Capítulo 5: Colapso.

Fora tudo tão rápido... Minha tia era forte e eu fraco, simples assim. No momento seguinte meu corpo ia de encontro a água, batendo com força e obrigando-me a mergulhar. A água adentrou pela minha boca e, sendo eu mais baixo que meus primos, nem se eu quisesse conseguiria ficar de pé aqui.

Debati-me, mas de nada adiantava. Meus olhos já estavam ardendo por conta da água, mas eu não queria fechá-los, poderia me dar muito mal se o fizesse. O medo crescia em meu peito e se alastrava pelo resto de meu corpo, enquanto meus braços e pernas já se cansavam de tanto se remexerem embaixo d’água. Como uma luz no fim do túnel, vi a Richard se aproximando, ele olhou bem pra mim e se afastou. Eu quis matá-lo! Qual é a dele? Vai me deixar morrer assim, tão de boa? Ajuda, garotinho afeminado se afogando aqui! Não me deixa morrer! Richard, eu vou voltar para puxar seu pé à noite!

-Eu não estou achando Melody! – gritou o ‘viadinho do Richard, mentindo! Eu não acredito que ele está mentindo assim na cara dura!

Desesperado, eu tentei puxar ar para dentro de meus pulmões, mas só vinha água. Por favor Deus, eu imploro, não me deixe morrer assim tão cedo! Eu sou uma boa pessoa! Nunca cometi nenhum pecado e peço perdão por aquela vez quando tinha seis anos que eu e Steph brigamos e eu cuspi nele, disse a meu pai que queria cuspir no chão e ele me castigou por querer cuspir no chão, mas na verdade eu queria acertar Stephan mesmo!

Não deveria ser Deus ou um anjo a vir me buscar? Bem, anjos não deveriam possuir olhos vermelhos! Não consegui ver direito o rosto, minha visão já houvera nublado e eu simplesmente fechei os olhos, deixando-me levar por aqueles braços que rodearam minha cintura... Ah, finalmente saí da água, será que morri? Não, eu sinto o gramado quente embaixo de mim e o ar não voltava para meus pulmões, eu tentava puxar, mas simplesmente não entrava. Senti... Algo em meus lábios... Algo... Ai Meu Deus, estão fazendo respiração boca a boca em mim! Eu não posso deixar isso! Mas é tão bom... Meu coração está batendo tão forte...

O ar adentrara meus pulmões e expulsara a água, eu ergui meu corpo e tossi algumas vezes, retirando a água de dentro de mim, ergui meu olhar e encontrei o de Alexander, vermelho intenso, encarando-me. Então havia sido ele...

-Você está bem?

Não, parece que vou desmaiar! Eu ainda não acredito nisso! Tudo bem que foi apenas para salvar minha vida, mesmo assim seus lábios tocaram nos meus... O problema não é o quase-beijo em si, o problema é que esse foi O quase-beijo!

-Melody, responda! Você está bem?

Ele colocou uma das mãos em minhas costas, dando leves tapinhas, tentando ajudar-me a eliminar o pouquinho d’água que ainda remanescia dentro de meus pulmões. Eu tossi mais um pouco e tomei fôlego para falar.

-Eu... Estou bem. – disse com dificuldade, tentando respirar o máximo de ar possível o qual houvera sido privado.

-Hum... Seus peitos são pequenos - Richard disse completamente imerso em seus pensamentos!

Como é? Ele quase me deixou morrer e AGORA QUER PENSAR EM MEUS PEITOS? É CLARO QUE MEUS PEITOS SÃO PEQUENOS, ESPERAVA O QUE? SOU GAROTO E ELE SABE! EU VOU MATÁ-LO!

-Cala a boca Richard! Não está vendo que sua prima quase se afogou? – Alexander disse com um olhar assassino, mas logo voltou-o para mim e desceu direto para meus peitos! Posicionei ambos os braços na frente de meu busto.

-Melody, filha! – chegou gritando minha mãe, felizmente empurrando a Alexander. –Você está bem? Consegue respirar? Eu não acredito que quase perdi minha nova filha! Por que não disse antes que não sabe nadar? Melody, você quase me mata do coração, pude jurar que iria perder você!

E fui pego em um abraço sufocante, me privando de respirar novamente.

-Mãe, você está sufocando Melody!

Obrigado Alexander!

-Ah, sim, desculpe Mel. – ela disse finalmente me permitindo respirar.

Eu tentei respirar o máximo possível. Viajei por 9 horas em um avião que parecia parar em toda e qualquer cidade, comendo apenas frituras e alimentos nada saudáveis. Estou passando por um baita nervosismo por ter que fingir ser quem eu não sou, quase morri afogado, meus primos brigam por tudo e minha tia virou minha nova mãe! É coisa demais para um dia!

-Me tirem daqui! – eu gritei, assustando a todos a minha volta. Levantei-me e fui até as cadeiras de tomar banho de sol, escondendo-me atrás de uma delas. Me encolhi e tentei respirar meu próprio ar.

Não quero assustar ninguém e também não quero que me odeiem, mas é muita coisa para um dia e uma pessoa! Droga, droga, droga...!

Não preciso estar olhando para saber que estavam todos assustados comigo, provavelmente pensando que preciso de um psicólogo. Talvez estejam certos, mas se eu precisar de um psicólogo a culpa será TODA DELES!

-Melody...

Ótimo, lá vem minha tia me chamando por um nome de garota! Pelo menos uma vez gostaria de ouvir eles me chamando de Michel, só para variar um pouquinho e eu poder me sentir um garoto novamente. Aqui ninguém me conhece, terei de ser uma garota por um longo período de tempo e não poderei fazer nada das coisas que eu gosto! Poxa, pelo menos no primeiro dia me dêem um descanso. Daqui a pouco terei um colapso!

Minha tia começara a afagar levemente meus curtos cabelos, enquanto eu apenas escondia meu rosto em meus joelhos, não agüentando mais tudo aquilo. A pior parte é que, além de Richard ninguém mais ali me entendia, eu não posso simplesmente sair gritando e me encolhendo por aí. Respirei fundo, pronto para acabar logo com aquele dia.

-Tia, eu estão tão cansado, são tantas coisas para apenas um dia... Por favor, não posso apenas descansar um pouco agora? – eu perguntei sendo o mais sincero que pude, torcendo veementemente para que ela me entendesse, e parece que milagrosamente ela entendeu.

-Tudo bem Mel, eu não deveria ter exigido tanto de você no mesmo dia em que chegou de sua viajem. Descanse e, apenas se você quiser, nós podemos sair amanhã, se não quiseres pode apenas descansar mais um dia.

Eu ergui o olhar para ela e sorri, mais aliviado do que antes. Ela me entendia mesmo não sabendo que sou um garoto e, apenas isto já é o suficiente para mim. Eu iria trocar de roupa e poder deitar um pouco, de preferência dormir o que não pude, tanto pela viajem quanto pelas noites anteriores a ela que eu passei em claro, ansioso. Talvez essa nova (e ainda sim antiga) família não seja de todo ruim assim...

...Eu estava prestes a descobrir que estava errado...

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O barulho de algo caindo no chão me acordou, mas continuei com os olhos fechados. Meu sono havia sido realmente tranqüilo, cheio de paz e sonhos bons... Sonhei que estava de volta em casa, eu mesmo, Michel, e lá estava eu brincando e me divertindo com Stephan e... Melody... Ela era muito parecida comigo, mas os olhos eram azuis esverdeados e o cabelo bem comprido, liso e amarrado em duas colinhas altas.

-Richard! Já mandei você sair daqui!

-Não depois de você!

Não fora difícil deduzir que haviam sido meus priminhos a me acordar de meu maravilhoso sonho, com tudo tão calmo...

-O que você quer aqui Alexander? Atacar Melody enquanto ela dorme?

-Me acusando assim faz parecer que estas são as suas intenções, afinal, era você quem ficava apenas pensando nos peitos dela depois da mesma quase ter se afogado!

-Não mesmo, não sou igual você! E é claro que eu olhei os peitos dela, uma reação normal já que a blusa dela estava molhada. Você não é ninguém para me acusar, também olhou! E se você não quer atacá-la, então o que está fazendo aqui?

Eles são uns pervertidos mesmo! E o pior é o Richard, fica secando meu corpo! De cima a baixo!

-Vim ver se ela estava bem, está dormindo há muito tempo.

Falar em sussurros não está adiantando nada, estou ouvindo tudo.

-Que mentira! Isso é porque ela está cansada! É claro que você tem segundas, talvez até mesmo terceiras intenções!

Eles são tão amáveis, só pensam nisso mesmo!

-E você Richard? O que você veio fazer aqui?

-Vim porque você veio! Eu me preocupo com Melody, não quero que ela caia nas suas mãos como todas as outras! Ela é diferente!

É, diferente, sou um garoto. E Richard é um grande mentiroso! Só veio aqui para ter certeza que Alexander não descobriria que sou um garoto.

-É, diferente, não tem tantas curvas e você já percebeu isso, não é?

Eles não podem falar de um assunto que não seja me seduzir ou meu corpo?

-Não fique secando o corpo dela! Melody é linda!

Meninos, vocês estão começando a aumentar a voz. Eu estou tentando dormir.

-Linda. Linda e muito gostosa!

Alguns sons que expressam raiva e logo ouvi o barulho de alguns socos, tapas... Coisas assim de brigas. Com um suspiro silencioso, abri os olhos vagarosamente, como se estivesse recém acordando e não tivesse ouvido a discussão deles, mais tarde eu contaria para Richard que eu ouvi.

-He-hey garotos, não briguem! – eu disse fingindo surpresa, sentando-me na cama.

Jurei que eles continuariam a brigar, mas não, ficaram me encarando de um jeito estranho, envergonhando-me.

-Melody, você fica tão linda quando acorda. – disse-me Richard, como se estivesse hipnotizado.