“É, omma. Eu estou a cada dia mais perdido por ele. Eu não estou no cemitério, na verdade esta no meio da madrugada, mas eu tinha que escrever. Ontem eu fiz muito mais do que já tinha feito com SungMin. Ontem eu senti que fui importante pra ele.

Omma, eu dei um beijo na bochecha dele, será que isso é errado? Ah sim, e eu lhe abracei na hora de dormir. Nós dormimos abraçados. Será que isso esta errado? Eu me sinto culpado por isso... Por que eu sinto como se algo estivesse errado?

Às vezes eu sinto que o mundo esta andando e eu estou parado, sinto como se alguma coisa estivesse acontecendo a minha volta e só eu não percebesse. Como se algo muito importante estivesse acontecendo aqui, dentro de mim, e apenas eu não percebesse isso.

Eu tenho tanto medo de fazer algo errado e magoar o SungMin. Ele pode fingir ser forte, mas eu sei que ele não é tão forte assim. Ele não é do tipo que chora sempre, só quando já esta muito carregado. Ontem os meninos o fizeram lembrar-se do irmão dele e ele chorou, chorou nos meus braços.

Não posso culpá-los por isso, eles não sabiam. Mas eu fiquei bastante preocupado. SungMin não choraria assim apenas por lembrar-se do irmão. Será que foi porque estávamos muito próximos na frente dos meninos? Será que ele se sentiu exposto demais?

Estou pensando se falo ou não com ele sobre isso. Ele parece tão feliz quando eu faço essas coisas, mas eu não sei o que realmente acontece, afinal, eu não sou ele. Não tenho como saber o que ele esta sentindo exatamente.

Acho que vou esperar um pouco para perguntar qualquer coisa. Afinal, já imaginou se a resposta é negativa? Pode ficar um clima estranho, eu não quero isso. Isso, melhor deixar como esta.

Saranghaeyo, de seu filho KyuHyun.”

**.**

– Kyu, vamos, já é dia – senti alguém me balançar e logo abri os olhos, vendo o rosto meio amassado de SungMin olhando-me.

– Bom dia, Min – eu disse, puxando-lhe para um abraço, fazendo-o cair de mau jeito em cima de mim.

– Yah! Não faça isso, os meninos podem entrar – ele disse, fazendo-me rir e apertá-lo mais, sentindo-o bater de leve em meu ombro.

– De novo esse papo de eles não nos verem? Não estamos fazendo nada demais, só estamos abraçados – disse, soltando-o um pouco, deixando-o afastar seu tronco do meu para olhar-me o rosto.

– Mas essa não é uma posição muito boa para se estar em uma cama com outra pessoa, Kyu! – ele disse, dando-me mais um tapa no peito.

– Então você esta pensando nessas coisas, comigo? Eu era quem deveria estar com medo de você aqui, Min – disse, dando-lhe vários beijos em suas bochechas, parando quando quase lhe dei um selinho.

Foi tão rápido que não pude controlar meu coração. Em um momento estava beijando sua bochecha e quando fui passar pra outra bochecha ele vira o rosto e eu quase lhe dou um selinho. Apesar de não demonstrar pra ele, eu podia sentir meu coração querendo sair pela boca nesse momento.

– Kyu, já chega de brincadeiras – vi que seu rosto estava muito vermelho e ele estava nervoso – vamos nos levantar, vamos!

– Tudo bem, vamos.

Soltei o abraço e vi ele se levantar e estender a mão para me ajudar a subir, o que no fim não ajudou muito já que ele não era tão forte assim. Fomos logo cada um para um banheiro, os mesmos do dia anterior, e nos arrumamos para descer para o café.

– Bom dia, meninos. Achei que não iam mais acordar hoje – disse DongHae, rindo da nossa cara de espanto ao encararmos a mesa de café da manhã.

Ela era simplesmente enorme. Tinha mais de duas dúzias de pães, manteiga e margarinas de todos os tipos e tamanhos, quatro tipos de queijo, além dos queijos em tubos para passar nas torradas. E três potes de torrada? Pra que isso? Também tinha dois bolos, café, leite, chá e chocolate quente. Ah, agora que vi, também tem geléia e ovo para acompanhamento.

– Acho que eles assaltaram uma padaria – sussurrei no ouvido de SungMin que apenas concordou com a cabeça.

Logo sentamo-nos em duas cadeiras ali, lado a lado. Comecei a me servir de café puro com açúcar e vi SungMin pegar um pouco de chocolate quente. Logo vi DongHae colocando uma cesta de frutas na mesa, com todo o tipo de fruta. Dês de morango e kiwi, para Maçãs e peras.

– Para quem preferir algo mais saudável, apesar de vocês não terem cara de pessoas saldáveis. – Apenas estiquei os lábios com o comentário de DongHae, pegando um pão e uma fatia de queijo.

Reparei que SungMin tentava colocar um daqueles queijos em tubo no seu pão, mas não conseguia. Logo peguei o mesmo de sua mão e passei no seu pão, sorrindo para si quando terminei, dando-lhe um beijo na bochecha. E foi só quando ouvi um risinho de DongHae que me lembrei de sua presença ali.

– Vocês às vezes parecem um casal. Vocês são ou não?

– N-NÃO! – ouvi SungMin gritar, assustado com a pergunta e soltei uma risada baixa, pegando sua mão por baixo da mesa, essa que ele não demorou nem dois segundos para soltar da mesma – Kyu! E-eu disse que eles iam pensar besteira, pabbo.

Nisso eu e DongHae começamos a rir enquanto SungMin tentava bater em mim, o que não fazia o menor efeito, já que ele não batia com força. Logo segurei sua mão, dando um beijo na mesma, enquanto ele tentava tira-la das minhas posses.

– Pare com isso, Minnie. Assim faz parecer que é verdade – sussurrei pra ele, vendo-o ficar vermelho e voltar a comer, ignorando-me.

– Acho que acabei de fazê-lo ficar com raiva de você, sinto muito – disse DongHae para mim e eu apenas lhe respondi dando de ombros – você não é de falar muito também, nee?! O SungMin fala mais que você e quase não fala também – dei de ombros mais uma vez, ouvindo-o rir – Vocês são estranhos, eu gosto disso.

**.**

O dia passou rápido. O trabalho estava finalizado e os meninos haviam resolvido que apenas Hyuk leria o texto lá na frente, já que o mesmo levava mais jeito com outras pessoas do que nós.

Já eram seis da tarde quando eu e SungMin resolvemos ir para casa, já estava começando a escurecer. Em dias de domingo não passava ônibus naquele horário, então eu insisti para que SungMin dormisse em minha casa, que era bem perto dali. Ele tentou negar, mas eu continuei insistindo até que ele aceitasse.

Ao chegarmos a casa minha avó veio nos receber. Apenas lhes apresentei e avisei que ele iria dormir comigo. Ela nem ao menos tentou contestar, então subimos, eu na frente e SungMin sempre me acompanhando. Mostrei-lhe o meu quarto e logo o banheiro para que ele pudesse tomar um banho.

Não demorou a estarmos os dois na cama. Ainda eram 7 horas e nós dois já estávamos em minha cama. Para minha sorte a minha cama era de casal, já que eu havia ficado com o colchão dos meus pais, a única coisa que conseguiram recuperar da tragédia.

– Min... Você não ficou realmente chateado pelo que o DongHae falou, não é mesmo?! Você sabe que eu sou carinhoso com você porque você é muito importante pra mim! Você é o meu único amigo nessa nova escola e eu gosto muito de você e... – fui calado quando ele colocou um dedo nos meus lábios.

– Esta tudo bem, eu só fiquei... Assustado, com medo de ele pensar algo assim sobre nós. Eu gosto do seu jeito carinhoso. Ele me faz sentir confortável quando estou com você... Eu me sinto bem quando estou com você, Kyu. E eu não quero que isso mude.

Logo sua mão foi para minha franja, acariciando-a. E eu levei minha mão para sua bochecha, puxando-o para mais perto de mim. Seu rosto estava a centímetros do meu, meu coração estava tão disparado que eu cheguei a ficar com medo de ele poder ouvi-lo.

Rocei meu nariz em sua bochecha levemente, sentindo-o arrepiar em minhas mãos. Já a sua mão, deslizou para meu ombro, apertando ali. Dei-lhe um beijo na bochecha, minha respiração esta tão acelerada... Eu queria entender o que são todos esses sentimentos dentro de mim.

Coloquei minha outra mão em seu peito e pude sentir que o mesmo subia e descia sem parar, sua respiração deveria estar tão pesada quanto a minha esta nesse momento.

Logo deslizei minha mão para sua cintura, aproveitando que minha costa estava encostada na parede para puxá-lo e encostá-lo em meu peito, abraçando-o em meio as minhas pernas. Coloquei minha cabeça na parede e pude sentir sua cabeça em meu peito. Isso é tão bom, parece tão certo...

Não resisti em juntar nossas mãos, entrelaçando nossos dedos e abraçando-o junto a ele mesmo. SungMin parece um urso, sim, um urso de pelúcia. O meu único urso de pelúcia. O único que eu gostaria de passar 24 horas por dia abraçado.

Logo joguei meu corpo para o lado, deitando abraçado com ele, dando-lhe mais um beijo na bochecha e levantando-me para puxar o cobertor e nos cobrir. Tempo o suficiente para que ele se virasse para mim.

Ficamos nos olhando por um bom tempo, até que uma duvida me veio à mente. Coloquei minha mão em sua bochecha, dei-lhe um beijo na testa e voltei a sussurrar-lhe mais uma vez naquele dia:

– Min... Você confia em mim?

– Claro que confio, Kyu – abaixei um pouco meu rosto, podendo olhá-lo nos olhos.

– Então... Conta-me... O que aconteceu com os seus pais? – vi seus olhos fraquejarem, desviarem para as próprias mãos, e logo percebi que não deveria ter tocado no assunto – Se não quiser, eu vou entender...

– Tudo bem, eu preciso mesmo falar disso... E quem seria melhor que você, não é mesmo?! – ele disse, olhando-me.

– Muita gente, acredite. Eu não sou a melhor pessoa do mundo – nós dois rimos de meu comentário e logo eu lhe dei mais um beijo na testa e peguei suas mãos nas minhas, encorajando-o.

– Kyu... Eu te contei, não é? Que vivia só com meu irmão – apenas assenti com a cabeça, acariciando suas mãos – Quando eu tinha cinco e meu irmão dois, meus pais faleceram. Eles sofreram um acidente de carro, e desde então eu e meu irmão passamos a morar com meus tios. Nós crescemos juntos e desde cedo meu irmão mostrou certa dependência de mim... – vi seus olhos começarem a marejar e desviarem para suas mãos, evitando deixar as lagrimas escorrerem – E eu tive que voltar no colégio, estudar com ele, ou então ele não ia para a escola. Eu desde sempre fiz tudo por ele. Tomávamos banho juntos, dormíamos juntos, até praticamos língua estrangeira juntos. E quando queriam me pular de turma... Eu negava, pra ficar com o meu irmão – vi-o fechar os olhos e as lagrimas escorrerem. Apenas deixei, eu sabia que ele precisava disso – Kyu, meu irmão, quando tinha 15 anos, descobriu que era homossexual. Ele arranjou um namorado. E os meus tios descobriram, e botaram ele pra fora de casa. Não aceitaram a opção dele. E eu fui junto com ele, não o deixaria sozinho. Eu arranjei um emprego qualquer em um restaurante, era o máximo que um adolescente de 18 anos poderia conseguir. Nós fizemos testes para bolsa nas escolas e conseguimos. Nós passamos dois anos assim, morando em um quartinho nos fundos de um restaurante. Até que esse ano eu fiz 20. Kyu, eu era maior de idade e nem ao menos tinha completado o básico. Ainda precisava do ultimo ano. Mas eu já podia entrar na justiça pela minha parte da herança. E eu briguei, com a ajuda do dono do restaurante, e eu ganhei. Eu e meu irmão continuamos estudando, até que o namorado dele, no inicio desse ano, terminou com ele. E tudo o que agente passou, foi por causa desse idiota, sabe?! E nesse mesmo dia, ele voltava de ônibus, havia me enviado uma mensagem dizendo que tinha terminado com o namorado e eu fiquei super mal. Uma hora depois eu recebo uma ligação do celular dele, e atendo, estranhando a demora dele, já que ele já deveria ter chego àquela hora. E eu recebo a noticia de um policial. Kyu – A essa altura ele se agarrava as minhas vestes e já soltava alguns soluços em meio à história – O policial disse que... Meu irmão estava indo pro hospital naquele momento, que ele tinha sido vitima de um assalto a mão armada, um cara seqüestrou o ônibus que ele tava e atirou na cabeça dele quando ele não quis entregar a mochila. Kyu, meu irmão não entregou a mochila... Tudo porque, ali dentro, estavam as cartas que o idiota do namorado dele tinha dado pra ele. O celular continuou no bolso dele. E agora ele esta morto. Morto, Kyu! Há quase dois meses.

Na mesma hora abracei SungMin com força, beijando o topo de sua cabeça, enquanto deixava algumas lagrimas rolarem pelo meu rosto. Agora eu entendia o sofrimento de SungMin ao lembrar-se do irmão. E, principalmente, o medo dele de carinhos públicos comigo.

– Não se preocupe mais, Minnie. Eu estarei com você a partir de agora, pro que der e vier.