My Target Is You

Capítulo 2 - Meu Pai é um Deus Grego



– Chamem uma ambulância! Rápido!

“Aff. Ela só pode estar de brincadeira com a minha cara!” – Eros pensou enquanto assistia o guarda carregar a inconsciente Narsha no colo e deita-la em um dos sofás que havia na sala.

– Ei! – chamou a atenção do policial, gesticulando. – Não precisa pedir ambulância nenhuma não! Ela faz isso o tempo todo!

– O que você está dizendo aí, seu moleque?! – ele perguntou confuso e irritado, se aproximando novamente da cela e encarando o ‘garoto’.

– Desmaiar. – deu de ombros. – Ela está fingindo. Nem perca seu tempo se preocupando.

– Aish! Você está de gracinha comigo?!

– Não estou. – ele respondeu despreocupado. – Me solte e você verá como ela vai acordar rapidinho.

– Nem vem que eu não vou te soltar! Você ainda não está livre!

– Mas ela veio aqui para pagar, não veio?! Abre logo isso aqui e eu ajudo a acorda-la. Qual é, hein?! Não tenho como fugir mesmo!

O policial o observou com uma expressão desconfiada, mas sabia que ele tinha razão. Tentar fugir de uma delegacia lotada correndo não seria mesmo a melhor das ideias. Abriu a cela com cuidado e o deixou sair. Os outros quatro ou cinco guardas que estavam na sala desviaram os olhos da televisão e acompanharam com atenção cada movimento do garoto. Estavam a postos caso ele ameaçasse uma fuga.

O deus do amor caminhou lentamente até o sofá onde Narsha repousava com uma mão no rosto, aparentando estar em sono profundo. Ajoelhou-se no chão à sua frente e sorriu sarcasticamente, admirando o rosto ainda delicado daquela mulher que já estava para lá de seus 30 anos. “Tá velha, mas ainda dá um belo caldo!”, brincou consigo.

Aproximou o rosto cuidadosamente ao ouvido da ahjumma e sussurrou em um tom provocativo, chocando levemente seus lábios quentes sobre a pele de sua ex.

– Quanto tempo, meu amor.

Foi o suficiente para fazê-la estremecer da cabeça aos pés, dar um grito histérico e acordar do suposto desmaio, saltando instantaneamente do sofá e empurrando Eros contra o chão.

Agarrou sua bolsa e disparou pelo corredor afora, apavorada com o que acabara de acontecer. Os policiais correram atrás, mas ela foi mais rápida. Chegou à recepção, atirou um cheque em cima da funcionária responsável pelas fianças e desceu às pressas até o estacionamento.

Há quantos anos não ouvia aquela voz? Há quantos anos não via aquele rosto?

Suas mãos tremiam tanto que perdeu inúmeros segundos tentando girar a chave para entrar em seu carro, um Kia modelo Picanto verde limão. Quando finalmente conseguiu, travou depressa as portas e observou pelo retrovisor que Jay e mais dois policiais desciam furiosamente as escadas da delegacia a sua procura. Desesperada, quis dar partida e fugir de vez, mas o motor não a obedeceu.

Tentou arrancar mais algumas vezes, mas sem sucesso, e em poucos segundos eles já a tinham alcançado.

– Abre a porta, Dona! – gritou um dos policiais, batendo com força no vidro do carro.

“Aish, aish, aish, aish!!”, ela resmungou mentalmente, quase que aos prantos.

O rapaz investiu novamente contra o vidro e ela não teve outra escolha a não ser abrir a porta do veículo. Colocou parte do corpo para fora, mas permaneceu apreensiva dentro do carro, fitando o volante e evitando ao máximo encontrar os olhos do deus.

– Algum problema, minha senhora?! – o rapaz abriu totalmente a porta e cruzou os braços em sua frente, encarando-a de uma forma acusadora. – Saiu correndo daquele jeito por quê?

– Ahhh, aquilo... – ela abriu um sorriso inseguro e uma pequena gota de suor escorreu da lateral de sua testa, denunciando seu nervosismo. – É que.. é que... estou apertada para fazer o número 2! – quis se matar por essa ter sido a única desculpa que surgiu em sua mente, mas tinha que seguir com o plano. – É! E... e só uso o banheiro de casa!

“É, ela não mudou nadinha mesmo.” , Eros levou a palma da mão ao rosto e riu em deboche, balançando a cabeça em reprovação.

– Ah, sei bem! – zombou o policial, fechando o rosto. – Mas a senhora não pode ir embora assim não, dona. Vai ter que voltar e assinar a documentação direitinho! E ah, levar seu filhinho de volta pra casa! Não queremos essa peste aqui mais não!

– Está bem. Me dê só um minuto para...

– É pra hoje, minha senhora.

– Ok... Vamos.

“’Filhinho’! Era só o que me faltava...”

x

Narsha dirigia em silêncio e olhava fixamente para a pista, como quem evitasse a qualquer custo cometer um acidente de trânsito fatal. Tentava manter sua mente vazia de pensamentos para não deixar transparecer seu nervosismo, mas não conseguia de forma alguma. Era o pai de seu filho sentado no banco ao lado. Não pôde deixar de experimentar milhões de sensações ao mesmo tempo: espanto, angústia, raiva e até mesmo medo...

Medo de estar imaginando aquilo tudo.

O garoto, que na época se nominava Park Jaebeom, havia sido bem claro em suas palavras de despedida, escritas a uma tinta fraca sobre um papel de aspecto antigo.

“Eu nunca mais voltarei.
Por favor, cuide do nosso filho.
Ele terá o meu amor eterno.“
.

Papel este que fora entregue pessoalmente por Ilítia, a deusa do parto, que aparecera personificada de médica-obstetra na noite do nascimento de seu filho, o pequeno Junghwan. Só assim descobriu a verdade sobre Jay, sua origem divina e a existência do Olimpo.

E claro, saber de tudo isso foi um choque muito grande para Hyojin, que era apenas uma menina de quinze anos vivendo seu primeiro amor. Sentiu-se usada e traída, como se tivesse vendido sua inocência para um cara qualquer.

Com o passar dos anos, conseguiu superar as inúmeras dificuldades e o preconceito que sofreu por ter dado à luz tão jovem. E claro, não teria sido capaz se não fosse por Lee Jonghyuk, aquele que assumiu Junghwan como seu filho e a deu forças para recomeçar, provando que ainda era possível viver outra história amor.

Pena que por pouco tempo.

De qualquer modo, o “Caso Eros” ainda estava entalado em sua garganta. Não sabia o que raios ele estava fazendo ali, logo ao seu lado e depois de tantos anos, mas uma coisa era certa: jamais o perdoaria por todo o mal que a causou.

– Tá! – ele disse após longos minutos de silêncio. Não imaginou que seria tão difícil iniciar um diálogo quando planejou seu retorno. Estava, de certa forma, envergonhado em estar ali. Talvez com o orgulho ferido. – Para onde estamos indo?! – perguntou sem muitas pretensões, assim que ela encostou o carro em frente ao farol vermelho.

Não fale comigo! – ela esbravejou, ainda sem desviar o olhar. Eros deu um pulo assustado e puxou apressadamente o cinto de segurança.

– Ei, calma! Só fiz uma pergunta!

– Aff, eu mereço! Ainda acha que tem o direito!

– Me escuta...

– Seu safado!

– Safado?! Eu.. eu só estou aqui para resolver as coisas!

– Resolver o que depois de 17 anos? Ah, me poupe!

– Se acalma e me escuta!

E quando se deram conta, viram que os passageiros do ônibus parado ao lado praticavam um popcorn coletivo, observando atentamente cada cena daquela discussão entre os dois, colados ao vidro.

– Rmm.. – Eros limpou a garganta e desviou o olhar. – Estamos sendo observados.

– Não me diga! – Narsha ironizou, e partiu com o carro assim que o semáforo abriu.

Ficaram calados por pouco mais de um minuto, até o rapaz novamente insistir.

– Vou perguntar mais uma vez. – disse pausadamente. – Para onde estamos indo?

– Eu estou indo para a minha casa. Você eu não sei.

– Ei, espera! Para onde você está me levando?!

– Para um lindo campo florido no meio do nada. – voltou sua atenção para o espelho do carro, ajustando-o e sorrindo para o seu reflexo. Finalmente realizou que havia algo estranho no comportamento de Eros. – Lá você poderá alçar voo e zarpar da minha vista.

– Não, Narsha! – desesperou-se e soltou o cinto, virando-se para fita-la com um olhar suplicante. – Você não entende! Eu.. eu..

– Você o que, queridinho? – divertiu-se com a aflição do garoto, já desconfiando que ele estivesse sem seus poderes.

– Eu... eu quebrei uma asa! É! – passou a mão sobre as costas, fazendo uma careta e fingindo sentir dor. – Não estou podendo voar...

– Ah, mas que pena! – a moça riu sarcasticamente, contornando um paralelepípedo em seguida e fazendo o retorno com o carro. – Então vou te deixar na imigração. Quem sabe eles não te dão uma carona até a Grécia a um infratorzinho.

– IMIGRAÇÃO?! – gritou indignado. - Você está maluca?!

– MALUCA?! – seu rosto se inflou de raiva.

– Não, espera...

– Maluca é a rapariga da sua mãe!

Imediatamente após suas palavras serem proferidas, o céu se fechou, e um trovão ensurdecedor estremeceu a cidade, fazendo disparar os alarmes de todos os carros na rua.

Petrificada, Narsha engoliu em seco, apertando ainda mais os dedos em torno do volante. Sabia que, por mais que Eros estivesse sem seus poderes, deveria temer os outros deuses. Arrependeu-se imensamente por ter feito uma acusação tão estúpida.

E ele riu pelas narinas, balançando a cabeça em deboche.

– Deveria ter pensado melhor antes de ofender Afrodite, Hyojin. – e caiu de vez na gargalhada, irritando-a profundamente.

“Mas que idiota.”

– Para onde estamos indo mesmo,... – disse com dificuldade, ainda entre risos. – querida?

x

Bateu a porta do carro com força e agarrou Eros pelo braço, o arrastando até o hall de entrada.

– Para quem não queria que eu viesse você parece bem apressadinha, hein? – zombou enquanto Narsha procurava a chave de casa no molho que retirou do bolso.

– Acabou a gracinha! – esbravejou. – E não me olha desse jeito! Não quero os vizinhos comentando!

Abriu a porta e entrou às pressas, empurrando Jay de qualquer jeito e passando a chave de volta na fechadura.

– Quanta delicadeza!

O deus ajeitou sua camisa bagunçada e analisou bem a sala onde estava, arrumando com o pé o tapete persa em que tinha acabado de tropeçar.

Ao mesmo tempo em que parecia moderna, com eletrodomésticos de última geração como uma televisão 3D de pelo menos 50 polegadas, aquela sala de estar aparentava também ser antiga. Havia também um grande abajur velho, uma lareira inativa e um armário de louças que parecia ter sido construído com madeira de demolição, onde alguns porta-retratos estavam distribuídos.

Eros aproximou-se para estudar as fotografias, mas foi impedido pela mão de Narsha, que o girou e a fez encará-la.

– Pronto, já chegamos. – ela disse com a expressão fechada, cruzando os braços. – Agora diga o que você quer.

– Nossa! Não vai nem me oferecer uma xícara de chá? Apresentar-me o resto da casa? Hehe.

– Jay... – ela suspirou impaciente.

– Está bem, está bem! – se afastou, parando em frente a uma cadeira giratória estofada em couro branco. – Posso me sentar, pelo menos? – Narsha deu de ombros, e ele encarou aquela resposta como um sim. Sentou-se, girando a cadeira para ficar de costas para ela. – Bom, eu vim porque estou com saudades do nosso filho.

– Saudades?! Saudades?! Como é possível sentir saudades de alguém que você nem ao menos conhece?! – ela foi até a cadeira e a girou de volta, o fazendo olha-la. Ele empurrou a cadeira para trás e saltou, ficando de pé e a encarando de uma forma triste e arrependida.

– Eu sei... eu sei. – concordou. – Só me expressei mal, mas de qualquer forma eu o conheço sim. Ou você pensa que eu não vejo meus filhos lá de cima?

– Filhos?! No plural?! – indignou-se mais ainda. – Ah, mas é claro! Como fui burra em imaginar que tinha sido a única azarada...

– Não muda o fato de termos um filho maravilhoso. – Apropriava-se daquelas palavras, mas ao mesmo tempo sentia-se mal por não ter buscado notícias de Junghwan nos últimos 7 ou 8 anos.

– Ele não é nosso filho, Jay. É meu filho. – apontou o indicador para si, deixando claro que tinha total ‘posse’ sobre seu filho. – E diga de uma vez por todas o que você está fazendo aqui porque a minha paciência está ficando curta.

– Ok. – desviou o olhar para o chão, determinado a finalmente revelar o motivo daquela visita. – Vim porque estou precisando de uma ajuda do seu filho.

– Mas é claro! Sabia que tinha algum interesse por trás disso...

– Você não entende, Hyojin! Não entende! – ele se aproximou dela, visivelmente aflito. – Eu estou sem meus poderes. Preciso de ajuda para recuperá-los...

– E eu com isso? Vá implorar para uma das suas outras!

– Mas eu escolhi você.. e o nosso filho.

– MEU, Jay! MEU, filho! E agora você quer “escolher” a gente? Ah, vai lavar uma louça, vai!

– Pelo amor de Zeus, me ouça!

– Não tenho nada para escutar! Você... você acha que foi fácil criar esse menino? Acha que foi simples ter que lidar com as inúmeras vezes em que ele praticamente foi estuprado por meninas na escola?! Que é normal ter que explicar para os pais dos seus colegas que ele não tentou seduzir a namorada deles?! Você tem ideia de quantas cartas de amor esse garoto recebe por dia?! Não, você não tem! E sabe o porquê? Porque você não liga! – explodiu, e lágrimas começaram a escorrer.

Sem palavras, Eros respirou fundo e, como se tivesse sido iluminado por Atena, teve uma ideia genial.

– Hum. Vejo que você não quer mesmo colaborar.

– Mas é óbvio que n...

– Então eu posso oferecer algo em troca!

A mulher se espantou e ficou muda. Não esperava que ele tivesse vindo com uma proposta.

Eros caminhou até o armário de louças e pegou um dos porta-retratos, analisando bem a fotografia por trás do vidro. Nela, havia um casal sentado em um banco de jardim em um belo dia de outono. Entre eles, uma criança sorridente fazia sinal de positivo. O homem, Lee Jonghyuk, tinha uma aparência jovial e esbanjava felicidade, sorrindo quase tanto como a criança.

Uma pitada de remorso invadiu o deus, mas essa era sua única opção. Teria que usar o morto a seu favor.

– Ele se foi, né? – mostrou o porta-retratos para Narsha, que apenas assentiu com a cabeça e mordeu o lábio inferior, tentando segurar as lágrimas. – Há um meio de trazê-lo de volta.

– C-como? – os olhos de Narsha tremeram, e ela não conseguiu conter sua emoção.

– Hum, digamos que Hades está me devendo uns favores. Se você e Junghwan me ajudarem, eu posso ajudar vocês, e seu filho terá de volta o pai que sempre mereceu e merece.

É.

Aquilo Hyojin não estava apta a recusar.

x

Sandeul voltava empolgado e saltitante da escola. Observava atentamente a foto polaroid que levava em suas duas mãos, enquanto a câmera balançava pendurada ao seu pescoço.

– Você é a garota mais linda do mundo, IU!

Abobado, quase deu de frente com uma árvore que havia na calçada, mas desviou a tempo.

Estava mais feliz do que nunca. Em poucos minutos chegaria em casa, almoçaria rapidamente e ligaria o computador. Ainda não conseguia acreditar que estava com o endereço do Cyworld dela.

Jinyoung era mesmo o melhor amigo do mundo.

x

– Como posso confiar em você? – Narsha perguntou, já um pouco mais calma.

– Acredite. Quando um deus dá sua palavra, ela não pode ser quebrada.

– E o que você quer que o meu filho faça? E claro, como você espera que eu diga para ele que ele é filho do Cupido?!

– Não me chama de Cupido!!!! – Eros rangeu os dentes e gritou revoltado. – Malditos romanos!! Como eu odeio esse nome!!!

– Tá bem! Mas responda as minhas perguntas, e fale baixo! – ela sussurrou.

– Err.. cof cof. – forçou uma tosse exagerada. – Só vou precisar que ele atire umas flechas por aí no meu lugar. – comentou como se não fosse nada de mais. – E apenas conte. Ele vai entender.

– Ô se vai! Capaz mesmo. – bufou.

– Ah, sei lá! Diga que...

O som da campainha ecoou pela sala, os pegando de surpresa.

– Droga! Sandeul chegou! – Narsha olhou para todos os cantos, angustiada. – Já vou, filho! – gritou para a porta.

– Quem é Sandeul? – questionou Eros enquanto ia sendo puxado por ela até um dos quartos.

– Sandeul é o apelido do seu filho, para a sua informação.

Mal teve tempo para comemorar o fato dela ter se referido a Sandeul como filho do deus, e Eros foi trancado dentro de um closet no quarto do garoto. Só conseguiu notar do ambiente as paredes azuis, a mesinha do computador e a janela aberta que dava para o jardim enquanto fora empurrado. Ajeitou-se no meio das jaquetas do menino e segurou firme sua respiração.

– Oi, filho! – ela o abraçou forte assim que abriu a porta, tentando disfarçar o que estava acontecendo. – Como foi a aula? – o trouxe pela mão até o centro da sala como se fosse uma criança, e não o garoto que há muitos anos já era bem mais alto que ela.

– Foi bem. – Sandeul soltou a mão de sua mãe, estranhando. – Aconteceu alguma coisa? Você nunca tranca a porta quando estou para chegar e... O que está fazendo de sapatos dentro de casa? Você me mata quando eu faço isso. – ele tirou os seus próprios e a lançou um olhar acusador.

– É que.. eu esqueci. – ela repetiu o gesto do filho, retirando suas sandálias. – Pronto, olha!

– Que foi, hein?!

– Não foi nada de mais, meu filho. – ela sorriu desastrosamente. – É só que.. a eomma tem uma novidade para contar! Vem comigo...

– Espera, antes tenho que ir deixar as minhas coisas no meu...

Antes mesmo que completasse a frase, Narsha correu até o quarto e se colocou na frente do closet, impedindo-o de abri-lo e ter uma surpresa nada agradável. Sandeul chegou e colocou sua mochila e sua câmera na cama, levou uma mão até o queixo e a analisou.

– É. Você está mesmo esquisita, eommoni.

– Certo. Eu.. eu vou te contar uma coisa. É sobre o seu appa... seu verdadeiro appa. – dentro do closet, Jay estremeceu e se agarrou a uma das roupas de Sandeul, calando sua boca com o tecido.

– Hã? Mãe, de novo sobre esse assunto não. Já disse que não me preocupo mesmo em saber.

Desde pequeno ele sabia que Jonghyuk não era seu pai biológico, que seu verdadeiro pai o havia abandonado antes mesmo que nascesse. Guardava um pouco de rancor dele, e com razão.

– Seu pai voltou, Deullie. – ela disse, tentando manter a calma. – E está na cidade para te conhecer.

– Um pouco tarde, não acha? – deu de ombros.

– Sim, filho.. Mas é que... é que.. há uma coisa que eu não te contei sobre o seu pai.

De repente o garoto se mostrou interessado.

– E o que é?

– Bem... ele não pode te conhecer antes porque... ele nos abandonou porque...

– Por quê?

– Porque ele é digamos que... uma pessoa pública.

– Uau! – todos os seus sentimentos negativos com relação a seu pai sumiram da mente de Sandeul. Talvez ele tivesse uma razão para ter feito o que fez. Uma razão realmente relevante. Inflou de ansiedade.

Já sei! Ele é famoso! Uma celebridade! - o jovem Sandeul não conseguia conter sua empolgação. Sabia que sua mãe estava escondendo algo realmente significante sobre a identidade de seu pai.

– Ai, filho... - um sorriso amarelo se formou no canto da boca de Narsha, que não conseguia pensar na melhor maneira de dar aquela notícia tão surpreendente e... esquisita - Não exatamente...

– Ele é ator?!

– Não...

– Cantor?!

– Também não!

– Ah, então só pode ser comediante! - estalou os dedos e fez uma expressão triunfante.

– Filho..

– É o Kang Hodong, não é?! - ele se aproximou mais de sua mãe e a segurou pelos antebraços, a encarando quase que sem piscar. - Pode dizer, está tudo bem! Meus amigos dizem que somos parecidos mesmo.

– Lee Junghwan! - Narsha gritou e se desvencilhou do filho, que a essa altura já estava histérico de tanta ansiedade e a matando de constrangimento. - Acalme-se! Eu vou contar quem é o seu pai... err... Bem, sente-se.

Os dois se sentaram na cama e Eros respirou um pouco aliviado. Agora era só torcer para seu filho não surtar tanto com a revelação.

– Lembra quando nós assistimos aquele filme “Percy Jackson” no cinema com os seus amigos, Deullie? – ela disse tentando formular uma linha de raciocínio coerente.

– Sim, o que tem? – ele perguntou sem entender.

– Lembra que o filme contava sobre deuses gregos existirem de verdade e tudo o mais?

– Hum, acho que lembro.

– E daquela história que a eomma te contou sobre o deus do Amor quando você era pequeno? Lembra? – ela o olhou, esperançosa.

– Onde você está querendo chegar? – falou impaciente.

– Então, né? ... hehe...

– Eomma!

– Ok, ok... – Narsha tomou fôlego e se preparou. – E se eu te dissesse que seu pai é.. um... deus.. como os do filme?

– Hã? – ele franziu o cenho.

– Seu pai é o deus do amor, Sandeul. - respirou fundo mais uma vez. - Pronto, falei.

Eros sentiu o coração de seu corpo humano disparar, e aquela sensação angustiante tomou conta dele.

Depois de um tempo em silêncio tentando processar aquela informação, Sandeul começou a rir.

– HAHAHAHAHA!

– Junghwan!

– Eomma! Hahahaha.. a senhora tomou o remédio hoje? Hahahaha! – ria tanto que sua barriga doía.

– Eu estou falando sério, moleque!

– Claro que está! Hahahaha! Eu filho do Cupido, hahahaha!

A porta do closet se abriu, e o revoltado Eros saiu de dentro dele gritando e derrubando cabides.

– AAAAAISH, NÃO ME CHAME DE CUPIDO! - explodiu.

Sandeul deu um pulo assustado, agarrou o braço da sua mãe e apontou para seu pai.

– Um.. um... ladrão!! – gaguejou pulando da cama. – Corre, eomma!

Narsha o puxou de volta e bufou em frustração. Sandeul e Eros se encaravam perplexos e boquiabertos.

– Que aparição triunfante, seu Cupido! – ironizou Narsha, irritada. – Filho, esse é o seu appa. Cupido, esse é seu filho.

Eros estava tão assustado em finalmente ver seu filho tão de perto que não se importou em ser chamado mais uma vez pelo nome que tanto odiava.

– O-oi. – ele disse acenando e ajeitando sua camisa, costume que tinha quando ficava nervoso.

– Esse cara? Meu appa? Eomma, a senhora não está muito bem. – a voz de Sandeul saía falha, e ele não conseguia deixar de olhar o jovem em sua frente.

– Ela está falando sério. – disse Eros, se aproximando do filho.

– Você é o tal Cupido então? Faz-me rir.

– Meu nome é Eros...

– Eros, que seja. Não estou gostando da brincadeira, seu maluco!

– Filho... – Eros chegou ainda mais perto e repousou uma mão sobre o ombro do menino, que a tirou imediatamente.

– P-prove então.

Sandeul estava achando aquilo tudo ridículo, mas, por algum motivo desconhecido, estava com medo. A presença de Eros mexia com ele de uma forma inexplicável.

– Perfeito. Eu posso provar sim!

– Jay, você está sem seus poderes. – Narsha o lembrou, e ele levou uma mão ao rosto.

– Eomma, para de conversar com esse cara! Estou ficando assustado!

– Calma! Já sei o que fazer! – falou Eros, como se outra ideia genial o tivesse iluminado.

– Estou esperando. – Sandeul fechou a cara e levou as mãos à cintura, duvidando que o tal maluco pudesse fazer alguma mágica acontecer.

Narsha ficou apreensiva. Já havia presenciado uma ação dos deuses naquela manhã e não estava afim de ver outra.

– Precisa mesmo disso, Jay? – perguntou preocupada.

– Quem pediu foi ele.

– Aish...

Para a surpresa dos dois, Eros se ajoelhou e fechou os olhos, unindo as mãos como se estivesse fazendo uma prece.

“Quebra essa pra mim, mãe. Por favor! Prometo que a obedecerei daqui pra frente! Posso até voltar a trabalhar para você por um século inteiro!”

Uma nova trovoada foi ouvida do lado de fora. Mãe e filho se abraçaram apavorados.

“Certo, certo! Cinco séculos e não se fala mais nisso!”

Acordo aceito.

Afrodite e Eros agora tinham um contrato.

Uma fumaça rosada e inodora invadiu o quarto, cegando Sandeul e Narsha momentaneamente. Alguns segundos depois ela se dissolveu, revelando as costas nuas do deus e um par de asas brancas e extremamente luminosas.

Uma sensação de alívio invadiu o corpo do deus, que mergulhou pela janela do quarto e saiu voando livremente, rasgando os céus como um pássaro que acabara de ser solto da gaiola.

Sandeul correu até o parapeito da janela e admirou o que via.

Enfim tudo fez sentido.

“Meu pai é mesmo um deus grego.” – disse a si mesmo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.