pesarosamente ao comentário do outro.
___ E desde quando?
O silêncio penetrou o recinto e finalmente Grigore fugira ao olhar sedento por respostas do garoto a sua frente, mas então Damian insistiu:
___ Desde quando você é assim?
O luar que adentrava a janela uniu-se ao brilho azul dos olhos de Benjamin tornando-os tão perfeitos, sublimes e mais valiosos do que qualquer pedra preciosa.
___ Eu não mais tenho uma vida há dezoito anos ___ respondeu ele com seu estável tom grave e amedrontador.
Como em um complicado jogo, todas as peças estavam se encaixando, como nas vezes em que tanto trabalhou na ferraria martelando e aquecendo metais, as palavras de Grigore eram latejantes e dolorosas, porém davam forma às tantas sombrias questões que perturbavam o jovem desde que se entendia por gente.
___ Não... Só pode estar brincando comigo ___ falou Damian num suspiro relutante.
___ Eu não aprecio jogos mentais, meu de tineri, a não ser que seja de extrema necessidade alimentar ___ brincou.
___ Não fale assim!___ berrou o menino enfurecido e confuso.
O breve sorriso sarcástico se desfez do rosto do vampiro, seu olhar e expressão eram sóbrios e perturbadores.
___ Eu quero você, Damian... E eu sei que de algum modo que ainda não compreende, você também me quer. Não pode evitar, está no seu sangue.
___ Cale-se! Eu nunca serei como você! Eu nunca serei um assassino, um monstro!
___ Você já é, sempre foi... Nasceu assim.
___ Não... Não!___ balbuciava o ferreiro lutando contra as palavras que lhe eram arremessadas. As perguntas se acumulavam em sua mente, mas estavam tão amontoadas que mal sabia distingui-las, o silêncio era a melhor opção, mas se ele viesse, a voz de Ben tomaria conta de sua mente e Damian não sabia se era forte o bastante para resistir àquela sonoridade tão sensual.
___ Não tem como fugir do que você é... Não há outra solução a não ser aceitar!
___ Não, nunca ___ negou Petrescu com um leve movimento de cabeça e uma voz tão rouca como se fosse a última vez que suas cordas vocais pudessem produzir algum som.
___ Não pode lutar contra isso, draga mea, está dentro de você, sempre esteve! Vamos, não tenha medo... Eu lhe tornarei um filho da noite ___ falou o lorde aproximando-se calmamente, como se fosse capturar uma lebre arisca.
Antes que pudesse tocar os ombros encolhidos do garoto, Petrescu pôs-se a correr o mais rápido que podia saindo pela porta da frente da mansão deixando Grigore imóvel na sala de estar junto ao cadáver da prostituta. Ele sorriu despreocupado e falou baixinho consigo mesmo:
___ Não pode fugir de mim, Damian, você é meu... ___ caminhou em direção ao corpo da mulher, inclinou-se sorrindo e fechou os olhos dela ___ Noapte bună, dragul meu, durma bem.
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