My Sky Angel
Capítulo 29 - Elsa
Passaram dias depois daquele incidente com o conselheiro da princesa. Eles não me perguntaram nada mas eu via o seu olhar curioso. Conheciam-me o suficiente para perceberem que não gostava que me pressionassem.
Anna passava mais tempo comigo e eu adorava a aproximação. Pedia-me que lhe contasse o que se tinha passado e eu respondia de boa vontade, menos quando ela aprofundava mais as questões de infância. Aí eu tentava mudar de assunto disfarçadamente.
– Então como vão as coisas entre ti e o Kristoff? – perguntei sorrindo.
– Quando éramos pequenos, Kristoff tinha a mania de embirrar comigo. Eu acreditava em coisas e às vezes ele quase me fazia mudar de ideias. – ela sorriu com a lembrança – ele também era bastante tímido, e ainda o é. Agora ele é um namorado espetacular – ela corou por dizer isso e eu incentivei-a com um sorriso – ele é carinhoso, simpático, atencioso…
Ela suspirou terminando o seu relato. Sorri ao ver a felicidade da minha irmã e levei o copo de água que segurava à boca.
– E tu e Hans? – ela perguntou inocentemente e eu imediatamente me engasguei.
– Eu e quem? – perguntei corada e tossindo.
– Hans. Tu e Hans.
– Quem te faz achar que temos algo? – inquiri tentando a todo custo não gaguejar e corar mais do que já estava.
– Quem me faz achar que não têm? – rebateu.
–Nós não temos nada – respondi rapidamente e bebi um gole generoso de água. Eu e Anna somos péssimas a mentir.
– Sei. Mas enfim safaste-te desta – ela sorriu e eu só queria que um buraco se abrisse debaixo de mim – Mas tu tens que ficar com Hans. Dava um bom ship, género Helsa com H ou Elsans.
Olho para ela estarrecida. Era nisso que ela pensava?
– O quê? Annastoff ou Kristanna? – perguntei e ela olhou para mim como se estivesse a dizer uma atrocidade.
– Annastoff? Onde é que tens a cabeça? Claro que é Kristanna. – e eu ri-me recebendo uma cara zangada de Anna.
– Está bem, está bem – olhei para ela com um sorriso divertido.
Com o passar dos dias sentia-me mais irmã de Anna e, como consequência, já tratava Merida como uma irmã também.
– Vou ter com Merida. Ela é um pouco ciumenta – Anna disse levantando-se.
– É, vai ter com Merida. Mas não te percas no caminho. Merida ainda não tem cara de Kristoff – dei um sorriso zombeteiro e ela foi-se embora corada.
Reflito na conversa e penso em Hans. Nunca mais tocamos no assunto do beijo e não sabia se isso me fazia ficar aliviada ou angustiada. Conversávamos normalmente mas nunca normalmente. Havia uma tensão entre nós. Ao mesmo tempo que adorávamos a companhia um do outro também procurávamos fugir dela.
Já estava a anoitecer mas eu gostava do escuro e do modo como ele me acolhia. Era silencioso e calmo mas ao mesmo tempo os grilos ofereciam uma música constante e suave. E havia também os pirilampos*…. Enfeitiçavam a noite como estrelas dançantes.
Afagava Marshmallow quando ele chegou. Sentou-se ao meu lado sem mesmo pedir permissão. Estendeu-me um cantil.
– Queres? – perguntou.
Neguei com a cabeça.
– Não, obrigada, mas da última vez não correu exatamente como eu queria.
– E como é que tu querias exatamente?
Não respondi. Corei somente. Sinceramente não sabia como queria. Hans fora a minha salvação na altura. Fora a minha válvula de escape. Foi o que eu precisava para não entrar no “modo automático” como eu chamava.
Ele estava mais nervoso que o habitual. Mais nervoso e ansioso. Eu sentia como o seu corpo reagia, era estranho.
– Pergunta.
– O quê? – ele interrogou confuso.
– Tu queres perguntar algo. Pergunta de uma vez. – esclareci.
Ele entrelaçou os dedos uns nos outros. As suas faces estavam um pouco rosadas e tinha a respiração ligeiramente acelerada.
– O que te aconteceu naquele dia? – ele perguntou rapidamente.
Olhei para o lado sem querer responder. Sabia exatamente de que dia ele estava a falar: do dia em que eu tinha enfrentado o conselheiro de Emma.
– Tu estavas completamente alterada, não parecias tu. – ele falou observando-me atentamente.
– Prefiro não falar sobre isso – a minha voz estava rouca e abafada.
– Elsa – Hans chamou-me carinhosamente e eu olhei para os seus olhos verdes e brilhantes, um pirilampo.
– Não Hans… - sussurrei.
Levantei-me de repente. Não sabia o que se passava comigo. Queria enrolar-me nos braços de Hans, queria que ele me abraçasse, me fizesse sentir segura. Hans fazia o meu lado sentimental, o lado carente por afeto, vir ao de cima. Eu não conseguia processar essa informação. Ao mesmo tempo que Hans me fazia sentir segura fazia-me sentir medo por entrar em território desconhecido. Ele era uma caixa de mistérios e eu não sabia como decifra-la.
– Eu tenho que ir. – afirmei numa voz quase inaudível mas tinha a certeza que ele ouvira.
Fui parada por um aperto no braço. Hans segurava-me o braço e a minha pele ardia ao seu toque.
Virei-me para pedir que ele me largasse mas só tive tempo de abrir a boca. Os seus lábios pressionavam os meus e eu, sem pensar duas vezes, correspondi com a mesma intensidade. Os seus braços abraçavam a minha cintura puxando-me para mais perto. Os meus abraçavam o seu pescoço e as minhas mãos afagavam os seus cabelos.
Separamo-nos quando os nossos pulmões clamaram por ar. Estávamos ambos ofegantes mas não nos separamos.
– Desta vez não estás bêbada. – ele sorriu e eu mordi o lábio.
“Estou, estou bêbada de amor” pensei mas tratei de afastar esse pensamento. O que é que se estava a passar comigo?
– O que se passa contigo, o que escondes? – ele perguntou curioso.
Afastei-me abruptamente.
– Então era só isso que querias saber, Hans? – falei enraivecida e magoada mas ao ver que ele ia falar eu interrompi – És como todos outros. Só queres saber das informações, mais um prémio.
– Para de me julgar – ele gritou fazendo-me calar repentinamente. – Não sabes nada de mim. Eu só quero perceber-te. Quero conhecer-te. Quero consolar-te quando precisares. Quero ser a pessoa em que confias cegamente! E sabes que mais? – ele olhou para mim à espera de uma resposta à sua pergunta retorica – Eu nem sei o porquê.
Nenhuma palavra saía da minha boca. Não sabia o que dizer.
– Como queres que eu confie em ti quando tu mesmo não confias em mim? – iniciei gaguejando ligeiramente.
– Eu respondo a tudo o que quiseres se tu responderes a tudo o que eu quiser – ele esticou a mão.
– Temos um acordo – apertei-lhe a mão com um sorriso nos lábios.
Ao sentir a minha mão na sua ele puxou-me e beijou-me deixando-me sem fôlego. Pelos vistos a noite ia ser longa.
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