Legolas carregava em seus braços Gimli desacordado, o sangue do anão escorria de seu tronco e encharcava suas roupas, assim como as do elfo. A chuva caia pesadamente dificultando a locomoção de Legolas, que carregava não somente o anão, mas também suas bagagens de viagem, não poderiam se dar o luxo de perder suprimentos justo agora que Gimli fora ferido.

Usando sua visão aguçada o elfo encontrou uma caverna e rumou para lá o mais depressa possível, por sorte o lugar estava relativamente seco. Legolas depositou o anão no chão duro e remexeu em suas bolsas a procura dos sacos de dormir que carregavam consigo e assim que os encontrou formou um ninho e realocou Gimli ali. Podia ouvir alguns gemidos do anão, o que lhe causava certo alívio, pois isso confirmava que ele ainda estava vivo.

Queria cuidar do amigo, mas antes tinha que ter certeza que estariam seguros ali. Legolas saiu da caverna e procurou por qualquer tipo de vegetação que pudesse servir de camuflagem e levou até a entrada da caverna trabalhando rapidamente e escondendo-os do mundo exterior,provavelmente não tinham sido seguidos, mas todo cuidado era pouco.

Voltou para dentro da caverna e se aproximou de Gimli, que ainda não havia recobrado a consciência. Sem perder mais tempo começou a retirar a parte de cima das vestes do amigo e com elas, mesmo sujas de sangue, fez uma compressão onde antes havia uma lança. Estavam indo em mais uma de suas peregrinações quando foram emboscados e atacados por um grupo de orcs, foram pegos de surpresa e Gimli acabou por ser ferido antes que pudessem reagir, mas assim que percebeu o que aconteceu Legolas resistiu e acabou com os cinco orcs que se aproximavam.

Enquanto estancava o sangue e cuidava do amigo Legolas não pode deixar de se culpar, como poderia não ter percebido o perigo que se aproximava? Ele era um elfo ao final de contas, sua visão e audição eram aguçadas, mesmo em condições chuvosas como aquelas, deveria ter sido mais atento... Desviou seu pensamento para os cuidados que deveria prestar e resolveu não se culpar, não poderia mudar o passado, mas poderia remediar o presente.

Fez o que pode com as ervas que tinha guardadas na mochila, criou um emplastro e aplicou sobre o lugar enrolando-o logo após com um pedaço de pano limpo de sua capa, estava molhado, mas era o melhor que poderia utilizar naquele momento. Assim que o anão estava devidamente tratado, Legolas voltou à atenção para si, ainda estava ensopado e sujo, o frio começava a se entranhar por sua pele e começava a sentir fome, estavam andando há horas quando foram surpreendidos.

Sem muito esperar o elfo fez uma rápida busca na caverna em que estavam a procura de algo para fazer fogo, o lugar não era muito grande e não tinha muitos recursos, encontrou algumas folhas secas e pequenos galhos provenientes das árvores de fora e os juntou fazendo uma pequena fogueira próximo a Gimli. Logo após retirou suas vestes ensopadas permanecendo apenas com sua calça e foi para o lado de lavá-las junto às de Gimli, a chuva não havia abrandado desde que chegaram àquele local. Quando estava quase voltando para a caverna recolheu alguns galhos que encontrou por perto, não serviriam de lenha no momento, mas se secassem poderiam os utilizar.

Quando voltou para a caverna se aconchegou perto do fogo e deixou suas roupas por perto para secarem, só então, sem ter mais nada para fazer, tomou dimensão de tudo o que havia ocorrido. Até alguns momentos atrás sua única preocupação era a chuva que os pegara de surpresa, agora tinha um ferido e condições desfavoráveis para tratá-lo. Olhou para o anão e o observava dormir, já não soltava gemidos de dor e parecia menos incomodado com o frio, mesmo estando nu na metade superior do corpo.

O peito do anão subia e descia calmamente, seus cabelos estavam desgrenhados como sempre, porém, havia rastros de sangue por ele. O elfo não pode deixar de admirar o outro a sua frente, não era a primeira vez que o admirava enquanto dormia, mas essa foi a primeira vez desde o fim da guerra que estavam em uma situação de risco. Seu interior borbulhava de preocupação e carinho, só de pensar na possibilidade de perder seu amigo seu coração se apertava, mas outros sentimentos tomavam conta e traziam preocupação para a mente de Legolas. Durante a guerra passou por diversas situações desse tipo junto aos membros da sociedade do anel e sempre temeu por seus amigos, mas agora estavam somente os dois e a preocupação que se apossou de si não poderia ser comparada com as anteriores.

Há tempos havia reparado que os sentimentos pelo anão eram mais fortes e dedicados do que para seus outros amigos, não era obtuso a ponto de não notar, mas nunca sentira aquilo por ninguém antes e estava confuso, aquelas alturas o amor entre os dois já havia rompido as barreiras da amizade, pelo menos pelo lado do elfo. A convivência diária de anos só reforçava sua certeza no teor do sentimento e por mais que tenha o pegado de surpresa, assim como a amizade que surgira com o anão anos antes, não havia tido grandes problemas para aceita-lo. Seu grande problema era: Gimli o amava daquela forma também? Legolas não sabia a resposta e isso o angustiava, falaria com o anão sobre suas dúvidas em algum momento, só não tinha o encontrado até agora.

Sua mente divagava tão profundamente que se assustou ao ouvir o anão se mexer e falar:

—Malditos orcs! Onde eles estão lhes darei o gosto de meu machado...

—Já acabei com todos eles, Gimli. E no seu estado você não vai acabar com ninguém, quase morreu!

O anão então olhou para baixo e fez uma careta, finalmente percebendo a situação que se encontrava. Remexeu-se um pouco e tentou se sentar, porém não conseguiu. Legolas logo repreendeu:

—Não se esforce tanto ou pode piorar, já não temos recursos suficientes aqui para tratá-lo direito desse jeito...

—Não seja dramático, estou bem, apenas mais um arranhão de batalha.— O anão pestanejou, mas não se mexeu.

Ficaram alguns momentos em silêncio, o elfo observava atentamente o anão, que por sua vez retirava os panos sujos de sangue de cima do tronco e observava o ferimento. Legolas então perguntou:

—Como está se sentindo?

—Não tão mal, o machucado não é tão ruim quanto parece.— O anão respondeu sem tirar os olhos do tronco.

—Como não? Até pouco tempo estava desmaiado! Trouxe-te até aqui completamente desacordado e sem reações...

—Eu estava dormindo.

—Dormindo? Como você teria dormindo nessa situação? Sei que vocês anãos se fazem de durões...

—Nós somos, não nos fazemos — interrompeu Gimli.

—Enfim, se fazem de durões — Legolas recebeu um olhar feio do anão, mas não foi interrompido novamente.— mas, não precisa tentar amenizar a situação. Somos amigos, pode confiar em mim para manter segredos e cuidar de você. Sua saúde é mais importante que sua teimosia, não é?

—Não estou mentindo, realmente dormi! Há alguns dias não venho dormindo direito, por isso fui pego desprevenido mais cedo.

O elfo encarou o anão por mais alguns segundos sem nada dizer, teria que concordar que agora que estava acordado Gimli não parecia tão ruim. Resolveu aceitar, por enquanto, a resposta do anão e ver aonde aquela conversa levaria.

—Por que não consegue repousar?

Gimli ficou levemente ruborizado assim que a pergunta saiu dos lábios de Legolas, resistiu alguns segundos para falar, mas estava cansado e meio grogue, já havia pensado muito sobre o assunto e resolvera falar. Uma das primeiras coisas que pensou quando foi atingido foi nos sentimentos pelo amigo, não poderia morrer sem lhe contar. Que tipo de anão covarde ele seria?

—Estava com muitas coisas na cabeça desde que passamos por aquele grupo de elfos da floresta, por Estaniel. Estava me perguntando se não você não gostaria de se juntar a eles, ficar perto de ...

—Por isso? —Foi a vez de Legolas interromper.— Tenho somente um enorme apreço e sentimento de amizade por Estaniel, nos conhecemos a séculos e crescemos juntos. Não quero ficar com eles Gimli, meu lugar é com você— terminou encarando os olhos do outro.

Depois de todas as indiretas que trocaram ao longo de meses aquela foi a que mais se aproximou de uma confissão real, nenhum dos dois, mesmo que decididos, tinham a coragem necessária para expressar claramente o que sentiam.

—Bem, faz frio aqui, essa fogueira poderia ser maior...— disse o anão mudando de assunto.

Percebendo que de novo deixariam a situação subentendida, Legolas resolveu intervir e acabar logo com aquilo, que fosse o que tivesse que ser, não poderia viver uma toda escrita em entrelinhas. O elfo se aproximou mais do amigo e sem que tivesse tempo para pensar muito se debruçou sobre ele e o beijou, sendo retribuído prontamente, suas bocas eram macias umas nas outras, as línguas se tocavam gentilmente e a barba do anão faziam cócegas no rosto liso do elfo.

Antes que pudesse de fato pensar no que estava fazendo Legolas estava com as pernas ao redor das pernas do anão quase pairando sobre ele, com cuidado para não colocar seu peso sobre ele. Uma das mãos de Gimli estava sobre o tronco desnudo do elfo enquanto a outra segurava seu cabelo, Legolas, mesmo com vontade de tocar o ser abaixo de si, usava as suas apenas para segurar seu peso, não queria tocar no lugar errado e causar mais dor ao amigo.

Trocaram mais alguns beijos delicados e se aconchegaram um no outro para dormir, por mais que quisessem continuar a troca de beijos precisavam descansar, Gimli continuava machucado e não poderiam se empolgar demais... Não precisaram trocar uma só palavra, depois de todas as indiretas o beijo foi mais do que o suficiente para deixar tudo às claras.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.