Acordei a meio da noite, com barulho no piso de baixo. Eu tinha um sono meio leve, por isso acordava facilmente com barulhos. Olhei para o relógio e vi que ainda era de madrugada, ainda nem passavam das quatro da manhã. Levantei-me da cama com cuidado para não acordar o Jasper, vesti o meu robe e saí do quarto. Desci as escadas calmamente e fui até à fonte do barulho, a cozinha. Estranhei estar tudo às escuras. Entrei na cozinha e acendi a luz.
- Alice, que susto! – Disse a Esme levando a mão ao peito. Ela parecia estar bastante concentrada a pensar em algo quando entrei na cozinha.
- Desculpa, Esme. Não te queria assustar. – Desculpei-me chegando-me ao pé dela. – É que acordei com barulhos no piso de baixo e vim ver o que era.
- Querida, desculpa se te acordei, não era a minha intenção. – Disse a Esme.
- Não faz mal, Esme. De qualquer maneira, estou com sede. – Respondi, indo tirar um copo do armário para beber um pouco de água. – Insónias? – Perguntei-lhe. Ela não parecia estar muito bem.
- Sim, não consigo adormecer. Por mais que me esforce, o sono não vem. – Respondeu, suspirando no final. Ela parecia cansada, não gostava nada de ver a Esme assim. Eu sentia que algo estava errada que a falta de sono não eram meras insónias. Acabei de beber a água e voltei para o pé dela. O olhar dela estava distante e triste. Havia uma centelha de outro sentimento a pairar no olhar dela, mas ela conseguia esconde-lo muito bem. Eu conhecia muito bem aquele olhar, sabia que era o olhar que eu tinha quando não conseguia dormir devido ao medo. A Esme estava com medo e por isso é que não conseguia dormir. Também, não era para mais. O que ela tinha passado, hoje à tarde, foi horrível. Era normal que ela ainda sentisse um pouco de medo de que voltasse a acontecer, que não se sentisse segura.
- Medo? – Perguntei simplesmente enquanto envolvia as minhas mãos nas dela. Ela olhou para mim surpreendida e depois baixou o olhar. – Esme, é completamente normal, teres medo. Eu também teria, acredite. O que passou hoje à tarde, foi horrível, é normal não se sentir segura.
- É irracional, Alice. Eu sei que não corro perigo, sei que estou segura, mas o medo ainda persiste, e faz com que eu não consiga dormir. – Explicou.
- Eu sei como é, Esme. Eu já senti isso. Já passei por isso, quando a Maria ainda não estava presa. Eu passava noites de seguida em claro, só porque o medo não me deixava dormir. Eu acabava por ficar tão exausta que chegava a uma noite que a exaustão era maior que o medo e eu acabava por adormecer. Eu sabia que em casa estava segura, que ela não ia fazer nada, mas pensar apenas da possibilidade de ela fazer algo, aterrorizava-me e fazia com que eu perdesse o sono. – Expliquei à Esme. – O medo é algo irracional e algo que é difícil de controlar. Podemos dizer as vezes que quisermos que não temos mais medo mas ele ainda persiste.
- Eu não quero ficar noites em claro e só adormecer devido à exaustão. Não quero viver com o medo, Alice. – Disse ela. – Como ultrapassaste isto? – Perguntou olhando-me diretamente nos olhos.
- Com a ajuda do Jasper. – Respondi com um sorriso apaixonado no rosto. – Ele começou a apanhar-me de noite acordada, principalmente nas noites em que eu saía da cama. Ele ficava extremamente preocupado, sobretudo quando eu estava grávida do Will. Ele ouvia os meus medos, ouvia porque eu estava acordada e depois levava-me para a casa, aconchegava-me nele, acalmava-me um pouco e fazia com que eu adormecesse. E só adormecia quando tinha a certeza que eu já dormia. Com o tempo, fui aprendendo a controlar minimamente esses medos. Às vezes, já sabia que estava demasiado nervosa para dormir, então aconchegava-me o mais possível a ele e acabava por adormecer só porque o estava a sentir. – Expliquei-lhe. – Acorde o Carlisle, fala com ele, desabafa e vais ver que ele vai compreender e vai agir como o Jasper. Ele vai querer que durmas e vai tentar acalmar-te e fazer com que te sintas protegida e em segurança. Vais acabar por acalmar e adormecer. – Falei, sorrindo no final. A Esme ouvia-me atentamente.
- Obrigada, Alice. – Disse ela sorrindo fraco. – Vou fazer isso. Um resto de boa noite, Alice. – Disse ela saindo da cozinha. Lavei num instante os copos e guardei-os no armário. De seguida, subi para me ir deitar, mas antes ainda fui ver as minhas princesinhas e o Will. Eu sabia que deveria de estar tudo bem com eles mas quando me levantava a meio da noite, tinha a mania de ir ver como eles estavam. A Amber e a Liv dormiam profundamente. A Liv devia estar a sonhar porque quando entrei no quarto dela, ela murmurava algo como “mamã, quero gelado.” Ri-me baixinho, com isso e depois fui até ao quarto do Will. Este encontrava-se um pouco irrequieto e já estava todo destapado. Era comum, ele destapar-se de noite e perder a chucha. Tapei-o melhor e coloquei a chucha na boca dele, que se encontrava caída na cama. Saí do quarto dele cuidadosamente e depois segui para o meu quarto deitar-me. Despi o robe e deitei-me na cama, aconchegando-me no Jasper.
- O que se passa? – Perguntou ele ensonado, puxando-me mais para ele.
- Nada de especial, só acordei há pouco com barulhos no piso de baixo e fui ver o que era. Encontrei a tua mãe na cozinha. Não conseguia dormir. Fiquei a falar um pouco com ela e agora viemos as duas dormir. Podes ficar descanso, não é nada de mais. – Disse-lhe enquanto acariciava a sua bochecha.
- Tens a certeza? – Perguntou ele, um pouco desconfiado.
- Sim, tenho. Não te preocupes. – Respondi, colocando a minha cabeça no sei peito. – Vamos dormir, estou com sono. – Acrescentei.
- Está bem. – Disse ele voltando a fechar os olhos. – Resto de uma boa noite, Alice. – Desejou ele, beijando-me a testa. Sorri com o gesto e aproximei-me mais dele.
- Resto de uma boa noite. – Disse já meio a dormir. Ele não disse mais nada e passado uns minutos a respiração dele ficou regular e profunda, o que queria dizer que já tinha voltado a dormir. Também acabei por adormecer com o movimento regular do seu peito, devido à respiração. Só voltei a acordar, na manhã seguinte com o Will. Ele devia estar com fome.