My platonic love

Caitlin Snow's pov


Pov Caitlin Snow

Mas que semana insana.

Primeiramente eu havia terminado com Ronnie, e por mais triste que eu estivesse, parte de mim se alegrava com esse feito, já que no momento em que meus pés pisassem em Star City e olhasse aqueles olhos azuis com um sorriso de canto eu estaria bem. Tentei ser forte, não demonstrar minha vulnerabilidade, era a semana de Thea e Roy, não queria acabar com seu entusiasmo por conta de algo que havia acontecido comigo. Ao que parecia, meu teatro havia funcionado por um momento, e ido por água abaixo assim que me enterrei em seu abraço apertado, sentindo seu cheiro e escutando o apelido idiota que me fazia rir.

Cat.

Ele sempre o usava para me irritar.

Um lado meu gostava, já que somente Tommy me chamava assim. Nossa amizade já durava bons anos, desde nosso tempo na faculdade havíamos nos tornado amigos. No começo eu o evitava, já que sua fama me fazia odiar a versão contada pelas pessoas, porém assim que começamos a conversar, sair juntos a festas, ou somente caminhar e conversar sobre coisas absurdas na madrugada a fora, eu descobri que gostava dessa sua versão, não somente gostava.

Eu o amava.

Céus, eu amava um dos caras mais cobiçados de Star City.

Tão clichê.

No começo eu o rejeitei, não queria acabar como as centenas de mulheres desesperadas o ligando, fazendo loucuras para repetir o que seja lá o que haviam feito. Eu não queria me entregar a ele, mas com o passar do tempo, sua presença, seu jeito brincalhão que me tirava gargalhas em meus momentos mais difíceis foram se infiltrando pouco a pouco em minha vida, e quando eu notei, quando finalmente notei a importância que aqueles olhos azuis significavam pra mim, eu fiquei apavorada.

Eu estava completamente apaixonada pelo meu melhor amigo.

Sim, melhor amigo, Tommy já esteve presente comigo em poucas e boas, foi impossível não nomeá-lo dessa maneira, porém agora, depois de todos esses anos, vejo que não foi uma das escolhas mais inteligentes, não que mudasse alguma coisa, Tommy realmente me via assim.

Sua melhor amiga.

E nada mais.

Já era claro pra mim que ele não me via de outra maneira, até porque o estilo de mulheres quais Tommy saía eram totalmente o oposto de mim. Eu levava bem essa negação, porém era inevitável não se sentir um pouquinho incomodada ao escutá-lo falar sobre seus relacionamentos, haviam sido dois sérios no total, Helena Bertinelli, uma garota interessante, mas extremamente possessiva, seus olhares mortíferos direcionados a mim não eram nada discretos, tanto que nossos amigos também notavam, Thea não gostava dela.

Nenhum pouco.

Brigavam constantemente.

Seu relacionamento com Helena acabou, e depois( o tempo que pude respirar aliviada ) a incrível Laurel Lance apareceu. No começo nos dávamos bem, mesmo com esse meu lado qual eu policiava, eu queria que Tommy fosse feliz, e se esse era o papel dela eu não iria me importar, entretanto, com o passar dos anos, sim, anos, ela mudou, começou a me tratar diferente, me lançar olhares raivosos e indiretas não tão discretas assim. Chegamos a discutir, e suas falas ácidas com o pretexto de “ Você se aproveita da maneira como ele te olha” me fizeram gargalhar, ela achava que Tommy nutria alguma coisa por mim.

Patética.

O ambiente onde nós duas estávamos começou a ficar pesado, tanto que deixei de ir a várias festas ao saber de sua presença. Tommy me encurralou, perguntou o que diabos estava acontecendo, eu não queria magoá-lo, porém sabia que mentir não era uma opção, já que o mesmo me conhecia melhor do que eu mesma. Minha explicação foi curta e direta, uma ruga tão constante entre suas sobrancelhas surgiu ao me escutar, e sua expressão confusa me deixou ainda mais curiosa, ele não falou muito, apenas pediu desculpas pelo comportamento da namorada, e pediu carinhosamente que eu deixasse isso de lado, já que o mesmo não conseguiria ser feliz se eu continuasse evitando o ambiente onde sua suposta “ amada” estava. Concordei, mesmo com um pé atrás, e ao ver o sorriso que surgiu em seus lábios foi o motivo suficiente para que eu tivesse certeza que estava fazendo a coisa certa. Não durou muito e eu engatei meu namoro com Ronnie, e logo em seguida Tommy havia ficado solteiro, um alívio, porém saber desse fato me deixou pensativa, se eu tivesse demorado mais a ficar com Ronnie...

Continuariamos sendo amigos.

Isso era claro.

Não posso negar, Ronnie foi um doce comigo desde nosso começo, nosso tempo juntos era maravilhoso, ele me levava para jantar e suas piadas misturadas com o lado nerd me derretiam. Algumas atitudes suas me incomodavam, como o fato de sua constante mania de irritar Tommy. Eu tentava apaziguar as coisas, e notava o esforço de Tommy para me manter feliz. Seus comentários sobre Ronnie não eram os melhores, como um irmão mais velho eu sempre escutava a famosa frase “ esse cara não é pra você” ou “ ele é um completo imbecil”, e curiosamente Tommy estava certo.

Ronnie era um completo imbecil.

Usei imbecil para não xingar minha amada ex sogra.

Saber de sua traição foi um golpe baixo, ninguém espera algo assim de alguém que se convive tanto tempo, e eu estava com tanta raiva, tanta que quando dei por mim havia feito uma série de coisas e parado em uma boate em Star City. Primeiro eu joguei minha aliança, depois convenci doutor Wells a me dar folga, logo após dirigi feito uma louca até Star City e no outro dia havia enchido a cara e dançado com estranhos! Para confessar eu não me lembrava muito daquela noite, somente alguns flashs, tenho certeza que Tommy me carregou em algum momento, porém como o mesmo não mencionou eu preferi deixar no esquecimento até porque eu não queria detalhes daquela noite.

Tommy havia me visto de lingerie.

Eu não sabia onde enfiar a cara quando o mesmo me informou.

Imaginar aquele homem comigo embaixo de um chuveiro era uma boa brecha para minha imaginação nada inocente, só de imaginar nós dois juntos...

Foco Caitlin, foco.

Sorri ao acordar, mesmo com a gigantesca dor de cabeça que esperava ansiosamente o momento em que eu ousasse abrir os olhos. Notar que Tommy havia separado remédios pra mim aqueceu meu coração. Ele sempre cuidava de mim, e eu dele, não importava o que acontecesse. A essa altura eu já estava acabada e bastou apenas uma menção do assunto “Ronnie” que imediatamente eu desabei em seu ombro. Ouvir suas palavras doces e sentir seus braços quentes me abraçando funcionaram como um efeito calmante, e deslizar meus dedos por sua barba era outro fator que me deixava calma. Eu amava vê-lo assim, o deixava com um ar sério, sensual mais que o normal, e claro que Tommy usava isso ao seu favor.

Ele conseguia ficar mais bonito do que já era.

Algo injusto com a população que não conseguia ter um por cento de sua beleza.

Como sempre ele cuidou de mim, desde as partes vergonhosas( quais eu fazia um tremendo esforço para não lembrar) até a parte dos conselhos, ou a que eu na maioria das vezes gostava.

O silêncio.

Onde nosso abraço demonstrava mais do que mil palavras ditas.

Haviam vezes quais eu me deixava imaginar, por conta de sua postura comigo era fácil pensar em uma vida onde éramos mais que amigos, porém como uma brisa leve, que voa pelos campos, essa ideia fértil ia embora, mostrando o que de fato era real.

Nossa amizade.

Eu não me via sem ele.

E o medo de afastá-lo com minha avalanche de sentimentos era o principal motivo para mantê-los escondidos.

Eu não aguentaria perdê-lo.

Precisava de Tommy em minha vida.

E agora esse sentimento tão corrosivo vinha me atormentando nos últimos dias, primeiramente quase nos beijamos na piscina, e eu não sabia se gritava com Cisco ou agradecia por sua interrupção. Tommy não mudou comigo, nossa relação continuou a mesma, um alívio pra mim, porém, depois de ontem, após o que fizemos, onde pude me entregar ao seu toque, sentindo suas mãos fervorosas marcando cada pedaço de minha pele, com beijos cálidos distribuídos por cada centímetro de meu pescoço eu fiquei apavorada.

Eu havia beijado Tommy..

E sentir o seu olhar preocupado em mim assim que me direcionei até aquela maldita porta me fez sentir mais raiva, até porque eu sabia o que viria, um pedido de desculpas, onde o mesmo diria que não me via daquela forma e que nos deixamos levar pelo clima de casamento era algo que meus ouvidos não queriam escutar. Em um ato de impulso, eu o deixei, sem olhá-lo, e me afoguei na primeira garrafa que encontrei. Confesso que não me lembro muito bem como cheguei em casa, de novo, Céus, o que estava acontecendo comigo?

Acordar foi a pior parte, já que minha mente teimava em voltar naquele momento, onde estávamos somente nós dois, recebendo as carícias um do outro, sem se importar com o arredor. Não havia música, não havia a boate, não havia nada.

Somente eu e ele.

E nossos murmúrios e suspiros de prazer.

Meu corpo ainda parecia marcado com sua presença, e olhar as marcas avermelhadas espalhadas em meu pescoço, como um lembrete da noite anterior não me ajudaram em nada. Encontrar Tommy foi um pouco constrangedor, e seu sinal indicando que queria falar comigo fez meu coração disparar. As palavras simplesmente saiam de minha boca e ao notar sua postura tranquila, dizendo que estava tudo bem me acalmou um pouco, porém sua frase seguinte me deixou incrivelmente ansiosa.

“ Depois do casamento podemos conversar?”

Claro que atendi seu pedido, porém minha mente tentava encontrar caminhos viáveis sobre quais seriam os tópicos do assunto.

Um pedido de desculpas?

Ou algo mais?

Me deixei iludir novamente com a ideia dessa possibilidade, e fiquei mais feliz.

Thea estava bem, e ao que parecia Roy era quem estava uma pilha de nervos, que logo fora substituída com a entrada triunfal de Thea naquele tapete vermelho e vestido branco, a deixando graciosa, sem contar com o espetáculo de cores que tingia o fundo, formando um verdadeiro quadro. Mais uma vez Thea deu seu jeitinho de influenciar até a natureza. Eu estava ao lado de Tommy no palco, ele parecia tão contente.

Tão orgulhoso.

Thea e Roy pareciam estar em seu próprio mundo, e a troca de olhares, a maneira carinhosa que se observavam e a emoção ao finalmente colocarem suas alianças deixou claro que pertenciam um ao outro. Uma salva de palmas e a chuva de arroz os atingiu assim que se beijaram, parte da chuva que os atingiu foram Tommy e Oliver, fazendo sua irmã mostrar a língua para os dois, seu sorriso a entregava.

Ela estava realizada.

E eu ficava imensamente contente por ela.

A festa começou e a frase de Tommy voltou com força em minha cabeça. Entrei na mansão à procura de me manter calma, entretanto, como o universo conspira contra mim, a pessoa qual encontrei não era Tommy.

Era Ronnie.

Meus olhos se arregalaram com aquele sorriso, como se nada tivesse acontecido. Arqueei as sobrancelhas, em clara confusão, o mesmo deu de ombros e se aproximou, confiante, me fazendo dar passos para trás.

- Nossa, você está incrível.- comentou me olhando de cima a baixo, cruzei os braços.

- Obrigada.- respondi seca.- O que quer?

- Você sempre foi brava.- sorriu ignorando minha pergunta, bufei em resposta.- Qual é Caitlin, sabe muito bem o motivo qual me fez vir aqui.

- Me lembrar o que você fez?- perguntei deixando-o pela primeira vez sem sorrir, sua postura calma ruiu.- Francamente.

- Eu fui um otário.

- Uma coisa à qual concordamos.- ri de forma sarcástica, o senti se aproximar.- Ronnie, saia daqui.

- Eu amo você.- argumentou segurando meus braços, tentei puxá-los de volta porém nada adiantou.

- Não, não ama.- rebati sentindo minha garganta queimar.- Amar não é aquilo que você fez, no seu carro, e tenho certeza que no seu apartamento também.- falei com desgosto.

- Se você soubesse o que eu sinto...

- Você já mostrou, pela primeira vez vi a versão sua que tanto me avisaram.- respondi o sentindo me apertar mais.- Me solte agora.

- Talvez isso a faça mudar de ideia.

Seus lábios pressionaram minha boca com força. Seu corpo se curvou diante o meu, a procura de me fazer ceder, e notar que o beijo que me deixava calma a tanto tempo agora se encontrava com um sentido totalmente diferente me fez ter certeza da decisão que havia tomado. Eu não sentia prazer em tê-lo assim.

Sentia repulsa.

Nojo.

Mordi seu lábio inferior, tentando encontrar algo que o fizesse parar, porém Ronnie entendeu completamente errado, o dando mais força para tentar aprofundar. Cedi por um momento, suas mão se afrouxaram, enganado por um instante achando que finalmente havia conseguido o que queria. Me afastei rapidamente, aproveitando seu deslize.

- Jamais faça isso de novo.- falei sentindo minha boca amarga ao lembrar do que o mesmo tentou fazer.- Eu só não chamo ninguém agora porque hoje é o casamento de Thea, então se não quiser que eu mude de ideia sugiro que siga pela mesma porta à qual entrou.

Ronnie assentiu de cabeça baixa e antes de sair, me olhou mais uma vez.

- Ainda não acabou.

- Sim, acabou.- rebati firme.

Minha postura durou somente o tempo que o mesmo levou para me deixar sozinha, pois assim que me vi liberta de espectadores, um soluço escapou de meus lábios. Me sentei no sofá e abracei uma almofada, tentando me recuperar da cena vivenciada poucos minutos atrás.

Amar.

Ronnie nunca amou ninguém.

Ou nunca me amou.

Constar esse fato doía, muito, e novamente o sentimento de insuficiência me atingiu.

Eu não fui um motivo para ele ficar.

Então como poderia vir aqui e me falar uma coisa dessas?

Me acalmei aos poucos, quando escutei vozes, Felicity e Sara apareceram, e me olharam alarmadas no segundo em que seus olhos notaram o meu estado.

- Caitlin!- falou Felicity quase tropeçando para chegar até mim.- O que aconteceu?

- Eu não quero falar sobre isso.- respondi baixinho as sentindo sentar ao meu lado.

- O que aquele filho da puta fez?- perguntou Sara já sabendo a razão para meu estado atual, sorri de canto.

- Ele esteve aqui?- perguntou Felicity cautelosa fazendo carinho em meu cabelo, assenti sem dizer nada.- Aquele moleque!- esbravejou.

- Não contém nada a ninguém, ok? Hoje é dia de comemorações.- falei limpando o rosto.- Como estou?

- Péssima.- respondeu Sara nos fazendo rir.- Mas vamos dar um jeito nisso.

- Vamos sim.- falou Felicity se pondo de pé, entrelaçando nossos braços.- Se ele acha que vai estragar sua maquiagem está muito enganado.

Ri de seu comentário enquanto subíamos as escadas. Felicity e Sara eram minhas melhores amigas e minha família, estar com elas era sinônimo de diversão, e claro que haviam puxões de orelha, nesse momento me senti bem outra vez, e a interrupção de Ronnie se passava agora como uma antiga e ruim lembrança.

***

As cores que presentearam os noivos com um espetáculo iam se apagando no horizonte, dando lugar a um tom azulado que beirava ao preto, deixando claro que o dia já estava perto de se encerrar. Ajudamos Thea a colocar o vestido de festa e quando arrumados, descemos e batemos palmilhas assim que a nova senhora Harper colocou os pés no gramado. A pista de dança estava incrível, com luzes e mais luzes onde os convidados se agitavam, dançamos bastante, porém senti falta de uma pessoa.

Tommy.

O vi conversar com Thea e até dançar com a irmã mais nova, logo depois falou com Roy, dando tapinhas nas costas do cunhado e falando algo que fez gargalhar. Após isso não conseguimos conversar muito, já que o mesmo nunca estava sozinho. Passou-se o tempo e todos os convidados fizeram um corredor por onde os noivos iriam passar, já que viajariam hoje mesmo para a lua de mel. Aproveitei esse momento para ficar em pé ao seu lado. Tommy parecia distante e algo me dizia que não estava bem. O mesmo me encarou e depois voltou a olhar pra frente, me fazendo chamar sua atenção outra vez.

- Você está bem?- perguntei o vendo assentir.- Tem certeza?

- Sim Cat.- sorriu de canto, sua atuação não me convenceu.

- Não me parece bem.- contrapus, o olhando fixamente, Tommy desviou o olhar.

Eu sabia.

Ele estava mentindo.

- Acho que tem mais coisas quais se preocupar.- respondeu olhando para frente, entreabri a boca.- Eu sei me cuidar, fique tranquila.

- Ok.- concordei ainda o observando estranhamente.- Bom... O que queria falar?

- Como?- perguntou voltando a me encarar, suspirei impaciente.

- Você falou que queria conversar.- o lembrei notando seus ombros voltarem a ficar tensos.- O que queria falar?

- Eu...- se interrompeu, suas palavras perdiam força e o brilho em seu olhar, que me observavam tão profundamente mudaram, assim como sua postura, que agora se encontrava defensiva.- Quer saber, não era nada.- respondeu dando de ombros.

- Tem certeza?- perguntei segurando seu braço,o trazendo mais perto de mim, seus olhos me fitavam e permaneciam em silêncio.- Não me parece bem, e eu sei que não está, sabe que pode conversar comigo, não é?- murmurei.- Me preocupo com você.

Tommy sorriu de forma triste e assentiu, me dando um beijo demorado na testa. Logo fomos tirados de nossa bolha com os gritos e assobios direcionados aos noivos, que caminhavam de mãos dadas carregando suas malas. Nos abraçamos, aconselhando que aproveitassem muito. Thea abraçou os irmãos mais uma vez e depois a mãe, e Walter, pedindo que cuidasse dela enquanto estivessem fora. Os assistimos sair, realizados, e quando o carro finalmente desapareceu de nossas vistas, notei que Tommy não estava mais ao meu lado, fazendo meu coração acelerar. Eu não o vi no dia seguinte, tampouco na outra semana e nos consecutivos dias.

Ao que parecia eu não havia me despedido só de Thea.

Tommy havia ido também.

*****

Fazia um mês que eu e Tommy não conversávamos. Ele não atendia minhas ligações e nem respondia minhas mensagens, me deixando preocupada. No começo eu achei que ele finalmente havia entendido o que quase havíamos feito, e que essa sua reação nada mais era do que um surto sobre nossa amizade. Eu realmente achava isso, até descobrir que Tommy estava me evitando.

E ele realmente estava.

Fiz o teste quando Thea e Roy retornaram, conversamos tanto na mansão Queen, e de certa forma eles me animaram um pouco. Quando estava saindo com meu carro um pensamento estranho me ocorreu, virei a próxima rua e depois retornei, notando o carro de Tommy sendo estacionado onde o meu estava, parei com brusquidão e o assisti sair, parecia chateado, não tanto como eu.

Eu estava absurdamente furiosa.

Minha vontade era de ir até lá e gritar aos ventos com ele, porém tão rápido como essa ideia surgiu ela se foi, dando lugar a um vazio que eu não sabia o quão doloroso era senti-lo. Continuávamos nos reunindo com nossos amigos, e eu sabia que Tommy aparecia assim que eu ia embora, o que me deixava magoada.

E raivosa.

Porque eu não sabia o motivo dele querer se afastar de mim.

Talvez precisasse de tempo, e tudo bem, confesso que achei melhor não termos nos visto nas duas semanas seguintes do casamento, a questão é que agora fazia tempo demais, eu estava com medo.

Medo de perdê-lo.

E céus, como eu daria tudo pra saber o que ele estava sentindo.

Iria entrar um pouco mais tarde no trabalho hoje, o que me deu tempo de encontrar Sara e Felicity para tomarmos um café. Ao contrário do casamento de Thea, o clima agora era frio, com um céu pouco convidativo. Abracei meu corpo no momento em que coloquei meus pés na calçada, sentindo aquela brisa cortante se chocar contra meu rosto, me fazendo recuar alguns passos para trás. Andei com cautela pela rua, até encontrar as duas figuras loiras empacotadas entre cachecóis e sobretudos, achando graça de seus estados.

- Uau.- comentei assim que cheguei perto.- Pegaram todas as roupas do guarda-roupa?

- Não, faltou a minha blusinha branca de unicórnio.- respondeu Felicity com humor me abraçando.- Está bem com essa jaqueta?

- É quente, e estou com um suéter por baixo.- respondi dando um abraço em Sara.- Como você está quentinha.

- Eu sempre sou, o que posso fazer?- perguntou inocente, soltei uma gargalhada.- Mas sou uma pessoa comprometida.

- Nyssa não se importaria com nosso relacionamento.- brinquei enquanto caminhávamos até nossa cafeteria favorita.- E onde ela está?

- Na academia.

- Há pessoas que vão fazer aulas nessas condições?- perguntei incrédula.

- Tive a mesma reação.- sorriu Felicity entrelaçando nossos braços.- Tem louco pra tudo.

- Com certeza.

Suspirei quando finalmente abrimos a porta, mudando para uma atmosfera mais quente e agitada. As luzes fluorescentes davam uma sensação confortável aquele lugar, por isso eu gostava tanto de ir ali, me sentar em um dos sofás ou banquinhos ao lado das enormes janelas de vidro, e assistir o tempo passar. Fizemos nossos pedidos quando olhei ao redor, à procura do meu cantinho favorito para nos sentarmos, quando eu o achei, fazendo meu sorriso desaparecer completamente.

Estava ocupado.

Por Tommy e Laurel.

O mesmo parecia confortável em sua presença. Conversavam de frente um para o outro, soltando malditos sorrisinhos. Sara seguiu meu olhar quando congelou, voltando a me encarar.

- Eu vou pegar meu café e...

- Vamos até lá.- me interrompeu, olhei alarmada para Felicity.

- Sara, se Caitlin não quiser ir não há motivos...

- Há motivos demais.- a lançou um olhar significativo, me deixando completamente perdida em sua conversa misteriosa.- Anda logo.

Sara chamou a irmã que se virou para trás, sorrindo em sua direção. Tommy arrumou a postura, e a expressão desesperada que surgiu em seu rosto ao notar minha presença me fez achar graça da situação. Ele não tinha tempo pra falar comigo ou retornar uma maldita ligação.

Mas tinha tempo de vir aqui e tomar um cafezinho com sua ex.

Laurel se afastou, dando lugar para nos sentarmos no sofá, porém continuei em pé, ao lado de Felicity que também os cumprimentou.

- Oi Caitlin.- falou Laurel, sorri de forma educada.

- Oi.- a cumprimentei, logo em seguida meu olhar caiu em Tommy.- Oi Thomas.

- Oi Cat.

Sua voz parecia ter o poder de me tocar de uma maneira incrivelmente inexplicável. Continuei a fita-lo, e por mais que eu quisesse gritar eu sabia que havia sentido falta de ouvi-lo.

Muita falta.

E tudo o que ele respondeu foi um “oi”.

- E então.- falou Felicity nos tirando de nossa bolha.- Como estão?

- Bem.- respondeu a Lance mais velha.- Só mais processos e mais processos.

- Vi seu último caso, meus parabéns.- disse Felicity verdadeiramente.- Você arrasou.

- Adam deve está se contorcendo de raiva.- entrei na conversa a surpreendendo.

- Seria ruim dizer que isso me deixou mais contente?- perguntou nos fazendo rir, balancei a cabeça negativamente.

- Nem um pouco.- respondeu Tommy sorrindo de canto.- Senhor Lance preparou bem suas filhas, porque as duas são aterrorizantes.

- Vou tentar enxergar isso como um elogio Merlyn.- brincou Sara piscando em sua direção.- Aqui tão cedo, o que vieram fazer?

- Só conversar um pouco.- respondeu Laurel, seu olhar caiu em mim.- Não vão se sentar?

- Não.- respondi enquanto as meninas falavam “sim”, ganhei todas as atenções.- Tenho que ir pro trabalho, as coisas nos laboratórios Star não estão fáceis, por conta do projeto em parceria a Smoak Tech.- não foi bem uma mentira, as coisas estavam corridas mesmo, e usar isso como justificativa para minha falta de vontade de permanecer aqui não era errado, era?- E parece que seu amiguinho vai ir lá hoje.

- Quem?- perguntou Felicity, sua confusão não durou mais que meio segundo.- Ah, Wayne.

- Você vai falar com Bruce Wayne?- perguntou Laurel interessada.- Esse cara não é uma celebridade em Gotham?

- Um homem de negócios bem antenado que soube o que estávamos fazendo e quis nos ajudar.- respondeu Felicity.- Mas sim, ele é quase uma celebridade.

- Não me contou isso.- escutei a voz de Tommy ao fundo, me chamando atenção, arqueei as sobrancelhas.

- Acho que não tivemos muito tempo ultimamente, não é Tommy?- perguntei cruzando os braços, o encarando fixamente.

As brincadeiras foram deixadas de lado, assim como as aparências de que tudo estava bem. Seus ombros estavam rígidos, assim como seu rosto. Nossos olhares se conectaram quando desviei, escutando meu nome ser chamado.

- De qualquer forma, me parece ocupado.- não fui nada sutil ao indicar a presença feminina em sua frente.- E eu preciso trabalhar, tenham um bom dia.

Paguei meu café e sai, com passos duros pela porta. A brisa gelada me atingiu mas uma vez, não me parando, já que eu sentia todo meu corpo ferver de raiva.

Eu estava chateada.

Muito chateada.

Acabei apertando meu copo com mais força que deveria, o fazendo transbordar e como resultado, respingos do líquido quente caíram em minha mão. A dor foi tão grande que acabei por soltá-lo, gritando tanto pela dor que ardia como por meu café estar esparramado no meio da rua. Assoprei minha mão e continuei a andar, pegando as chaves que estavam em meu bolso. No momento em que abri a porta escutei uma voz me chamando. Sara corria veloz em minha direção, balançando os braços, notei meu cartão roxo em sua mão esquerda.

- Você esqueceu na maquininha.- falou ofegante se encostando na janela dos passageiros.- Céus, como você anda rápido.

- Pra quem vive em uma academia você não está tão em forma.- brinquei pegando o cartão.- Obrigada.

- O que houve com a sua mão?- perguntou a segurando, notando a cor vermelha que se espalhava.

- Não toca!- falei a puxando de volta, sentindo a dor latejante voltar com força.- Arde.

- Desculpe.- pediu assoprando.

- Tudo bem.- suspirei.- Derramei o café, não é nada sério.

- Um belo dinheiro jogado fora.- comentou me observando, sorrindo de canto.- Parece chateada.

- Isso deve ter ficado bem claro.- ri de forma sarcástica.- Eu... Eu só acho estranho ele agir assim, parece que não tem tempo mas na primeira oportunidade corre pros braços de Laurel.- resmunguei.- Desculpe, ela é sua irmã.

- Tudo bem sentir ciúmes.- sorriu compreensiva.- Mas se isso te faz se sentir melhor, eles não estão juntos.

- Mesmo?- perguntei esperançosa, mudando minha postura rapidamente.- Não me importa também, Tommy pode dormir com quem quiser, eu não ligo.

- Uhum.- concordou descrente, um sorriso escapou de seus lábios.- Vocês são dois malditos orgulhosos, sabia?

Sorri de canto e entrei no carro, abaixando o vidro para que Sara pudesse terminar de falar. A mesma se abaixou e me deu beijo na bochecha, colocando sua mão em meu ombro logo em seguida.

- Tome cuidado, e por favor, coloque seus pensamentos em ordem.- pediu, assenti relutante.- Bom trabalho.

- Pra você também.

***

Me enterrei cada vez mais no trabalho. De longe era uma das poucas coisas quais estavam me distraindo, onde eu poderia focar em fórmulas e soluções para resolver problemas, já que quando se tratavam dos meus eu era um completo desastre. Acabei conhecendo Bruce Wayne, amigo da Lis e de Ray, que quis saber mais sobre como andava os andamentos do projeto filantropo do qual havia se envolvido. Expliquei passo a passo, desde o projeto Archer da Smoak Tech, até o nanochip que estávamos desenvolvendo em parceria com a Palmer Tech. Wayne ficou imensamente contente com os resultados preliminares, deixando claro que visitaria mais a filial dos laboratórios Star.

- Que galinha!- falou Thea que estava sentada em meu sofá, assim como as meninas que estavam espalhadas pelos outros.- É claro que não foi os projetos que o interessou.

- Qual é Queen, na verdade Harper.- me corrigi as fazendo rir.- Wayne é um homem ocupado, e nem precisamos falar que é absurdamente enrolado para relacionamentos.

- Você gosta dos complicados.- murmurou Sara, taquei uma almofada em seu rosto.- O quê?

- Não vi mentiras até agora.- continuou Felicity que estava sentada ao meu lado, a lancei um olhar raivoso.- Nem adianta fazer birra Caitlin.

- Elas têm razão.- concordou Nyssa.- Seu ex é um bom exemplo disso.

- Por favor, não me lembre daquele ser desprezível.- pedi balançando a cabeça, espantando as imagens quais eu tanto lutava em apagar sobre o fático dia em que soube de minha traição.- Só em saber que ele tentou me beijar de novo...

- Ele o quê?- perguntou Thea quase se engasgando com sua cerveja.- Por que não nos contou?

- Era seu casamento.- murmurei de cabeça baixa.- Não queria que minha tristeza a afetasse, você sonhou tanto com aquilo.- suspirei.

- Por isso estava na sala, não é?- perguntou Felicity finalmente entendendo meu estado naquele dia.- Caitlin, deveria ter nos contado.

- Não teria muito o que fazer mesmo.- dei de ombros, sentindo minha garganta amargar.- Mas parece que depois daquele dia minha vida foi só ladeira abaixo.- resmunguei, notei que as meninas se entreolharam.- O que foi?- perguntei, as vi hesitar.- O que foi?

- Sabe, você não imaginou que vocês dois poderiam não estar tão sozinhos naquele cômodo?- começou Sara cautelosa, me deixando confusa.- Alguém pode ter visto e entendido tudo errado.

- Alguém?- perguntei confusa.

- Isso explica tudo.- concordou Thea com o olhar perdido.- Aquele imbecil.

- De quem vocês estão falando?- ergui a voz querendo respostas.

- Tommy.- respondeu Felicity me fazendo congelar.- Estamos falando de Tommy.

Ouvir seu nome fez meu coração disparar. Era claro que ele não queria falar comigo, e que nosso último encontro não foi um dos melhores, mas eu ainda não entendia como tudo isso continha uma ligação. Certo, ele poderia ter visto o “beijo.”

Mas e daí?

- Não consigo ver relação.- comentei.- Claro que estávamos estranhos desde sua despedida, vocês sabem o porquê.- falei um pouco envergonhada.- Mas pela manhã ele parecia tão bem e depois...- suspirei.

- Caitlin.- me chamou Thea se sentando ao meu lado e segurando em minha mão.- Me conte da amizade de vocês.

- Vocês sabem.- respondi como se fosse óbvio.- Somos melhores amigos, ele cuida de mim e vice-versa.

- “Melhores amigos'' .- Nyssa fez aspas.- Não é segredo pra ninguém aqui a forma como você olha pra ele.- comentou me deixando vermelha.

- Ele é bonito.- dei de ombros.- Ser amiga dele não me faz cega.

- Tem certeza?- perguntou Thea me fazendo encará-la.- Ou você vai dizer que sua postura diante de Helena e Laurel eram puramente normais?

- Helena não gostava de mim, e Laurel, bom, Laurel me tratou de uma forma totalmente seca.- respondi.- Ela pode ser sua irmã Sara, mas isso não justifica eu ter a achado uma naja comigo.

- Bom, o relacionamento dos dois não era o mais saudável.- comentou a Lance.- E eu sei, a maneira como ela a tratava não é justificável, mas se você prestasse atenção nas entrelinhas...- suspirou.- Saberia o motivo dela agir assim.

- Ela achava que eu sentia algo por Tommy.- respondi prontamente, se entreolharam mais uma vez.

- Isso e mais uma coisa.- falou Felicity.- Já passou pela sua cabeça que talvez o que você sinta por Tommy...

- Não, por favor.- a interrompi me pondo de pé, comecei a andar de um lado para o outro.- Não me faça passar por isso outra vez Felicity, você sabe...

- Eu sei que vocês dois são muito orgulhosos.- me cortou.- Faz muito tempo que você vem negando o que sente.

- Certo, eu o amo, ok?- explodi, um silêncio se instaurou, me dando tempo para perceber a profundidade do que eu havia acabado de dizer.- Céus, eu o amo tanto.- murmurei apertando meus cabelos, meu peito subia e descia de forma descompassada.

— Não posso falar por Tommy, mas como irmã eu sei e vejo como ele olha pra você.- murmurou Thea se pondo de pé, me fazendo suspirar.

- Isso é impossível.- falei de maneira descrente.

- Por quê? Você é linda, inteligente, sexy, e uma das poucas que suporta aquele homem.- brincou nos fazendo rir.- Então eu que pergunto Caitlin, por que não?

Refleti por um momento, tratando de listar todas as possíveis razões para aquilo ser um total exagero. Tommy sempre foi carinhoso comigo, sempre fez coisas maravilhosas por mim, mas eu nunca havia visto nada mais além de suas atitudes, sempre me apeguei ao fato de que ele jamais me olharia de outra maneira, mas e se eu estivesse errada?

Tommy me amava?

Um sorriso se formou em meu rosto com o pensamento.

- Isso é impossível.- ri descrente.- Eu nem sei se ele quer mais a minha amizade.

- Homens são um fracasso quando se tratam de sentimentos e emoções.- falou Nyssa se levantando com Sara, havíamos feito um círculo no meio da sala.- E aquele ali é um desastre pra isso, você sabe melhor que nós.

Meu corpo parecia eletrizado de tanta felicidade. Continuei a andar de um lado para o outro, em êxtase. Céus, depois de todos esses anos.

Eu o amava.

E enxergava com precisão, pela primeira vez, que aquele sentimento tão confuso poderia ser recíproco.

Escutei alguém bater na porta e Thea a abriu, fechando a cara assim como as demais ao notar a figura masculina ali.

Ah não.

Ronnie não.

O mesmo trajava uma blusa de frio pesada, devido à frente fria que teimava em continuar sobre a cidade. Me lançou o sorriso mais cínico do mundo e entrou, ignorando a fala de Thea o avisando que não era bem vindo. Cruzei os braços e o encarei, esperando que falasse, quando ele se aproximou.

E me abraçou.

Fiquei em choque por um momento.

Não retribui, e quando Ronnie notou isso se afastou, me olhando de cima a baixo.

- Achei que estivesse mais calma para conversarmos.- comentou me analisando.- Acho que me enganei.

- Já falamos tudo o que deveria ser dito.- respondi cansada.- Será que pode ir embora, por favor?- segurei sua mão o guiando até a porta, Ronnie parou em minha frente, me lançando um olhar raivoso.

- Por que você age assim?- perguntou irritado.- Eu sempre respeitei a maneira como você ficava com aquele cara, mesmo quando todo mundo falava que eu estava sendo traído e mesmo assim continuava calado!

- Eu nunca te trai!- rebati seu argumento incrédula, o mesmo bufou em resposta.

- Claro, até porque eu vir aqui e encontrar o Merlyn sem camisa esparramado no seu sofá era a coisa mais comum do mundo.- disse em tom irônico, trinquei o maxilar.- Ele idolatrava você, e eu não sou tão idiota assim para não perceber que você gostava.

- Eu não traí você.- falei firmemente.- Tommy pode ser o que for, mas ele jamais me usaria da maneira que você usou, ele é melhor que isso.- minha fala o deixou possesso, o senti agarrar com força meu braço esquerdo.

- É realmente muita hipocrisia você terminar comigo pelo o que viu, enquanto transava com aquele playboyzinho pelos quatro cantos dessa casa.- intensificou o aperto, tentei recuar.- O que foi Snow? A verdade machuca você?

- Me solte.- pedi friamente, Ronnie sorriu.- Ronnie...

- Eu ainda não acabei.- me puxou para perto de si, engoli em seco.

- Acabou sim.- interrompeu Nyssa, Ronnie a ignorou.

- É melhor sair.- ameaçou Felicity.- E a solte-a.

- Se não o quê?- perguntou olhando para a loira com desdém.- O que vão fazer?

Suas mãos agarraram meus pulsos com firmeza. Respirei fundo, tentando lembrar da última e única aula de autodefesa que Sara me infernizou a fazer na academia Al Ghul. Fiz um movimento de rotação em meu braço, que quando solto, me deu pouco menos de um segundo para pensar no movimento seguinte e antes que eu pudesse notar, minha perna havia o acertado em cheio no meio das pernas, fazendo Ronnie recuar com o corpo curvado, grunhindo de dor. Cobri minha boca em choque, enquanto escutava Thea e Felicity gargalharem.

- Sai daqui.- falou Nyssa o levantando, praticamente o jogando no corredor.- Sabe que eu e Sara podemos fazer pior que ela.

Ronnie engoliu em seco, porém antes de sair, Thea e Felicity o acertaram com um balde de água, que se espalhou pelo corredor a fora.

- E nunca mais apareça aqui seu imbecil!- gritou a Queen mais nova.

Fiquei em estado de choque observando a porta aberta. Nos entreolhamos, notando a bagunça que havíamos acabado de fazer e como um estouro, nossos risos se espalharam pelos cômodos do meu apartamento.

- Mas o que está acontecendo aqui?- perguntou uma voz grave nos calando, suspirei ao encontrar o síndico do prédio caminhando com passos duros até minha porta.

- Senhor Dark, mil perdões.- pedi envergonhada.- Houve um acidente...

- Há água por todo o corredor!- reclamou.- Espero que isso não se repita senhorita Snow.

- Não irá se repetir.- assegurei.- Tenha um bom dia.

Dark não respondeu, apenas me lançou um olhar de advertência e se retirou. Nyssa trancou a porta e voltou a me encarar, com um sorrisinho convencido.

- E não é que ela aprendeu em uma aula?- perguntou com graça.- Posso usá-la como garota propaganda?

- Ronnie deve estar a amaldiçoando até sua terceira geração.- riu Sara.- Ele estava tão puto!

- Acho que agora ele vai te deixar em paz.- sorriu Felicity entrelaçando nossos braços.- Que dia!

- É, e ainda me fizeram ganhar uma advertência do senhor Dark.- resmunguei fingindo chateação.

- Damien é chato por natureza.- comentou Thea dando de ombros.- Mas como boas amigas que somos, vamos te ajudar com tudo isso.

- Obrigada.- agradeci de forma irônica.

Logo panos e mais panos foram pegos. Thea e Nyssa limpavam a porta enquanto organizávamos a sala, um sorriso escapou de meus lábios.

Uau.

Eu amava Tommy.

Realmente espero que ele esteja disposto a me ouvir.

***

Saber sobre aquela possibilidade havia me deixado aérea o resto da semana. Sim, eu o amava, há muito tempo eu o amava, e saber, por menor probabilidade que fosse que talvez isso pudesse ser recíproco me tirou dos eixos. Tommy sempre foi maravilhoso comigo, e claro que ocorriam momentos em que parecia que éramos algo mais, como na piscina por exemplo, ou em uma simples caminhada, ou até mesmo quando nossos olhares se encontravam, e sabíamos exatamente o que o outro estava sentindo.

Nossa amizade era estranha.

Sempre fora.

Eu realmente não entendia o motivo dele se afastar.

É provável que ele tenha me visto com Ronnie, como as meninas deduziram, já que em nenhum momento as ouvi mencionar alguma fala de Tommy sobre isso, o que me fazia ter ainda mais dúvidas.

E se tudo não passasse de um mau entendido?

E eu novamente iria quebrar a cara?

Suspirei frustrada enquanto entrava na cafeteria onde havia o encontrado algumas semanas atrás. Fiz o meu pedido, com a adição de rosquinhas e me sentei no sofá ao lado da janela, prestando atenção na garoa fina que escorria pelo vidro. O clima parecia piorar com o passar do tempo, e parte de mim via isso como a representação de meus humores, que não eram os melhores. Peguei meu celular e comecei a passar algumas fotos, encontrando uma minha e de Tommy tirando uma selfie com nossos sorvetes. Sorri com a cena, e meu coração se aqueceu, como um lembrete do vazio que me habitava.

Eu sentia falta dele.

Muita.

Todos os dias, era doloroso, e eu não sou masoquista, não gostava de senti-la, eu o queria aqui, comigo, queria sentir seu abraço, seu cheiro, seus sussurros dizendo que tudo iria acabar bem, e que não importava o que fosse, superaríamos isso juntos. Quando dei por mim, lágrimas silenciosas escorriam por minha bochecha. Escutei alguém me chamar e as limpei rapidamente, me virando para o lado. Laurel estava ali com um sorriso amigável, trajava um sobretudo caramelo e segurava uma bolsa preta. A encarei, ainda sem entender quando a mesma arrumou a postura e limpou a garganta.

- Posso me sentar?- indicou o espaço vago no sofá à frente, apenas suspirei.

- Por que não?

Laurel se sentou e ficou em silêncio, assim como eu. Eu não me incomodava nenhum pouco em permanecer calada em sua presença, porém algo me deixava curiosa com essa nossa conversa misteriosa.

- E então... Está se acostumando em vir aqui, né?- puxei conversa, Laurel parecia aliviada.

- Sim, as opções são ótimas e fica em uma boa distância até a sede da polícia.- apenas concordei, Laurel soltou um suspiro pesado.- Caitlin, quero que saiba que aquele dia...

- Está tudo bem.- a interrompi.- Não precisa se justificar sobre o que você e Tommy fazem ou deixam de fazer.

- Mesmo assim, me sinto na obrigação de falar.- continuou.- Tommy me chamou porque queria conversar. Eu e ele não temos nada Caitlin, achei que soubesse que estou com Ray.

Arregalei os olhos com a revelação. Eu conhecia Ray, um nerd admirável e muito simpático, além de engraçado, ele era a versão masculina da Lis.

Eu não sabia que Laurel e Ray estavam juntos.

Mas ela não precisava saber disso.

- É... Claro que eu sabia.- menti sorrindo de canto.- Você e Ray, uau.

- Pois é.- falou divertida.- Somos um pouco opostos, ele é todo engraçado enquanto eu preciso ser séria por conta do trabalho, mas gosto disso.- sorri com seu comentário.

- Formam um bonito casal se quer saber.

- Obrigada. Você e Tommy também, são um casal e tanto.

Seu comentário me deixou sem graça. Entreabri a boca, porém nada foi dito. Laurel continuava a me observar, com as sobrancelhas arqueadas, como se esperasse minhas desculpas

- Não somos um casal Laurel.- respondi quase como um lamento.- Mal sei se ainda somos amigos.- suspirei pesadamente.- Gostaria de saber o porquê.

- Você sabe melhor que eu como Tommy é...Complicado?- mais perguntou do que afirmou, assenti mesmo assim.- Igual quando se trata de Malcolm. Ele não sabe o que fazer e então se isola por dias, até seus pensamentos estarem em perfeita ordem e ele de fato sabe o que deve fazer.

- Não sei se comparar minha situação a do senhor Merlyn me ajudou muito.

- Claro, até porque são situações diferentes, Tommy jamais odiaria você.- falou me observando profundamente, me senti intimidada, acho que era esse olhar que os criminosos tanto temiam quando eram interrogados.- Céus, ele jamais odiaria você.- murmurou balançando a cabeça negativamente, como se aquela ideia fosse absurda.- Quando estávamos juntos chegava a ser irritante a maneira tão carinhosa que ele te mencionava.- sorriu consigo mesma.- A “garota perfeita”.

- Eu não sou perfeita.- rebati levemente incomodada.

- Ninguém é.- comentou, seu olhar agora transmitia culpa.- Me desculpe pela forma que eu tratei você Caitlin, sei que fui uma verdadeira cobra.

- Cá entre nós, eu te xingava mentalmente de naja.- murmurei a fazendo rir, acabei por acompanhá-la.

- É justo.- sorriu parecendo mais leve.- Eu não a chamava dos nomes mais belos se quer saber.- confessou me fazendo sorrir de canto com o fato.- Houve uma vez, acho que um evento em Central City, você convidou Tommy.

- Ah sim, o evento com o doutor Wells.- completei me lembrando exatamente daquele dia, Tommy me ajudou diante de um evento importante na empresa, me deixando mais calma para minha apresentação.

- Tommy estava incrivelmente irritante aquela semana.- continuou me chamando atenção.- Me lembro que ele havia arrumado a mala uns três dias antes, e comprou algumas coisas pra você.

- Os doces, sim eu lembro.- sorri nostálgica, comer sempre me deixava mais calma e Tommy sabia disso.

- Ele comprou coisas que sabia que você iria gostar, e parecia animado com a ideia de passar o fim de semana todo com a melhor amiga.- seu olhar estava perdido, engoli em seco com sua frase seguinte.- Foi a primeira vez que percebi que ele amava você.

Nosso silêncio fora preenchido com os burburinhos das conversas ao nosso redor, além do entra e sai de clientes. Observei Laurel na defensiva, não queria estragar a coisa que sabe-se lá estávamos nos tornando. Suspirei pesadamente, notando assim como a fala das outras meninas, a confusão que Laurel estava fazendo.

- Eu não queria atrapalhar o namoro de vocês.- limpei a garganta, Laurel me lançou um sorriso compreensível.

- Eu sei.- falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.- Sim, você foi um dos indícios que me fizeram questionar se o que eu tinha com Tommy valia a pena mesmo, mas não foi o fator dominante.- respirei mais aliviada.- Você sabe melhor que ninguém que às vezes acabávamos discutindo por bobagem, e eu acabei culpando você por isso.- falou envergonhada.- Mas depois quando a poeira baixou, e eu consegui enxergar com maior visibilidade o que estava acontecendo, percebi que os culpados éramos eu e Tommy, e ninguém mais. Sim, eu invejava a forma como ele falava de você, e quando ele te olhava então.- revirou os olhos.- Sempre disposto a fazer qualquer coisa com você e por você. Não que ele me tratasse mal, Tommy é um verdadeiro cavalheiro.- sorriu nostálgica.- Mas não era pra ser, o que tínhamos era melhor se tornar uma amizade, não algo mais, até porque continuar em um relacionamento onde se sabe que o cônjuge está apaixonado pela melhor amiga e vice-versa é triste.

Ri de seu comentário, envergonhada e confusa. Laurel falava com tanta certeza, com tanta firmeza que até parecia ser real.

- Nunca fui boa em esconder meus sentimentos.- respondi.

- Definitivamente você é terrível.- falou divertida.- Só em olhar pra você eu conseguiria descobrir se é culpada de um crime ou não.

- Bom saber de uma promotora que sou transparente demais.- brinquei.- Certo, eu posso ter sentimentos por Tommy, mas ele...

- A por favor.- me interrompeu.- Você não escutou nada do que eu falei?

- Sim, mas...

- Caitlin.- segurou em minhas mãos.- O motivo que os separam é o medo de perderem um ao outro, mas isso já está acontecendo, então a questão é: o que a impede de contar a verdade?

Refleti sobre sua pergunta, e como uma tempestade se formando, eu senti a ventania de minhas emoções me atingirem com força.

O que me impede?

Medo?

Medo de estragar tudo? E depois chorar sozinha em meu apartamento sabendo que isso aconteceu por pura e completa falha minha?

- E se eu estragar tudo?- perguntei em um fiapo de voz.- Eu tenho tanto medo de perdê-lo para sempre Laurel.

- Isso não vai acontecer.- assegurou me lançando um sorriso solidário.- Você o conhece melhor que qualquer um, sabe exatamente o que fazer.- assenti firmemente.

Nossos cafés chegaram assim como minhas rosquinhas. Laurel se preparava para sair quando a impedi, indicando que ficasse.

- Se não estiver muito ocupada...- murmurei mostrando a caixa.- Eu tenho rosquinhas.

- Bom argumento.- se sentou mais uma vez.- Café e rosquinhas, ótima combinação para uma tarde fria.

- Definitivamente.

Sorrimos uma para a outra e voltamos a conversar. Parte de mim havia ficado extremamente feliz com essa minha insana nova amizade, que se revelou ser muito divertida. Quem diria.

Eu e Laurel Lance.

O clima estava realmente louco.

***

Falar com Laurel havia me deixado mais calma do que eu esperava. Entender seus pontos, e principalmente a forma tão carinhosa que me aconselhou sobre meu estado atual me mostrou um lado seu que era até então desconhecido pra mim.

Laurel era boa.

Incrivelmente boa.

E suas atitudes diante de minha presença nada mais eram do que insegurança, e eu a compreendia, claro, confesso que também não era agradável conviver com ela sabendo que dormia com Tommy, ambas na realidade falharam uma com a outra, e era bom saber que havíamos resolvido isso. Se por um lado eu havia resolvido um problema e de brinde ganhado uma amiga, o outro se encontrava extremamente instável. Não, eu ainda não havia falado com Tommy, tampouco sabia como iria de fato confrontá-lo. Eu o conhecia como ninguém, isso era óbvio, então sabia que o mesmo não iria dar as caras, eu precisava fazer alguma coisa.

Mas o quê?

Mandar mensagens seria inútil. Peguei o pequeno rádio vermelho que havia ganhado de Curtis em meu aniversário. O mesmo era um grande amigo meu, havíamos nos conhecido nos Laboratórios S.T.A.R onde eu, Curtis e Barry passávamos a maioria de nossas saídas de fim de semana conversando sobre métodos mais eficazes que poderíamos aplicar na empresa, sem contar os comentários sobre filmes, quadrinhos e séries quais amávamos. Barry sempre fora muito comprometido no trabalho, éramos tão parecidos que até chegamos a namorar, porém com o passar do tempo, notamos que o que tínhamos era uma amizade maravilhosa e nada mais. Até o indiquei uma amiga, Iris West, e sem querer me gabar, mas quando se trata de cupido eu sou a melhor. Iris e Barry engataram um namoro que dura até hoje, e preciso confessar que formam um casal perfeito. Voltando a falar de Curtis, o mesmo sempre fora espontâneo e muito( sem exagero algum), muito falador. Seu sonho era além dos laboratórios, não que ele não gostasse, mas não era seu desejo mais avassalador. Me lembro bem de seu pedido de demissão, saindo aplaudido por todos os funcionários com um sorriso de orelha a orelha, realizado por dar um passo tão grande em sua carreira. O rádio vermelho foi uma maneira nada discreta de me contar seu programa na rádio, com audiência entre as melhores na cidade. Voltei a prestar atenção na voz tão conhecida que narrava o programa de forma empolgante.

“- Parece que em uma tarde fria há muitos apaixonados, hein Dinah?- perguntou a voz, acompanhada por uma mulher que riu com seu comentário.- E essa foi “Home” de Edith Whiskers pessoal, a pedido de um ouvinte.

“- Lembrando que qualquer um pode pedir uma música aqui, hein galera?- falou a mulher.- Abram os seus corações e façam um pedido aqui na rádio Star Fm, nossas adms estão abertas!”

Esperei em silêncio até o programa se finalizar. A essa altura eu finalmente havia definido uma ideia, um pouco vergonhosa? Talvez, mas era a única maneira de fazer Tommy me ouvir. Em um suspiro de coragem, disquei o número conhecido e o esperei tocar, uma voz grave me entendeu rapidamente.

- “Olha só se não é Caitlin Snow senhoras e senhores.- falou Curtis com humor.- Ao que devo a honra?”

“ - Oi pra você também.- ri um pouco nervosa.- Estava escutando seu programa.

— Você ama um rádio que eu sei.- falou divertido.”

“- Curtis... Eu preciso da sua ajuda.”

“- Claro, qualquer coisa.- disse mais sério.”

“- Preciso que me coloque no seu quadro amanhã.- fechei os olhos ao escutar seu grito animado.- Aí meu ouvido!”

“- Ai meu Deus!- continuou me ignorando.- Caitlin Snow vai se declarar? E eu vou ajudar? Isso é um sonho!”

— Vai me ajudar ou não?”

“- É claro que vou mulher. Mas e aí? Vai me falar quem é o sortudo?”

“- Não.- respondi escutando seu protesto, ri de sua reação.- Preciso saber se vai dar certo primeiro, ok? Aí te conto todos os detalhes.”

“- Até os sórdidos?- perguntou em tom malicioso.”

“- Até os sórdidos.- respondi sentindo minhas bochechas queimarem, era um mal necessário.”

Combinamos os últimos detalhes quando finalmente desliguei. Ao que parecia, Curtis havia ganhado mais um motivo para trabalhar amanhã. Ri com sua animação quando fiz a última ligação, essa era primordial.

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“- Senhora Harper?- a provoquei, escutei o risinho de Thea.”

“- Ela mesma.- respondeu convencida.- O que foi? Aconteceu alguma coisa?”

“- Não, nada demais.- tranquilizei.- Mas preciso de sua ajuda, pode me fazer um favor?”

“- O que quiser.- garantiu me fazendo relaxar.- Posso saber o que é?”

“- É sobre Tommy.- respondi, escutei seu grito abafado.- Vou te contar tudo, mas precisa ser discreta.”

“- E desde quando eu não sou?- perguntou irônica, ri de seu comentário.- Agora vamos lá, me conte tudo, quero saber o que você irá aprontar com o meu irmãozinho.”

***

Meu corpo parecia não ter tido um tempo real de descanso. Claro que isso se dava ao fato de que conversei com Thea até altas horas, onde ríamos e arrumávamos os últimos detalhes do que eu estava prestes a fazer. Após finalizarmos a ligação, minha mente demorou para se desligar, já que parecia um disco riscado, indo e vindo sobre diversas possíveis situações em que geralmente eu acabava na pior. Tentei as excluir, e quando finalmente apaguei, o barulho estridente de meu alarme me fez abrir com dificuldade minhas pálpebras que pareciam que pesavam toneladas.

O dia estava mais cinzento do que o anterior. Nuvens pesadas se formavam, deixando claro que a grande tempestade nos atingiria nas próximas horas. Coloquei um suéter de coloração vinho com mangas compridas, e por cima, um casaco caramelo. Ainda com frio, decidi usar um cachecol preto que combinava com minha calça e então saí, decidida a enfrentar os tormentos que aquele dia me guardavam. O dia demorou a passar, como se cada segundo tivesse a duração de horas e mais horas. Café foi minha companhia em meu dia ansioso. Voltei a inspecionar o projeto do nanochip, enviando mais informações para Ray e Felicity que ficaram eufóricos. Tentei me concentrar também nas propostas feitas pelas indústrias Wayne, onde Bruce nos mostrou resultados agradáveis sobre como nossa parceria estava promovendo os produtos. Não que isso importasse, Felicity e Ray eram grandes opositores de venderem o nanochip a um preço exorbitante, e eu totalmente concordava com eles, queríamos ajudar vidas, e vender algo a um preço milionário que poderia ser como uma luz ao fim do túnel para pessoas que quase perderam a vontade de viver era decadente. Wayne entendeu nosso posicionamento, e nos ajudou a baixar o preço( que ainda não era o desejado) sem deixar ganharmos críticas. Ele poderia ser um verdadeiro galinha de Gotham, mas precisava admitir, sua inteligência e caráter eram admiráveis. Olhei o relógio e me assustei ao notar que já se passavam das 16:10. Me despedi dos outros funcionários e corri até meu carro, onde ofegante, liguei para Thea mais uma vez.

Um toque.

Dois toques.

Aquela pestinha quer me matar.

Como se recebesse minha ameaça, Thea atendeu com uma voz calma, cortei os cumprimentos.

“- E então?- perguntou ansiosa.- Ele está em casa?”

“- Não vou brigar com você pois estou no mesmo nível.- provocou, revirei os olhos.”

— Onde ele está?”

“- No quarto, não desconfia de nada.- respondeu.- Caitlin, precisa se acalmar, consigo escutar o barulho de suas unhas batucarem alguma coisa”

“- O painel.- informei suspirando, apertei as mãos no volante.- Certo, eu estou nervosa.”

“- É notável.- brincou.- Só seja sincera, sei que abrir nossos sentimentos para alguém é complicado, eu fiquei apavorada quando descobri que amava Roy.”

“- E como lidou com isso?- perguntei hesitante.- Como ele lidou?”

“- Roy eu não sei, e você também não pode se cobrar por Tommy. A única pessoa qual você pode controlar e fazer lidar com a situação é você.”

Sua frase me deixou pensativa. Ainda ouvia sua respiração, esperando que eu falasse alguma coisa, apenas sorri.

“- Quando ficou tão boa em conselhos amorosos?- brinquei.- O casamento faz isso mesmo?”

“- Isso e muito mais, bem mais.- falou em tom malicioso, acabei rindo.- Agora vai lá, eu vou fazer a minha parte, boa sorte.”

Desliguei a ligação mais aliviada. Esperei os minutos rolarem, parecendo uma eternidade outra vez quando Curtis ligou, engoli em seco.

“- Te ponho no ar em três minutos.- informou, respirei fundo.- Pronta?”

“- Pronta.”

“- Boa tarde amantes de Star City! Aqui quem fala é Curtis Holts com a maravilhosa...

“- Não exagere, se bem que isso é impossível ficar fora de seu vocabulário.- brincou a mulher o fazendo rir.- Aqui quem fala é Dinah Drake e está começando mais um programa na Star FM! E então Curtis, muitos corações partidos hoje?”

“- Corações partidos, amantes, apaixonados, a lista é extensa. Mas já temos um ouvinte na espera! Está nos ouvindo senhorita...?

“- Caitlin, só Caitlin.- respondi, achando graça de seu teatro.”

" - Seja bem-vinda então Caitlin, só Caitlin.- brincou, acabei soltando um riso baixo.- Certo Caitlin, sobre a lista que citei poucos minutos atrás, se encaixa em alguma posição?”

“- Amante não, ainda bem.- respondi escutando a mulher chamada Dinah rir.- Coração partido ainda não sei, mas apaixonada com certeza.”

“- Temos uma moça bem direta aqui.- falou Dinah.- Então querida, o que a fez vir até nós hoje?”

— Um amigo, bom, ele não é bem um amigo.- suspirei, minhas mãos apertavam com força o volante e meu coração estava disparado.- Nossa situação é complicada.”

“- Amo os complicados.- respondeu com humor, acabei me deixando levar, parecia melhorar a ansiedade.- Esse amigo tem um nome?”

“- Tem, mas eu não vou dizer.- escutei seus protestos.- Mas ele sabe que é com ele, não se preocupem, garanti que a mensagem fosse bem enviada."

“- Parece ter pensado em tudo.- falou Curtis.- Bom, o momento agora é todo seu.”

Respirei mais uma vez, sentindo minhas mãos suarem. Sim, eu havia planejado tudo, mas a teoria é muito diferente da prática, eu estava disposta a revelar tudo o que vim sentindo nos últimos anos.

Tudo.

Nunca me senti tão intimidada.

— Pensei em mil formas de contar isso, porém as palavras parecem ter fugido de mim agora.- comecei um pouco nervosa.”

Foco Caitlin, foco.

- Essa pessoa qual eu vou mencionar aqui é muito, muito especial, e céus, extremamente irritante e convencida.- os apresentadores riram.- Ele tenta passar uma imagem de playboy, mas eu o conheço bem demais pra saber que isso nada mais é do que apenas uma impressão, ele assim como eu tem medo de se apaixonar.- suspirei.- Eu não sei quando esse sentimento tão forte, e ao mesmo tempo tão confuso ganhou força. Quando olho para trás, em nossos tempos de faculdade, já vejo que desde o começo eu já o amava, e continuo amando.- engoli em seco.- Fiquei com tanto medo de lhe contar isso, fiquei com tanto medo de perder você que eu apenas congelei, e deixei passar por todos estes anos a oportunidade de lhe contar algo tão sincero. Sim, erramos, erramos feio.- suspirei em desgosto.- Mas quando lembro de seu sorriso, seus sussurros, e as piadas duvidosas, eu só vejo mais motivos para amar você. Eu não sei porquê você se afastou, e tudo bem, eu também estou com medo, mas decidi enfrentá-lo, eu estou aqui.- senti o ar me faltar.- Me abrindo inteiramente para você, deixando às claras tudo o que sempre senti. Você pode continuar a me evitar, eu sinceramente não ligo, mas eu preciso dizer...- tomei coragem.- Eu preciso dizer que há muito tempo você é o amor da minha vida, não o platônico como costumava ser, mas o amor que eu quero para a minha vida. Eu te amo, sempre amei você, e vou continuar amando mesmo que eu ganhe um “não”, mesmo correndo o risco de perdê-lo, o que já me parece um cenário real.- sorri tristemente.- Eu te amo, sempre foi e sempre será você, mesmo que eu acabe de coração partido.”

Senti minha respiração desacelerar. Mais recomposta, escutei o murmúrio emocionado de Dinah, que parecia chorar, assim como Curtis.

“- Menina o que foi isso?- perguntou me fazendo rir, senti lágrimas silenciosas descerem por minha bochecha.- Uau, se esse cara não mudar de ideia nos passe seu número pois no nosso Twitter há vários pretendentes perguntando sobre você.- comentou, ri mais uma vez.”

— Ele parece ser muito especial.- falou Curtis.”

“- Ele é sim.- sorri.”

“- Eu e toda família Star a desejamos boa sorte Caitlin, esperamos ansiosos o decorrer do seu final feliz.- senti o carinho em sua voz.- E qual é a trilha sonora desse casal que tomou nossas redes sociais?”

“- Sweater Weather, de The Neighbourhood.- respondi, havia pensado em várias músicas, porém essa era a nossa.”

“- Queremos saber do fim da história, hein Caitlin?- falou Dinah.- Boa sorte.”

“- E agora, após essa declaração que aqueceu nossos corações nesta tarde gelada em Star City, deixo vocês ouvintes com a música Sweater Weather da banda The Neighbourhood!”

Desliguei o celular e liguei a rádio, escutando aquela música de olhos fechados.

Céus, eu havia falado.

Eu havia falado tudo!

Sorri, orgulhosa de mim mesma e então dei partida, dirigindo pelas ruas molhadas de Star City. Tentei não focar em Tommy, mas era quase impossível.

Fiquei tentada ao imaginar sua reação.

***

Meu humor não havia melhorado durante a tarde, e pelo o que pude notar a natureza estava em contato com meu estado de espírito. A chuva havia aumentado consideravelmente, batendo com força em minha janela de vidro, dando vista para uma enorme neblina que cobria os prédios próximos. O frio também estava mais forte, tanto que quando meu pé entrou em contato com o chão frio um arrepio percorreu meu corpo. Decidi colocar uma calça de moletom preta e continuar com meu suéter, além de me enroscar em um lenço no sofá, tentando assistir alguma porcaria que passava na tv. Desisti minutos depois, e me observei pelo reflexo da tela preta à minha frente.

Eu havia falado, havia deixado claro que queria vê-lo.

Ele não retornou.

Não havia mensagem ou sequer uma ligação.

Não havia nada.

Uma sensação ruim cobriu meu peito, me fazendo abraçar as pernas fortemente. Meu distanciamento com Tommy já durava um mês, eu sabia que as coisas haviam ficado estranhas depois do nosso beijo, e sabia que ele queria esclarecer as coisas, mas sua falta de respostas estava me deixando maluca.

Eu não queria perdê-lo.

Eu não podia perdê-lo.

Seu silêncio funcionava como um veneno, que aos poucos ia me consumindo, gota por gota, aumentando a ardência em minha garganta e testando meus músculos, e principalmente, minha mente. Se fosse preciso eu enfiar esse sentimento debaixo da terra outra vez eu faria, afinal, eu não conseguiria viver sem Tommy, eu precisava dele aqui, comigo.

Mesmo que fosse tarde demais.

Uma pequena lágrima escorreu por meu rosto, talvez eu nunca mais conversaria com aqueles olhos azuis, acho que o jeito seria eu invadir a mansão Queen e o trancar em um quarto até me escutar, não soava uma má ideia. A campainha tocou. Me levantei a contragosto, sabendo que seria o síndico, após o balde d’água que eu e as meninas jogamos no corredor para afastar Ronnie, ele iria reclamar. Preparei toda a minha paciência, já sabendo os comentários e reclamações que ouviria.

- Eu realmente peço desculpas senhor Dark, sei que meus motivos não justificam o que eu fiz mas...

Minha voz perdeu força ao analisar o homem parado à minha frente. Tommy usava um moletom preto, suas mãos estavam no bolso enquanto o mesmo tremia, seus ombros assim como a toca que cobria sua cabeça estavam ensopados. O encarei com a boca entreaberta quando o mesmo murmurou.

- Posso entrar?- pediu batendo os dentes.- Está frio.

- Cla...Claro.

O dei passagem, atônita. Tommy ficou em silêncio, me esperando fechar a porta.

- Pode deixar... Você sabe onde deixar.- murmurei ao vê-lo colocar seu moletom nos cabides.- Certo, é... Você quer alguma água? Café?

- Café seria ótimo, mas tenho uma coisa mais urgente.- suspirou, sua postura era nervosa.- Precisamos conversar.

- Legal saber que você ainda queira falar comigo.- rebati irritada, sentindo cada nervo do meu corpo finalmente liberar o que carregava nesse último mês.- Você não ligou.

- Eu sei.

- Nem retornou minhas mensagens.

- Eu sei.- repetiu envergonhado.- Eu só... Eu só não sabia o que fazer, precisava pensar.

- Podia ter me comunicado essa sua decisão, assim me evitava de ficar formulando hipóteses sobre o porquê você estava me evitando, e nem diga que não estava.- o interrompi ao notar sua boca entreaberta.- Eu fiz o teste nos Queens, você somente me esperou sair pra chegar, sabe como eu me senti?- perguntei, minha respiração ficou descompassada, sentia meu peito subir e descer.- Saber que uma das pessoas que eu mais amo no mundo simplesmente quer uma medida protetiva da minha presença?

- Eu não queria que tivesse se sentido assim.

- Eu também não queria muita coisa, mas aqui estamos nós.- comentei em tom baixo.- Achei que... Achei que não gostasse mais de mim.

- Foi exatamente o contrário.- respondeu me surpreendendo, levantei o olhar e encontrei seus olhos desesperados, levou uma de suas mãos até a cabeça e apertou seu cabelo.- Você não tem ideia do inferno que foi esse último mês pra mim Cat.

- Então me expliquei!- pedi elevado a voz.- Fale que não quer me ver mais, fale que tudo o que fizemos foi um erro, e você como o nosso ponto de razão achou que o melhor para nós dois éramos nos afastar...- senti minha garganta arder, se fosse isso mesmo que ele queria, por mínimo que fosse, eu faria, mesmo estando quebrada por dentro.- Me diga alguma coisa Tommy, diga que nunca mais quer me ver, me diga tudo! Eu só não vou aguentar o seu silêncio.

Em meu momento de explosão, acabei não notando a proximidade com a qual nos encontrávamos. Tommy estava a minha frente, e seus olhos, que carregavam um peso gigantesco, eram o reflexo dos meus. Sua mão acariciou meu rosto, me fazendo prender a respiração. Eu queria xingá-lo de todos os nomes possíveis, queria o dar um tapa, queria fazer senti-lo o que eu estava sentindo, mas ao mesmo tempo, em nossa conversa muda, eu conseguia enxergar a dor que aqueles olhos azuis estavam sentindo. Continuei a fita-lo, em silêncio, quando senti o breve toque de seus lábios em minha testa, assim como havia feito em nossa despedida mascarada. Meu coração voltou a ficar acelerado outra vez, porque se ele estava fazendo aquilo de novo significava...

- Tommy.- segurei em sua mão firmemente, angustiada.- Eu não vou deixá-lo partir sem conversarmos.

- Não pretendo ir a lugar nenhum.- sussurrou sorrindo de canto, acabei por compartilha-lo.- Mas acho melhor falarmos mais baixo, parece que seu síndico já está chateado com... Balde de água?- perguntou confuso, soltei um riso baixo.

- Thea e Felicity jogaram em Ronnie.- expliquei o surpreendendo.- Ele veio aqui.

- E o que conversaram?- perguntou cruzando os braços, mantendo uma postura fechada.

- Voltar.- suspirei.

- E...

- É claro que não, achei que me conhecesse melhor.- respondi, pude sentir o alívio em seu suspiro.

- Achei que tivessem voltado.- murmurou em tom baixo.

- Não voltamos, e não vamos voltar.- garanti.- Mas não veio aqui para falar de Ronnie.

- Certa como sempre.- brincou, seu olhar percorreu o chão.- O que eu escutei na rádio... É verdade?

Seu olhar caiu sobre mim outra vez. Engoli em seco. Se eu estava nervosa em falar para milhares de pessoas pelo telefone o que sentia, agora que estávamos somente nós dois eu estava apavorada! Sustentei seu olhar e assenti, firme, não queria que ele interpretasse nada errado.

- Sim, é completamente verdade o que eu disse.-respondi, Tommy me olhou intrigado.- Devia ter falado antes, teria nos poupado esse constrangimento, você não ia precisar se afastar e nem teria que vir aqui agora explicar que não podemos...- me calei ao sentir sua mão sobre meu ombro, Tommy sorria de canto.

- Não fale por mim, estou aqui exatamente por isso.- assenti em silêncio, Tommy se afastou e começou a andar de um lado para o outro na sala.- Céus, como eu começo?- perguntou para si mesmo, continuei a observá-lo.- Só para esclarecer, eu não estou bravo com você.

- Obrigada, isso é um grande alívio.- suspirei.- Tommy...

- Eu não queria me afastar de você.- me interrompeu, seu corpo se virou em minha direção.- Se você soubesse como eu passei essas malditas semanas...- suspirou, sua postura era ansiosa e suas mãos estavam fechadas.- De como eu me senti um completo idiota quando nos encontramos e você saiu chateada, ver a mágoa em seus olhos.- esfregou o rosto.- Aquilo me atingiu de uma maneira tão dolorosa, mas eu precisava me afastar, eu precisa colocar as ideias em ordem, precisa pensar sobre você, sobre nós, sobre tudo.- continuei parada, presa na angústia de seus olhos.- Tem um bom tempo qual eu queria ter essa conversa com você, mas toda vez que eu a olhava, que observava sua postura carinhosa comigo, sempre preocupada em saber como eu estava, me considerando seu “melhor amigo”.- fez aspas, um sorriso sarcástico surgiu em seus lábios.- Me dando todo seu carinho, eu perdia a coragem, eu já me afastei de muita gente, não queria perder você também.

O terror ultrapassou o seu rosto, como se aquela hipótese fosse lastimável. Pude notar que um brilho havia surgido em seus olhos, demonstrando sua vulnerabilidade. A postura sempre confiante, e o sorriso gentil de uma hora pra outra desapareceram, dando lugar a uma postura cansada, assustada.

Tommy estava com medo.

Assim como eu.

- Só em imaginar essa possibilidade, de você se afastando de mim, eu simplesmente ficava apavorado! E como não?- perguntou voltando a me olhar.- Sempre pensei que não haviam chances para nós dois, pois sempre quando íamos longe demais você voltava a colocar barreiras, e eu não a julgo, o bom e o ruim de nossa relação é que você sabe exatamente tudo o que eu já fiz, incluindo os tempos de faculdade.- sorri em lembrar de sua postura badboy.- Eu também colocava minhas barreiras, tentei ser feliz com outras pessoas, mas nenhuma delas me fazia inteiramente feliz, depois de um tempo notei que isso ocorria porque elas não eram você.- senti meu coração acelerar.- Eu tentei, juro que tentei achar um caminho viável para que nós dois pudéssemos ter nossa felicidade, mesmo que a minha fosse ver você contente com outro cara, enquanto eu me corroía por dentro. Mas depois daquela noite...- engoli em seco, o senti se aproximar.- Depois que provei o saber de seus lábios,depois que ouvi seus gemidos no pé do meu ouvido, e senti o poder de nossos corpos se encontrando em uma sincronia perfeita, me desestabilizando, me deixando completamente louco...- suspirou, seu corpo estava a meros centímetros do meu.- Depois daquela noite eu percebi o que já estava claro Caitlin, que eu amava você.

Não soube bem em qual momento havia começado a chorar, somente notei quando o senti limpá-las.

Nossas respirações estavam próximas, e pude notar que o mesmo estava ofegante.

- Eu te amo, não somente como amigo, você é a mulher da minha vida.- murmurou com a voz embargada, uma lágrima silenciosa escorreu em sua bochecha.- Amo cada detalhe, amo cada defeito, amo tudo em você.- meu rosto foi erguido por sua mão.- Eu nunca me senti assim, e acho que foi por isso que reagi dessa maneira, mas estou cansado de fugir, e como você mesmo disse no rádio, eu também decidi enfrentar os meus medos.

Sorri emocionado diante daquela declaração. Há anos eu imaginei cenários possíveis pra essa situação, onde ele finalmente diria que me amava, mas nenhum deles havia sido tão perfeito como esse. Ergui minha mão e acariciei sua barba, sabendo que ele gostava, suspirou e fechou os olhos como sempre fazia.

- Eu também te amo Tommy.- murmurei, seus olhos voltaram a ficar abertos.- E sobre Ronnie, queria explicar que aquele dia...

- Eu sei, Thea me contou.- sorriu de canto.

- Mas mesmo assim, quero que fique claro.- falei firme.- Eu e Ronnie não temos nada,ok?- perguntei, Tommy assentiu.- Ótimo.

- Ótimo, até porque temos assuntos mais importantes para conversarmos do que Ronnie.- sussurrou, seu hálito quente, tão próximo do meu ouvido causou um arrepio em minhas costas.

- Bem mais importantes.- suspirei ao senti-lo enterrar seu rosto na curvatura de meu pescoço.

Seus lábios deixavam rastros úmidos em minha pele. Eu me sentia diferente comparada à primeira vez. Não me repreendia por sentir meu coração acelerar, ou pelas sensações em meu estômago, quais deveriam ser as tão faladas “borboletas”, eu não me sentia errada.

Eu me sentia completa.

Inteiramente completa.

Sorri com o fato e ergui seu rosto, olhando fixamente para aqueles olhos azuis, que me transpareciam um mar agitado. Nos encaramos em silêncio por uns instantes, sendo o único som do ambiente as rajadas de vento que faziam a chuva bater com brusquidão no vidro das janelas. Tommy acariciou meu rosto, contornando com o polegar minha boca, exatamente como havia feito quando estávamos na piscina. Sorri de canto e assenti, ansiosa para finalmente quebrarmos aquela distância que havia sido tão dolorosa. Nossos narizes se tocaram e prendi a respiração, finalmente sentindo o macio de seus lábios encostarem levemente sobre os meus, para em seguida, os capturar em uma carícia leve, porém com poder suficiente para me deixar fora dos ares.

Eu estava beijando Tommy.

Como sempre, nunca havia ocorrido combinação mais perfeita.

Não era somente um beijo, como fora outros, aquilo significava mais do que isso para nós dois. Um selo, como lembrete de que nosso sofrimento chegará ao fim, e um desejo, que a tanto tempo fora repreendido, agora continha liberdade total para ser saciado.

Não haviam mais barreiras.

Não havia mais nada.

Somente eu e Tommy.

O silêncio nada mais era do que um cenário, onde nossas mentes nos guiavam a um local distante. Nos afastamos ofegantes, porém, nossas mãos desesperadas por contato mostravam nosso estado atual. Eu queria tocá-lo como nunca toquei, queria sentir a explosão de nossas peles coladas uma na outra, onde nossos corpos estivessem em uma sincronia perfeita, eu o queria.

Céus, como esse homem me fazia arder.

Suas mãos invadiram sem muita cerimônia meu suéter, aquecendo ainda mais meu corpo. Arrepios me percorreram ao sentir seus dedos subindo, e apertar levemente meus seios. Um arrepio percorreu desde a ponta de meus pés até os fios de minha cabeça, onde meus lábios se entreabriram. Tommy pareceu satisfeito com o feito, e seu corpo se curvou novamente sobre o meu, onde nossos lábios travavam uma luta para mostrar quem estava mais desesperado. Seu braço voltou a me contornar, e um riso baixo escapou de seus lábios quando segurou minha mão.

- É impossível que mesmo com tudo isso suas mãos continuem frias.- falou incrédulo, acabei por rir também.

- Bom...- contornei seu pescoço com meus braços.- Acho que terá que fazer um pouco mais de esforço para que elas se tornem quentes.- sugeri arqueando as sobrancelhas, Tommy sorriu e balançou a cabeça negativamente.- O que não é uma tarefa fácil.

- Estou louco para ficar exausto ao tentar cumprir isso.- respondeu piscando em minha direção, sorri de canto, subi meus dedos por seus cabelos escuros, os apertando, enterrei meu rosto em seu pescoço e o beijei, o escutando arfar.

- E eu estou louca para vê-lo tentar.

Meu suéter foi retirado em um único movimento, assim como o dele, revelando o abdômen definido que eu tanto gostava de olhar. Passei minhas mãos por sua extensão, me deleitando ao sentir seus músculos. Suas mãos apertaram com força minha cintura, e subiram por minhas costas, abrindo o fecho de meu sutiã. Terminei de retirá-lo e o joguei em algum canto da sala, voltando a me virar e encontrar o olhar ardente de Tommy em mim. Seu toque incisivo fez meu coração disparar, e soltei o ar que até então me surpreendeu por não lembrar que o segurava. Meu mundo girou, e senti ainda mais calor emanar de nossos corpos, o que era interessante, já que praticamente caia o mundo lá fora.

E aqui dentro nunca esteve tão quente.

Era a segunda vez que eu me sentia na nossa música favorita.

Ele até tinha vindo de suéter!

Sorri quando em um impulso, meu corpo foi erguido do chão, me fazendo enlaçar as pernas ao redor de sua cintura. Não precisei ditar as coordenadas, já que o mesmo conhecia esse apartamento melhor do que eu. Seu corpo se curvou ainda mais sobre o meu, me colocando com cuidado na cama. O puxei com as pernas pela cintura quando o vi levantar, o trazendo novamente até mim. Seu riso me contagiou e um pouco ofegantes,nos observamos em silêncio, aproveitando a companhia um do outro que até poucos dias atrás nos parecia impossível. Ergui minha mão até seu rosto novamente e o acariciei, sorrindo satisfeita por estarmos assim.

Ele era o amor da minha vida.

Sempre foi.

E sempre iria ser.

Mesmo com um humor duvidável. Notei que não era a única que parecia refletir, Tommy me observava de uma maneira tão carinhosa.

Tão meiga.

Eu não poderia estar mais feliz.

- Eu te amo Caitlin Snow.

- Eu também te amo Thomas Merlyn.

***

3 anos depois

Mansão Queen

Eu realmente não entendia o porquê de tudo isso.

Não que eu não gostasse de comemorar meu aniversário, acredito que devemos sim comemorar mais um ano de vida onde enfrentamos poucas e boas, porém, quando Thea propôs que comemorássemos na mansão Queen eu realmente achava que seria uma reunião íntima.

Nunca fui tão tola.

A mesa de decoração havia sido montada no jardim, assim como outras mesas brancas que foram distribuídas pelo gramado. No começo fiquei um pouco incomodada com a proporção das coisas, entretanto, quando parei para pensar melhor, o dia de hoje estava caindo como uma luva em minhas mãos, eu faria o pedido hoje.

Pediria Tommy em casamento.

Só de pensar nisso meu estômago revirava.

Estamos juntos há três anos, e a cada momento em que estou com ele, seja rindo ou apenas conversando, ou o simples fato de vê-lo se esforçar todos os dias para aprender a cozinhar aqueciam meu coração. Eu o amava, muito.

Então por que esperar mais?

Havia contado meu plano para as meninas, que ficaram extasiadas. As fiz prometer segredo e agora, olhando para a caixinha preta de veludo em minhas mãos suadas, nunca estive tão certa. Claro que eu estava em pânico, pior do que no dia qual nos acertamos, onde falei tudo o que sentia.

Precisaria ser corajosa mais uma vez.

A porta foi aberta com brusquidão, me fazendo pular de susto. Em um movimento ágil, escondi a caixinha em minha bolsa de lado e virei para trás, encontrando Tommy que de uma maneira cômica tentava segurar Mia, que praticamente corria em minha direção. Sorri e me agachei, abrindo os braços para receber o abraço apertado daquele ser loiro de bochechas rosadas, Tommy parou ofegante ao nosso lado.

- Essa pestinha se soltou de mim e veio em disparada pra cá.- tentou soar chateado, mas seus olhos se derretiam ao nos observar abraçadas, me levantei e a coloquei no colo.

- Eu sou a favorita dela, o que posso fazer não é Mia?- brinquei, um sorriso brincalhão surgiu em seu rosto.

- Eu sou o favorito dela, o padrinho mais legal.- argumentou abrindo os braços, Mia me deixou.

Traidora.

- Você é o único padrinho dela.- argumentei cruzando os braços, Tommy parecia perdido enquanto brincava com Mia.

Sorri ao observá-los. Depois de Thea, Oliver e Felicity trocaram votos, e deram origem a essa mistura de gênio impressionante chamada Mia Smoak Queen. A família deles era linda, e a forma como Oliver olhava orgulhoso para as duas mulheres de sua vida me deixava ansiosa.

Eu queria uma família também.

Poderia ser um garotinho com o cabelo e os olhos de Tommy, ou uma menininha, com a cor de meus cabelos. Percebi que estava os olhando tempo demais, já que Tommy também me observava, olhei para o chão.

- Felicity está aonde?

- Recepcionando os convidados. Curtis chegou.

- Ele já está aqui?- perguntei animada. Depois de nosso acerto, Curtis quis conhecer o homem qual me fez ir até seu programa. Tommy adorou conhecê-lo, tanto que eram bons amigos, nosso grupo havia crescido mais, e eu não poderia mentir, amava ter Curtis por perto, que já era influenciado por Sara e Thea, me deixando em nervos.- Vamos descer então, só preciso colocar um brinco.

- Eu te ajudo.- colocou Mia sentada na cama.- Pestinha? Fica aí.

A escutei rir e se entreter com os babados de seu vestido verde, a deixando uma verdadeira princesinha. Entreguei os brincos de prata a Tommy, que com cuidado os colocou. Senti sua barba pinicar meu ombro, para em seguida o mesmo soltar um beijo em meu pescoço, suspirei de olhos fechados.

- Tem crianças aqui.- sussurrei, sua mão contornou minha cintura, virando meu corpo de frente para o seu.

- Você está maravilhosa.- comentou me deixando sem graça.- Já disse que azul é sua cor, não é?- perguntou me fazendo dar uma voltinha. Thea me fez usar um vestido liso azul marinho de mangas transparentes cumpridas.

- Só umas mil vezes.- brinquei contornando sua nuca com meus braços.- Precisamos descer.

- Sim, e levar a pestinha... Mia?- chamou alarmado ao notar sua falta na cama.- Essa menina vai me matar.

Ri de sua reação, principalmente por achar dois sapatinhos dourados escondidos atrás da cortina. O cutuquei, indicando o ponto um pouco atrás de nós.

- Acho que ela foi embora.- Coloquei as mãos na cintura.- Uma pena, porque eu iria levá-la para a mesa de doces, talvez eu leve outra criança no seu lugar...

- Não!

Tommy riu com sua reação. Mia estava começando a falar, porém a palavra que ela mais dizia com precisão era “Não”.

Já tinha o gênio forte dos Queens.

- Você tem jeito com crianças.- murmurou a pegando no colo enquanto saímos do quarto.- Preciso aprender mais, quero uma igual a essa menininha aqui.- sorriu abobalhado para Mia que brincava com sua barba, parei de repente no corredor, em choque com sua fala, ele... Ele queria?

Um filho.

Uau.

Senti meu coração se aquecer, me dando mais motivos para fazer o pedido. Tommy parou na ponta da escada e me olhou confuso, apenas dei de ombros.

- Nada.- sorri voltando a andar, contente com que iria acontecer.

O jardim lá fora estava um espetáculo. Haviam luzes postas em lugares específicos,

sem contar com a área feita para a pista de dança. O clima estava quente, e o céu acima de nós parecia uma árvore de natal por conta das estrelas, que variam aquela imensidão misteriosa. Rene me cumprimentou com um abraço, me desejando felicidades, sou muito grata a ele desde o dia que me ajudou a não cometer nenhuma besteira, e agora que eu e Tommy estávamos juntos era comum nos encontrarmos, eu gostava dele, era uma pessoa reservada, porém engraçada.

A voz de Oliver fez Mia abrir os bracinhos, chamando o pai, que veio imediatamente a seu encontro. Ela era encantada por ele, e tão parecida que às vezes fazia Felicity reclamar, já que julgava que por tê-la carregada nove meses na barriga deveria ter algum crédito, mas isso não nos enganava, era nítido para qualquer um como ela adorava prestar atenção nos dois brincando.

- E ela se esqueceu de mim outra vez.- falou Tommy fazendo biquinho.

- Sabemos quem ganha entre nós dois.- respondeu Oliver convencido.- Não é filhota?- a deu um beijo na testa, seu riso foi inevitável.- E parabéns para a aniversariante.- me abraçou com o outro braço livre.- Merece muito mais que uma festa por aguentar este homem aqui.- apontou para Tommy me fazendo gargalhar.

- Ele é complexo, tem um humor... Duvidável?- sugeri confusa.

- Invasivo?- perguntou a mim, continuando a brincadeira.- Desqualificado?

- Eu só não o mando se...- completou a frase em tom mudo.- Por conta da minha afilhada, que vai pedir conselhos a mim porque o pai espanta todos os garotos da região..

- Se eles não aguentarem uma aula na academia Al ghul comigo é porque não são dignos da minha princesa.- argumentou dando de ombros, fazendo cosquinhas em Mia.- Não é, pequena?

Logo Mia apontou para a pista de dança, onde luzes coloridas brilhavam, indicando que queria ir lá. A soltei um beijo no ar e voltamos a caminhar, cumprimentando mais e mais convidados. Uma mesa em especial me chamou atenção, Felicity estava sentada com Ray e Laurel, rindo de alguma piada que o moreno havia feito. Minha amizade com Laurel se fortaleceu com o passar dos anos. Desde nossa conversa na cafeteria, acabamos nos encontrando mais vezes, seja para tomar um café, ou almoçar em algum lugar, além de sua presença se fazer mais presente agora em nosso círculo íntimo. Tommy ficou feliz em saber desse nosso estado atual, já que eu sabia que mesmo não estando mais juntos, ele queria manter amizade com ela. Senti o olhar de Laurel cair sobre mim e um sorriso se formar em seus lábios, a mesma se pôs de pé e me abraçou fortemente, desejando felicidades.

- Você está um arraso!- me elogiou,sorri sem graça.- Tommy é um homem de sorte.

- Sou mesmo.- respondeu brincalhão a dando um abraço.- Ray!

- E aí?- se levantou, o dando um abraço rápido.- Snow!

- Príncipe da Disney.- provoquei, Laurel me lançou um olhar de repreensão, esse era o apelido que ela particularmente o dava em nossas conversas,pisquei em sua direção.- Aproveitando a festa?

- Sim, está tudo incrível.- respondeu entusiasmado.- Soube que vai ter uma surpresa hoje à noite.

- Surpresa?- fingi confusão, tentando disfarçar meu desespero. Tommy em hipotese alguma poderia desconfiar. O vi lançar um olhar significativo, deixando Ray com a boca entreaberta.Juntei as sobrancelhas em confusão- Que surpresa?- me virei para Tommy e Felicity que pareciam assustados.- Vocês dois...

- Olha quem eu trouxe cunhadinha.- escutei a voz de Thea ecoar atrás de mim, me virei rapidamente e encontrei Curtis com Paul ao seu lado.

- Caitlin Snow, senhoras e senhores!- riu me abraçando.- Quando vai aparecer no meu programa de novo, hein? Seria legal ter um relato de amor.

- Você não desisti.- ri quando abracei Paul.- Foi assim que ele o convenceu a se casar?

- Digamos que Curtis seja um pouco insistente.- brincou sorrindo para o marido.- Mas eu já estava apaixonado, não havia muito o que fazer.

- Que fofos.- sorriu Thea.- Agora que já conversaram, preciso levar a aniversariante para a pista e tirar muitas fotos, com licença.

Ri ao senti-la me puxar. Caminhamos um pouco, parando em frente à mesa de doces, Thea curvou o rosto em minha direção, para que o que falasse ficasse apenas entre nós duas.

- Depois do bolo.- sussurrou.- Um de nós vai fazer um discurso pra você, e logo em seguida faz o pedido, ok?

- Certo.- concordei, senti minhas mãos suarem.- Onde estão Sara e Nyssa?

- Ali.- apontou para o casal que dava instruções ao dj.- Estão informando o momento pra ele colocar a música, vai dar certo.- sua animação me contagiou.- E no final dessa noite você vai ficar extremamente emocionada e com a maquiagem borrada.- ri de seu comentário.

- Obrigada.- a dei um abraço apertado.- Por tudo, sério, vocês são incríveis.

- Gosto de ver meu irmão feliz, Tommy já sofreu muito.- suspirou pesadamente o observando de longe.

- Eu sei.- sorri triste, perder a mãe havia sido um acontecimento que ele jamais havia superado, e o pai, bom, sobre às vezes que havíamos se encontrado a impressão que tive sobre Malcolm era de um verdadeiro imbecil, para não dizer coisas piores.- E eu só quero fazê-lo feliz.

- Você já faz, a aliança é só um detalhe.- piscou em minha direção.- Agora vamos lá, daqui a pouco é o parabéns e eu vou entrar em pânico.

- Não mais que eu.

Comi um pouco dos salgados que passavam e comecei a ficar aflita, faltavam poucos minutos para o parabéns tocar. Meu estômago revirou com os salgados, me fazendo questionar se havia sido uma boa ideia comê-los. Não encontrei Tommy até finalmente estar no meio da mesa, sendo observada por aquela quantidade de pessoas ao meu redor. Quando encontrei seu olhar de longe, sorrindo, relaxei e tentei me acalmar.

Estava perto.

Tic tac.

Sara e Roy deram início ao parabéns, animados, eu também estava animada, porém este era um dos momentos quais eu não sabia o que fazer, não sabia se cantava junto, ou se apenas batia palmas, ou melhor ainda, ficar quieta observando tudo. Assoprei a vela e escutei o click da câmera bater nesse exato momento, me levantei e olhei para nosso grupo de amigos, ansiosa, Thea pegou o microfone.

- Agora que já parabenizamos minha cunhada por ficar mais velha.- mostrei o dedo em sua direção, ocasionando risos.- Temos que fazer um discurso, não é? Alguém se oferece?

- Eu!- falou Tommy, a irmã o entregou o microfone e sussurrou algo em seu ouvido.- Cat, pode ficar aqui na frente, por favor?- pediu, contornei a mesa e parei a pouca distância de onde o mesmo estava.- Ok.- suspirou limpando as mãos na blusa social, parecia nervoso.- Essa mulher aqui vem me aguentando um bom tempo, e eu sei que sou uma pessoa complicado.- Oliver e Thea gritaram “Sim!”, fazendo mais convidados rirem.- E de bônus precisa aguentar os meus irmãos.- retrucou me fazendo rir, seu olhar voltou ao meu.- Desde a primeira vez que eu a vi, caminhando no campus, sabia que minha vida iria mudar, eu só não imaginava o quanto.- sorri em sua direção.- Eu não me lembro bem o exato momento em que comecei a amá-la, pois desde que penso em nosso começo, esse sentimento tão poderoso, tão complexo e confundo já me dominava, e eu amo você.- sorri emocionada.- Amo tudo em você. Você é companheira, minha melhor amiga e o amor da minha vida.- escutei um “ownt” dos convidados.- E nós já perdemos tanto tempo, que eu não quero esperar mais.- meu coração se sobressaltou ao assisti-lo se ajoelhar em minha frente, pegando uma caixinha dourada de seu bolso.- Eu te amo, eu quero ter um futuro com você, e filhos que me deixem de cabelos brancos.- ri nervosa, sentindo as lágrimas descerem.- Nem sempre os momentos vão ser bons, mas eu posso enfrentar qualquer coisa se você estiver comigo. Nos dias frios, nos dias quentes, não importa, eu só quero estar com você. Você sabe o que eu penso, nós já temos um amor, agora precisamos construir uma casa juntos.- citou o trecho de nossa música, que somente agora eu percebi que tocava.- Então Caitlin Snow...- abriu a caixinha dourada, revelando a aliança.- Aceita se casar comigo?

Um silêncio se alastrou pelo gramado. Eu tremia da cabeça aos pés, estava tão emocionada.

Tão feliz.

Era como se meu coração fosse sair pela boca, e por breves segundos as palavras perdiam força em minha boca. Tommy continuava ajoelhado, e por minha demora parecia extremamente nervoso.

- Amor?- me chamou hesitante, ainda em pé, abri minha bolsa e peguei a caixinha preta, me agachando logo em seguida.

- Eu ia te pedir em casamento hoje também.- abri a caixinha, mostrando uma aliança que por curiosidade era idêntica a minha, porém mais grossa.- Havia feito um discurso e quase apareci dopada hoje à noite.- rimos de forma nervosa.- Vem.- o ajudei a se levantar, pegando o microfone.- Bom, que confusão temos aqui. Parece que nós dois decidimos fazer o pedido no mesmo dia.- alguns convidados riram.- Mas parando pra pensar, não foi tanta coincidência assim, já que nossas alianças são pares e acredito que pedimos ajuda para a mesma pessoa.- semicerrei os olhos em direção à Thea, que deu de ombros, nos mandando um beijinho no ar.

- Isso explica muita coisa.- murmurou Tommy ao meu lado, olhando incrédulo para a audácia da irmã.- E claro que ela teve cúmplices.

- Certamente.- ri quando o encarei.- Tommy...- minha garganta secou, respirei fundo.- Eu passei semanas planejando hoje, e nada do que eu cogitei aconteceu, como sempre, quando se trata de nós dois tudo é imprevisível.- Tommy concordou, sorrindo canto.- Assim como o nosso amor. - suspirei dando um passo em sua direção.- Não soubemos quando ele começou, porém ele sempre esteve aqui, nos rondando, por anos tentando nos fazer enxergar além da névoa que nos cercava, e quando isso aconteceu foi tão lindo. Pela primeira vez me senti completa, segura. E eu quero fazê-lo feliz, quero que cada dia se sinta realizado, assim como eu quando acordo com você ao meu lado.-Tommy engoliu em seco.- Você é o homem da minha vida, e eu seria louca se dissesse não hoje à noite, mas eu quero saber de você.- retirei o anel da minha caixinha.- Thomas Merlyn, aceita se casar comigo? Não para sermos felizes, pois isso já é um fato, mas sim para construirmos uma vida juntos, eu também quero aquela casinha.

- É claro que eu quero meu amor.- Todo o seu rosto se iluminou, ele parecia tão contente.

Com as mãos trêmulas, coloquei a aliança em sua mão esquerda, e Tommy fez o mesmo comigo. Uma salva de palmas e gritos animados foram disparados no momento em que trocamos um selinho breve, enterrei meu rosto na curvatura de seu pescoço envergonhada.

- Vai ficar um pimentão desse jeito Cat.- provocou me abraçando.

- E pensar que vou ter que ouvir esse apelido pelo resto da minha vida.- resmunguei, fingindo chateação. Ergui o rosto para observá-lo.

- Ansiosa?

- Muito.- respondi, partilhamos um sorriso.- E você, ansioso para lidar com meu humor todos os dias?

- Será uma honra.- brincou me dando um beijo na testa, seus lábios desceram até meu ouvido.- Mas uma coisa que eu queria muito agora é ficar em um lugar sozinho com você.- sussurrou, senti meu corpo arrepiar.

- Parece tentador.- concordei levando minhas mãos até sua barba.- Podemos sair de fininho.

- Seu desejo é uma ordem.

Ri com sua animação. Entrelaçamos nossas mãos e começamos a caminhar, praticamente correndo. O abracei no pé da escada onde trocamos um beijo demorado, deleitando a companhia um do outro. Me afastei ofegante, e examinei com carinho o rosto que me trazia tanta felicidade e me fazia sentir tantas coisas.

Eu não via a hora de trocarmos o maravilhoso “sim” na igreja.

Tommy era o amor da minha vida, não poderia estar mais certa sobre isso, e saber que acordaria todos os dias em seus braços me deixava ansiosa.

Ansiosa para o nosso futuro.

Que só estava começando.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.