Luene estava instruindo o pessoal do Buffet e os floristas, enquanto eu estou tentando parecer ocupada.

– Megan? – ela olhou em volta. Eu rapidamente me escondi atrás de uma parede de modo que ela não pudesse me ver. – Você não será capaz de se esconder por muito tempo. – diz ela com uma voz cantante, antes de eu ouvi-la corrigir a escolha de cor com o florista para um arranjo de flores.

Onde diabos Davi se meteu?

Eu estive aqui por quase 30 minutos e ele estava longe de ser encontrado. Não leva tanto tempo para se arrumar quando se é homem. É se lavar, colocar uma roupa e pentear o cabelo. Feito. Não é como se ele precisasse se preocupar com maquiagem, acessório ou enrolar o cabelo.

Ele estava simplesmente enrolando.

Eu furtivamente faço uma fuga, esgueirando-me pelas escadas para chegar até Davi para que possamos compartilhar esse tormento.

Chegando lá, percebo que a porta está um pouco aberta. Eu não quero uma repetição de toda coisa “Eu vi seu pau”. Porém, eu vi o pau de Davi muitas vezes desde aquele dia. Talvez ele não vá se importar. Ele provavelmente vai. Eu ri de mim mesma, pensando que ele provavelmente vai ficar chateado.

Dane-se.

Eu gentilmente toco a maçaneta da porta, muito para onde a porta não faz barulho. Torcendo pra encontrar o Davi nu e eu tenha um rápido show.

O ar escapa dos meus pulmões, fazendo com que todo o meu corpo queime, quando eu olho para a visão diante de mim.

Manuela.... em nada além de uma lingerie... acariciando o pênis de Davi... com a cabeça de Davi jogada para trás em êxtase.

– Foda-se. – ele choraminga, jogando a cabeça ainda mais para trás, quase apoiando-se na curva do pescoço da vadia.

– Olá. – ela ri, no que soa como vitoria.

Antes que eu me dê conta do que estou fazendo, fecho a porta e minha visão fica embaçada pelas lagrimas.

Toda mulher já imaginou um cenário em sua cabeça sobre como ela agiria caso pegasse seu namorado a traindo. Na maioria das vezes, envolve bofetadas, socos, puxões de cabelo e em casos de algumas mulheres... uma noite em uma cela local.

Mas essa é sua imaginação.

Eu sempre pensei que eu fosse o tipo de garota que castraria o cara se o pegasse fodendo por aí. Isso foi até que eu peguei o homem que eu amo... o primeiro homem que eu amei... o homem que eu pensei que me amava... sendo masturbado pela sua ex-namorada... a porra da sua ex-namorada... a porra da sua ex-namorada gorda.

Isso muda as coisas.

Isso definitivamente muda as coisas... e é por isso que eu estou atualmente em um banheiro no corredor chorando o mais silenciosamente possível.

Eu odeio chorar. Eu sempre odiei. Sempre que uma lagrima cai do meu olho, eu ouço a voz do meu pai.

“Se eu chorasse a cada vez que eu não conseguisse o que eu queria, eu teria me afogado em minhas lagrimas há muito tempo”.

Eu não era uma daquelas garotas ricas estereotipadas que choram até conseguir o que quer. Meus pais introduziram em mim ainda muito cedo na vida que o choro não te leva a nada a não ser uma dor de cabeça.

Chorar fazia você fraco.

Chorar era estúpido.

Fraca e estúpida era exatamente como eu estava me sentindo. Enquanto as lágrimas caiam dos meus olhos, eu brevemente pensei se este não era o plano de Davi o tempo todo. Afinal eu tinha lhe dando a ideia de vim acompanhado para que ele não se sentisse inferior frente a ex dele, será que no final das contas eu era apenas uma distração, um truque para fazer Manuela ficar com ciúmes e assim o quisesse de volta?

Me senti ainda mais estúpida com o cenário que não tinha nem sequer passado pela minha cabeça até agora. Se ele apenas me dissesse, eu teria entendido.

Eu ouço meu choro cada vez mais alto, e tento me controlar, mas está difícil.

Eu choro por minha mãe emocionalmente abusiva.

Eu choro por meu pai ausente.

Mas choro principalmente, por meu coração partido.

– Quem está ai? – ouço Arthur batendo na porta.

– Hum? – engasgo, tentando não parecer que estou chorando. – É Megan. – digo, pegando metade alguns pedaços de lenço para enxugar os olhos.

– Bem, se limpe e desça. – ele começou a rir. – O jantar está quase pronto.

– Tudo bem. – eu respondo, fazendo o meu melhor para esconder meus soluços.

– Depressa. – ele disse ainda batendo na porta. – Estou com fome.

Levanto-me e me olho no espelho.

Estou irreconhecível.

Rímel escorrendo e cabelo despenteado é tudo que vejo. Francamente, eu pareço tão horrível quanto me sinto.

O que aconteceu comigo durante esses dias para me fazer tão fraca? Eu nunca pensei em milhões de anos que eu seria uma dessas mulheres que caem para o primeiro homem que lhes dá qualquer tipo de atenção apenas para se machucar no final.

O fim dessas historias são sempre as mesmas.

Garoto encontra garota. Garoto e garota se apaixonam. Alguém se fode. Fim!

– Pare com isso. – digo para mim mesma no espelho, abrindo a torneira para molhar um pouco um dos lenços e passar no meu rosto. – Você é melhor do que isso. – repito a frase popularizada por minha mãe, sempre que eu estava fazendo algo que ela julgava estúpido.

Eu ajeitei meu rosto, tanto quanto dá, antes de ir para fora.

Eu não quero estar aqui.

Eu quero pegar minhas coisas e ir para casa. Sozinha.

– Megan. – Rita me chama, surgindo do nada.

– Sim. – respondo, ainda de costas para ela.

– Luene está tão fora de controle esse ano. – ela reclama, antes de ouvir o som de joias tinindo.

– Huh.. – dou de ombros levemente.

– Estou tão feliz que você está aqui. – ela me abraça por trás e beija minha bochecha. – Depois de todo esse tempo, finalmente sinto que a minha família está realmente completa. – sinto seu sorriso contra mim. – Vamos lá.- diz colocando um colar de rubi com cristais que Plínio tinha dado para ela mais cedo. – Ajude-me colocar isso. – completou sorrindo.

– Claro. – digo baixinho, apertando o colar nela.

– Então... – ela fica na minha frente e gira. – Como eu estou? – questionou, nervosa.

Ela estava com um vestido vermelho lindo que batia um pouco acima do joelho. As alças cruzavam na parte de trás fazendo um grande arco. Ela estava linda. Ela corre as mãos sem perceber sobre o vestido e por um breve segundo, ela não se parece com uma mulher prestes a comemorar mais um aniversario de casamento. Ela se parece mais com uma garota de 15 anos prestes a ir ao seu primeiro encontro.

Mesmo passando pelo meu próprio inferno pessoal, eu sorri um sorriso genuíno de felicidade pelos pais de Davi.

Eu decido que vou ir embora após o jantar.

– Você está maravilhosa, Rita. – digo ainda sorrindo.

– Bom. – ela suspirou de alivio. – Este vestido custou uma fortuna. – diz rindo. – Você está adorável. – ela sorri para mim, me fazendo dar uma voltinha.

– Obrigada. – digo, sentindo meu sorriso começando a desfazer.

– Devemos descer agora. – ela avisa. – Luene está para enlouquecer. – sorri novamente.

Estava para descer quando vejo Camilinha vindo até mim.

– Hey, Megan. Roupa legal. – ela sorri, parecendo vibrar de antecipação.

– Hey. – tento sorrir. Eu não tinha ideia de como era difícil até agora.

– Você não vai acreditar no que eu ouvi na noite passada... ou vi, não importa! Os Ya.. – ela começa.

Neste ponto, eu não me importo. Eu só quero que essa noite termine para que eu possa ir para minha casa. Sinceramente, duvido que qualquer coisa que Camilinha diga fará alguma diferença nesta decisão.

Eu não estou no clima para sua fofoca.

– Eu tenho que ir ajudar Luene.- sorrio, esperando que ela acredite na mentira. – Você pode me dizer mais tarde. Ok?

– Hum... É bom, eu prometo que... – ela está praticamente pulando agora.

Eu ainda não estava interessada.

– Camilinha. – eu a parei no meio da frase. Escolho com cuidado minhas palavras. Quando eu fico com um humor de merda, eu sou conhecida por dizer um monte de merda que eu não queria dizer. A última coisa que eu quero fazer é ferir os sentimentos de alguém, porque eu estou tendo um péssimo dia. – Isso pode esperar. – finalizei, me afastando.

Eu olho em volta e me pergunto o que eles viam quando me olhavam? Será que a minha dor está visível para que eles notassem? Eu paro para me recompor e sinto uma faísca familiar, traidora, ao longo do meu braço.

– Você está linda. – ele vem até mim sorrindo.

Arg. – me afasto, caminhando para a sala de jantar e sentando na minha cadeira.

– Megan.. – Camilinha começa. – Megan... Megan... Megan o que é... – como se Deus estivesse respondendo a uma oração, Plínio começa a falar e a distrai.

– Há 27 anos atrás, ...

Nesse ponto, eu me desligo. É difícil comprar toda essa merda de Felizes para Sempre quando estou sentada aqui com meu coração quebrado em milhares de pedaços. Eu olho em volta para ver todo mundo olhando para Plínio e Rita em reverência. Então, eu olho para Rita. Eu olho para ela e posso dizer que Plínio é seu mundo. Ele olha para ela do mesmo jeito.

Ela olha em volta, ouvindo discurso e suspira... em contentamento.

Um marido que a ama. Lindos filhos. Uma neta encantadora. Uma porrada de dinheiro.

Ela tem um final de conto de fadas.

Talvez seja por isso que a maioria das meninas leem historia de princesas... porque esperam que talvez, apenas talvez, elas possam vencer as adversidades, porque vamos encarar, as chances são incrivelmente baixas.

Eu nunca tinha acreditado em historia de princesas e finais felizes de filmes até cerca de alguns dias atrás. Enquanto eu estava aqui, eu pensei que talvez fosse possível obter toda a coisa de felizes para sempre. Um belo marido que me ama. Uma casa cheia de crianças.

Não demorou muito até que a realidade se fez presente. Realidade na forma de meu namorado ser masturbado pela sua ex-namorada.

Quase me esqueci de que finais felizes não existem.

Quase.

– Sinto muito. – disse me levantando e empurrando minha cadeira para longe, fazendo com que todos olhassem para mim. – Eu não posso fazer isso. – me esforço para não cair em lagrimas, jogando meu guardanapo na mesa.

– Megan. – Davi pede, fazendo seu papel de namorado amoroso.

– FODA-SE DAVI! – encontro-me gritando e lhe dando uma bofetada, antes que eu possa me controlar. Eu tinha me tornado oficialmente descontrolada ao ponto que eu não me reconheço. Eu nunca teria sonhado em fazer algo parecido. Eu nunca teria sonhado que isso aconteceria comigo... nada disso. Eu olho em volta para os olhares de choque no rosto de alguns convidados e imediatamente me senti envergonhada e constrangida.

Corro para fora da casa e vejo o carro de Danusa, a chave estava lá. Ela tinha deixado caso Luene mandasse a gente pegar algo de ultima hora. Dei partida no carro, eu não estava em condições emocionais de dirigir, mas eu precisava me afastar. Eu precisava sair de perto do Davi.

Quando cheguei a rua um pânico me atingiu e comecei a tremer. Para onde eu iria?

Meu celular começou a tocar. Vi a foto da Camilinha no visor.

– Megan? – ela disse assim que atendi.

– Cá... ele... ele... me traiu! Está doendo tanto, não sei se posso suportar. – nem tinha percebido que tinha voltado a chorar.

– Megan, por favor, encoste o carro. – ela gritou. – Eu vou ti encontrar amiga. Encoste esse carro pelo amor de Deus.

– Não.. Eu preciso me afastar....

Eu dirigia mais não estava enxergando um palmo a minha frente. Minhas lagrimas estavam embaçando a minha visão. Uma buzina forte veio de fora do carro seguida por faróis cegando ainda mais meus olhos e uma batida na lateral do carro que eu estava.

Eu fiquei pelo que me pareceu horas ali dentro, rodando e sendo sacudida, até a inconsciência me tomar.

– Davi. – ela geme, olhando em seus olhos, montada nele. – Ah...

– Porra. – ele sussurra, agarrando seus quadris para movê-la mais rápido. – Senti sua falta.

– Eu também senti sua falta. – ela geme, jogando o corpo para trás apoiando as palmas na coxa dele.

– Eu te a....

– AH! – grito o mais alto que consigo, me levantando de... uma cama de hospital?

Que porra é essa?

– Você está acordada. – um homem em um terno preto com um fone bluetooh em seu ouvido se move para perto da minha cama.

– O quê? – questiono, ainda desorientada. – O que aconteceu?

– Eu acho que é melhor o médico explicar. – ele diz, apontando para a porta quando um médico entra na sala.

– Que porra é essa? – pergunto, olhando ao redor da sala para as maquinas.

– Srta. Marra. – o homem de jaleco de aproximou da cama. – O seu pai me enviou para cuidar exclusivamente da senhorita, provavelmente não esta se lembrando, mas a alguns dias a senhorita sofreu um acidente de carro, como resultado...

– O quê? – agora eu comecei a me lembrar, eu estava dirigindo, o barulho da buzina... o carro rodando...

– Seu corpo sofreu um trauma significativo. – ele acrescentou. – Você teve uma parada respiratória.

Meus pulmões pararam de funcionar?

– Eu não...

– Se o socorro demorasse, você poderia ter sofrido uma lesão cerebral... ou morresse. – finalizou.

Talvez fosse o fato de que eu, aparentemente, quase morri, mas eu não conseguia compreender a situação.

– Tenho certeza que seu namorado ficará feliz...

– Ele não é meu namorado. – o interrompi rapidamente. – Acho que eu ter o pego recebendo favores sexuais da sua ex namorada gorda é uma razão tão boa quanto qualquer outra para terminar. – tento rir, mas falho miseravelmente.

A sala começa a ficar embaçada, quando eu sinto minhas bochechas se molhares com as malditas lágrimas.

Como eu posso ter sido tão estúpida?

– Bem... – o médico ressalta. – Você não tem que avisá-lo que está acordada. – sorriu sem jeito. – Só sei que nós vamos tomar conta de você.

– Eu.. – começo, sem saber o que vou dizer ou fazer. – Eu...

– Está tudo bem, senhorita Marra. – o homem de terno diz suavemente. – Seu pai nos enviou para cuidar de você. – diz dando um tapinha no meu ombro.

Oh, ótimo!

– Obrigada. – choramingo, tentando soar o mais sarcástica que posso. – Dad sabe mostrar o seu amor.

Claro, eu quase morri... e ele nem sequer se preocupou em fazer uma pausa em sua agenda tão ocupada para me ver.

– Ele atualmente está em Tókio. – se desculpou. – É claro que ele é incapaz...

– Tanto faz. – digo, antes de limpar as lagrimas do meu rosto.

Enquanto eu tentava limpar minhas lagrimas. Eu me lembrei de como ele cuidou e se preocupou comigo. E as lagrimas voltaram com força acompanhadas de soluços.

Eu tinha pensado que ele era único.

Eu pensei que ele me amava.

– Davi.... – sussurro entre as lagrimas. – Eu ... eu... – me esforço para encontrar as palavras.

– Srta. Marra...

– Eu quero ir pra casa. – finalmente consegui dizer algo. – Eu quero ir pra minha casa.

– Eu não posso fazer isso. – o médico recusou.

– Sim, você pode! – aceno com a cabeça, as lagrimas correndo livremente pelo meu rosto. – Eu quero ir pra casa. – repito.

– Megan. – o homem de terno me olha nos olhos. – Você quase morreu. – disse com firmeza. – Você precisa ficar aqui.

– Não! Eu quero ir para casa. Eu quero ir pra casa. – fico cantando de olhos fechado enquanto balanço a cabeça.

Eu não posso ficar aqui... não quando tudo me lembra ele. Não onde o resto de sua família vai, sem duvida, me bombardear com pedidos de desculpas.

Não aqui.

Eu quero ficar sozinha... como eu deveria ser.

– Eu não posso fazer isso. – o médico disse balançando a cabeça profusamente. – Precisamos cuidar....

– Corta o papo furado! – gritei, silenciando o quarto.

Eu estava tão casada dessas pessoas que fingiam se importar. Eles nunca se importavam.

– Srta. Marra...

– Pare de fingir que se importa com alguma coisa, porque nós dois sabemos que você não dá a mínima. – ordeno. – Você só está sendo tão atencioso porque o meu dad está lhe pagando para estar aqui e cuidar de mim.

Eu não queria ficar aqui mais tempo do que o necessário.

– Hum... – o médico olhou para o homem de terno. – Eu não...

– Você tem que me liberar. – cruzo os braços. – Eu pedi para ser liberada. Você tem que me liberar! Você.. – aponto para o homem de terno. – Me dê algumas roupas.

– Srta. Marra, são 10:30 da noite. – ele me informa. – Nós não podemos libertá-la até que...

– Quanto? – questiono, revirando os olhos.

– Hã...

– Chame o supervisor desse hospital... ou quem esteja no comando de doações desse hospital. – ordeno. – Vamos ser objetivos aqui. – acrescento. – Eu quero sair. Se eu tiver que comprar a minha saída, eu vou comprar.

– Senhorita...

– Basta ir. – indico a porta, com o lábio tremulo.

– Ok. – ele encolhe, saindo pela porta.

– Seu pai não vai permitir isso. – o homem de terno balançou a cabeça. – Você precisa descansar.

– É uma coisa boa que eu tenho meu próprio dinheiro. Não é? – digo, revirando os olhos. – Frete um avião para mim.

– Eu não posso fazer isso. – ele nega com a cabeça. – Você pode sair daqui, mas não vou ajudá-la...

– Tudo bem. – eu alcanço o telefone e ligo para dad.

Depois de chamar um milhão de vezes, ele finalmente atende.

– Olá? Está tudo bem?

– Diga para o seu guarda costas fretar um avião para mim. – ignoro a pergunta inicial.

– O quê? - ele pergunta, em choque. – Eu não vou fazer isso. – se recusa. – Você esteve em coma Megan, você tem noção disso?

Eu balancei minha cabeça com raiva, manda um médico de outro lado do mundo pra cuidar de mim, mas ele não podia fazer isso. E ainda tem a coragem de me perguntar uma coisa dessa!

– Eu estou indo embora. – afirmo. – Eu quero ir pra minha casa.

– Vá para outra cidade. – oferece outra opção. – Fique no hospital, Megan. – resmunga.

– Eu estou indo para casa.

– Não, você não está. – tentou argumentar. – Eu sei que você não gosta de hospitais, mas você está ferida. – ele fez caso. – Fique e deixe que Davi...

– Não há mais Davi. – tento o meu melhor para não chorar novamente. Dad odeia quando eu choro.

– Bem... – ele resmunga.

– Não diga nada. – praticamente choraminguei. – Não diga, ‘eu avisei’, é a ultima coisa que preciso ouvir. – digo.

– Megan. – ele começa a discutir novamente. – Sei que você está chateada...

– Nem fodendo tente negociar comigo! – grito com ele.

– Eu não vou...

– Eu já te pedi alguma coisa? – questionei com raiva transbordando na minha voz. – Eu já verdadeiramente lhe pedir algo de verdade? – acrescento. – Eu não pedi para você ficar quando você veio aqui. Eu não pedi para você ir em nenhuma das minhas formaturas. Eu nem sequer estou lhe pedindo para vir me visitar no hospital! – eu estava fervendo. – Eu nunca exigi alguma coisa importante de você... exceto isso! – as lagrimas conseguem fazer seu caminho novamente, e me vejo chorando. – Você obviamente não me ama... então o mínimo que você pode fazer é fretar a porra de um avião para mim. – eu me esforço, antes de desligar e jogar o telefone no quarto.

Merda. Aquele não era o meu celular.

– Desculpa. – digo ao homem de terno.

– Está bem. – ele olha para longe de mim, enquanto pega o telefone danificado. Não demorou muito para que o dispositivo começasse a tocar sinalizando uma mensagem de texto. – Seu avião está pronto dentro de uma hora. – ele informou.

Dad se rendeu. – suspiro.

Após uma reunião com praticamente todos os funcionários importantes do hospital, e uma generosa doação e um documento liberando o hospital de qualquer delito e uma viagem para uma loja 24h para obter roupas, eu estava livre para ir.

– Onde? – o piloto perguntou, cumprimentando em frente ao jatinho G550.

– Eu não sei. – sussurro, olhando ao redor. Eu rapidamente penso um pouco sobre como eu estava nervosa quando Davi e eu chegamos aqui. Agora, eu não tinha nenhuma outra necessidade. – Leve-me onde as pessoas são felizes. – suspiro, tomando um último olhar ao redor.

– Você tem qualquer lugar em mente?

– Surpreenda-me. – o desafio, enquanto a escada do avião desce.

– Você tem alguma bagagem? – uma aeromoça pergunta, olhando para minha falta de bagagem... bagagem física. Porque a bagagem emocional eu tenho suficiente para umas cinco pessoas.

– Não. – depois daria um jeito de pegar as minhas coisas, pediria a Camilinha para levar para mim ou me enviar.

– Então, acho que nós vamos estar no nosso caminho. – a aeromoça nos acompanha para o avião.

– Você não tem que...

– Eu tenho. – o homem de terno me interrompeu. – Eu tenho instruções estritas para ter certeza que você chegue a propriedade e se instale.

– Claro. – reviro os olhos, caindo em meu lugar.

– Este é o seu capitão falando. – disse o comandante da cabine já. – Nós vamos estar no nosso destino em torno de 11 horas. – informa.

O som do avião acelerando, juntamente com o homem de terno digitando em seu computador serviu como uma espécie de distração. Eu agarro meus joelhos contra o peito, observando como tudo fica menor quando o jato fica mais alto. Tudo parece tão insignificante.

Contra a minha vontade, meus olhos ficam cheios de lágrimas novamente. Tenho certeza de que o homem de terno está cansado de me ver chorar, uma vez que parece que não sei fazer outra coisa desde que acorde. Descanso minha cabeça em meus joelhos e tento me controlar.

– Uh... – ele bateu no meu ombro. – Aqui. – disse, me entregando uma caixa de lenços de papel.

– Obrigada. – pego a caixa e um lenço assoando meu nariz.

– Quer falar sobre isso? – ele se sentar na minha frente.

– Não. – digo, de forma petulante.

– Talvez você pare de chorar, se você falar sobre isso.

– Bem... – olho pra ele. – Eu sinto muito que a desintegração do meu relacionamento está provando ser desgastante para os seus ouvidos.

Adivinha? Ele só quer que eu pare de chorar.

Idiota.

Não é à toa que ele trabalha para meu pai.

– Não foi isso que eu quis dizer. – ele revira os olhos. – Falar sobre eventos traumáticos é conhecido por ajudar a curar as pessoas. – ele explica, se desculpando.

– Eu não me sinto no clima de falar de como me sinto sobre ver o meu ex recebendo uma punheta de sua ex namorada gorda. – quase gritei.

– Sim, você consegue. – ele argumentou. – Você não falaria assim, se você não conseguisse.

– Não, obrigada. – disse cruzando meus braços.

Eu nunca fui daquelas que fala sobre as coisas. Se você falar sobre isso, o torna ainda mais real.

– Eu sei...

– Você não sabe de nada. – o interrompi, ficando irritada a cada segundo. – As únicas coisas que você sabe sobre mim são as coisas que você leu em um arquivo em algum lugar. – argumentei. – O que você não sabe... que eu estou tentando sugerir a você... é que eu não sou uma pessoa particularmente sentimental. – tomo uma longa respiração. – Então, não. Eu não quero falar sobre isso. Eu não quero chorar no seu ombro. – disse com raiva. – O que eu quero é que você me deixe em paz! – gritei, e me viro para a janela.

– Okay. – ele suspira, vejo pelo canto do olho que ele levantou as mãos em sinal de rendição. Vi ele se levantando e indo para uma poltrona mais perto da cabine do piloto.

Se eu não soubesse que ele trabalhava para o meu pai, eu poderia me sentir culpada pela forma que o tratei. No entanto, tenho certeza que ele já ouviu pior.

Volto meu olhar para fora da janela. Eventualmente, minhas pálpebras se tornam pesadas e eu adormeço.

– Srta. Marra?

– Ah! – grito, acordando assustada. – O quê? – pergunto, limpando o suor frio do meu rosto.

– Nós chegamos. – a aeromoça anunciou, sorrindo.

– Oh. – me levanto e faço o meu caminho para a porta.

– Rezo para que minha escolha seja aceitável. – o piloto diz, no momento em que meus olhos caem sobre três homens vestidos em calças de linho branca e blusas azuis.

Na kalí zoí. – um homem disse dando um passo à frente para cumprimentar-me, quando desci a escada. – Meu nome é Nícolas.

– Megan. – sorrio, apertando a mão dele.

– Eu gostaria de ser o primeiro a recebê-la na Grécia. – ele sorri, me escoltando pelo tapete vermelho na pista.

– Obrigada. – aceno para ele, silenciosamente contanto os minutos para ficar sozinha.

Depois de um rápido desvio para o banheiro, eu estou a bordo de um helicóptero e espero mais 30 minutos para chegar onde eu estava indo. Dou um suspiro de alivio, quando a casa fica à vista.

– Uau. – diz o piloto, através do intercomunicador. – Está passando por tempos difíceis, hein? – ele brinca, pousando o helicóptero no heliporto.

– Foi um começo de ano difícil. – digo de forma inexpressiva, enquanto alguém me ajuda a sair. – Finalmente. – digo, olhando para a quantidade de terra a minha frente.

Os paparazzi estão sempre perseguindo Jonas Marra. Sua aparência, inteligência e fortuna servem para fazer dele o homem perfeito. Como resultado, além de nunca ter qualquer momento para mim, ele nunca tem qualquer privacidade. Por isso ele tem algumas ilhas ou como ele gosta de chamar os seus retiros insulares. A única maneira de chegar seria de barco ou helicóptero – o que é ótimo para minha atual situação. Essa aqui são mais de 150 hectares de plantas, arvores, flores, pássaros... e uma mansão com dez quartos na beira da ilha.

– Você precisa de...

– Não. – o corto, realmente não me importando com o que iria perguntar. – Eu cuido disso. – digo.

– Tudo bem.- o homem de terno diz, antes de a porta do helicóptero se fechar.

– By. – aceno, com a vista do helicóptero ficando cada vez menos, antes de desaparecer no ar.

Sento-me na grama e na sujeira e olho a vista na minha frente. Grandes rajadas de vento, combinando com o cheiro e o som do oceano preenche meus sentidos. Fecho meus olhos e penso nele... em como tivemos um momento como este... de apenas ouvir o mar e sentir o vento, admirando o por do sol... o sentimento de completude.

A memória só serve para me lembrar que eu não estou completa. Abro os olhos, querendo bloquear meus sentidos. Eu não quero pensar sobre ele. E não quero pensar nele nunca mais. Outra lágrima traidora rola pelo meu rosto.

Eu não quero pensar nele nunca mais.

Uma onda pequena trava contra a costa, enquanto eu olho para o horizonte. Tudo o que vejo é mar.

Eu estou sozinha... e odeio isso.

– PORRAAAAA! – grito do fundo dos meus pulmões.

Voltei minha atenção para o sol surgindo, temporariamente me distraindo com a sua beleza. Devido ao fuso horário aqui estava amanhecendo, o sol tinha tons de vermelho e rosa. E foi impossível conter o sorriso. É uma bela vista.

Era estranho como sorrir tinha se tornado algo tão estranho para mim. Em menos de 24h eu perdi minha vontade de mostrar qualquer forma de felicidade. Talvez seja isso o que aconteceu com meus pais. Toda a amargura e desgosto destruiu a capacidade de amar alguém, alem deles mesmos.

Eu estava condenada a essa vida? Está nos meus genes ser insensível?

Eu sempre me policiei para não ser uma pessoa particularmente ‘sentimental’. Eu costumava me orgulhar por ser assim. Eu adorava que eu fosse capaz de ver as coisas além de como eles me fizeram sentir. Camilinha aceitava isso sobre mim sem questionar. Eu estava contente com a minha solidão emocional.

Então, eu o conheci.

Ele me fez rir.

Ele me fez sentir segura.

Ele me fez sentir amada.

Ele me fez amá-lo.

Ele me fez sentir.

Nunca tinha me ocorrido que eu tinha mudado até agora. Senti-me em um redemoinho de emoções. Raiva. Vergonha. E a pior... eu me sentia ferida. Sozinha. Eu já tinha sentido essas duas ultimas ao longo da minha vida... mas nunca com essa intensidade.

Me fez sentir como se eu realmente pertencesse a algum lugar para perceber o quão sozinha eu realmente era.

O que é pior? Estar sozinha ou se sentir sozinha?

Esta sessão de pensamentos logo se torna muito e me vejo andando para a casa.

Ligo as luzes e imediatamente me sinto uma anã em comparação com a casa. Eu nunca tinha ficado aqui antes, por isso é novo para mim. As luzes criaram um brilho estranho na casa, devido o fato de ainda estar um pouco escuro lá fora. O piso de mandeira caro, obras de artes... tecnologia de ultima geração. Dad tinha projetado essa casa. Pressiono um botão, fazendo com que as cortinas nas janelas que vão do chão ao teto se abram, me dando uma vista deslumbrante da ilha. Tomo conhecimento de uma piscina nas proximidades de borda infinita.

Meu estômago roncou interrompendo meu passeio pela casa. Nesse momento que percebo que não comi nada desde que Da... ele e eu pedimos pizza depois daquele Baile de Gala. Isso foi dias. Depois de uma breve pesquisa, achei a cozinha. Felizmente, meu pai teve alguém abastecendo a geladeira. Eu ainda estava muito cansada, então peguei morangos, kiwi, uvas e os coloquei em uma bacia e peguei uma garrafinha de água. Tomo um banho relaxante na banheira e depois me jogo no sofá.

– Eu te amo, Megan. – ele diz, beijando meu pescoço.

– Eu também te amo. – corro meus dedos por seu cabelo, enquanto seus lábios descem ainda mais...

– Arg... – cubro meus olhos com as costas da minha mão. – Shit! – murmuro, sendo cegada pelo sol. Levanto-me e fecho as cortinas.

Meu estômago ronca mais uma vez, me sinalizando que ainda estou com fome. Pego mais uma bacia de frutas, não estava com animo de cozinhar nada. E vou para o lado de fora, me deitando em uma espreguiçadeira na sombra de um guarda-sol, o sol da Grécia é muito forte e minha pele é muito clara, se ficasse no sol provavelmente ganharia uma insolação. Tentei apreciar a paisagem. Admirando o mar, tentando esquecer. Mas sei que nunca vou esquecer. Estou apenas tentando não pensar....

O sol começa a refletir na costa, é quando eu vejo um grupo de pássaros voando ao redor. Fico admirando por mais alguns minutos... Até que decido fazer o meu caminho para a porta, pegando o meu prato.

Deixo as coisas na cozinha e me jogo no sofá novamente. Quando me dou conta estou embalando meus joelhos contra o peito, mais uma vez. A diferença é que desta vez, eu não luto contra. Eu penso nele.

Seus olhos.

Seu sorriso.

Como ele gagueja quando está nervoso com algo.

Como ele ficou estranho quando vi nu pela primeira vez.

Como era bom sentir seu toque.

Como seus lábios eram macios.

Como era bom sentir ele dentro de mim.

Como eu me sentia protegida com seus abraços.

Sinto falta dele. Eu odeio isso, mas eu sinto. Eu odeio o fato de que mesmo ele me machucando como fez, eu ainda sinta falta dele. Eu gostaria que ele estivesse aqui. Mesmo que fosse para eu lhe dar um chute nas bolas. Eu gostaria que ele estivesse aqui comigo.

Enrolada em mim mesma no sofá eu choro até que minha cabeça começa a doer. Fico lá, pensando em tudo pelo que parece ser horas.

Logo fico entediada.

– Arg. – limpo meu nariz e procuro algo para fazer. Como já fui lá fora, acabo por decidir explorar melhor a casa.

É uma mansão padrão com quartos e banheiros excessivamente grandes, grandes closets e tinha até mesmo um ginásio. Me deparo com um quarto no fim de um corredor. Abro a porta para encontrar uma sala com uma tela plana enorme o suficiente para ocupar uma parede, ao lado uma prateleira cheia de DVD´s e livros e um computador. Como se dad tivesse tempo para assistir filmes.

– Ótimo. – suspiro, sentando à mesa do computador.

Ligo a TV para ver se consigo encontrar alguma coisa decente para assistir. Resolvo assistir Truque de Mestre no canal Telecine.

– Que diabos? – pergunto, olhando para o computador que ligou.

– Até que fim você encontrou um computador. – dad cruzou os braços. – Eu estava começando a ficar com medo que você estivesse morta, estava quase ligando para o caseiro ir dar uma olha!

– Muito em breve. – rolo os olhos, olhando para a tela da TV.

– Uh... – ele resmunga, a paralisação em nossa conversa fazendo nos sentir desconfortáveis. – Como você está?

– Essa é realmente uma pergunta idiota. – indico.

Eu só tinha visto o meu ex recebendo uma punheta da sua ex namorada gorda em nada alem de uma lingerie. Como é que ele acha que estou me sentindo?

– Você não pode culpar-me por querer saber se você está bem. – ele revira os olhos.

– Obrigada. Eu acho. – digo, olhando a parte que Isla Fisher sobrevoou sobre a plateia em uma bolha.

– Preste atenção. – ele ordena, enquanto a tela da TV é desligada.

– Sério? – pergunto, olhando para ele. – Você poderia simplesmente ter pedido.

– Você teria dito ‘não’. – ele argumentou.

– Tudo bem. – dei de ombros. – O que é tão importante que você precisa falar para mim?

Ele deve ter outro ângulo.

– Eu só quero ver como você está indo.

– Eu estou bem. – minto.

– Megan. – ele suspira. – Edmilson me contou o que aconteceu. – ele me diz.

– Quem é esse?

– O cara que escoltou você até a ilha. – diz ele como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

– Oh, o homem de terno. – concordo com a cabeça em reconhecimento.

– Eu só quero dizer que não há problema em ficar... – ele parou, parecendo procurar a palavra. – Chateada.

– Podemos não falar sobre...

– Davi me disse que vocês não estavam realmente envolvidos até recentemente. – ele deixa cair a bomba.

Merda. Esta é a ultima coisa que eu preciso... uma lição de moral.

– Eu... eu... eu... – de repente, fico sem palavras. Não é isso que eu estava esperando.

– Eu não vou julgar você ou dizer ‘eu avisei’ – ele balança a cabeça. – Vamos deixar isso para sua mãe.

– Pâmela sabe também? – questionei, horrorizada.

Ela provavelmente vai ficar muito furiosa por ter que cancelar o casamento fabuloso que ela provavelmente já esta planejando sem a minha permissão.

– Dê-me um pouco de crédito. – ele revira os olhos. – Eu não sou tão cruel.

– Oh. – me encolho de volta no meu lugar. – Obrigada.

– O que eu não consigo entender é... – ele fez uma pausa. – Se vocês dois estavam fingindo, porque você está tão chateada?

Coloco minha cabeça em minhas mãos, tentando descobrir uma maneira de explicar isso. Eu não posso.

– É só que.. aconteceu.

– Elabore. – disse me encarando fixamente.

Eu deveria saber que uma versão curta não funcionaria.

– É só que... um dia eu estou ajudando ele com este favor e no dia seguinte descubro que o amo. – dei de ombros, limpando uma lagrima traiçoeira do meu rosto.

– Que favor?

– Aqui vamos nós. – resmungo, entrando na historia toda. Obviamente deixando de fora todas as partes sexuais. Eu prefiro morrer do que admitir certas coisas para dad. Eu não me importo se ele está a um milhão de milhas de distância.

– Espere um minuto. – ele interrompe. – Então vocês tinham ficado oficiais basicamente no dia anterior que fui visita-los?

– Sim. – enfatizo.

– Bem.. – ele bate um dedo no queixo. – Eu nunca o aprovei realmente. – ele começa. – Primeiro, a briga de bar. Então, você quase morre...

– Ele disse isso? – questionei, confusa.

Eu não sabia que eles falaram sobre isso. Por que ele não me contou?

Teria me irritado profundamente.

– Ele mencionou algo sobre você bater em Vander. – ele sorri. – Ele queria que eu estivesse preparado no caso do filho da puta querer vir atrás de você. – ele me informou. – Ele apenas estava tentando lhe proteger, mesmo sabendo que você provavelmente ficaria louca. – ele sorri. – Oh! Olha! – ele sorri sinistramente enquanto me mostra um papel. Era o retrato de Vander com a palavra idiota escrita através dele. – Eu enviei por fax para cada empresário que eu conheço no Brasil. – ele riu. – Ele precisa ter sorte para conseguir um emprego em um fast food.

– Obrigada. – sorrio através das minhas lagrimas. Isso me fez sentir um pouco melhor.

– Ele ama você. – me diz. – Ele realmente te ama.

– Oh. – é tudo o que eu poderia dizer.

– Você o ama? – me pergunta. – Seja honesta com você mesma.

– Hum... – aceno com a cabeça e imediatamente me odeio por isso. – Não importa mais. – digo baixinho.

Se ele me amasse, não teria aceitado que a ex-namorada o masturbar-se.

– Sim, importa. – argumenta. – É a única coisa que realmente importa.

– Me convença. – o desafiei.

– Se você o ama... realmente o ama, então você pode encontrar perdão no seu coração. – ele disse. – Faça-o correr atrás. Dê-lhe o inferno... mas o perdoe.

Eu fiquei olhando para a tela em reverência. Este homem é realmente meu dad? É este o homem que nunca tinha tempo para mim? É este o homem que arranca pessoas de momentos familiares só porque é melhor cumprir às suas metas para o ano?

Eu estou falando com a porra de um holograma. Eu sabia!

– Você está falando realmente sério? – questiono. – Eu o pego... recebendo uma punheta... de sua ex-namorada... sendo que ela estava apenas de lingerie... e você quer que eu o perdoe?

– A decisão é sua. – diz em sinal de redição. – Você que o ama. – me lembrou. – É a sua decisão dar ou não uma segunda chance ao amor.

– Ótimo.

– Eu gostaria que alguém tivesse essa conversa comigo. – ele diz suavemente.

Será que eu tinha ouvido certo?

– O quê? – questiono, me inclinando para a tela.

– Eu sei que todo mundo acha que eu só me casei com sua mãe porque ela era linda. – ele revira os olhos. – No começo, era por isso que eu gostava dela mesmo, mas eu aprendi a amá-la. Eu honestamente a amava. – ele sorri fracamente. – Eu não era o melhor marido, admito. Nunca estava lá para ela ou para você. A próxima coisa que eu sei, ela está com Ernesto. – ele dá de ombros.

Wow. Eu sinto minhas sobrancelhas subirem com esta noticia. Minha mãe o deixou por Ernesto? Eu sempre pensei que eles só decidiram um dia que eles se odiavam.

– Eu não...

– Quase ninguém sabe. – ele interrompe. – Você sabe o que?

– O quê? – perguntou, interessada.

– Se ela viesse até mim e pedisse desculpas... me dissesse que estava arrependida... e quisesse dizer isso. – ele fez uma pausa. – Eu a teria perdoado... sem perguntas. – nesse momento eu percebi que ele confiava em mim. – Talvez se eu me desculpa-se ela teria feito o mesmo.

– Mas... – começo. – Ela te traiu... ela pegou seu dinheiro... ela me levou para longe...

– Ela estava com raiva. Ambos estavam. – ele dá de ombros.

– Mas...

– Megan. – ele me interrompe. – Você não pode amar e ter orgulho ao mesmo tempo. – ele nega com a cabeça. – Você não pode perdoar e ter orgulho ao mesmo tempo também. – faz uma pausa, olhando para algo fora da tela. – Isso é o que aconteceu com a gente. – continuou. – Eu gosto de pensar que ela estava me enviando uma mensagem... me dizendo que ela estava sozinha e que outros homens a queriam. No entanto, eu só continuei com ‘Como você se atreve a fazer isso comigo? Você sabe quem eu sou?’ – suspirou. – Olhando para trás, ainda nos amávamos. Do nosso jeito, mas nos amávamos. Poderíamos ter passado por isso. Nós apenas não tentamos. Nossos egos e nosso orgulho ficou no caminho. Isso se transformou em amargura. Isso se transformou em ódio! – ele fez outra pausa. – Não nosso divórcio.

– Eu só.. – choraminguei. – Eu sinto falta dele. Eu sinto falta da gente. – digo.

– Ninguém quer ficar sozinho.

– Esta merda é uma droga. – amuo, olhando pela janela. – O que você está fazendo? – digo quando o vejo remexendo em sua mesa.

– Olhe em uma das gavetas da mesa. – ele ordena.

– Hã? – questiono, seguindo suas ordens. Eu acabo rindo, quando me deparo com uma meia garrafa de tequila e um copinho de shot.

– Bom. – ele sorri, tirando um copo semelhante e uma garrafa de vodka. – No três. – diz ele, servindo-se uma dose. Ele começa a contagem regressiva.

– Ahh. – balancei minha cabeça, sentindo a bebida descer queimando na minha garganta. – Boa qualidade.

– É claro. – ele sorri, olhando para mim.

Silêncio nos engole. No entanto, essa é a primeira vez que não incomoda.

– Você sabe que eu te amo, Certo? – me perguntou, parecendo assustado com minha resposta.

Olho para ele, mostrando-lhe quão sem sentido eu acho que essa pergunta é. Em seguida, eu penso, e derramo outra dose de tequila. Então, penso um pouco mais.

– Bem... – tomo a dose. – Às vezes é difícil dizer. – lhe digo honestamente. – Você tem umas atitudes de merda... – indico.

– Bem... – ele responde, me imitando e tomando outra dose. – Sinto muito sobre as suas formaturas... e ter saído daquele jeito quando a visitei no Brasil... e seus aniversários...

– Os últimos nove. – acrescento. Ele acena com a cabeça.

– E não ter ido ao hospital....

– Eu entendi. – o interrompi. - Você está arrependido.

– Não. – ele diz com firmeza. – Eu realmente sinto muito. Eu deveria ter estado lá. Em cada um desses momentos importantes para você. Agora, você está crescida e eu perdi.

– Você não perdeu muita coisa.

– Sim, eu perdi. Você é uma mulher incrível e admirável. Eu gostaria de poder dizer que eu tenho uma mão nisso, mas eu não posso. – ele diz tristemente. – A culpa é minha e eu sinto muito.

– Ok. – eu sorrio para ele. – Você está perdoado.

– Queria que eu estivesse lá mais. – confidenciou. – Talvez você não me odiasse.

– Eu não odeio você. – neguei profusamente. – Há algum ressentimento leve... mas não o ódio.

– Isso me faz sentir melhor. – resmunga enquanto toma outra dose.

– Você pode se livrar do ressentimento. – sorrio.

– Ainda há esperança. – ele se inclina para trás em sua cadeira.

– Sinto-me estranha. – admiti. Acho que essa era a primeira vez que nós realmente conversávamos como pai e filha!

– Eu também. – ele diz rapidamente. – Você gostou da casa?

– É boa. – digo olhando em volta.

– Prometa que você vai pensar sobre o que eu disse. – ele me pediu.

– Ok.

– Além disso. – ele fez uma pausa. – Tudo pode não ser o que parece.

O quê?

– Eu acho que você deve saber pessoalmente de qualquer jeito. É tudo muito... novela mexicana. – ele rir. – Eu não acreditei quando ouvi pela primeira vez.

– O que você está falando... DAD! – grito para a tela vazia. – Shit. – do mesmo jeito que ele tinha aparecido ele desconectou.

Cruzo meus braços, me sentindo mais confusa do que nunca.

Sento-me no sofá, pensando sobre o que ele me disse.

O que poderia não ser o que parece?

– Estou tão cheia de enigmas. – reclamo.

Eu ando pelo redor da casa e acabo novamente no primeiro piso em frente as janelas. O sol já está se ponto e o clima estava ótimo para um mergulho na piscina. Como não tenho roupa de banho, eu recorro a me despir ficando apenas com a minha lingerie antes de saltar na água.

Eu levo meu tempo na água, pensando sobre a minha conversa com dad, enquanto eu nado. Poderia realmente ser tão simples? Poderia um ‘Desculpe’ e ‘Eu te perdoo’ realmente segurar tanto poder? Eu amo Davi. Seria possível um apenas ‘Sinto muito’ servir, após o que eu vi?

Meu monólogo interior é interrompido pelo barulho de um helicóptero e a sensação de estar sendo observada.

Eu paro de boiar e viro minha cabeça, apenas para olhar para ele. Ele está de pé na beira da piscina. Vestido em uma blusa branca com uma camisa de botão xadreza por cima, calça jeans e all star. Ele está segurando uma mochila como se ele tivesse as respostas para o mundo. Ele estava lindo. No entanto, seu rosto é atormentado pelas bolsas sob os olhos. Eu fico olhando para seus olhos e sei imediatamente que ele se sente como eu me sinto.

Ele parece miserável.

Bom!

– O que você está fazendo aqui, Davi?