My Old Man

I Can't Do It, But You Do It Well


Idiota! Imbecil! Estúpida! Essas foram as primeiras coisas que pensei depois que cheguei em casa, depois que tinha acabado de sair do carro de Jim, depois de trepar igual uma colegial com os hormônios a flor da pele. Quero dizer, não que eu tenha me arrependido ou não gostado, nada disso. Foi ótimo. Maravilhoso. Ele sabe e eu sei.

Porém, o que eu deveria ter feito ao ter visto ele era ter pegado o palito do algodão doce e ter enfiado no olho dele, e depois esmurrar a cara dele toda. Mas sou uma fraca, uma fraca quando assunto se trata de Jim. Ah, Jim! Você mesmo, desgraçado. Esse homem que roubou meu coração e minhas emoções rudes diante dele.

Pra falar a verdade, eu ainda estava entorpecida pelo acontecimento, tinha que digerir isso tudo muito bem. Remoer cada ação, cada momento. Impossível! Não com Jim perto de mim. Merda! Merda!

Eu não pedi para que ele me levasse em casa, mas ele fez questão, sabe né, ele queria ser legal, queria agradar a garota com quem tinha acabado de fazer sexo no carro, a mulher que ele deixou há algum tempo atrás.

Não minto, fiquei feliz, não, muito mais que feliz. Eu poderia pedir que ele entrasse e prolongar a noite, mas eu acabaria falando alguma besteira em algum momento, e eu não queria isso. Não mesmo!

Tudo que fiz foi deixar meu número com ele, da casa e do celular e peguei o seu. Algo que ele me negou há quase dois anos atrás nas Canárias. Ordinário! Mas sem citações do passado agora.

Me despedi languidamente dele, eu realmente não queria descolar do homem. E ele me jurou que ligaria. Pra falar a verdade, não acreditei muito. Talvez ele demorasse a me ligar. Porque se ele não ligasse, eu ligaria. Eu iria lutar por ele dessa vez. Ah, se eu ia! Ia sim! Jim, você não escapa de mim dessa vez, não tão fácil.

Ok, não quero dar uma de sociopata/psicopata ou maníaca emocional agora, mas não deixarei ele sumir novamente. Não diante de meus olhos. Não novamente.

Eu praticamente não dormi a noite, não preguei os olhos. Remoí cada segundo de nossos atos no parque, ai meu Deus, será que isso é uma doença? Se for, provavelmente não tem cura e mesmo assim, não quero ser curada. Quero ser aliviada e só Jim pode me aliviar da abstinência dele. Como disse, sou uma drogada e viciada. Viciada nesse homem dopante. Seu coração de cocaína, um dia, ainda será todo meu.

Adormeci muito tempo depois.

[...]

Acordei com o toque do meu celular, estiquei meu braço para pegá-lo na cômoda. Sabia que era domingo e também sabia que não deveria ser cedo. Nem olhei o visor, fui logo atendendo.

— Alô — disse nada empolgada.

— Te acordei?

Meu Deus! O resto de sono que tinha sumiu no exato momento que escutei a voz de Jim do outro lado da linha. Ele disse que me ligaria, mas não sabia que seria assim, tão rápido. Mas não deixaria transparecer minha animação por saber de sua ligação.

— O quê você acha?

— Nossa, mal humor matinal? Quer dizer, não tão matinal. Já são meio dia e alguma coisa.

— Você falou igualzinho meu pai, Jim — escutei sua risada deliciosa do outro lado da linha — Mas enfim, o que devo a honra de sua ligação?

— Eu queria te levar a um lugar. Te apresentar uns amigos meus, quem sabe... E aí, o que acha? Bom, eu sei que não é nada do que você está acostumada e...

— Sssshhhh! Cala boca, Jim — interrompi ele. Odiava isso, ser tratada como uma mimadinha. E além do mais, ele queria talvez me apresentar seus amigos, isso é um bom sinal — Que horas você vem me buscar?

— Que horas você achar melhor.

— Esteja aqui, daqui quarenta minutos, Jimmyzinho — ele riu.

— Ok. Quarenta minutos.

Ele desliga.

Mais que depressa corro pro banheiro, faço minha higiene matinal e tomo um banho, já de banho tomado me seco, me encho de creme corporal. Escolho um vestido amarelo pastel leve, na altura das cochas. Acho que não iríamos a algum lugar formal. Me maquiei e agora era vez de me encher de perfume. Desci pra cozinha e abocanhei uma maça, a comi em questão de segundos, olhei pro relógio na parede da cozinha, os quarenta minutos já tinham passado. Pra ser mais exata, quarenta e sete minutos.

Então escuto o barulho do carro estacionando em frente a minha casa, antes que ele possa chegar perto da minha porta, abro-a e vou em sua direção. Meus olhos brilham ao vê-lo e meu coração palpita rápido, ele me encara com aquele olhar melancólico, minha boca saliva só de pensar em um futuro beijo.

Não sabia o que fazer, se ia até ele e logo de cara já dava um beijo ou o tratava formalmente(algo impossível depois do acontecido no carro). Mas ele foi mais rápido. Me deu um sorriso rápido e em seguida capturou meus lábios sedentos pelos dele. Segurou minha nuca fazendo todo meu corpo arrepiar, o bendito sabia como enfeitiçar uma mulher. Parei o beijo, se não, não sairíamos dali de jeito nenhum, acabaríamos entrando na minha casa e já viu. Sem falar dos meus vizinhos bisbilhoteiros.

— Então Sr. Morrison, só isso que iria me mostrar hoje? – brinquei com ele.

— Entre outras coisas – ele pegou minha mão.

(...)

— Então, Lana? O que você acha de passar a ceia conosco? – pergunta Aline, esposa de Mike, melhor amigo de Jim. Eu o havia visto no parque com Jim – Vai ser ótimo. Podemos beber muito, até o dia todo se der e conversaremos até tarde.

— Será uma grande honra, mas há um porém – digo tristonha – Há meus pais.

Vejo o olhar de decepção de todos ali presentes, mas Jim não esboça nenhuma reação.

— O que têm eles? – pergunta Mike.

— Recebi uma ligação de meu pai, ele disse que gostaria que eu fosse cear com eles. Mas ainda não dei a resposta. Bom, eu os visitei mês passado.

— Acho que deveria ficar conosco, Lana – finalmente Jim diz algo.

O encaro. Ele estava apoiado perto da janela, enquanto eu e Aline estávamos sentadas no sofá, e Mike numa poltrona próxima a televisão. Ele me encara de volta, ele não precisa dizer nada, já estou convencida. Iria passar o natal com eles. Com Jim.

Eu poderia inventar uma história aos meus pais, como sempre fiz. Pra falar a verdade, tenho que perder esse costume. Ri de mim mesma.

— Eu passarei, está decidido.

Vi a face de Aline se iluminar e Mike esboçar um sorriso. Mas Jim, Jim não me transparecia nada. Porém, eu sei que ele está feliz. Posso sentir.

Ele não sabe, mas posso ver a alma dele. Algo que notei agora, eu posso lê-lo. Posso vê-lo através dessa parede imaginaria que ele constrói às vezes. Ele não sabe, mas eu o amo. Talvez ele se especule e um dia eu até diga. Num momento de total felicidade, num momento de total cumplicidade de nossas partes. Aí eu direi ‘’Te Amo’’, direi com todas as letras. No dia que eu tiver total certeza que nada me magoará.

Passado alguns dias

Hoje já é dia vinte e quatro e Jim passará a noite aqui, e amanhã iremos para casa de Mike, onde estarão outros amigos deles.

Não nego, estou muito ansiosa. Não esperava isso nem em um milhão de anos, sabe, Jim me apresentando seus amigos, eu indo cear com eles. Incrivelmente impossível de se acontecer. Mas está acontecendo. Acredite.

Estava com muita saudade Jim, não o via há dois dias. Dois lamentáveis e horríveis dias sem ele, e sua presença preenchedora de ambientes.

Jim chega tarde, isso eu já esperava.

Ele mal entra em minha casa, ele mal fala uma palavra e já pulo em seu pescoço.

Ele me beija. Sacia minha vontade dele. Ele devora minha boca, hum, como gosto quando ele me beija assim, vorazmente. A barba dele no começo poderia me incomodar, mas agora só me dá mais prazer. Prazer em beijá-lo. Eu me delicio com isso.

Ele me levanta no seu colo, fazendo-me passar minhas pernas em volta de sua cintura. Pergunta:

— Onde é seu quarto, Lana? – mordo o lábio inferior.

— Hoje, Jimmyzinho, a casa inteira é o nosso quarto – o beijo rápido nos lábios.

Ele ri em resposta.

(...)

Acordo de manhã e sorrio espontaneamente. Tateio o outro lado da cama e meu coração gela. Jim? Cadê ele? Eu sei que parece besteira, ele pode estar no banheiro, cozinha, sala, etc. Mas ele já fez isso uma vez então...

Levantei rapidamente, embolei o lençol no meu corpo e fui atrás dele, e nada. Ele não estava em lugar nenhum. Tá! Calma! Ele deve ter ido ao supermercado ou outro lugar. Tentava pensar em coisas do tipo, mas minha mente maléfica sempre distorcendo tudo, me fazia pensar coisas como: ele me deixou de novo. Senti meus olhos encherem de lágrimas.

O que será que fiz? Recapitulei a noite toda em questão de segundos e uma cena veio a minha mente.

Estávamos deitados na cama, deleitados, as respirações ainda se acalmando e eu estava ali agarrada a seu tronco, como uma criança indefesa. E foi nesse momento em que me senti completa, me senti cheia, senti que nada me abalaria. Então me apoiei nos cotovelos e encarei Jim, seria agora. Por incrível que pareça, não senti medo. Eu era inabalável.

— Jim... — murmurei. Ele brincava com as mechas do meu cabelo — Jim, eu... Eu te amo.

Puta que pariu!

Coloquei a mão na minha testa e fui pro quarto, meu coração a mil e minha garganta seca. Não pensava direito. Só dizia mentalmente: calma, calma, calma!

Será que o havia assustado com as palavras? Bom, ele não disse que me amava também, isso eu já esperava, na verdade eu não esperava resposta alguma. Porém, não me senti tola naquele momento, mas sim, completa. Eu fui sincera. E olhe agora!

Então avistei um bilhete na cômoda ao lado da minha cama, corri meio desengonçada por causa do lençol embolado envolta do meu corpo, peguei e li o papel.

‘’Desculpe sair assim. Precisei resolver algumas coisas, volto pra irmos à casa de Mike. Te amo’’

Desabei na cama. Eu quase não prestei atenção nas frases anteriores, meus olhos fixaram no ‘’Te Amo’’. Te amo! Te amo! Ele me ama? Ele me ama.

Abro um baita sorriso e deito na cama, leio o papel mais uma trezentas milhões de vezes.

Oh, Jim, tão rude, tão carinhoso, meu coraçãozinho de cocaína chapado. Meu homem degenerado. Oh, se você sumisse Jimmy, eu te perseguiria pela cidade toda. Seria uma vadia louca, totalmente sociopata, seria doentio ver o que eu poderia fazer, eu não me comportaria. Eu não me comporto. Não com você por perto. Acho que morreria sem você. Eu te amo, necessito de você, eu respiro você, meu homem cocaínado. Jim, tão meu.

(...)

‘’Para toda alegria tem uma porção de tristeza’’. Minha avó dizia. Ri! Ri muito. Acho que essa porção que falam aí, no meu caso, deve ser do tamanho de uma carreta.

Não culpo ninguém mais pela minha própria tristeza, só culpo a mim. Pois é!

Depois do bilhete deixado por Jim na minha cômoda, nunca mais vi a cara do bastardo. Se foram os dias 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 01, 02 e hoje era a porra do dia 03. Eu não via Jim a 10 dias! 10 dias!

Isso mesmo! Passei a porra do natal sozinha e a merda do ano novo também. Bom, não passei sóbria, nem um pouco.

No natal, quando me dei conta que Jim não viria, tratei de encher a cara, liguei pra ele milhões de vezes, deixei mensagens na caixa postal, no começo eram melosas, mas depois viraram mais um tipo de desabafo, com xingamentos, com tudo que uma mulher raivosa tem direito de falar.

Eu já não trabalhava direito, o meu patrão pegando no meu pé mais do que nunca e Jim lá, sumido, filho da puta. Me deixa um bilhete e acha que isso é o suficiente? Ah, não mesmo! Mas não ficaria parada dessa vez, iria atrás dele, depois que acabasse meu horário de trabalho, iria direto para casa de Mike, coisa que eu deveria ter feito há uma semana atrás. Vou atrás desse homem até no inferno. Eu digo que o amo e ele faz isso? Não mesmo!

Pareço estar forte e sob controle, mas estou molenga e quebrada por dentro. Bebo pra acalmar-me. Em vão. Como posso amar e odiar tanto alguém ao mesmo tempo? Sequei a lágrima que insistia em rolar minha face.

— Ei, Elizabeth! Seu expediente acabou há quase uma hora, acho que já pode ir, não? — disse meu chefe, Sr. Clark. E Deus! Não havia reparado no horário.

—Ah, sim, sim! Eu estava tão absorta em pensamentos — pensando em Jim, claro.

Arrumei minha mesa e deixei o local me despedindo.


Segui até a casa de Mike, que era do outro lado da cidade. Parecia do outro lado do mundo na pilha de nervos em que eu me encontrava.

Estacionei na frente da casa, caminhei a calçada rapidamente, bati na porta. Quem me atende é Mike e ele já deve imaginar o motivo de eu estar aqui. Pois ele não me recebe calorosamente como faria.

Ele se dirige pra varanda fechando a porta atrás de si, dizendo:

— Lana, eu...

— Onde ele está? — o interrompo — Aonde Mike, pelo amor de Deus! Me diga!

— Ele não quer que você se envolva. Ele...

— Me envolver no que? Poxa! Fala! Aonde ele está? Está com outra? Ele é casado? — comecei a fazer voz de choro. Vi o desgosto no semblante de Mike. Ele cederia.

— Não, ele não tem outra mulher. Mas é que... É complicado. Eu disse a ele que não daria certo isso, te deixar por fora dos assuntos dele.

— Porra, Mike! — explodi — É simples, me diga onde ele está e eu te deixo em paz.

Nesse momento já, um milhão de coisas passavam pela minha mente.

Ele deu um suspiro.

Então vi Aline abrir a porta e dizer:

— Ele foi pra Las Vegas.