My Little Runner

Sob as estrelas


Minho acordou com a brisa de fim da tarde, piscou os olhos algumas vezes, tentando se livrar da sonolência; bocejou enquanto esfregava o rosto com a mão direita, seu corpo ainda não parecia disposto a se mexer, não deveria ter dormido mais que quatro horas. Ainda ficou alguns segundos encarando o teto de madeira da tenda antes de virar o rosto para olhar o horizonte. O céu passava de azul para laranja escuro e o Sol brilhava num amarelo intenso enquanto se escondia atrás das montanhas ao longe, indicando o fim da tarde. Calculou meia hora para que todos estivessem partindo em caminhada noturna.

Um gemido involuntário escapou de seus lábios ao se erguer, sentando-se sobre a terra alaranjada; estalou as costas e massageou o pescoço, pensando em quem deveria socar para que o deixassem dormir numa cama de verdade.

― Mértila de lugar ― resmungou em voz baixa, antes de passar os olhos ao redor.

Os clareanos ainda dormiam espalhados sob a tenda, pareciam bem, considerando tudo que aconteceu. Ele imaginou quanto tempo demoraria para que mais alguma porcaria do CRUEL aparecesse.

Balançou a cabeça, tirando os pensamentos da mente, e voltou a olhar os amigos. Thomas estava dormindo pacificamente em um local próximo a si, não lembrava nada o garoto moribundo que há pouco tempo agonizava com uma bala cravada em seu corpo. Salvar o amigo foi a única coisa decente que os criadores fizeram, mas isso não o fazia odiá-los menos.

Observou Newt num canto, dormia com o braço estendido sobre os olhos; Minho ainda tinha sentimentos conflitantes por toda sua teimosia, mas parte de si estava satisfeito pela conversa, não havia sido tão ruim, afinal. Apesar disso, preferia enfrentar outro temporal a admitir que Camille estava certa em voz alta, ela nunca o deixaria esquecer daquilo.

Pensar nisso fez com que seus olhos percorressem o amontoado de corpos em busca da garota, mas ao contrário do que imaginou, não a encontrou no local onde a vira pela última vez. Franziu o cenho, olhando ao redor, mas sua busca não durou muito, avistando-a logo em seguida. Camille estava sentada do lado de fora da tenda, um pouco afastada de todos, parecia observar enquanto o Sol se punha. As cores alaranjadas do céu deixavam sua pele brilhante.

Minho se perguntou há quanto tempo ela estava acordada. Tomou impulso com a mão antes de colocar-se de pé, não exitando em andar em sua direção.

Camille não saiu do lugar, de pernas cruzadas e mãos apoiadas na areia atrás de si, mas ergueu totalmente a cabeça, dobrando o pescoço para trás e encarando o garoto de pé às suas costas.

― Oi ― murmurou.

Minho ergueu uma das sobrancelhas antes de dobrar os joelhos e se agachar, apoiando o peso do corpo na ponta dos pés. Ainda atrás da garota abaixou a cabeça, o rosto agora a centímetros de distância do dela que permanecia esticado rumo ao seu. Com as mãos apoiadas na areia, ela ergueu o corpo, na intenção de roubar-lhe um selinho. Mas Minho a surpreendeu soprando em sua face.

― Ei! ― reclamou, franzindo o nariz e voltando à posição normal. Minho riu de sua cara amarrada enquanto se sentava ao seu lado. ― Por que fez isso?

― Porque foi engraçado ― disse simplesmente.

― Haha, estou morrendo de rir.

― Não seja tão rabugenta, vai ficar velha cedo ― sorriu, desviando-se em seguida do golpe que ela tentou aplicar em seu braço.

― Idiota ― murmurou, tentando soar mal-humorada, mas não protestou quando sentiu o braço forte envolvendo sua cintura e a puxando para acomodar-se entre as pernas do garoto.

―Há quanto tempo está acordada?

― Não sei, um tempo ― balbuciou, seu olhar estava perdido no pôr do Sol enquanto descansava a cabeça em seu peito.

― Caminharemos a noite toda, não podemos nos dar ao luxo de escolher a hora de dormir.

Ela suspirou, cansada.

― Não precisa me lembrar disso ― fechou os olhos, gostaria de um sono decente, de preferência à noite e em uma cama macia. ― Estou tendo sonhos ruins, é só.

― Sonhos ruins ― repetiu. ― Parece mais preocupada que o normal para ser apenas isso.

Camille imaginou se faria algum bem contar suas lembranças esquisitas, provavelmente só tornaria as coisas piores.

― Não é nada ― mentiu.

Ele revirou os olhos, a conhecia melhor que isso. Afastou-se um pouco para segurar seu queixo, fazendo com que ela o encarasse.

― Não minta pra mim, Cammie.

Ela observou suas íris negras esperando uma resposta, refletiu se deveria ter usufruído melhor de suas habilidades como atriz.

― Já disse, não é nada, só estou confusa. Ando recebendo mais memórias.

Minho franziu o cenho

―Desde quando?

― Há algum tempo.

O garoto a olhou acusadoramente

― E por que diabos não nos contou?

Camille cruzou os braços sob o peito.

― Bom, considerando que três dias atrás você não queria nem mesmo olhar para a minha cara, acho que tenho meus motivos ― alfinetou.

Minho a encara antes de desviar o olhar.

― Ok, é justo.

― Mais que justo ― ela sorri, voltando a escorar a cabeça em seu peito.

― Não aumente minha curiosidade, Cammie. Apenas diga o que se lembrou dessa vez.

Camille permaneceu em silêncio por alguns segundos, colocando a mão sobre a de Minho que ainda segurava-a pela cintura. Enlaçou seus dedos por cima dos dele antes de contar.

Falou do que viu desde o dia que resgataram Thomas, quando a mantiveram isolada dos outros; também de como Ava Paige parecia tratá-la de forma diferente, especialmente nas últimas lembranças, quando teve de escolher as imagens e em seu desentendimento com o suposto médico. Ainda sobre ele, sua aversão era sentida enquanto descrevia o homem responsável por seus experimentos.

Minho olhava para as montanhas enquanto a escutava, o Sol cada vez mais baixo.

― É isso ― ela murmurou, surpresa por ele não tê-la interrompido durante a fala.

Ergueu os olhos, esperando por uma resposta da parte dele que, após alguns segundos, suspirou.

―Bem, que grande mértila ― concluiu.

― Inspirador como sempre, Minho.

― A mulher, Ava Paige… ― começou, ignorando sua última observação. ― Pelo que disse, ela deve ser a líder de toda essa porcaria, ou ao menos é uma das figuras importantes do CRUEL. Por que acha que ela a trata diferente?

Camille balançou a cabeça.

― Eu não sei. Ela parece… ― hesitou, pensando em como descrever o sentimento. ― A forma como ela fala comigo em alguns momentos é quase… Carinhosa? ― murmurou a última palavra como uma pergunta, soando estranha em sua própria boca.

― Veja, que sorte a sua, Cammie ― disse, em ironia. O que se encaixava bem à situação, considerando que essa mesma mulher que parecia se importar com ela a jogou num buraco de verdugos com mais um bando de adolescentes.

― Eu sei o que parece ― rebateu ―, mas estou dizendo o que vi.

― Talvez estivesse fingindo.

― É… É, talvez ― respondeu, não acreditando muito na suposição.

― De qualquer forma ― Minho continuou, interrompendo seus pensamentos quanto à chanceler ―, tem algo me incomodando mais que isso.

Camille não respondeu, esperando que ele continuasse.

― Ela disse algo sobre jovens privilegiados que ajudariam a encontrar a cura...

― Imunes ― interrompeu, a palavra escapando de seus lábios antes que percebesse. Limpou a garganta quando Minho a encarou. ― Foi como ela os chamou. Imunes.

― Certo… Isso aí. Provavelmente estava falando sobre nós, mas somos imunes à quê? Até onde sei, aquele homem com cara de rato disse que contraímos a doença. E que raio de história é essa de encontrar uma cura? Achei que a receberíamos assim que essa porcaria de fase dois acabasse.

― Janson nos avisou sobre os experimentos, estamos servindo de teste para salvar a humanidade do fulgor, ou seja lá o que queiram. Talvez ainda não encontraram algo que sirva para todos usarem ou… Bem, eu não sei ― admitiu, esfregando as têmporas.

Minho bufou em descrença.

― Acredita nessa baboseira? Somos apenas fantoches no showzinho maluco deles. Você ouviu o que ele disse, os caras possuem as melhores tecnologias do planeta, podem manipular nosso cérebro e mais toda a mértila que quiserem. Por que precisariam observar um bando de pessoas andarem pelo deserto?

Camille suspirou, remexendo o corpo de lado de modo a poder abraçá-lo de volta, descansando novamente a cabeça em seu peito.

― Talvez esteja certo. Só estou tentando entender o por quê disso tudo… E o que pretendem fazer comigo depois.

Minho engoliu em seco, observando-a por debaixo dos cílios.

― Não vão fazer nada com você, Cammie.

― Não sou idiota, Minho ― murmurou, o rosto escondido entre os botões de sua camisa. ― Por que fui a única a estar nas duas clareiras? Por que recebo as memórias de volta? Você ouviu o que Tommie disse, o que quer que seja, farão novos testes comigo.

― Thomas estava quase inconsciente, aquilo não prova nada.

― Não acredito nessas coincidências.

― Onde está a trolha de pensamentos positivos que namoro? Se não te conhecesse bem, diria que está desistindo.

― Não é isso, estou preocupada, é só. E aquele homem, Dr. Ward ― se encolheu mais no abraço ao pronunciar seu nome ― Algo nele… me perturba.

Minho formou uma carranca, lembrando-se do que Camille contara.

― Você diz o mértila que te assustava quando criança?

― Talvez ainda assuste ― admitiu. ― Seus olhos eram ruins.

― O que quer dizer com isso?

― Apenas isso, ruins. Ele parecia gostar de me ver com medo. Ava Paige não parecia satisfeita com ele. Essas lembranças… É como se eu estivesse lá novamente. Me fez sentir exposta e completamente sozinha.

Minho acariciou suas costas com o polegar, esperando que ela relaxasse.

― Não está sozinha, Cammie.

― Eu sei ― disse baixinho ―, obrigada.

Ela sentiu o peito dele se mover quando o garoto riu.

― Me agradeça depois, quando eu puder deslocar o maxilar do desgraçado.

Ela não resistiu ao sorriso.

Típico. Pensou.

― Eu já ia me esquecendo ― O garoto retomou, parecendo se lembrar de algo importante. ―, tem algo que talvez te faça sentir melhor, além da minha maravilhosa presença, é claro.

Camille afastou o corpo enquanto revirava os olhos, o pequeno sorriso ainda nos lábios.

― O que é?

― Ganhou o que tanto queria, finalmente conversei com aquele idiota.

Ela demorou dois segundos antes de entender do que ele estava falando. Suas íris azuis brilharam, esquecendo-se momentaneamente dos assuntos anteriores.

― Oh, finalmente consegui pôr algum juízo nessa sua cabeça!

Foi a vez dele revirar os olhos.

― O que foi? Não acreditou na minha palavra?

― Não tenho culpa se você é mais teimoso que uma mula.

Minho estalou a língua, insatisfeito.

― Mas que droga, Camille, vai ficar repetindo isso o tempo todo? ― disse, tirando os braços que envolviam sua cintura.

Uma risada gostosa escapou dos lábios da garota perante a atitude infantil do namorado. Segurou seu rosto entre as mãos.

― Estou brincando, não fique bravo ― pediu, ainda com o canto dos lábios erguidos. Minho emitiu um barulho como “tsc” antes de responder.

― Tá, que seja.

― E então, como foi? Por favor, me diga que não ameaçou bater nele.

Ele a encarou, a diversão nos olhos.

― Você me conhece, sabe como sou pacífico.

― Minho!

― Quê? Ameaçar não é fazer, ele teve sorte.

― De qualquer forma ― balançou a cabeça, voltando ao que realmente a interessava ―, vocês se resolveram?

― Se te deixa feliz, vamos supor que sim.

Camille estreitou os olhos, sabia que não seria assim tão fácil, mas era um ótimo começo.

― Tudo bem, eu aceito isso… Por enquanto ― avisou.

Ele deu de ombros.

― Espero que esteja satisfeita, mas agora quero o que me prometeu.

Ela ergueu uma de suas sobrancelhas.

― Não me lembro de ter feito promessas.

― Vou refrescar sua memória ― respondeu, não dando espaço para Camille pensar antes de tomar seus lábios num beijo voraz. Não se opôs, ainda segurando seu rosto com uma das mãos. Em meio a toda aquela situação, sentir o gosto um do outro era gratificante.

Minho a apanhou pelos quadris, posicionando-a melhor em seu colo, mas ela jogou o peso do próprio corpo para frente, resultando com que ele deitasse de costas no chão. A garota ergueu o rosto após alguns segundos, seus fios de cabelo fazendo cócegas na bochecha do asiático. Ele passou a língua entre os lábios.

― E agora, já está se lembrando?

Camille fez sua melhor cara de desentendida, sentia-se travessa.

― Não sei do que está falando, acho que preciso de mais alguma ajuda com isso.

O garoto ergueu o canto dos lábios, exibindo seu sorrisinho costumeiro.

― Tenho de te ensinar a se comportar, trolha?

― Eu sempre me comporto ― rebateu, usando da mesma resposta que ele no dia anterior, e aproximou-se para mais um beijo.

Infelizmente, para tristeza dos dois, o momento de distração não durou muito; o barulho de resmungos e bocejos indicando o despertar dos outros clareanos. Ambos se afastaram e Minho deixou a cabeça tombar no chão. Suspirou, irritado.

― Parece que o recreio acabou.

Camille se sentou, apoiando-se nos próprios tornozelos e observou os amigos erguendo-se no interior da tenda.

― Melhor irmos logo.

***

Partiram com o pôr do Sol, assim que todos arrumaram os poucos pertences que ainda mantinham. A maior parte da caminhada foi silenciosa, iluminados pelas incontáveis estrelas que cobriam o céu e o clima, muito melhor que durante o dia, tornava todo o esforço mais válido.

Apesar da quietude, vez ou outra murmúrios de conversas eram ouvidos, mas logo dispersos pelos sons da brisa noturna. Camille observou Thomas e Brenda andando lado a lado em silêncio, ele parecia tentado a falar com ela desde que voltara do Berg.

― Hm, o que disse? ― questionou, voltando sua atenção a Newt, que há alguns minutos caminhava a seu lado.

O britânico bufou.

― Ao menos finja que está prestando atenção, trolha.

Ela sorriu, num silencioso pedido de desculpas.

― Estava distraída, é só. O que foi?

― Nada demais ― deu de ombros. ― Queria saber se está bem. Sabe, com a afirmação do Tommie sobre os experimentos e tudo o mais.

― Claro ― mentiu, forçando sua voz a soar naturalmente ―, quer dizer, não é como se eu já não esperasse isso daqueles malucos.

A quem eu quero enganar, afinal? Estou apavorada.

― Certo ― ele murmurou, não acreditando muito em suas palavras. ― De qualquer forma, estamos aqui por você.

Camille voltou a olhar para frente, consciente de sua sinceridade.

― Obrigada, trolho.

― Não por isso, Cammie ― disse, enfiando as mãos nos bolsos. ― Aliás, eu te diria que seu plano de salvar minha amizade está funcionando, mas aquele mertilento já deve ter feito as honras.

Ela sorriu, ainda prestando atenção no caminho.

― E você ainda tinha dúvidas sobre meus planos? Tantas coisas estúpidas seriam evitadas com uma boa conversa.

― Oh, eu me lembro de sua boa conversa com a nova amiga do Tommie, a melhor parte do diálogo foi quando rolaram pelo chão.

Camille lhe enviou uma carranca.

― Não me culpe se estou andando demais com vocês.

― Você bem que estava precisando de nós para completar sua vida.

Ela bufou.

― É claro que estava ― a ironia era clara, mas o sorriso ainda teimava em aparecer no seu rosto.

[…]

― Terra para Thomas ― Camille apareceu após outra longa hora de silêncio entre os clareanos, balançando a mão à frente de seu rosto e o fazendo voltar à realidade. Ele piscou.

― Ah, oi Cammie. O que foi?

― Só queria saber como vai meu sobrevivente preferido.

Thomas sorriu, girando o ombro recém tratado.

― Aparentemente, novinho em folha. Dói um pouco as vezes, mas deve ser parte da recuperação.

Ela assentiu, satisfeita.

― Fico feliz, é realmente bom te ter de volta.

― Mas e então, se divertiram durante a minha ausência?

Camille riu de nervoso, lembrando-se de todos os acontecimentos recentes.

― Coloca diversão nisso.

Ele a encarou com a sobrancelha erguida, questionando-a silenciosamente.

― Bom, é uma longa história, não vai querer saber.

Thomas deu de ombros casualmente.

― Temos a noite toda pela frente.

Camille olhou ao redor percebendo que ninguém prestava muita atenção neles, todos estavam muito ocupados com seus próprios murmúrios ou no longo caminho que ainda tinham a percorrer. Suspirou, preparando uma versão resumida dos fatos.

...

Thomas assobiou.

― Uau.

― É, uau.

― Me lembre de nunca mais deixar vocês sozinhos.

― Nem me fale, Tommie ― concordou. ― Finalmente as coisas estão voltando aos eixos.

― Isso me surpreende, levando em conta o cabeção teimoso que é seu namorado.

― Não deixe ele ouvir você dizendo isso.

O garoto emitiu uma risadinha.

― Não vou.

― Falando em namorados… ― iniciou, querendo mais que nunca matar sua curiosidade. ― Você e Brenda estão se dando muito bem, não é?

Thomas a olhou pelo canto dos olhos.

― Somos amigos. Você sabe.

― Oh, certo, Teresa.

― É.

― Desculpe, só achei que estavam próximos.

Um longo momento de silêncio se seguiu.

― Ela tentou me beijar ― declarou, quando já estavam ficando desconfortáveis.

Camille deixou que seu queixo caísse, olhando-o incrédulo.

― Ela o quê?

― Shh, fale baixo, trolha! ― olhou ao redor, vendo que algumas cabeças se viraram em sua direção.

― O que você fez? ― perguntou, voltando a falar baixinho.

― Eu… a rejeitei.

Ela olhou para frente, ambas as sobrancelhas erguidas.

― Bem, uau.

― Ela pareceu magoada no início...

― Não me admira, não é?

― Eu só não podia… Não agora. Não com toda a coisa de Teresa.

― Tudo bem, não estou julgando nem nada ― explicou-se. ― Deveria conversar com ela, manter a amizade ou sei lá. Ela ficou preocupada com você, sabe, depois do tiro.

― Eu sei, estou pensando em uma forma de falar sem parecer um idiota. Ela é uma boa pessoa.

― É o que parece ― admitiu, lembrando-se dos pequenos momentos em que tiveram a chance de conversar. ― É bom ter outra garota por aqui.

Thomas balançou a cabeça, talvez Brenda de fato tenha vindo para ficar. Um minuto se passou sem que trocassem nenhuma palavra, ouvindo apenas o som dos calçados contra a terra.

― Me pergunto onde será que ela está ― comentou, fazendo Thomas olhá-la interrogativamente. ― Digo, Teresa.

―Ah ― desviou o olhar, por um momento pareceu perturbado com algo. ― Eu não sei.

Camille franziu o cenho.

― Tem algo te incomodando?

Ele voltou-se para ela, claramente forçando um sorriso.

― Estou preocupado, é só.

O encarou por um tempo, não acreditando realmente naquilo, mas deixaria suas perguntas para depois. Afinal, a caminhada sob aquele mar de estrelas ainda estava longe de acabar.

.

.

.

.

.

Camille não soube descrever seus sentimentos quando ela finalmente apareceu, acompanhada com quem um dia chamou de amigas. Num minuto caminhavam, já exaustos pela longa jornada desde o anoitecer, e no outro, com os primeiros raios de Sol iluminando o deserto, estavam cercados. Rostos conhecidos, ex-companheiras, cerca de 20 garotas da clareira, todas rodeando-os, carregando semblantes que até então ela não conhecia. Todas apontando armas para eles. E no centro, com a expressão mais fria que poderia demonstrar, estava Teresa, pronta para massacrá-los.