#Pietro

Cansei de escutar a Daisy falar de minuto a minuto do famoso cantor ao qual sempre tivera uma paixão forte, intensa, mas que mesmo sendo admirável, é impossível de ir em frente. John Caballeiro nem ao menos a enxerga, perdido em sua própria fama, o mesmo não dá a mínima para o que acho ser sua maior fã. E o pior de tudo é que a loira sofre com esse desprezo, ainda que as vezes tente disfarçar com sorrisos forçados e a falsa alegria que tenta manter, eu consigo percebê-los. Seu sofrimento me machuca, mas o que mais me dói é saber que nunca serei correspondido no amor que guardo pela Duran. Jamais terei Daisy para mim como algo a mais que uma amiga, e isso porque não jamais me igualarei ao Caballero em todos os requisitos possíveis. Gosto até de soltar a voz de vez em quando, só que não tenho o mesmo talento que o castanho, nem tão pouco a fama. John é o típico galã das novelas que todas as garotas fariam de tudo para ganhar nem que fosse um beijo ou um abraço seu, e minha Daisy o têm como um príncipe encantado.

Como essa vida é injusta. Queria que fosse eu o motivo dos sorrisos bobos da loira, o alvo dos seus pensamentos perdidos ou talvez do brilho que seu olhar ganha quando o John está por perto. Se bem que agora sou eu que estou sonhando acordado, imaginando como as coisas seriam se eu pudesse mudá-las. A porta se abre e volto a atenção no que fazia antes, cortar rodelas de pimentões para por na panela e desviar do meu verdadeiro emocional.

— O cheiro da comida está muito bom. Aposto que o sabor deve estar melhor ainda. – Daisy fala, sorridente, entrando na cozinha e me abraçando por trás. Aquele ato fez meu coração disparar a mil e eu tentava controlar minhas ações ao identificar o cheiro doce da dançarina tão perto. Ela tinha um leve frescor de morango e pétalas de rosa que me deixava desestabilizado.

— Pode ter certeza que sim. E você será a primeira pessoa a experimentar minha mais nova receita. Claro, quando estiver concluída daqui a pouco. – Digo, mexendo a comida que ainda estava no fogão e que exalava seu cheiro delicioso no ambiente.

— Hum, estou com sorte então. Não existe receitas suas que não sejam maravilhosas e apetitosas. Já estou até ansiosa pra provar.

— Fala isso só pra me agradar. Acho que não deve ser tão boas quanto as de um Chef Gourmer de verdade.

— Pode apostar que são sim. Todas. Claro, menos aquela que você me pediu pra provar ontem. Desculpa dizer, Pietro, mas estava com o sabor horrível. Quero nem lembrar. – Daisy fala, fazendo uma careta bem estranha, em seguida.

— Não era pra menos. Você me passou açúcar em vez de sal. Sorte que não fui eu o “felizardo” a experimentar. – Lembro e caímos em altas gargalhadas.

— Hoje estou em um dia de sorte. Várias coisas boas aconteceram e só é meio-dia. - Daisy diz e não deixo de notar que está mais radiante desde que entrou.

— Mas me conta, por quê está tão feliz? Acho que não estaria tão sorridente por nenhum motivo. Te conheço, dona Durant. – Falo, vendo-a desbloquear a tela do celular como se a razão estivesse lá, estampada numa única mensagem.

— O John me convidou a participar de um novo clipe que fará em breve.

— Humm, é mesmo?

— Sim... Ai, Pietro, eu mau posso esperar para estar lá... Fazendo o que mais amo fazer que é dançar e o melhor, acompanhada pela voz do meu John. Parece um sonho. E se for mesmo, não quero ser acordada. – A loira diz, quase sapateando de euforia e eu acabo deixando a colher cair no chão, ganhando sua atenção de imediato.

— Pietro, está tudo bem?

— Sim, sim... Está tudo ótimo. O que dizia? – Finjo ter esquecido o que a loira afirmara.

— Bem... Que o John me chamou pra entrar no novo clipe que será lançado. Finalmente ele me notou, Pietro. Já era hora dele reconhecer o talento que tenho e... – A garota é interrompida pelo toque de notificação do celular e agradeço mentalmente por isso. Não desejao vê-la terminar de vangloriar seu maior ídolo. O sorriso de Daisy morre e começo a preocupar-me.

— O John cancelou a minha participação. Disse que admirava o que faço, mas que não daria certo por questões que são difíceis até para ele. Me pediu suas sinceras desculpas e que seguisse em frente com meu sonho, como se isso fosse adiantar. - Vendo a tristeza no olhar de Daisy, quero abraçá-la e consolá-la. Porém, a mesma corre dali quase em prantos e respiro fundo, controlando o desejo de deixar a comida para outro momento e ajudar a minha amiga. Não consegui amenizar seu sofrimento e reluto em ir atrás da dançarina que em poucos minutos retorna, usando uma feição que não parecia ser de tristeza, nem tão pouco alegria.

— Quer saber, Pietro. Estou farta. Farta de correr atrás do John e ver que ele não me enxerga. Nunca mais chamarei a atenção dele. De agora em diante, darei um gelo em John Caballero.

— Um gelo? Posso saber pra quê?

— Ué, para que ele veja que existo e que está perdendo sua maior fã. Vou fazê-lo sofrer, Pietro. - Ouvindo as lamentações da dançarina, as emoções em mim tiveram se acendido e a realidade tivera me atingido como um air bag. Eu já não aguentava aquilo. Tinha que expelir o que estava entalado na garganta sobre meus sentimentos pela garota e se os guardasse, eles só iriam me sufocar pouco a pouco.

— Daisy, eu... Não sei se...

— Está mais que decido, Pietro. Não vou voltar atrás nessa decisão. - Respiro o mais fundo que podia.

— Olhe nos meus olhos, Daisy. Será que você ainda não percebeu o que está mais que claro? – Sou direto, sem titubear.

— Do que está falando, Pietro? Está estranho... E me assustando.

— Eu disse para olhar em meus olhos! Preciso desenhar? – Ordeno em um tom alterado e isso fizera, de automático, Daisy se direcionar aos meus olhos, aos quais estavam fervendo de um ódio que jamais senti.

— Eu te amo, entendeu? Sempre te amei. Não consegue enxergar? – Declaro, já não tendo meios de voltar atrás, principalmente quando noto o arregalar de olhos de Daisy e o jeito mudo de expressar que está atônita.

— Claro que não enxerga. Só tem olhos para o amor da sua vida. Para John Caballero, seu ídolo. Está sendo tonta quando não percebe que ele nunca te dará bola. E mais tonta ainda quando corre atrás. – Falo com total sinceridade e me xingo em silêncio. Antes que eu visse as lágrimas da minha amada, saio rapidamente dalí. Eu a tinha machucado, sabia bem. Por isso já não podia encará-la sem me sentir um completo imbecil e covarde por fugir.

[ ... ]

Passaram-se horas e o arrependimento por ter gritado com Daisy só aumentara. Não devia ter dito aquilo com a garota que amo em hipótese alguma. Ao menos a tinha como melhor amiga, e agora, nem sei mais o que somos. Andei pelas ruas da Argentina, nos bosques esverdeados e seus arredores sabendo que o ar natural me faria bem e iluminaria um pingo da razão que pode me restar. E tive razão, realmente foi bom. Mas o melhor a se fazer é conversar com Daisy, pedir perdão e se necessário, até me ajoelhar aos seus pés. Estou prestes á isso, porém, sou detido por vozes, o que me faz cancelar a ação de abrir a porta.

— Daisy... Está bem? Brigou com o Pietro, não foi? – Era a voz de Ana. Não pretendo atrapalhar a conversa das duas, então somente as escuto, parado frente a porta.

— Como sabe, Ana? – Daisy pergunta, com a voz falhada. Pelo que a conheço, acabara de chorar e o pior, a culpa era toda minha. Cogitar essa hipótese me transmitia calafrios.

— Eu ouvi o que falavam enquanto tocava piano. Confesso que o jeito que ele falou me assustou um pouco.

— Também nunca o tinha visto falar daquela maneira. Não parecia o Pietro de verdade. Foi bem... Esquisito. - Daisy confessa e a culpa retorna a mim com mais intensidade.

— Mas ele se declarou a você. Disse que te amava, pelo que ouvi. Não está feliz com isso? Receber uma declaração de amor é algo bom, não acha?

— Eu me sinto culpada, Ana. O Pietro escondeu o que sente por mim todo esse tempo e eu como uma idiota que sou, não percebi nada. Muito pelo contrário, sempre falava do John como se o amasse. Fiz o Pietro sofrer, sou burra. Se pudesse voltar no tempo, mudaria tudo.

— Não se culpe, Daisy. Você não tinha conhecimento dos sentimentos dele.

— Só quero vê-lo. Saber como está. Eu estou mau. Várias coisas aconteceram e Pietro é sempre a melhor companhia para os dias difíceis.

— Bem, não posso dizer que ele não esteja sofrendo agora que se declarou ou quem sabe feliz já que botou pra fora o que sentia. Provavelmente tem medo de que você o despreze. Sei lá, que você se afaste e desista da bela amizade que possuem. Espero que não faça isso, querida.

— Não, eu nunca faria isso, Ana. Nunca serei capaz. O Pietro é para mim igual à um irmão. Cuida de mim, têm os melhores conselhos. Não sei viver sei ele. Sem seus pedidos para que prove suas receitas, sem o carisma que sempre teve. O humor contagiante que alegra meus dias. Eu o amo... Mas não como um irmão. – Surpreendo-me nessa última afirmação, sem crer no que meus ouvidos captaram.

— Não me diga que...

— Eu nunca demonstrei, eu sei. O Pietro sempre foi alguém que tive um carinho especial. Só que esse carinho foi se transformando num sentimento mais forte a medida que passamos a conviver juntos. Agora tenho certeza de que é amor. Tenho certeza, Ana.

— E o John Caballero? O cantor. Pensei que fosse...

— Apaixonada por ele? Sempre tive o John como um ídolo. Admiro suas canções, seus clipes musicais, as coreografias, mesmo que na visão de todos pareça amor. Paixão. Nunca fui apaixonada por ele, e mesmo se estivesse, ele nunca daria bola para mim. Ele está interessado na Celeste. Eu deveria ter deixado claro desde o começo.

— Que bom ouvir isso, Daisy. Vocês e Pietro precisam urgentemente conversar e esclarecer toda essa confusão. Com certeza vão ficar melhores depois de falar um com o outro.

— Sim, tem razão, mas não sei onde ele está agora. Saiu sem dizer para onde ía e ainda não voltou.

— Se quiser, ajudo a procurá-lo. Bom, não necessita de muito esforço. – Ana fala ao me ver entrar e meu olhar se encontra com o de Daisy. Seus olhos estavam avermelhados, mas estampou um sorriso ao me ver. A mesma corre para me abraçar e seguro firme em suas costas. Eu me encontrava feliz. Ouvir tudo aquilo de Daisy foi melhor que tudo que já imagine.

— Vou deixar vocês a sós. Espero que se entendam. – A ruiva diz e sai.

Logo era apenas eu, a Daisy e o silêncio incomodante que preenchia a sala. Ambos queríamos dizer algo, só não sabíamos o quê. Provavelmente a coragem era o que nos faltava.

— Daisy, me desculpe por ter gritado com você. Eu não devia ter dito que você é tonta, nem tudo mais. Fui um completo imbecil por ter explodido e falado daquela forma horrível. – A dançarina se aproxima do meu corpo e toca meu rosto numa carícia me faz estremecer.

— Eu que peço desculpas, Pietro. Desculpas por nunca ter notado seu amor por mim. Sou uma idiota por falar e falar do John como se sentisse algo por ele e no final te magoando. Acho que sou uma tonta mesmo. Eu reconheço!

— Não, não é. Quer dizer... Eu ouvi bem? Não sente nada por ele mesmo?

— Não, nada mais que uma admiração de fã, pois a pessoa que eu realmente quero está aqui, bem na minha frente. E é a mesma que eu sempre chamei de amigo, não reconhecendo que é a pessoa certa para me fazer feliz. Eu te amo, Pietro Benedetto. - Daisy fala, colando nossas bocas. Correspondo a seu beijo e seguro sua cintura para poder aprofundá-lo. Eu não era tão experiente para relacionamentos, já que sendo fechado a questão sentimentais, nunca me envolvi com ninguém. Mas agia deixando os instintos falarem. Passamos vários segundos aproveitando o ato, só que o ar nos falta e nos separamos, ofegantes e felizes. Eu estava, então resolvo contrariar.

— Agora em diante vai ser um tanto estranho te chamar de “amiga”. Principalmente depois desse nosso beijo e de tudo mais que nos ocorreu hoje.

— E quem disse que quero ser sua amiga? Amigos não se beijam, não é? Podemos mudar essa denominação de agora em diante. Claro, se você quiser. – Eu sabia perfeitamente o que Daisy queria dizer, mas não respondo nada. Puxo a loira para mais um beijo e faço esse ficar melhor que o anterior. A ação dissera tudo o que simples palavras não esclareceriam: Eu poderia passar toda a vida ao lado da loira de olhos claros. Fazendo-a feliz, da forma que merece ser.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.