My Fallen Angel Of The Fog

Unidos no amor e no sofrimento


O dia custava a passar e eu aguardava a noite chegar para encontrar-me com Jezebel. O esforço para controlar minha ansiedade foi em vão e ao deixar minha casa, fui até o local onde ele me esperaria. Caso eu fosse seguida, quem quer que fosse não viveria para dizer qual arma eu utilizei para eliminá-lo do meu caminho, mas felizmente minhas armas foram um peso para mim.

A expectativa do que poderia acontecer naquela noite acabava com minha sanidade e a lembrança do beijo que Jezebel havia me dado me atordoava. Eram sensações desconhecidas e insistentes que quase me fizeram esquecer o mundo se não fosse a voz dele me dizendo:

-Pensei que não viria. - O modo como Jezebel olhou para mim parecia diferente, como se estivesse lendo cada detalhe meu. Acabei por perguntar:

-Me atrasei muito? - Rapidamente, ele me respondeu

-Não, mas eu não achei que procuraria por mim. - Eu ainda tentava entender a razão de minha insistência, mas não havia sentido em tentar ser racional agora que eu já me havia decidido agir levada pelas emoções. Tudo o que eu havia começado a sentir era novo e me deixava apreensiva, principalmente porque eu não sabia quais seriam os resultados de meus atos.

-Já que você veio me ver mesmo sabendo do que pode acontecer, é bom que você saiba algumas coisas sobre mim.

-Vai correr o risco de confiar em alguém que você nem ao menos sabe o nome? - Perguntei, esperando que Jezebel também tivesse agido por impulso ao aceitar que eu tivesse começado a manter um contato.

-Acredito que é seu dever dizer seu nome, afinal de contas, você deveria ter sido morta por saber muito. -Inevitavelmente, comecei a rir diante da idéia de morrer por causa dele, mas ao ver que ele não entendeu o motivo do meu riso, eu disse:

-Se você quer tentar me silenciar, eu recomendo a você que esteja preparado para encontrar em mim uma adversária implacável. Não morrerei tão fácil assim, mesmo que seja por suas mãos. -Eu me continha para que não houvesse a necessidade de uma luta nauqele lugar, mas para minha sorte um cão que estava machucado passou perto de nós e me abaixei para pegá-lo e junto do pobre animal, senti as mãos de Jezebel quase tocando as minhas.

-Precisamos tratar dele imediatamente. Caso contrário ele morrerá dentro de algumas horas. -Concordei com ele perguntando:

-Para onde vamos levá-lo?

-Só precisamos atravessar a rua para chegarmos à minha casa. -Ao ouvir o tom preocupado em sua voz, percebi que parecíamos iguais: amávamos tudo o que não fosse humano, pois a humanidade só trazia desgosto com suas traições e mentiras. Eu desprezava a capacidade das pessoas se jogarem umas contra as outras por motivos triviais e a incapacidade de se colocarem no lugar das outras, pois eu mesma já sofri pelas mãos de pessoas assim.

Depois de conseguir salvar o cachorro, fiquei observando Jezebel em silêncio. Ele parecia se sentir bem em ter conseguido salvar aquele ser tão frágil e ao se voltar para mim, disse:

-Mesmo que você tenha me ajudado, ainda não escapou de seu dever de me dizer seu verdadeiro nome.

-Eu sei. -Respondi, lembrando do propósito que me levara a vê-lo naquela noite. -Me chamo Ayame Kurosawa. O nome que usei hoje mais cedo não tem muito a ver comigo.

-Talvez signifique que você está longe de algo que é importante para você, afinal Haruka significa distância, não é?

-Sim, é isso mesmo. -respondi. -Deixei meu país natal há dois anos para viver aqui com meus pais, mas preferia ter ficado lá.

-Há alguma coisa que a impeça de voltar, Ayame?

-Só penso em ficar se eu tiver um bom motivo. -respondi-Meus pais morreram há algum tempo e a única pessoa com quem eu consigo falar é você.

-Sendo assim, talvez você tenha um bom motivo. -Eu já sabia que poderia ser perigoso estar ao lado de Jezebel, mas naquele momento era tudo o que eu mais desejava e não abriria mão de estar lá, mesmo que eu morresse depois.

-Provavelmente você está certo- respondi em um tom tão baixo que mal pude ouvir minha própria voz- Mas eu também não posso ficar mentindo para mim mesma, achando que as coisas podem ser do jeito que eu imagino.

-E se elas forem como você imagina, mesmo que só por um dia? -a pergunta dele com certeza me fez ficar vermelha e quando eu tentei voltar a mim, me deparei com o rosto dele tão perto do meu que eu podia sentir sua respiração. Sem pensar muito, acabei beijando-o e ao perceber que era correspondida com igual intensidade, acabei por ceder aos meus desejos e deixei que ele me tomasse em seus braços e me tirasse de onde estávamos.

Os sentimentos que acabei descobrindo ocultos em mim me revelaram meu melhor motivo para permanecer nesta terra fria e enevoada. Quando fui cuidadosamente colocada sobre a cama macia de Jezebel, senti suas mão percorrendo meu cabelo, indo em direção aos meus seios e terminando na parte baixa de minhas costas, para desabotoar meu vestido e me livrar do espartilho apertado que eu usava. Enquanto isso eu desabotoava sua camisa aos poucos e quando eu o abracei forte, ouvi um gemido de dor. Desfiz o abraço e ao perceber as marcas em suas costas, perguntei, preocupada:

-O que fizeram com você? Por que você carrega essas marcas?

-Essas marcas foram feitas pelo meu pai. É a única coisa que me une ao Cain, a quem odeio tanto. -O abracei com cuidado e disse:

-Se ele deixar de existir provavelmente você não sofra mais.

-Ainda assim, meu pai lamentaria pela morte dele e se ele soubesse que eu a conheci, você morreria por isso.- A idéia de ver alguém me matando provavelmente o deixou assustado, a julgar pelo abraço apertado que ele me deu, enquanto dizia a mim:

-Não deixarei que façam nada contra você, nem que eu precise morrer por isso.

-Também não permitirei que tentem nada contra você- respondi, abraçando-o com uma ternura que até então eu desconhecia. Acho que pela primeira vez eu entendia o que os poetas dscreviam em belos versos, outrora indigestos para mim.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.