— Acho que isso não vai na torta, Lana – disse Jim rindo de mim.

— Quem disse que é pra torta? – ele arqueou a sobrancelha intrigado e eu ri – Eu adoro picles!

— Pensei que ia me fazer uma torta de cereja... – Jim fez biquinho.

— E eu vou, meu amor – dei-o um beijo rápido segurando em seu queixo.

Olhei as prateleiras ao longo do corredor do mercado.

— Bom, agora preciso de manteiga sem sal e essência de cereja – falei pensativa olhando pra cesta no meu braço – É, acho que é isso.

— Você devia ter marcado em um papel, Lana – riu de mim. Virei os olhos.

— Eu sei de cor, Jim... Licença – o afastei pro lado para passar.

Estava indo em busca do resto dos ingredientes.

— Ei, calma estressadinha! – ria ele debochado.

— Muito ajuda quem não atrapalha – exclamei.

— Nossa! – ele erguia os braços em modo de rendimento – Tudo bem, tudo bem... Vou ver umas coisas na sessão de ferramentas.

— Ok, depois te procuro – saí rindo meneando a cabeça negativamente.

Jim foi para um lado e eu paro outro no grande mercado no K-Mart*.

Fui em direção dos ingredientes que procurava, andei alguns segundos e encontrei a essência de cereja, peguei a marca que sempre costumava usar, logo após fui procurar a manteiga sem sal. Dei mais uma andada pelo mercado e encontrei. Havia várias marcas e eu estava em dúvida sobre qual usar. Então alguém esbarra em mim e me impulsiona pra frente. Era um rapaz. Franzi o cenho, já tinha o visto em algum lugar.

— Me desculpe – dizia ele – Espero não ter te machucado – ele tocou meu braço direito.

Eu o olhava fixamente, poderia parecer esquisito, mas já tinha o visto em algum lugar. Poderia jurar!

— Te machuquei? – perguntou ele franzindo o cenho. Saí de meu transe, devia estar parecendo uma boba.

— Não, não. Claro que não. Isso acontece, não foi nada – sorri amarelo.

— Ei, eu te conheço de algum lugar – ele comprimia os olhos como se para lembrar – Você está com o Jim, não é?

Me afastei um pouco dele.

— Como sabe? O conhece?– estranhei aquela afirmação.

— Eu vi vocês num bar esses dias e bom, ele é conhecido aqui, as notícias correm. E sabe, nós éramos bem amigos antigamente. Muito mesmo.

— Ah, é mesmo? Ele está aqui, quer que o chame? – ele parecia ser um cara legal e eu talvez tivesse o visto no bar no dia da briga.

Não! Quero dizer, não precisa... Já estou de saída – ele passou a mão no queixo liso – Você se chama Lana, não?

— Sim, acho que sim – ri – E você? Como se chama?

— John, prazer – me direcionou a mão e eu fiz o mesmo – Então já estou indo, espero ver você novamente e diga ao Jim que mandei lembranças.

— Claro que sim, John. Até mais ver – sorri.

— Até mais, Lana – ele se virou e eu fiquei a observá-lo. Sério! O conhecia de algum lugar.

Voltei minha atenção à manteiga sem sal e escolhi qualquer uma e fui à procura de Jim. Dei uma procurada pelo mercado e o encontrei conversando com um moço alto e magro vestido socialmente, quando Jim me avistou se despediu e veio em minha direção.

— Pronto – sorri pra Jim – Tudo aqui – apontei para a cesta.

— Então, tudo bem... Tô com muita vontade de provar essa sua torta.

— Ahh, e eu estou com vontade de tomar Diet Mountain Dew! – fui em direção aos refrigeradores. Peguei o refrigerante que tantos criticavam, por dizer que causava câncer.

— Ouvi dizer que esse refrigerante causa câncer – viu!? Ri disso.

— Tudo que é perigoso é melhor – o encarei.

— Ótimo dilema, rainha de Nova York – adorava quando ele me chamava assim.

Já dentro do carro com tudo guardado lembrei do ocorrido, o rapaz chamado John que eu jurava conhecer de algum lugar.

— Jim, encontrei um amigo seu hoje – ele olhou pra mim instantaneamente franzindo muito o cenho – Que foi? – ri da cara dele.

— Quem era? – indagou rápido.

— Um tal de John, ele parecia ser um cara legal e...

John? O quê? – ele olhava pra mim, nem olhava mais pra estrada direito.

— Foi o que você ouviu, homem! Tá surdo? Olha pra estrada Jim, cuidado! – coloquei a mão na testa.

— Me explica isso melhor, Lana! Que John era esse? – pareceu assustado e assim eu me assustei também.

— Bom, ele só disse que se chamava John, era alto, magro, muito branco e disse que era seu amigo, tipo, amigo mesmo...

— Porra! Que merda! Desgraçado! Sid, filho da puta! – esbravejou Jim apertando o volante.

Coloquei a mão na boca, meu Deus! Sid! Sim, o cara da televisão que deixou o Jim todo preocupado. Caramba! Sabia que tinha o visto em algum lugar e pelo visto não foi no bar.

— Jim, me conta tudo! Me conta toda essa história! – ele ficou em silêncio – Vamos!

— Nós vamos embora... Vamos embora de Las Vegas. Não vamos fugir, esse vai ser o modo de apaziguar as coisas.

— O quê? – cheguei mais perto dele – Jim por favor, não me esconda as coisas – coloquei a mão em sua coxa e ele me olhou por um segundo, pude ver em seus olhos apreensão.

— Resolvido! Vamos embora, agora mesmo. Ele sabe onde estou e que tenho você. Estou fazendo isso por você, mas olhe, se fosse por mim, iria atrás dele e o socaria até a morte. Mas ele foi esperto, chegou em você primeiro.

— Olha, eu não estou entendendo nada, mas eu te amo e aonde quer que você vá eu vou atrás. Só espero que você me esclareça tudo mais tarde – o abracei e ele a mim – Mas Jim, para onde vamos?

— Alabama – não disse nada, só consegui o abraçar mais forte.


Sid

Venho espreitando Jim Morrison e sua namoradinha há algum tempo, só esperando a hora certa.

Hoje os segui até o K-mart* e tive a oportunidade de bater um “papinho” com a atual namoradinha dele, Lana – acho que ele deu um pé na bunda da Deborah.

Enfim, ela é muito bonita e gentil, e realmente não sei o que faz com aquele bastardo do Jim Morrison. Não que eu seja melhor que ele, mas um bastardo reconhece o outro. E bom, tenho certeza que Jim sabe que estou à solta por aí e nesse momento Lana já deve ter falado que a encontrei no mercado, e ele virá ao meu encontro, assim colocando Lana em perigo, não ligo se a namoradinha dele é linda ou bem-educada, não pensaria duas vezes antes de matá-la como ele matou Nancy, tenho certeza que foi ele. E essa certeza é o que me trouxe até aqui.

Começarei com Lana e depois sua amada mãezinha que mora no Alabama, depois Mike e até que nada que o segure nessa terra sobreviva. Quero que ele se sinta como eu me senti, perdido, sem ninguém para segurar sua alma dolorida. E no final quando ele não tiver mais nada e nem ninguém o... Deixarei viver. Viver inutilmente, como eu vivi por um tempo. Mas quem sabe? A raiva me tome e eu o mate?

A vingança é um prato que se come frio, sozinho e ainda por cima é amargo. Mas que vale a pena cada segundo de refeição.

Jim

— Então, é isso! – dizia pra Lana que estava sentada na cama dobrando algumas roupas e colocando dentro de uma mala – Ele é um louco psicopata! Realmente acha que matei Nancy!

— Mas então, se você não a matou por que foge dele? – Lana me encarou com aquele rosto angelical.

— Por você, meu anjo. Faço qualquer coisa por você. Será que é demais pedir paz ao seu lado?

— Paz? Com você trabalhando no que trabalha? Acho que sim, é pedir demais – ela abaixou o olhar para suas roupas novamente.

Fiquei calado. Essa afirmativa dela me veio como um tiro, mas ela estava certa, nunca teríamos paz enquanto eu vivesse disso. Porém, uma vez que você está dentro, estar fora é muito difícil.

— Jim – me chamou Lana baixinho – Tem uma coisa que sempre quis te perguntar – ela se levantou e veio ao meu encontro. Por que sinto que não seria uma pergunta fácil de ser respondida?

— Pode perguntar – alisei seus cabelos castanhos.

— Você... Você já matou alguém? – ela olhava bem fundo em meus olhos. Como eu poderia mentir? Abaixei meu olhar.

— Lana, às vezes algumas atitudes são precisas. Às vezes fazemos coisas, não por que queremos, mas por que devemos. Tem coisas que um homem faz e não se orgulha.

— Então você já fez algo assim, Jim? Não minta pra mim – ela me suplicava por uma resposta, seus olhos diziam isso – Preciso saber.

— Sim, eu já fiz – Por que parecia tão errado dizer isso a ela? Mas a atitude dela foi inesperada. Ela me beijou. Esperaria dela qualquer reação, menos essa. Me beijar.

Eu a encontrei quando estava perdido do meu caminho, agora estamos no nosso caminho.

Ela se afastou.

— Obrigada, Jim... Por confiar em mim. Eu não quero mentiras, quero verdades por mais que elas doam. E tipo, você tem um ótimo plano e agora, meus problemas acabaram – ela sorriu.

— Acabaram? Por quê? – passei meu polegar em seu lábio inferior.

— Sim! Porque você é o meu homem – eu adoro quando ela me chama de “Meu Homem”. Dei um beijo rápido nela.

— Então querida, não se preocupe mais, tudo bem? Por que eu sou o chefe – disse a olhando nos olhos. Ela sorriu.

— Mas é melhor andarmos rápido, anoitecerá daqui a pouco, Jim.

— Tudo, bem...

Eu tenho ela e ela tem a mim. E estamos no nosso caminho. Estamos chegando.