My Only Exception

Capítulo 18 - Eu Quero


Dias depois...

P.O.V Hayley

Sabe aquela sensação rara de que tudo parece estar em seus devidos lugares? De que você não poderia estar mais confortável onde está? Então...

Tudo parece tão certo... Ter escolhido vir pra Franklin com minha mãe, ter amigos maravilhosos, ter uma irmã... Ter, bem... Ter Josh.

Josh. Eu chego a ficar com medo de como as coisas estão entre nós. Eu amo estar com ele, conversar com ele, ouvir as coisas bobas e não bobas que ele diz. Amo o ouvir tocar enquanto canto... É tão perfeito. Tão perfeito que eu tenho medo que a qualquer momento isso acabe. Eu sei que isso pode mesmo acontecer, mas eu só quero continuar vivendo e aproveitando os bons momentos mesmo que para isso tenha que suportar correr riscos eminentes. Enfim, como diz o sábio desconhecido: viva a cada dia como se fosse o último e aproveite os momentos como se fossem únicos, porque na realidade eles são.

Hoje, mesmo contra minha vontade, aceitei jantar com minha e... Andrew. Andrew, eu definitivamente não tenho nada a declarar sobre ele, a não ser que ele sabe a hora de uma retirada estratégica. Espero e torço muito para que ele seja um cara legal, porque mesmo que toda essa história de que minha mãe tenha um namorado seja estranha, muito estranha para mim, eu sei que ela precisa de alguém e eu quero vê-la feliz e consequentemente, quero o melhor pra ela. Portanto, esse cara tem mesmo que ser muito bom.

Como estou sem nada para fazer até a noite (quando sairei para jantar) e como não o vi hoje, visto que faltei à aula para retirar o gesso, eu aceitei ir ao cinema com Josh. Mentira, tudo mentira. Não é só porque estou sem fazer nada para fazer que aceitei. Aceitei porque simplesmente coisas clichês ao lado de Josh, tornam-se prazerosas.

Devo dizer que estou um pouco assustada com o convite repentino e um pouco preocupada também pelo comportamento de Josh quando nos falamos por telefone. Ele estava, não sei... Estranho? Pode ser. Enquanto não encontro a que mais se encaixa, usarei essa palavra.

[...]

—Você está diferente, o que aconteceu? —Perguntei enquanto entrávamos no estacionamento do shopping e Josh procurava uma vaga para estacionar o carro.

—Nada. Não aconteceu nada. Está tudo absolutamente certo. Como deveria estar. Tudo certinho. —Ele respondeu tão rápido que não soube como consegui entender suas palavras. Mas, algo eu entendi perfeitamente: estava acontecendo algo.

—Fala sério, Josh! Você parece... nervoso. —Disse. Se não estivesse preocupada eu juro que estaria rindo.

—Está tudo bem, Hayley.

Josh estacionou e nós fomos comprar os ingressos.

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Eu já havia visto ao contrário de Josh. Mas, não estava incomodada em ver o filme pela terceira vez no mês.

—Ér... Eu esqueci... Esqueci a pipoca, vou lá buscar. Ok? —Josh diz, continuando a agir de modo estranho.

—Ok.

—Você quer mais alguma coisa? —Ele pergunta já em pé.

—Não, obrigada. —Digo isso já sem conseguir esconder a irritação que começa a surgir, e ele vai em direção à saída da sala. Concentro-me em afundar na poltrona. O que diabos aconteceu com esse garoto? Eu fiz alguma coisa? Por favor, vou enlouquecer se Josh não voltar ao normal.

O filme já havia começado há uns vinte minutos quando Josh volta com a maldita pipoca. E esse foi o tempo necessário para que eu ficasse realmente irritada. Nesse tempo em que eu e Josh temos... digamos que uma relação além da amizade, ele nunca agiu dessa maneira. Ele está tão distante. Sinceramente não era isso que eu esperava quando aceitei o programa clichê de casal. Ok, só clichê... Afinal, nós não somos um casal.

Esse pensamento amargo fez meu estômago embrulhar. Apesar de todos os meus medos, eu nunca realmente parei para pensar em como será quando essa coisa mágica que estou vivendo com ele acabar. Eu realmente não quero que acabe, mas eu não sei. Acho que no dia em que aceitei me entregar a essa relação, nada passava pela minha mente a não ser como aquilo era fofo e em como era bom aproveitar o momento. Desde então eu faço isso, aproveito meus momentos com meu parceiro de biologia. Aproveito cada gesto, cada palavra, cada abraço, cada beijo.

Entretanto, eu realmente não sei se deveria me entregar tanto assim, pois não pensava, ou ao menos nunca tive certeza, que poderia me apaixonar por Josh e... no fundo, eu sei... Não quero admitir. Mas, eu sei que agora é tarde demais pra isso. O sorriso, as palavras, os gestos doces e a forma como ele parece se importar comigo me fazem querer abandonar tudo e todos e beijá-lo para sempre.

Agora, aqui, encostada o máximo possível na poltrona, enquanto Josh fita a tela e leva mais e mais punhados de pipoca à boca, parecendo estar em marte ou que está prestes a ter um ataque cardíaco, tratando-me com frieza desde que nos vimos hoje... eu só não sei como será o futuro, se é que há um que envolva nós dois.

De repente, tudo parece obscuro demais e aquela mágica de “aproveite o momento e foda-se o resto” já não é o suficiente.

Quando acho que ficaremos calados nesse clima sombrio, Josh abre a boca e olha para mim desde que voltou com a maldita pipoca.

—Você não vai comer? —Ele pergunta oferecendo a mim o pacote e me dá um sorriso que julgo apreensivo.

—Claro! Comer. É tudo o que mais quero! —Digo sem querer disfarçar a ironia. Fito a tela e levo a mão à embalagem, surpreendendo-me por estar quase vazia.

—Aqui. —Ele coloca a embalagem sobre meu colo, forçando-me a pegar mais da maldita pipoca —por quem Josh me trocou durante todo o tempo que estamos aqui.

—Hã? —Balbucio, voltando à atenção para minha mão direita onde deveria estar um bocado do alimento branco. Mas que ao invés...

—Hayles. —Ouço Josh sussurrar, virando-se abruptadamente para mim, enquanto meus olhos não conseguem desviar da caixinha preta sobre a palma de minha mão.

—Josh... Josh isso... —Tento formular uma frase, mas é impossível.

—Hayles... Eu sei que existem muitas maneiras mais normais e até mesmo melhores, mas...

—Josh. O que isso significa? —Interrompo-o quando abro a caixinha aveludada encontrando um lindo anel que me faz silenciar novamente.

—Hayley, deixe-me falar, por favor, senão eu não sei o que vai ser. —Ele diz e eu volto meu olhar para o garoto que agora parece estar ainda mais nervoso, aflito... Preocupado para dizer a verdade.

—Hayles eu... —ele põe uma mão sob a minha que segura a caixinha— Hayles, eu... Eu não consigo mais negar a mim mesmo o que eu estou sentindo por você. Você, você me faz a pessoa mais feliz do mundo quando está comigo. Você me faz rir, fez-me mudar muitos conceitos, você... você é perfeita. Eu quero estar mais ao seu lado, poder dividir mais momentos inesquecíveis. Poder estar com você em qualquer lugar e poder mostrar a todos que eu estou com essa garota incrível que só você é... Tudo isso com mais segurança e sem ter medo de que de um dia pro outro você se vá, porque eu não suportaria te ver com mais alguém... Hayley eu... Eu nunca fiz isso antes, mas definitivamente isso tem que ser com você. Por favor, diga que você aceita ser minha namorada. —Ele termina com expressão aflita misturada a de alívio.

—Josh eu... —Chocada. Pasma. Besta. Paralisada. Existiam muitos adjetivos que poderiam descrever como eu estava me sentindo nesse momento.

—Hays, isso é só um anel de compromisso e se você não quiser usar eu vou entender. É só que isso faz parte da forma que achei para fazer isso... Olha, eu sei que não estamos ficando há muito tempo e que eu nunca fiz isso antes. Mas, você é a pessoa certa e é só você que eu quero que ocupe essa posição. —Ele dizia atropelando palavras.

—Eu... eu. —Sentia como se houvesse algo obstruindo minha garganta e me impedindo de pronunciar qualquer coisa com nexo. Era por isso que ele estava todo estranho e distante e eu não estou acreditando que esse era o motivo.

—Por favor, diz alguma coisa. Se você não quiser... —Josh me olhava realmente apavorado.

Eu quero. —Minha voz soou muito baixa, mas eu tive certeza de que ele ouviu minhas palavras, pois o sorriso em seus lábios não mostrava o contrário. Ver o sorriso perfeito que tanto me encantou desde o princípio me faz imediatamente corresponder e abraça-lo como jamais o fiz. Nesse momento muitos de meus medos foram enterrados ou deixados bem distantes.

Josh suspira pesadamente, abraça-me forte e beija com ternura meu cabelo e só aí nos damos conta do casal a nossa frente... aplaudindo-nos. Enterro ainda mais minha cabeça no pescoço de Josh, tentando não mostrar minha vergonha.

Ok. Eu fui pedida em namoro de uma forma realmente muito fofa e num cinema, o que muda um pouco meu conceito sobre programas clichês. Sinto-me agradecida por termos ido ver um filme que está quase um mês em cartaz, porque assim evitamos sermos xingados por uma multidão de fãs enraivecidos. Ao invés disso o casal a nossa frente nos olhava sorrindo enquanto o restante das pessoas desviavam os olhares novamente a tela, fingindo não terem notado nada.

—Você é louco sabia. —Sussurro depois de um tempo sentindo seu cheiro.

—E você é linda. —Ele diz com meu rosto entre as mãos e então pega a caixinha que ainda está presa em minha mão.

—Então, senhorita Williams, você quer ser minha namorada? —Pergunta sorrindo brincalhão, retirando o anel da caixinha.

—Sim. Eu quero, Sr. Joshua. —Respondo no mesmo tom.

—Então posso colocar em você? —Pergunta, mostrando-me a joia — Já disse, não precisa usar se não quiser. Mas eu quero que fique com ele, para que você nunca esqueça esse dia.

—Eu jamais vou esquecer. —Digo, pois é verdade: jamais esquecerei— E sim, você pode colocá-lo.

Josh sorri e coloca o bonito e delicado anel em meu dedo anelar direito.

—Meu coração é seu. —Ele diz e se possível eu derreto ainda mais ao ouvir suas palavras e sentir o poder que elas têm.

Enfim, deixando a vergonha de lado por estar em um local público, eu puxo Josh para um beijo terno e apaixonado. Sim, apaixonado.

[...]

—Meu Deus, Josh! —Disse entre risos, enquanto o garoto ao meu lado enterrava a cabeça no volante.

—Eu não acredito que eu esqueci isso. —Lamentou.

—Eu também não. —Gargalhamos juntos.

—Sério, eu sabia que tinha que abastecer. Mas minha mente só estava ocupada com uma coisa hoje. — Disse e eu sorrio com final da frase, dando-lhe um selinho.

—Mas agora é sério. O que vamos fazer? Não podemos ficar parados no meio da rua. —Disse olhando para fora pela janela. Estávamos parados na rua da minha casa, acerca de uns cinco quarteirões da mesma. Não era uma rua movimentada, mas não poderíamos deixar o carro onde estava, óbvio. Olhei para o céu cinza que apontava que o mundo acabaria em água daqui a pouco tempo.

—Vamos ter que empurrar o carro no acostamento. —Disse com desdém.

—O QUE? —Falei, arrancando uma gargalhada gostosa de Josh.

—É mocinha... E vamos logo antes que comece a chover.

—Você é louco.

—Louco só por você. —Disse ele puxando meu rosto para perto, para um breve beijo.

—Agora vamos. —Josh disse sorrindo ao parar o beijo e abriu a porta. Tenho certeza de que ele está se divertindo com a situação.

—Para de rir! —Pedi e Josh riu ainda mais, enquanto tentávamos encostar o carro e as gotas grossas de chuva começavam a cair. Era óbvio que eu não estava ajudando porcaria nenhuma.

Só foi o tempo de encostarmos o carro na beira da rua e a chuva começou a despencar para valer.

—JOOOSH! —Gritei colocando o capuz numa tentativa falha de me proteger. Josh fechou o carro e me olhou ainda sorrindo brincalhão.

—Melhor corrermos. —Disse ele após fechar o casaco e começou a me puxar pela mão.

—Anda logo, Hays. —Ele dizia entre risos, praticamente arrastando-me, pois eu não conseguia correr em meio a uma situação dessas.

De repente Josh para e me encara sério e eu fico confusa. Estamos nós dois parados em meio à chuva quando ele sorri travesso e num impulso me levanta do chão e eu grito.

—O QUE ESTÁ FAZENDO? ME SOLTA! —Exigi tentando parecer irritada, mas não conseguia esconder os risos. Josh também ria e começou a correr, fazendo-me estremecer ao lembrar o que houve na última vez que “corremos juntos”.

Quando enfim chegamos ao gramado de minha casa, Josh deslizou na grama molhada e aos tropeços acabamos caindo no chão. Ambos não conseguíamos pronunciar nenhuma palavra, pois nossas gargalhadas não nos permitiam.

Foi aí que quando olhei de soslaio para a rua em frente a minha casa, deparei-me com um conhecido veículo prateado parado, em que claramente o motorista deveria estar nos observando. Por que diabos essa vaca oxigenada tem sempre que estar por perto e nos melhores momentos? Voltei meu olhar rapidamente para Josh, que agora estava em pé, puxando-me pela mão para que eu levantasse.

—O que? —Ele perguntou deixando de lado o sorriso, olhando-me com preocupação.

—Nada. —Apressei-me em dizer e imediatamente passei meus braços em torno de seu pescoço, trazendo-o para perto e capturei seus lábios, que devido a chuva estavam frios assim como o piercing nos mesmos. Nós dois encharcados em meio à chuva, no dia em que nos tornamos namorados... Era sim, a hora de provar mais um clichê, que com Josh é algo incrível.

Esqueci-me completamente de que tínhamos plateia e quando isso voltou a minha mente, não pude deixar de sorrir com os lábios colados ao de Josh. Josh agora é meu... meu namorado. E eu gosto da ideia de mostrar isso de uma vez por todas à vaca oxigenada que por algum motivo está estacionada na rua da minha casa.

Josh puxou-me com mais força, colando seu corpo ao meu. Quando sua língua pediu passagem, rapidamente concedi. Gotas grossas de chuva caíam sobre nós, mas não estávamos realmente nos importando com isso. Levei minha mão em seu cabelo encharcado e aprofundei ainda mais o beijo. Oh, como amo esses lábios e essa boca perfeita.

Quando nos separamos ofegantes, escutamos o barulho dos pneus do carro de Jenna arrancarem em alta velocidade.

—Era Jenna? —Josh questionou intrigado, olhando para rua e corri para a varanda. Como se a essa altura adiantasse fugir da chuva.

—Não sei. Era? —Disse sem olhar para ele.

—Eu acho que sim... Mas, isso não importa. —Respondeu ele vindo até onde eu estava.

—É.

—Agora é melhor você entrar e tomar um banho quente antes que fique resfriada. —Disse ele, abraçando-me.

—E você também —falei— vem, entra. Eu pego uma toalha pra você.

—Não, não. Eu vou pra casa. —Disse ele, tirando o capuz de minha blusa de minha cabeça.

—Como assim? Entra, se seca primeiro e espera a chuva passar.

—Eu já estou todo encharcado mesmo, e também eu moro aqui pertinho. —Falou Josh, colocando uma mecha de meu cabelo escorrido atrás de minha orelha.

—Você vai se molhar ainda mais. —Argumentei fazendo drama. A verdade é que eu queria curtir Josh mais um pouquinho.

—E isso é possível? —Brincou ele — Eu estou tão feliz, Hays. Eu nem acredito que agora você é... É minha namorada.

—Pois acredite. —Respondi, abraçando-o. Minha felicidade era tanta naquele momento, que nada poderia descrever.

Beijamo-nos pela última vez no dia e depois o vi correr todo desajeitado em direção à rua.

Estava subindo a escada, quando ouvi minha mãe gritar da cozinha.

—HAYLES? —Chamou ela, chegando até a sala. Estava com um avental no corpo e também segurava uma grande colher em uma das mãos.

—Meu. Deus. Por que. Você. Está. Assim? —Perguntou pausadamente apavorada, apontando para o meu corpo, onde água de minhas roupas pingavam molhando toda a escada.

—Vish. É uma longa história. —Respondi e não consegui conter o sorriso que se formou em meus lábios ao lembrar o que aconteceu nessa tarde.

—Pois comece a contar, pois você tem que ter um ótimo motivo pra justificar o seu estado e o do chão da minha sala.

—Ok. Fui ao cinema com Josh. Ele me pediu em namoro de um jeito fofo demais. Eu aceitei. Josh esqueceu de abastecer o carro. Quando estávamos voltando, a gasolina acabou. Empurramos o carro no acostamento. Começou a chover. Josh me pegou no colo sem minha permissão. Correu até aqui me carregando. Caímos. Então estamos encharcados. Fim da história. Vou me secar. —Disse num fôlego só e comecei a subir correndo as escadas, ouvindo minha mãe me seguir no mesmo ritmo.

—PEDIU EM NAMORO? OH MEUS DEUS! PARA AÍ E ME CONTA TUDO MOCINHA, OU FICA SEM MESADA POR UM MÊS! —Dizia desesperada e eu apenas continuava rindo de sua empolgação. Eu tenho uma mãe incrível e sei disso.

[...]

Como a chuva não deu trégua, minha mãe resolveu cozinhar e convidou o tal “Andrew” para vir até aqui em vez de sairmos todos para jantar fora. Confesso que não estava nada animada e nem um pouco ansiosa para conhecer o namorado de minha mãe. Nunca imaginei que pronunciaria tais palavras: “namorado de minha mãe”. Soa tão estranho.

Mesmo não me sentindo muito confortável com a situação, ajudei minha mãe a preparar tudo. Após, subi para meu quarto. Queria evitar aquele jantar até onde poderia.

Algum tempo tocando piano e minha mãe bate à porta de meu quarto, avisando-me que seu convidado havia chegado.

Devo dizer que a primeira segunda impressão que tive do sujeito não me acrescentou em nada. Um homem com aparência normal, cabelos escuros, um pouco calvo e bem vestido.

—Andrew. Esse é o meu bebê. Filha, esse é Andrew. —Minha mãe diz o mais adorável possível, quando chego à sala.

—Olá. É um prazer conhecê-la, querida. —Diz o sujeito, sorrindo, exageradamente para o meu gosto.

—Oi. —Digo apenas e a palavra soou mais fria do que quis.

—Ela é realmente linda, Cristi. —Diz analisando-me e sorri para minha mãe que parece boba. Por alguma razão eu não via motivos para sorrir como o ‘casal’ à minha frente.

Durante o jantar, devo confessar que passei muito tempo mais concentrada em analisar as atitudes do homem à minha frente em vez de na comida deliciosa em meu prato.

—Cristi, você não teria uma bebida, baby? —Ele pergunta. A maneira como essas saem de sua boca fazem meu estômago embrulhar. Definitivamente, havia algo errado, algo que não me agradava em nada no sujeito.

—Coca-cola é bebida, sabe? —Não me controlo e as palavras pulam de minha boca, fazendo com que minha mãe volte o olhar de repreensão para mim e Andrew fecha a cara. Pela primeira vez na noite eu achei que ele estava sendo espontâneo e verdadeiro. Eu apenas sacudo os ombros como gesto de rendição e busco concentrar-me em comer, mesmo sem apetite.

—Eu devo ter um vinho aqui. Espero que agrade. —Diz minha mãe, sorrindo constrangida, levantando-se e indo em direção à cozinha. Fico imaginando se ela comprou isso hoje, pois não costumamos ter qualquer tipo de bebida alcoólica em casa.

Que espécie de cara vem jantar na casa de outras pessoas e fica exigindo bebidas? Por favor, não estou contente com isso. Durante todo o tempo que já havia passado ali, Andrew sorria, fazia elogios a minha mãe, a comida, a tudo e de certa forma isso não me agradava, pois essas atitudes pareciam forçadas, ou ensaiadas. Talvez fosse paranoia, mas eu não conseguia esconder como estava desconfortável e tenho certeza que minha mãe notou.

Não devo negar que apenas respondia o que me era perguntado, e fazia o mesmo com frieza. Eu não queria tratar Andrew mal, mas também não conseguia forçar atitudes.

Mastigava minha comida, fitando o prato. Não me sentia confortável apenas com o homem que acabei de conhecer.

—Bem, garotinha, eu sei o que está tentando fazer. —Ouvi as palavras e imediatamente levantei meu olhar para Andrew a fim de saber se não era uma alucinação.

—O que? —Perguntei extremamente confusa, encarando-o.

—Eu sei o que está fazendo. Mas, saiba que não vou permitir que nenhuma pirralha atrapalhe minha relação com Cristi. —Disse Andrew, olhando-me seriamente. Eu estava simplesmente pasma com sua atitude.

—Eu... Eu não faço ideia do que está dizendo. —Respondi atônita, fitando com raiva o sujeito.

—Eu sei. Você é a típica filhinha de papai, mimada e que ainda não aceitou o divorcio dos pais. E eu só estou lhe avisando que sei o que pensa sobre minha relação com sua mãe. E não vou permitir que você interfira. Apenas isso. —Continuou ele, indiferente à minha reação.

—Eu... eu não estou acreditando no que acabei de ouvir. Você só pode estar brincando —falei, levantando-me de minha cadeira — Você não sabe nada. Absolutamente nada sobre mim. Então cale essa sua linda boca, e jamais volte a me chamar de ‘mimada’ e... Para que você fique mais informado, eu já aceitei o término dos meus pais. Mas, quer saber? Você está certo. Se eu já não estava confortável com o seu relacionamento com minha mãe, agora, eu estou odiando is...

—Abaixe seu tom para falar comigo. Ainda sou mais velho que você. —Interrompeu-me com os olhos esbugalhados, surpreso por minha reação.

—Eu falo como eu desejar, pois acabo de perceber que você não merece minha educação. Agora, se você me der licença, eu não preciso aguentar isso aqui. E ah... mais uma coisa Andrew, pirralha é a avó! —Cuspi as palavras, deixando atônito o cara à mesa e comecei a me dirigir para a escada.

—Hayles? Onde vai filha? —Ouvi minha mãe perguntar e parei por um instante.

—Pro meu quarto.

—Ela está indisposta, baby. —Ouvi Andrew dizer, fazendo meu sangue gelar ainda mais.

—Mas, e a sobremesa? —Pude perceber decepção na voz de minha mãe.

—Estou sem apetite. —Respondi já terminando de subir as escadas.

Nesse momento, eu poderia dizer que minha primeira terceira impressão de Andrew era péssima.

***


Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.