Acordei com um sussurro baixo ao ouvido. A voz suave era quase como uma súplica ou uma prece, dizendo palavras calorosas e instigantes, capazes de aquecer meu coração e meu corpo. Senti seus lábios frios roçarem em meu pescoço e mordiscarem minha orelha, seu hálito quente em minha pele, seus toques afetuosos em minhas costas. A luz acolhedora do sol nascente sobre meus olhos ainda fechados me acalentava quase tanto quanto aquele corpo que se pressionava junto ao meu. Uma brisa fria anunciava o inverno que se aproximava, trazendo junto a si o cheiro da grama molhada pelo orvalho noturno. Nunca fui uma pessoa religiosa, mas naquele momento eu pude jurar que havia encontrado o paraíso.

— Bom dia, Majestade. Você está bem? — sua voz aveludada interrompeu meu êxtase.

— Nezumi... Que horas são?

— Pouco mais de 6h30. Está tudo bem mesmo? Não sente dor? Deseja alguma coisa? — só agora percebi que ele estava preocupado. Mas com o quê?

— Estou bem sim, por que não estaria?

— Ah, nada demais. É que — lançou-me um olhar atrevido — você estava um tanto “determinado” esta noite.

O quê? Do que ele está falando? Só então vi uma marca roxa em seu pescoço, juntamente com arranhões e mordidas na lateral de seu corpo.

— Nezumi, o que... Eu fiz isso? Como diabos eu fiz isso?

— Sim, você fez. Eu também me surpreendi com toda esta voracidade. — deu de ombros — Mas não achei ruim, só para constar.

— Então sou eu que deveria perguntar se você está bem, certo?

— Eu sempre estou bem. A propósito, eu gostei muito da brincadeira de ontem.

Droga.

— B-Brincadeira? Não teve brincadeira nenhuma. — corei — Acho que você deve ter tido algum sonho indecente, só isso. Enfim, — tentei mudar de assunto — acho que devemos voltar para casa, não? — peguei minhas roupas do chão e me levantei.

— Sonho? — ele segurou meu braço enquanto se levantava — Sua voz falha a gritar meu nome parecia bem real para mim.

— NEZUMI! Não diga essas coisas em voz alta. — encolhi os ombros — É... constrangedor.

Ele abafou o riso e segurou meu rosto, enquanto me lançava um sorriso malicioso.

— Não se preocupe, Alteza. Além de mim, não tem mais ninguém aqui pra te ouvir gritar.

— O QUÊ? — maldito. Esse não é o tipo de coisa que se diz pra uma pessoa. Nem mesmo depois de... É vergonhoso demais ouvir isso. Tentei protestar mas ele não permitiu.

— “OH, NEZUMI, NEZUMI, POR FAVOR... FAÇA ISSO DE NOV...” — essa foi a gota d’água.

— CALE A BOCA, DESGRAÇADO.

Minha raiva e constrangimento tomaram conta de mim. Avancei contra ele de punho cerrado, desferindo um soco aleatório que passou longe do alvo. Ele facilmente deslizou para o lado, segurou meu braço com uma das mãos e puxou minha perna com o calcanhar. Me desequilibrei e ele usou a mão livre para empurrar minhas costas, fazendo com que eu caísse de bruços no lençol sobre a grama. Montou de joelhos sobre meu tronco e segurou meus dois braços acima da minha cabeça com uma das mãos, enquanto, com a outra, tateava seu amontoado de roupas ao lado da cama improvisada. Nada daquilo realmente doeu, mas eu era incapaz de me mexer. De repente senti algo pontiagudo no meu pescoço.

— Há quatro anos estávamos nesta mesma situação, lembra? — deu um riso baixo — Bom, quase a mesma. Estávamos vestidos daquela vez.

— N-Nezumi... O que você...? — tentei balbuciar alguma coisa mas eu mal conseguia falar. Depois de tanto tempo ao lado dele eu quase me esqueci do que ele era capaz de fazer.

— Naquele dia eu disse que se aquilo fosse uma faca você certamente estaria morto. E olhe, hoje eu tenho minha faca! — ele parecia se divertir brincando comigo mas eu não disse nada. Queria saber até onde isso iria chegar. Então ele aliviou a pressão no meu pescoço e suspirou ­— Para meu azar, Shion, você é a única pessoa no mundo que eu seria incapaz de matar. Você sabe disso, é claro, mas nem mesmo tentou desviar. Por quê?

— Eu não precisava. E mesmo se eu precisasse, se você quisesse me matar, eu já estaria morto.

— Claro que estaria. Bom, como você sabe, eu não vou te matar. No entanto... — ele tirou a faca de meu pescoço e deslizou-a lentamente pelas minhas costas, descendo da nuca até minha cintura. Pelo canto do olho eu vi a lâmina fria reluzir ao sol. Estremeci sob seu corpo, um arrepio que surgiu contra minha vontade — esta posição te deixa numa situação comprometedora, certo? — ele se inclinou sobre mim, a respiração quente no meu pescoço — Um pouco vulnerável, talvez?

Minha droga e meu remédio. Ele era meu céu e meu inferno. Nezumi era a razão dos meus pecados. O único capaz de me fazer estremecer daquele jeito. Era incrível como ele sempre tinha o controle da situação, como ele sempre conseguia o que queria. E como sempre eu estava à mercê de suas vontades e desejos.

A ponta rígida e gélida da faca deu lugar a algo muito mais macio, mas que possuía a mesma frieza. Ele deslizou os lábios pela minha pele, depositando beijos e mordidas nas minhas costas. Agarrei tão firme o lençol que senti as folhas da grama sob ele. Um gemido baixo me escapou os lábios.

— N-Nezumi... Por favor...

Ele aliviou a mão que ainda segurava meus punhos e trilhou caminho com sua boca até meu pescoço. Largou a faca de lado e puxou meus cabelos, encostando o nariz na minha orelha.

— Shion... — sussurrou — acorde.