A tarde estava úmida, quente mas úmida, havia chovido bastante na noite anterior, os jardins estavam belos e cheiravam maravilhosamente bem com as flores e plantas recém-regadas pela chuva. O dia estava lindo, qualquer um estaria errado em não concordar, as pessoas estavam felizes, bem, quase todos.

Em um castelo, não muito longe da floresta, um velho rei estava com os poucos fios grisalhos que possuía nas mãos, estava frustrado, triste, e ninguém compreendia o sofrimento do rei.

Faziam hoje, exatos doze anos que sua esposa havia morrido. Não era justo, em um dia tão triste e pesaroso, o clima estar tão bom, mas o rei havia aprendido isso da pior maneira, a vida nunca era justa. Não era justo ele perder a esposa, a mulher que mais amo na vida, não era justo seu primogênito ter fugido com uma camponesa, e não era justo, ver sua filhinha, cada vez mais triste, sua pequena Allie não merecia isso, era muito jovem quando a mãe havia morrido, por isso não tinha tantas lembranças como Rick, mas ainda sentia falta de uma presença materna na vida.

Já havia tentando se casar novamente, mais pela felicidade dos filhos do que pela sua própria, mas a menina havia falado com o pai que não precisava casar-se sem querer, só por causa dela, e Rick, quando ainda estava em casa tinha concordado com a irmã.

Agora, anos depois, Allie já era uma adolescente, quase uma mulher, madura e crescida, que sabia cuidar muito bem de si, rebelde, mas todos o são nessa fase da vida, e definitivamente não queria aprender os ofícios de ser uma rainha. Queria apenas cavalgar e pescar a tarde toda, e o pior, sempre com a companhia daqueles camponeses.

Os Schmidt já foram uma família de grande prestígio no reino, mas desde que o pai, Kent, havia perdido tudo em um jogo de apostas, eles foram rebaixados a meros camponeses, mas a Sra. Kathy tentava com afinco dar o melhor para seus três filhos, era difícil, porém ela havia nascido podre, ficara rica por causa da fortuna do marido, mas assim que este perdeu tudo no jogo, e faleceu meses depois, ela tinha voltado a trabalhar para terminar de criar seus meninos.

Kendall e Kevin eram garotos adoráveis, de sorriso fácil e boas maneiras, mas Kenneth, o gêmeo de Kendall era o que se pode chamar de “ovelha negra”, tinha puxado o que há de pior no pai, conquistador, malandro e jogador, já havia prometido casamento a metade das donzelas da vila, e por isso era difícil confiar no loiro. Os outros dois eram mais fáceis de lidar, assim como a mãe, não viam problema em trabalhar e lutar pelo que ansiavam, mas Kendall o mais velho, sempre tivera uma paixão secreta pela princesa Allie, ela e seus irmãos eram muito amigos, quando a rainha ainda era viva, ela saia para passear com a filha e a levava à floresta, lá se conheceram e quase instantaneamente viraram amigos, mas ai veio a guerra.

A horrível guerra contra o reino de Boots, que quase liquidou tudo que eles conheciam e chamavam de lar, essa guerra tinha levado a amada rainha Brittany e muito dos melhores guerreiros do rei. Todos ainda sentiam a tristeza e dor que havia ficado para trás.

O rei Richard olhava pela janela do salão com pesar, daqui a alguns meses Allie completaria 18 anos, e não estava nem um pouco preparada para assumir o posto da rainha, tinha que fazer alguma coisa para resolver isso.

Ocorreu-lhe uma ideia, era insana, mas a melhor solução que conseguia ver, chamou Emmy uma de suas conselheiras e mandou-a chamar Allie e entrar em contato com Rick.

— Mas, meu senhor, o príncipe Rick está muito longe, as últimas notícias que tive, foram que estava velejando com a moça Cecília.

— Cuide disso, por favor, Emmy, você é a pessoa que mais confio para a segurança dos meus filhos e do reino.

— Sim, senhor.

A ruiva lhe faz uma reverência e sai apressada do salão, para encontrar a princesa e mandar alguém atrás do príncipe.

Allie estava em seu quarto, se preparando para ir cavalgar com Rubi quando alguém lhe bate à porta.

— Príncipe Carlos, que surpresa inesperada – salda o rapaz moreno que espera no corredor.

— Se fosse esperada, não seria surpresa, Allie – o moreno sorri de canto, no que a garota apenas revira os olhos e abre espaço para o rapaz entrar. – Não é apropriado, uma menina sozinha com um rapaz em seu quarto.

— Mas não vou ficar no quarto – a garota da uma piscadela para o príncipe e segue para o estábulo, para pôr a sela em Rubi, sua égua branca.

— Vais cavalgar comigo, nobre príncipe?

— Não, nobre alteza, vim somente para tratar assuntos com vosso pai. – E com uma reverência, o rapaz sai de perto da garota, se dirigindo ao salão do rei.

— Querias falar comigo, majestade?

O rei desvia o olhar dos jardins e o concentra no rapaz que adentra à sua sala.

— Jovem Carlos, como estás? – o rei se levanta do trono e aperta a mão do moreno sorrindo afetuosamente.

— Bem, majestade, apesar de tudo, estou bem.

— E como andas seu irmão?

— Javi já teve dias melhores, mas ele é forte, está tentando com afinco fica de pé, está cada vez mais difícil, mas meu irmão não deiste fácil.

— E aceitas uma dose, meu rapaz? Este é bem envelhecido.

— Não senhor, vim somente para tratar o que o senhor havia me pedido.

— E conseguiu? – os olhos do velho brilham levemente com a esperança.

— Não trago boas notícias, senhor.

Com a voz mansa e pesada, o jovem príncipe relara ao rei os resultados de sua busca.

— Tudo bem, garoto, apesar de tudo, você, Javi e Antonio estão de volta, vivos e bem. Mas fora isso, tenho outra proposta, a fazer ao senhor e a vosso pai.

— E que proposta vem a ser essa, majestade? – o moreno olha desconfiado o velho, que tinha um olhar quase louco, com seus poucos fios grisalhos na cabeça.

— Traga seus pais e irmãos para o jantar de hoje, que os direi meu jovem – o senhor aperta fervorosamente a mão do rapaz, finalizando a conversa.

O moreno lhe faz outra reverência e sai da sala, passeando pelo castelo, até encontrar algum mensageiro para chamar seus pais para o jantar que o rei havia convidado.

O caçula dos Pena passou o resto do dia indagando sobre qual seria a proposta do Rei Richard. Em suas andanças pelo castelo, esbarra-se com uma das criadas, esta sorri e lhe pede desculpas corando, e voltando ao seus afazeres.

Enquanto o príncipe de Beckendorf aguardava a notícia do mensageiro e esperava o jantar, a princesa de Wets cavalga velozmente em direção a floresta, para encontrar-se com os irmãos Schmidt, mas estranhou quando parou no ponto de encontro e lá tinha apenas Kendall.

— Gazela, onde estão seus irmãos?

O loiro sorri e lhe mostra a língua.

— Kevin ficou para cuidar de nossa mãe, que está com dores de cabeça, e sabe-se Deus onde Kenneth se meteu.

— Então hoje, seremos apenas você e eu? E claro, o riacho.

— O plano é esse – o loiro sorri de canto, mostrando as covinhas na bochecha esquerda, que arranca suspiros por toda a vila.

— Vamos logo então, molenga.

Em um pulo, Allie volta a montar em Rubi e sai em disparada rumando ao pequeno riacho em que pescavam e passavam as tardes ensolaradas como essa, com brincadeiras e ás vezes flertes por meio de Kenneth, mas este não tentava nada além disso, pois sabia da secreta paixão que seu gêmeo matinha pela princesa e não queria novamente chegar em casa sem um dos dentes.

E apenas com a companhia do loiro, Allie começou a reparar em pequenas coisas que nunca antes havia pensado, em como o sorriso dele era fácil de ver, e muito belo, os dentes certos e brilhantes. O olhar perdido e apaixonado que dirigia às arvores quando falava, o fato de olhar no fundo de seus olhos quando ela falava, o jeito que seus músculos não muito fortes se movimentavam ao jogar a rede no rio, e se viu pensando em ser abraçada por aqueles braços. Balança a cabeça ao perceber o absurdo que pensava, e olha seu reflexo no riacho, e uma morena de cabelos curtos, olhos castanhos radiantes e corada a olha de volta.

— Então, já está ficando tarde, vamos voltar?

— Você acha? O sol ainda está alto.

— Sim, mas tenho que falar algo com... com o príncipe Carlos – ela fala o primeiro nome que lhe vem a cabeça e se arrepende na mesma hora, ao ver o olhar triste e caído que o loiro desvia para um arbusto espinhoso que cresce ali perto.

— Claro, então, vamos logo, você não pode perder essa conversa que deve ser importante.

— Kendall eu... – ela começa a tentar se desculpar, mas ele já se levantava, para montar em seu cavalo.

Eles cavalgam até a entrada da vila em silêncio, Allie tenta dize mais alguma coisa quando chega. Mas ao olhar para o loiro, sente que qualquer coisa que diga só vai piorar, então apenas acena com a cabeça e volta ao palácio.

A morena não entende porque se sente tão mal por ter comentado sobre o príncipe com o loiro, sempre foram amigos, nunca houve nada entre eles ou com os outros irmãos, por que esse pesar no peito?

Allie suspira enquanto tira as rédeas de Rubi e lhe entrega uns torrões de açúcar.

— Por que isso em Rubi? Por que é tão estranho?

— O que é estranho?

A morena pula ao ouvir a voz atrás de si.

— Príncipe Maslow, quase me matas de susto.

— Perdoe-me alteza, não era a minha intenção – o moreno sorri, mas seu rosto não demonstra arrependimento algum.

— O que fazes aqui? Quantas visitas estou a receber hoje, sinto-me lisonjeada.

— Além de mim, Alison e meus pais, mais alguém veio lhe visitar?

— o príncipe Carlos veio hoje cedo para tratar assuntos com meu pai.

— Ah – e novamente ela se sente mal por falar do herdeiro dos Pena com alguém, o que era? O que estava acontecendo consigo? E ao ver as feições cabisbaixas do príncipe de Oir, ela fica ainda mais pesarosa do que quando fora com o camponês, Allie tinha “uma quedinha” pelo nobre. Mas quem não teria?

Com os olhos castanho esverdeados, os cabelos escuros pouco abaixo das orelhas e um sorriso arrebatador, não tinha como não sentir-se encantada com o jovem.

— Princesa Allie? – chama Emmy adentrando ao estábulo.

A garota novamente pula, corando, afastando-se do nobre, não tinha reparado que estavam tão próximos, seus narizes quase se tocavam.

— O rei a espera no salão, e ao senhor também, príncipe James.

O rapaz concorda com a cabeça, pisca para a morena, como se dissesse que continuaria depois e segue a conselheira do rei até o salão no palácio.

James. Allie suspira ao saber o verdadeiro nome do príncipe, ele sempre dirigira a si próprio como Maslow, ela pensava que este era seu nome, apesar de achar estranho que alguém não tivesse um nome, e somente o sobrenome.

Faz um último carinho em Rubi e sengue lentamente Emmy e o príncipe ao salão do rei.

A sala de jantar do castelo era grande, mas precisou e mais mesas para acomodar todos os convidados do rei. O Rei Richard havia convidado o Rei Mike de Oir, o Rei Carlos de Beckendorf e o Rei Jeffrey de Falls, e todos eles vinham com suas esposas e filhos. No total 17 pessoas estariam presentes para o jantar, não havia tantas pessoas em um jantar assim, desde o suposto noivado do príncipe Rick, que dias depois fugira com a plebeia.

— Então o rei toca o cálice com um garfo, chamando a atenção dos presentes, após o fim do jantar. – Chamo-os aqui, pois tenho uma proposta. Ali minha querida, poderia ir ao seu quarto? Depois falar-me-ei contigo.

— Claro majestade – a princesa faz uma reverência para todos os presentes e sai para seu quarto estranhando o fato.

Por que seu pai chamaria todas aquelas pessoas? O que ele lhes proporia? E por que lá não podia estar presente? Allie adentra seu quarto e se joga na cama, pegando sua caderneta, para continuar escrevendo o romance que havia começado no verão passado.

— Agora que minha falha não mais pode nos ouvir, faço-lhes uma proposta, mas antes, preciso que prometam não comentar nada com ela.

Os reis, rainhas e príncipes acenam com a cabeça concordando, as princesas Presley e Alison dão de ombros, como se a informação em nada fosse especial para elas.

— Bom, como já sabem, minha pequena Allie está perto de completar seus 18 anos, e como meu filho não está aqui para assumir seu posto como rei, ela terá que carregar esse cargo, então, o que lhes proponho é, casamento - o rei dá um tempinho para seus convidados absorverem a notícia. - Caso minha filha com um de seus herdeiros, aquele que for digno dela, e que ela esteja de acordo, e este poderá, junto a mim, governar Wets. O que acham?

— Mas como seria esse casamento? – pergunta o rei Jeffrey de Falls.

— Como qualquer outro, espero eu, um casamento pleno e feliz, em que poderão encher esse velho rei de netos que sejam futuramente responsáveis pelo reino.

— Como a conquistaremos se ela não pode saber desses planos, majestade? – indaga o príncipe Philip de Oir.

— Cortejem-na, ela não deve saber dos planos finais, que é o casamento, mas o senhores podem tentar buscar o coração de minha filha, deixando claro que apenas um de cada família deve tentar, pois assim, não serão tantos concorrendo e claro, é também uma forma de unirmos mais nossos reinos. Lembrando claro, que os candidatos serão convidados a passar um tempo em minha casa, como meus hóspedes especiais e que contarão com o apoio e a proteção de meu reino. O que me disem?

Os reis entreolham-se e concorda, se algum ganhar, terão um forte aliado, se perderem, não terão nada grande a perder.

— Mas agora a pergunta, dos reinos de Oir e Beckendorf, quais serão os candidatos?

— Eu escolho meus mais velho, Logan – diz o rei Jeffrey, levantando a mão. – Se for mesmo para se casar e assumir o posto de príncipe-regente, ele é o que está mais preparado.

— E eu escolho meu caçula, Carlos – rapidamente completa o rei Carlos. – Javi está se recuperando, Andres está noivo, e Antonio estuda comigo para ser rei de Beckendorf.

— Certo tudo resolvido então, vocês Carlos, James e Logan aceitam? - os príncipes concordam com um sorriso. – Vocês são bem vindos em minha casa, e boa sorte, como pai dela, conheço-a bem, vocês precisarão de sorte para conquista-la.

Com um brinde, os reis concordam sorrindo e os príncipes voltam aos seus reinos para buscar alguns de seus pertences para morarem temporariamente no reino de Wets.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.