Nada

Capítulo Único


— Você parece distraído.

Makoto comentou, momentaneamente tirando Kisumi de seus devaneios. Ao lado dele, Haruka fuzilava o dono dos cabelos rosados com o olhar. Ele sorriu, passando a mão na lateral de seu cabelo.

— É que eu tenho andado ocupado.

— Com o que? A escola está no fim, provavelmente não estão te dando muito trabalho. — Tachibana continuou, enquanto Haruka se levantava para pegar algo na cozinha.

Kisumi olhou para o velho amigo. Deveria contar o que estava acontecendo com ele ultimamente? O que ocupava sua mente em todos os momentos?

Ele começou a pensar no dia que se encontrara escondido atrás de um prédio escolar. Como achava isso uma loucura, observando as pessoas do clube de natação pela janela. Se lembrou do sorriso que tomava seu rosto ao perceber o jovem que tinha tropeçado enquanto caminhava até ele. Uma jaqueta cobria parte de seu corpo, mas suas pernas, assim como parte de seu short de natação, estavam visíveis.

Shigino levou sua mão direita a nuca do menor com pressa, se aproximando rápido para um beijo. A suavidade dos lábios do outro não combinavam em nada com o ritmo acelerado. Então, cortaram o beijo, enquanto Nitori recuperava o fôlego. Kisumi quase riu no momento, mas decidiu manter o sorriso de raposa que lhe era natural.

— Pelo menos me deixe respirar antes de me puxar! — Ele exclamou, não muito alto, tendo um sorriso bobo em seu rosto enquanto se apoiava no outro.

— Não resisti, você parecia tão fofo, tropeçando para me ver. — Quase cantarolou, recebendo um pequeno tapa de um Aiichiro corado.

Kisumi ficou o olhando por um tempo, observando como seu cabelo cinza era desordenado na parte da franja. Logo precisaria de um corte, pensou, vendo alguns fios na frente de seus olhos azuis. Nitori, que também o encarava, se esticou para cima, dando um selinho. Estava tudo calmo, com os únicos sons vindo das folhas das árvores próximas.

— Fiquei pensando em ti o dia inteiro. — Shigino confessou quando o menor afastou seu rosto. — Por que nós só podemos nos ver essa hora, mesmo? É tão injusto. — Reclamou, acariciando o cabelo cinza do garoto.

— Nós já falamos sobre isso. Não tem como aparecer juntos nesse momento. — Ele abaixou a cabeça, fazendo círculos com o dedo na camisa do outro. — Espere até eu sair de casa para começar a faculdade. Só falta alguns meses para acabar esse ano letivo. — Nitori voltou a levantar a cabeça, encarando Kisumi. — É só esperar mais um pouco.

Ele teve que respirar fundo para ficar quieto. E se ele estivesse cansado de esperar? E se esse relacionamento secreto o estivesse deixando louco? Shigino gostaria que a família de seu namorado o aceitasse pelo que ele é, não pelo que finge ser. Ele colocou seus braços ao redor da cintura de Nitori. Abraçou-o em silêncio, deixando um beijo na curva de seu pescoço.

Depois desse encontro, os dois só se viram uma semana depois. Kisumi estava em casa, assistindo televisão enquanto Hayato dormia fora, em um passeio de escola. Era tarde – bem tarde – mas ele estava inquieto. Foi quando ele ouviu a campainha, e ao abrir a porta encontrou seu namorado, cabisbaixo com uma mochila nas costas. Depois de entrarem e conversarem na sala, ele soube o que tinha acontecido.

Os pais de Nitori haviam lido parte de uma conversa entre os dois. Ele teve que mentir, dizer que eram apenas amigos e nada mais. De primeira, eles não acreditaram, impedindo o garoto de participar das atividades do clube de natação por pensarem que Kisumi era de lá. Ele tentou retrucar, dizendo que como capitão não poderia faltar por tanto tempo. Não o escutaram, e só depois de alguns dias que ele arrumou sua mochila para encontrar seu namorado. Dormiria ali hoje, dizendo que não queria pensar nas consequências que sua família traria no dia seguinte.

— Então é uma festa do pijama? — Shigino sorriu de canto, observando o outro deixar sua mochila em um canto da sala.

— Festa do pijama? Tipo, brincar de jogar travesseiros no outro e ficar conversando sobre coisas aleatórias até dormir? — Nitori perguntou ao se sentar no sofá novamente.

— Eu estava pensando em uma festa um pouco diferente. — Demorou dois piscar de olhos e um suspiro surpreso para que Aiichiro entendesse o sentido dessa frase no tom de seu namorado.

Kisumi se aproximou dele, inclinando-se e depositando um beijo em seus lábios. O garoto de cabelo cinza estava perdido na situação, sem saber onde colocar suas mãos ou ao menos como respirar normalmente. Kisumi afastou um pouco seu rosto, o suficiente para olhar nos olhos do outro.

— Tão inocente. — Comentou em um sussurro.

— Inocente? — Nitori estreitou os olhos e reprimiu os lábios. Tirou as mãos do maior de cima de si e voltou a se sentar direito.

Tinha falado algo errado? Kisumi podia jurar que não havia nada demais em chamar ele de inocente. Se bem que não achava errado muitas coisas que falava, e mesmo assim as pessoas se sentiam insultadas. Aiichiro ainda o encarava com a mesma expressão estranha, e foi quando o maior abriu a boca para falar que o outro se moveu.

Ele ficou por cima de Kisumi, o agarrando pela nuca com a mão esquerda com um beijo feroz os enlaçando. Deixou sua mão direita vagar por baixo da camisa do outro, ainda meio tímido. Quando suas bocas se separaram, Nitori fitou os olhos lilases.

— Isso foi “inocente”? — O garoto de cabelo rosado levou sua mão ao queixo, fingindo pensar sobre isso.

— Um pouco. — Brincou, fazendo seu namorado revirar os olhos com um pequeno sorriso.

E era exatamente sobre aquela noite que estava pensando na casa de Haru, com Makoto o observando. Haviam coisas que tinha gravado em sua mente. O travesseiro que atirara em Nitori quando ele estava prestes a entrar no quarto; sua expressão de poucos amigos quando Kisumi não lhe devolvia o celular; as músicas estranhas que descobriu ser do gosto de seu namorado – não sabia que pessoas tão pequenas poderiam gostar de músicas tão barulhentas; e por fim, se lembrava do modo como o menor o olhou – seus grandes olhos azuis brilhando – antes de o abraçar forte e cair no sono.

Lembranças açucaradas, que não podia contar a ninguém. No fim, aquele ainda era um relacionamento secreto, do qual Nitori não se sentia seguro o suficiente para assumir. Makoto chamou a atenção de Kisumi novamente – segundo ele, estava fazendo a mesma coisa estranha de deixar os olhos sem foco, olhando para a parede com um pequeno sorriso. Repetiu a pergunta, curioso sobre o que estava tomando o tempo dele.

Kisumi levantou a cabeça, encarando Makoto. Deixou escapar um sorriso carinhoso ao responder:

— Nada.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.