My Mind

Comum - Ryugamine Mikado


Comum... É assim que defino minha vida. Não sou chato, nem exatamente legal; não sou bonito, mas não chego a ser feio; não tenho tanta inteligência, mas é aceitável... Normal. Quando notei o quão monótona é minha vida, não sorri, nem chorei... Acho que o tempo e a idade vão te envolvendo aos poucos e quando se da conta da própria realidade, sente aquela sensação de “já sabia”.

Quando somos crianças, sempre achamos que somos especiais, diferente de todos. Vivemos em um mundo mágico e intocável onde tudo é possível e somos os heróis, princesas, cavaleiros... Não é como se eu quisesse voltar a minha infância, mas não é também como se gostasse da minha vida atual, porém não odeio... Não quero voltar a ingenuidade e momentos vergonhosos de minha infância... Apenas queria voltar a magia de antes.

Para uma criança, o melhor amigo é seu tudo. Acho que foi nesse momento que comecei a notar o quão chato era a própria realidade... Masaomi-kun, você se diverte? Talvez sim, talvez não, mas mesmo assim sempre me perguntava isso todas as vezes que conversávamos e eu desligava meu computador. Por tanto querer saber como é esse outro mundo em que você vive que sai de minha cidade natal.

Depois de um tempo de amizade, quando comecei a ter mais noção da vida, sempre estranhei que mesmo depois de você ter ido embora, continuamos com nossa amizade, sem nunca chegarmos a ficar mais de semanas sem nos falarmos. Porque isso? Não é como se tivéssemos hobbys em comum, ou como se você tivesse ficado aqui nessa cidade do interior tanto tempo assim para ficarmos íntimos... Quando cheguei em Ikebukuro, entendi tudo.

A distancia entre nossos mundos é assustadora. Esse lugar em que agora também faço parte... Pessoas estranhas, fatos amedrontadores, amores repulsivos, um submundo que todos conhecem... Não é como se a magia fosse revivida. É simplesmente a maravilha natural do mundo...

Lembro-me que quando conheci Orihara Izaya pela primeira vez, você me disse “fique longe dele”, e eu realmente pensei em seguir esse seu conselho... A primeira vista ele parecia alguém até que normal, mas algo em mim disse que não era...

Queria toca-lo... Tive um impulso quase incontrolável para toca-lo, mas meu choque e êxtase não permitiram, e agradeço por isso... Minha necessidade de toca-lo naquele momento foi intensa, mas meu extinto de autoproteção tambem gritava para tomar cuidado, todavia necessitava saber... Ele e mesmo real?

Meu modo de falar pode parecer estranho ou exagerado, mas para esse pequeno mundo que para mim, era meu tudo, aquele ser desafiava todos os limites entre o real e a imaginação. Como alguém poderia ser tão normal, mas tão excentrico? Talvez fosse a personalização de todas as vontades humanas. A mistura estranha do querer com a capacidade de fazer.

Masaomi-kun, já reparou em como essa realidade que você vive é tão realista quanto qualquer outra? Uma motoqueira sem cabeça e um medico com um quase obseno amor por ela; uma mulher com um repulsivo amor desesperado por seu irmão mais novo; uma garota com uma paixão obsessiva que seria capaz até de mudar completamente seu rosto por seu amado; um garoto com um repulsivo grotesco amor por uma cabeça sem corpo... Todas essas paixões destorcidas são tão fora dos padrões de etica que só assim podemos ter certeza de que é real.

Creio que não entendo esse sentimento direito pois nunca me apaixonei... Mas dizem ser um sentimento tão autodestrutivo que te faz ultrapassar os padrões da etica e da moral e por essa cidade ter tanto disso, deve ser por isso que consigo aceitar que ela existe e que não estou sonhando. Para alguém tão comum quanto eu, imaginar coisas tão reais, todavia tão estranhas assim seria impossivel.

Se for esse sentimento tao estranho que chamam de amor, realmente não sei se quero mesmo conhece-lo um dia... Não estou dizendo que não gostaria de me apaixonar como qualquer outro, mas não quero essa autodestruição e paixão incondicional tão intensa...

São tantas coisas nessa cidade que nunca vi antes e tantas pessoas estranhas e diferentes que chego a me sentir cada vez mais comum e noto o quanto meu mundo era pequeno... É um universo tão fora da minha realidade e dentro dessa sua que chego a me perguntar: o comum sou eu que nunca vi nem imaginei que essas coisas eram possiveis, ou simplesmente eles, por acharem todas essas coisas comuns? Mas talvez o estranho seja realmente eu, pois mesmo sabendo de tudo isso, ainda busco esse contato entre os humanos e essa conecção que existe entre cada um que cada vez mais, me surpreende e me encanta... Masaomi-kun, você nunca me disse isso... Que essa sua realidade era tão distorcida, que chegava a fascinar...