Alice
Fui acordando aos poucos e tomando consciência da realidade. Sentia alguém deitado a meu lado, supos ser o Jasper. Abri os olhos aos poucos e surpreendi-me ao perceber que não era o Jasper que estava ao meu lado mas sim a minha mãe. Ficámos as duas em silêncio, eu por ainda estar surpresa e ela para me dar espaço. Passado um pouco, ela tomou iniciativa e dá-me um beijo na testa enquanto passava a mão no meu cabelo completamente despenteado.
- Acho que nunca dormi nem acordei ao teu lado, mãe. Eu era proibida de me deitar na tua cama. – Comentei sem pensar realmente naquilo que estava a dizer. Era apenas uma lembrança, não muito boa. Arrependi-me imediatamente de ter dito o que disse, mal vi os olhos da minha mãe a encherem-se de lágrimas. Eu sabia, que ela, agora, se arrependia profundamente do que me fez sofrer na minha infância.
- Perdoa-me filha, eu sei que no passado, fui muito má contigo. Se alguma vez tivesse a possibilidade de poder voltar atrás no tempo, eu voltaria que faria tudo de maneira diferente. Eu recompensar-te-ia de todo o sofrimento que te fiz passar. Iria encher-te de mimos e deixar-te-ia dormir todas as noites comigo. Mas isso, não irá acontecer, filha. E, agora, mesmo que eu quisesse, o Jasper nunca me deixaria dormir no meu de vocês. – Disse ela com a sinceridade a brilhar-lhe nos olhos. Eu já sabia que ela se arrependia mas sempre ficava feliz quando ela mo dizia. Sorri para ela e abracei-a o mais forte que consegui tentando conseguir expressar toda a felicidade que estava a sentir. – Está tudo bem, filha? – Perguntou preocupada. – Tive que ir embora ontem, a Cynthia precisou de mim, mas, querida, isso não significa que eu não dei importância ao que conquistaste ontem, que eu não estava feliz e orgulhosa por ti. – Disse. – Sou tua mãe, fico feliz só em te ver feliz, querida. Mas sou mãe dela também, mesmo que ela me tenha desprezado quando me separei do vosso pai. Se foste capaz de me perdoar depois de tudo o que eu te fiz, como eu poderia negar o perdão dela? – Disse ela. Eu percebia o que ela queria dizer. Sabia que a Cynthia também é filha dela, mas a Cynthia foi filha dela toda a vida e eu só sou filha dela há alguns anos. Eu tinha medo de perde-la.
- Mãe, prometes que não me vais esquecer? Que me vais amar mesmo tendo a Cynthia? – Perguntei fragilizada. Eu não queria que ela me deixasse de amar, e me esquecesse.
- Nunca serei capaz de deixar de te amar, Alice. – Declarou ela com convicção. – És minha filha, a minha menina. Tenho a noção que demorei tempo demais a perceber isto, mas agora é para sempre, filha. – Disse ela fazendo-me sorrir abertamente para o que ela disse. Ela amava-me e isso chegava.
- O que houve com ela? – Perguntei timidamente, querendo saber porque é que a minha mãe se encontrava naquele estado.
- O mesmo que aconteceu contigo, Alice. – Disse. – Ela descobriu que estava grávida e foi contar ao pai sobre a novidade. Mas ele enlouqueceu, discutiu com ela e insultou-a, depois no fim, expulsou-a de casa. Ela ficou péssima, ao contrário de ti, ela o adorava, os dois não se desgrudavam. O teu pai era como um herói para ela, foi a maior deceção da vida da tua irmã. Só quando a realidade lhe bateu no nariz é que ela percebeu o quanto amargo e egoísta, ele é. E que ele não ama ninguém a não ser ele e o seu “status”. – Explicou a minha mãe. Mas não tinha percebido porque é que ele ficou tão irritado. Comigo ainda compreendia, agora com a Cynthia, não.
- Mas porque é que ele ficou tão irritado? – Perguntei. – Cynthia é bem mais velha do que eu quando engravidei da Amber e ela já é independente. Já tirou um curso na universidade e já trabalha. Porque é que ele fez isso? – Quis saber.
- Foi o que ela pensou. Ela pensou que a situação dela é muito diferente da tua e por isso, ele iria aceitar. – Disse a minha mãe. – Acho que o vosso pai associa a infelicidade dele à minha gravidez. Ele deve pensar que engravidar antes de casar, destrói a vida de uma pessoa, como aconteceu comigo e com ele. Sei que é complicado, mas também sei que filhos são uma bênção. Eu agora, sei disso. Ele não faz a menor ideia da filha maravilhosa que tem. – Disse ela alisando os meus cabelos.
- Então ele a ama e não quer que ela seja infeliz? – Perguntei tentando perceber toda a situação.
- Sim. – Respondeu ela. – De certa forma, sim. Mas também, ainda há a questão de ele ter de explicar à sociedade porque é que a filha que ainda não casou está grávida. Ele acha que irá perder o “status”, perder a sua honra, ele ainda não percebeu que já ninguém se interessa por isso. – Disse isso. – No fundo, Alice, eu acho que ele também sabe que o erro foi nosso e não teu, meu amor e quando ele se enfureceu foi porque te ama, porque sabia que transformámos a tua vida num inferno e não queria que tu sofresses mais.
- Bem lá no fundo, não é mãe? – Perguntei tristemente.
- Sim. – Respondeu ela, acariciando a minha bochecha. – O que é ótimo para mim, porque assim as minhas meninas são só minhas. – Disse ela sorrindo, beijando de seguida a minha testa. Sorri também para ela. Ela aconchegou-me bem pertinho dela e continuou a alisar os meus cabelos. – Mary Poppins! – Exclamou ela assim que viu o livro nas minhas mãos. – Não sabia que tinhas guardado este livro. Acho que tinhas uns cinco anos quando te comprei esse livro numa pequena feira que faziam antigamente. A Esme tinha comprado um para a Rose e tu chateaste-me tanto que eu acabei por te comprei um também. Escolhi este porque sempre adorei o filme.
- É o meu momento feliz. – Disse simplesmente.
- Como? – Perguntou ela não percebendo o que eu queria dizer com aquilo.
- Eu não me lembro de deitar-me na tua cama ou ser abraçada ou beijada por ti. Mas lembro-me que uma vez fiquei doente e lembro-me que fiquei internada, por isso devia ter sido algo grave. Recordo-me de um quarto estranho e dos lençóis demasiadamente brancos. Tu e o pai discutiram e depois ele foi-se embora e eu fiquei com medo que me fosses bater, porque começaste a chorar. Tinha medo de ter feito algo de errado. Então eu comecei a chorar, porque sabia que me ias bater e porque sabia que ninguém me amava. Mas entraste no quarto e pegaste neste livro e leste para mim e depois seguraste a minha mão até eu adormecer. Lembro-me que quando estava quase a dormir, beijaste-me a testa e desejaste-me uma noite tranquila. – Expliquei. – Então quando me sinto triste e desesperada por saber que ninguém me ama, eu agarro-me a este livro e fico repetindo para mim mesma que um dia me amaste. Foi apenas uma vez, mas foi o meu momento mais feliz.
- Porque é que ele está aqui? Porque achas que ninguém te ama, querida? – Perguntou a minha mãe ao fim de uns minutos de silêncio. Eu não respondi, apenas escondi a minha face no colo da minha mãe, tentando controlar o choro. – Olha para mim, filha. – Pediu. - Eu jamais deixarei de te amar, mesmo que eu tenha mais cem filhos. Nada vai mudar porque a sua irmã voltou para o meu lado. Meu amor por vocês, não vai mudar. Ninguém irá conseguir mudar esse amor. Eu fui tão sortuda por me teres aceitado de volta na tua vida, por me teres permitido que eu te amasse. Eu jamais irei desperdiçar isso. – Agarrei-me mais a ela e afundei a minha cara nos seus cabelos e chorei. Chorei toda a angustia que estava a sentir até agora.
- Prometes? – Perguntei entre soluços.
- Prometo, querida. – Disse ela convincentemente. Fiquei mais um tempo agarrada à minha mãe, e chorei mais um pouco, mas passou e toda a angústia e desespero que estava a sentir desapareceram quando tive a certeza que ela continuar-me-ia a amar, independentemente se a minha irmã voltasse para ela ou não. – Agora, vais tomar um banho, vestires uma roupa e vamos para baixo tomar o pequeno-almoço. Assenti com a cabeça e levantei-me para ir tomar banho. Tomei um duche rápido e depois vesti um vestido leve mas bonito para andar por casa. Quando voltei para o quarto a minha mãe já não estava lá, então decidi descer. Ouvia risos e vozes vindas da cozinha. Fui para lá seguindo as vozes. Quando cheguei lá, estavam todos a tomar o pequeno-almoço juntos.
- Bom dia! – Disse assim que entrei na cozinha
- Bom dia! – Disseram todos. Sentei-me ao lado do Jasper e comecei a comer. Assim que foram acabando de comer, a minha mãe levou as meninas e o Will para a sala e fiquei eu e o Jasper sozinhos na cozinha.
- Dormiste, Jasper? – Perguntei passando os dedos pelas suas olheiras.
- Não, não consegui. Estava preocupado contigo. – Respondeu, abraçando-me pela cintura. Mas está tudo bem, só queria ver-te bem e neste momento estás bem, logo eu estou bem. – Disse ele sorrindo. Sorri também para ele.
- Amo-te, Jazz. – Declarei beijando-o apaixonadamente.
- Também te amo, Lice. – Respondeu ele, correspondendo ao meu beijo.