My Sweet Lady

Capítulo 7: Menino ou Menina? Quem sou eu? Parte 2


Passo 4: Make-up

Longos e bem maquiados cílios postiços. Gloss brilhoso por cima de um batom rosa. Sombra rosa e preta, lápis de olho, base, blush... Me sinto um palhaço. Como as mulheres conseguem passar tudo isso e ainda sim mexer a cara?

-Rosane, você está fazendo uma mudança em sua filha para deixá-la perfeita? – perguntou sorrindo a mulher que fazia minha sobrancelha e, devo acrescentar que, dói muito!

-Ai!

-Moça, eu já pedi para a senhorita ficar quietinha. Se ficar se mexendo eu posso retirar o que não deveria.

Tipo pedaços do meu cérebro! Pela sobrancelha!

-Ah sim, estou sim. Ela não está linda? Hoje não irá dar tempo, mas ainda essa semana irei levá-la em uma agência de modelos para fazer um book!

Eu devo me sentir grato, não é? Esse deve ser o sonho de milhares de garotinhas desfavorecidas, mas, NÃO É MEU SONHO! MICHEL, GAROTO!

-Um book? Ela irá ficar linda! É perfeita. Mas...

Tia Rosane estreitou os olhos para a moça, desconfiada. Foi só eu abrir os olhos um pouquinho e senti como se ela tivesse arrancado todos de uma só fez!

-Moça, se continuar se mexendo assim não vou conseguir!

-Ok, desculpe. Vou ficar quieta - eu disse suspirando, fechando os olhos novamente.

-Mas...?

-É que, bem, ela ficaria simplesmente perfeita s-

-Minha filha já é perfeita!

Nossa, minha tia tem uma língua afiada, por essa eu não esperava, e olha que eu já espero muita coisa!

-Ah, sim, mas é que, eu particularmente penso em como ela ficaria linda se tivesse mais peito.

E o sangue subiu-me a face. Era a segunda vez em dois dias que me chamavam de despeitada.

-Sabe... Você tem razão. Podemos dar um jeito nisso.

Oh não! Perigo! Eu imploro, sem cirurgia! Cirurgia é irreversível, eu não aceito de jeito nenhum!

Passo 5: Almoço/comportamento.

Fizemos uma pequena pausa (para meu alívio) em um restaurante simples que eu mesmo pude escolher. Minha primeira opção: McDonald’s houvera sido rejeitada, então fomos para um lugar mais “apropriado e com menos calorias” como minha tia dissera.

-O que você vai querer Mel?

-Batata frita, lasanha...

-Ah não, nada disso! Uma salada.

-Que? – eu perguntei, atônito, empurrando meu corpo para frente.

-Salada, porque não engorda e faz bem para a saúde.

-Gordura não me é problema, eu não engordo com facilidade. E saúde também não, meu médico sempre ressaltou o quanto eu sempre fui saudável.

-Ah, mas daí você vai comer algo gostoso de dar água na boca e vai deixar sua mãe agonizando vendo sua comida?

Ah não, ela fez olhinhos de cachorrinho pidão. Como eu vou negar? EU não acredito, nem gosto de coisas verdes!

-Salada – eu disse baixinho, derrotado.

-Oba! Não se preocupe filha, depois com seus primos você poderá comer quantas porcarias quiser!

Ela estava animada, porém eu não. Estou me vestindo igual aquelas modelos de passarela sem noção, com o rosto tão duro de maquiagem que mal com consigo mexer , meu cabelo gruda no batom o tempo todo, meus pés doem tanto que parece que passei o dia pisando em agulhas, pregos, espinhos e todos os derivados e, agora, meu estômago vai ficar vazio para sempre.

-Melody, sente-se direito.

-Sim mãe.

-E cruze as pernas! Aquele garotinho não para de olhar!

É verdade, havia um garotinho de uns 10 anos fitando-me com os olhos verdes arregalados, o garfo parado no caminho da boca e, a comida, socada de qualquer jeito na boca estava caindo de volta no prato. Tenho medo do que ele viu. Meu sangue subiu tanto que demorei uns bons 10 minutos para voltar a cor normal.

Passo 6: Acessórios.

-Como se sente filha? Uma garota poderosa?

Depois do almoço, antes de nos dirigirmos a uma loja de bijuterias (o qual minha tia insistira em ser de jóias, mas eu não aceitei de jeito nenhum) tia Rosane fez a gentileza de me comprar uns enchimentos para colocar no sutiã. Se eu não soubesse até diria que eram de verdade. O sutiã me apertava nos ombros e aquela parte de fechar atrás esfregava seus ganchinhos nas minhas costas. Terrivelmente perturbador.

-É. Agora pareço mais uma garota.

-Você tem razão!

E ela não fazia idéia do quanto eu tinha razão...

Seguimos para a loja de bijuterias, grande demais. Haviam milhares de tipos de bolsas diferentes,além de cintos, colares, pulseiras, anéis... Enfim, apenas besteiras as quais eu nunca compraria em sã consciência.

Aliás, eu comentei que ganhei uma bolsa Chanel? Não? Pois digo agora. Me sinto horrível em saber que estou carregando uma fortuna no braço, pior ainda, em forma de bolsa!

-Posso ajudá-las?

Nem precisei responder para o moço simpático, alto, cabelo bem curtinho, sorriso encantador, olhos brilhantes... Ok, vou parar por aqui antes que eu perca a noção de realidade.

-Pode sim. Quero comprar tudo que há de mais belo e perfeito para minha filha – respondera minha tia, tomando a dianteira.

-Essa é sua filha? – ele perguntou sorrindo encantadoramente para mim. Eu corei.

-S-sim.

-E posso saber qual seu belo nome?

Espera, ele está dando encima de mim!

-Melody.

Ele desviou rapidamente o olhar para minha tia, que sorriu, aprovando aquelas envestidas. Ele voltou-se novamente para mim.

-Mel... Nome perfeito, porque você é realmente um doce de garota.

Eu dei um passo para trás, assustado, porém sorrindo. Nunca um homem tão lindo assim havia me dado bola, nem em meus mais profundos pensamentos!

-Obrigad...a – respondi sorrindo amarelo, enquanto minha tia já vasculhava a loja inteira.

-Eu quero isso e isso – ela dizia jogando as coisas dentro da cesta que o atendente carregava –Ah, esse aqui é perfeito!

-Então Melody... De que tipo de acessório você gosta?

-Ah, acho que colares – eu respondi aquele belo sorriso, feliz por não ter de ajudar minha tia naquela louca escolha.

-Delicados? Com pingentes grandes, pequenos...?

O menos delicado possível.

-Gosto de coisas mais simples e menos femininas porque... – fiz uma pausa e apontei para meu corpo, dos pés a cabeça. –No resto já exagerei demais.

-Que isso, está perfeita – ele respondeu aproximando-se mais, envergonhando-me.

-Esse aqui combinará tanto com aquela jardineira clara... – comentou minha tia, atirando mais coisas para a cesta, completamente imersa em seus pensamentos.

-Talvez... Esse? – o atendente perguntou, retirando de uma das prateleiras o qual passávamos um belo e delicado colar, com uma corrente bem fina e um pingente simples em forma de estrela.

-Esse é de muito bom gosto – eu falei, tentando elogiá-lo também.

-Foi você mesma quem escolheu.

Mais um item para a cestinha.

-Você malha? – eu perguntei indiscretamente, corando, mas felizmente sendo escondido pela maquiagem. Eu nunca fui tão cara de pau assim, mas, sou Melody agora, se ele não gostar não é como se fosse comido.

-Malho sim, bastante – ele respondera rindo. –Você gosta de caras assim?

-Fazem meu tipo.

Oh Meu Deus, isso é muito estranho! Ok, vou respirar um pouco. Quando que eu pensei em ter uma chance com um cara assim?

Bom, ele riu, eu ri, conversamos, descobrimos de coisas em comum, passatempos, gostos... Até minha tia finalmente terminar sua busca, acredita que ela passou o tempo todo entretida com aquele monte de acessórios estúpidos?É, ela passou.

-E você realmente saiu correndo? – ele questionara, como sempre, rindo. Eu ria também.

-Sim, era o único jeito de continuar inter...a! – disse alegre, rindo. Aquilo o qual eu contava era realmente algo que acontecera comigo, eu apenas omiti o fato de que era um garoto. –Daí a Deise a Deise cortou caminho pela praça, me alcançou e me jogou no chão. A água pingava em mim e ela gritava “Me dá o seu vestido! Tira ele agora!”!

-Nossa, eu daria tudo para ver essa cena...

Bem, o tempo foi passando e estávamos finalmente no caixa, passando aquele monte de compras quando...

-Posso ter seu número? Para te ligar qualquer dia desses, talvez você possa me contar mais histórias hilárias.

-84326426 (número fictício) – assustei-me quando ouvi a minha tia responder.

-Como você sabe meu número... Mãe?

-Oras, as mães tem de saber o número das filhas – ela respondeu como se fosse óbvio, posicionando as mãos na cintura.

Será que ela ouviu tudo? Aposto que sim. Daniel (descobri ser seu nome) anotou meu número em seu próprio celular.

-Aguarde-me.

Pelo menos Melody serviu para alguma coisa, mesmo que eu ainda não goste disso. Eu ainda não acredito que eu fui tão cara de pau! Isso realmente não faz meu estilo, ainda não acredito! Como pude dizer tudo aquilo que eu disse? Bem, aconteceu, o lance agora é seguir em frente... Pelo menos funcionou, certo?

Juro que somente depois de ter saído da loja eu lembrei do porquê de estar fazendo tudo aquilo: Richard, meu primo. Será que ele ficaria muito furioso se descobrisse que acabei de dar meu número para outro homem? Com certeza sim. Estou passando por isso apenas por causa de Richard e eu dou um fora desses! Como Alexander vai me querer se descobrir que acabei de dar meu número para outro cara? Ele acha que sou meiga, doce, inocente... Ok, sem pânico, é só não atender o celular quando o número for desconhecido.

Depois, fizemos mais algumas paradas o qual prefiro não relatar. Fomos a mais uma grande quantidade de lojas de roupas, mais lojas de bijuterias (e uma joalheria, contra minha vontade). Compramos mais bolsas de marcas, perfumes, maquiagem... Muita, muita coisa.

-Bem, então filha, o relógio marca cinco horas, ou seja, hora de seu encontro com Richard e Alexander.

Fora um verdadeiro alívio para eu saber que aquela tarde que parecia nunca terminar finalmente chegar ao fim. Fingi decepção ao abraçar minha tia. Disse que amei a tarde, agradeci mil vezes, chamei-a de mãe... Enfim, tudo que pudesse deixá-la o mais feliz possível. Finalmente terminamos as despedidas, ela foi de volta para casa com aqueles montes e montes de compras e eu me dirigi para a direção o qual ela dissera ficar o cinema.

Meu coração dava pulos e mais pulos. Minha respiração estava pesada. Por onde eu passava os olhares eram dirigidos para mim e eu me senti realmente uma mocinha indefesa. Algumas vezes realmente parecia que iam me devorar com os olhos, alguns até mesmo lambiam os lábios! Tentei me lembrar que, por baixo de tudo aquilo ainda estava eu mesmo, mas era difícil. Sou Michel, um garoto.