Acordei na manhã seguinte com algumas dores. Remexi-me na cama e acabei por abrir os olhos. Estava sozinha no quarto. O Jasper deve ter ido ver o Will. Voltei a fechar os olhos para descansar. Estava a ficar com dores, muitas dores.
Passada uma meia hora, o Jasper ainda não tinha vindo e as dores estavam insuportáveis. Decidi chamar uma enfermeira para me dar um analgésico. Carreguei no botão que estava ao lado da cabeceira da minha cama e segundos depois apareceu uma enfermeira no quarto.
- Bom dia. – Cumprimentou-me educadamente.
- Bom dia. – Cumprimentei-a também. – Pode-me dar um analgésico. Estou com dores. – Pedi.
- Claro. Vou só buscar. – Disse ela saindo do quarto apressada. Segundos depois voltou e injectou o analgésico no tubo que está ligado à minha veia. Ela, de seguida, saiu do quarto e eu voltei a fechar os olhos para descansar.
Passado um bocado, ouvi a porta do quarto a abrir. Abri os olhos lentamente e deparei-me com o Jasper. Ele sorria levemente para mim, fazendo com que eu sorrisse para ele.
- Já acordaste há muito tempo? – Perguntou ele chegando-se ao pé de mim para me beijar.
- Há algum. – Disse num tom de voz baixo. Ainda estava com algumas dores mas o analgésico já estava a começar a fazer efeito.
- Estás bem, Alice? – Perguntou ele já preocupado.
- Estou, apenas com um pouco de dores mas já tomei um analgésico e já começou a fazer efeito. – Acalmei-o. – Foste ver o Will? – Perguntei sorrindo.
- Não, estive a falar com a polícia. – Disse ele. Olhei confusa e ela abriu um sorriso enorme. – A Alyson foi falar com a polícia sobre o acidente e passou-lhes a matrícula do carro da Maria. Eles emitiram um mandato de busca e apanharam-na, hoje, de manhã. Vieram dizer-me isso. – Sorri abertamente por isso e os meus olhos encheram-se de lágrimas. Estava tão aliviada pela Maria ter sido presa. Agora, ela já não poderia magoar mais ninguém. Agora, eu poderia viver em paz, sem estar com medo que ela apareça. O Jasper percebeu o que eu estava a pensar e abraçou-me. – Agora, ela não vai importunar mais. Vai ficar muito tempo na prisão, visto que é acusada de duas tentativas de homicídio e um rapto.
- Estou tão feliz, Jasper. – Exclamei beijando-o com paixão. Há muito tempo que não me sentia assim. Livrei-me do medo que me corroía. Com a Maria atrás das grades, não havia razão para ter medo. Sentia-me leve, como se uma grande fardo fosse me tirado de cima dos ombros.
- Eu sei! – Disse ele sorrindo. – Eu também. – Concluiu ele, beijando-me com paixão de seguida. Ficámos mais um pouco a beijarmo-nos e abraçados, até que eu me lembrei do Will.
- Podemos ir ver o Will? – Perguntei.
- Podemos, mas primeiro tens uma visita lá fora. Já me esquecia. – Disse ele.
- Quem? – Perguntei curiosa.
- A Rose. Já está lá fora há algum tempo mas quando ela chegou tu estavas a dormir e depois vieram os polícias e fomos os dois falar com eles. Depois ela ficou lá fora e eu vim cá dentro dar-te as notícias. – Explicou ele.
- Vai busca-la. Quero vê-la. – Disse entusiasmada. Eu adorava a Rose e ainda não a tinha visto depois de tudo o que aconteceu. Eu queria-me desculpar para ela. Ela ficou mesmo preocupada comigo e eu não queria isso para ela.
- Está bem. Eu vou busca-la. – Disse saindo do quarto. Passando poucos minutos, ele voltou a entrar com a Rose ao lado. Ela estava com um ar cansada e com olheiras por baixo dos olhos, mas sorriu timidamente para mim.
- Alice. – Exclamou, parecendo aliviada. – Sentes-te bem? – Perguntou um pouco preocupada.
- Está tudo bem, Rose. – Respondi-lhe sorrindo também para ela. – Desculpa, ter-te deixado tão preocupada, Rose. Não era a minha intenção. – Desculpei-me.
- Eu sei, Alice. E claro que desculpo. – Disse ela chegando-se mais para o pé de mim.
- Já viste o Will? – Perguntei voltando a sorrir abertamente.
- Já. – Respondeu ela com os olhinhos a brilhar. – Ele é lindo! – Exclamou ela.
- Pois é. – Disse orgulhosa.
- E como é que estão a Amber e a Liv? – Perguntei, agora, um pouco preocupada.
- Estão melhores. Pelo menos a Liv já não tem chorado e a Amber já começou a brincar outra vez. – Disse ela sorrindo fraco. – Elas ficaram tão mal quando souberam de ti. – Desabafou a Rose. – Não sei qual ficou pior. A Liv só chorava e a Amber fechou-se no quarto e não quis falar com ninguém. – Explicou a Rose.
- Eu não queria que nada disto acontecesse. – Disse já começando a chorar.
- Eu sei, Alice. Eu sei disso. Ninguém queria que isto acontecesse. – Disse ela. – Estão todos ansiosos por te virem ver. – Informou-me, rindo um pouco. Levei as mãos à cara para limpar as lágrimas que tinham escorrido.
-Podes trazer a Liv e a Amber, para me virem ver? – Perguntei-lhe.
- Claro. Estava a pensar traze-las, hoje à tarde. Ou queres esperar mais um dia ou dois?
- Não! Era maravilhoso se as trouxesses, hoje à tarde. Quero tanto vê-las.
- Está bem. Eu trago-as. – Disse ela sorrindo. – Alice, a Amber está com tosse. Achas que está a começar uma crise de asma? – Perguntou a Rose preocupada.
- É possível. Os medicamentos dela estão em casa. Podes ir lá busca-los.
- Eu vou lá quando sair daqui.
Ficámos mais um bocado a falar, mas depois a Rose teve que ir embora. Tinha que ir buscar os medicamentos da Amber e fazer o almoço para eles. Fiquei apenas com o Jasper no quarto que estava sentado no sofá a ver televisão enquanto eu falava com a Rose.
- Jasper. – Chamei-o. – Achas que posso ir ver o Will? – Perguntei.
- Acho que sim. Hoje, também ainda não o vi. – Respondeu ele sorrindo. Sorri para ele. Ele foi buscar uma cadeira de rodas e ajudou-me a sentar-me lá. Ainda tinha algumas dores e não conseguia ficar em pé muito tempo. Ele empurrou a cadeira de rodas até ao berçário, onde estava o Will. Ele estava a dormir e ainda estava entubado. Custava-me tanto ver o Will entubado, ele era tão pequenino.
- Quando é que o vão desentubar? – Perguntei ao Jasper, acariciando ao mesmo tempo a bochecha do Will.
- Não sei. – Respondeu o Jasper tristemente. Ele também não gostava de ver o Will assim. – Mas espero que seja rápido. Eu queria tanto pegar-lhe e dar-lhe de mamar. Queria tanto tê-lo junto ao meu corpo. Quando já era por volta da hora de almoço, o Jasper levou-me de volta para o quarto. As enfermeiras já tinham deixado lá a comida. Ele ajudou-me a deitar na e meteu o tabuleiro com comida à minha frente. Almocei e depois deitei-me um pouco para descansar. Daqui bocado a Rose vinha cá com a Amber e a Liv. Estava com tantas saudades delas. Acabei por adormecer mas acordei rapidamente. Acordei com várias vozes no quarto. Quando abri os olhos, vi que a Amber e a Liv já estavam cá. Estavam as duas sentadas no sofá ao pé do Jasper a ver televisão. Devia ser para distrai-las um pouco, visto que quando chegaram aqui, eu estava a dormir. O Jasper percebeu que eu acordei e sorriu para mim.
- Olha quem acordou! – Disse ele para a Liv e para a Amber. Elas olharam imediatamente para mim e abriram um sorriso enorme. Sentei-me na cama a muito custo.
- Princesinha! – Chamei-as. Elas vieram a correr até à cama onde eu estava deitada.
- Mamã! Mamã! – Exclamou a Liv com os bracinhos no ar para eu lhe pegar. Eu queria muito pegar-lhe mas não podia Doeu tanto. Eu queria tanto pegar a minha filha. Eu já não podia pegar no Will porque ele estava entubado e ligado a vários fios e agora não podia pegar a minha princesinha. O Jasper veio em meio socorro. Ele pegou na Liv.
- Liv, a mamã, agora, não pode pegar-te ao colo. – Disse o Jasper carinhosamente para a Liv.
- Porquê? – Perguntou ela confusa.
- Porque a mamã tem um dói-dói na barriga. Mas quando melhorar, ela já te pode pegar as vezes que tu quiseres.
- Está bem. – Disse ela abanando a cabeça. – Podes meter-me ao lado da mamã? – Perguntou inocentemente.
- Posso, mas tens de ter cuidado.
- Eu tenho, papá! – Garantiu ela. O Jasper meteu-a ao meu lado e eu abracei-a fortemente. Eu não me importava com a dor. Eu só queria sentir a Liv junto ao meu corpo. Tinha tantas saudades dela. Dela e da Amber. Mas a Amber ainda estava calada junto à cama. Ela tinha um pequeno sorriso no rosto mas os seus olhos diziam outra coisa. Ela estava triste e estava a sofrer. Eu podia perceber isso. O Jasper também percebeu isso.
- Liv, queres vir ver o Will? – Perguntou ele.
- Quero! – Disse ela feliz. Ela ainda era tão pequenina para perceber o que se estava a passar, ao contrário da Amber. Mas ainda bem. Não queria duas das minhas filhas a sofrer. O Jasper pegou nela e meteu-a no chão. Depois pegou na Amber e meteu-a ao meu lado. Saindo de seguida com uma Liv feliz ao colo. A Amber aconchegou-se a mim mas ficou em silêncio. De repente comecei a ouvir um choro baixinho e muito conhecido para mim. Sabia que a Amber estava a chorar. Entrei em desespero. Porque é que ela estava a chorar?
- O que foi, princesinha? – Perguntei-lhe tentando esconder o meu pânico. Ela apenas continuou a chorar. – Princesinha, conta à mãe porque estás a chorar. Estás a deixar a mãe preocupada. – Os soluços dela tornaram-se mais audíveis. – Senta aqui. – Disse apontado para o meu colo. Ela sentou-se no meu colo cuidadosamente e aconchegou-se ao meu peito e continuou a chorar. Estava a entrar em desespero. – Querida, a mãe está a ficar preocupada. Porque estás assim?
- Eu tenho medo que ela volte. – Disse a Amber entre soluços. Percebi a quem ela se estava a referir. Ela estava a referir-se à Maria.
– Querida, ela não vai voltar…
- Também disseram isso da outra vez e ela voltou! – Cortou-me a Amber chorando ainda mais.
- Mas agora é diferente, princesinha. Os polícias apanharam-na e agora ela vai presa. – Disse para ela.
- Mas mesmo assim eu vou ficar com medo que ela volte. Ela magoou muita gente da família. Ela atropelou-me, raptou a Liv, aleijou-te, também magoou o pai… - Como é que ela sabia que a Maria tinha atacado o Jasper?
- Como sabes que ela aleijou o pai? – Perguntei.
- Eu acordei quando o pai chegou e ouvi a vossa conversa das escadas e depois vi a ferida do pai. – Explicou ela. Ela sabia mais do que o que eu pensava. Ela estava a sofrer tanto com isto da Maria.
- E depois voltou a aleijar-te a ti e ao Will. – Concluiu ela. – Eu vou lembrar-me sempre disto, mamã. Vou lembrar-me sempre do teu desespero quando ela raptou a Liv e magoou o pai, vou-me lembrar sempre que tiveste medo de sair de casa por causa dela o que fez tu e o pai discutirem, vou lembrar-me sempre do alívio que vi nos teus olhos quando eu acordei no hospital. Eu vou lembrar-me de tudo mamã! E eu não quero. Eu queria ser pequenina como a Liv para puder não me lembrar, para puder esquece-la e para poder não ter medo. – Explicou ela chorando. Eu não tinha a noção que ela sabia de tanto, que ela tinha percebido isto tudo e estava a sofrer por isso.
- Ó querida… - Foi tudo o que eu consegui dizer antes de começar a chorar. Eu não conseguia ver a minha filha assim. Eu não conseguia ver a minha filha sofrer. – Eu também me vou lembrar, princesinha, para o resto da minha vida e o pai também. Não estás sozinha, não te esqueças disso. Nós vamos estar os dois aqui para ti quando sentires medo dela. Mas eu garanto-te que ela nunca mais vai aparecer nas nossas vidas. Nunca mais. E tu com o tempo vais deixar de sentir medo dela, vais ver. – Falei aconchegando-a mais a mim. Ela continuou a chorar aconchegada a mim. Ao fim de um bocado, começou a acalmar e adormeceu. Deitei-a ao meu lado na cama para ela ficar mais confortável. Limpei-lhe as lágrimas e deitei-me ao lado dela. Nesse momento, o Jasper e a Liv entraram no quarto a rir. – Chiu! – Exclamei baixinho. – Ela acabou de adormecer. – Disse-lhes. Eles viram a Amber a dormir tranquilamente ao meu lado e começaram a falar baixinho.
- Mamã! O Will é tão lindo. – Disse ela baixinho. – Ele é loirinho. Mamã, porque é que eu sou a única que não sou loira? – Perguntou ela pensativa. Tive que me rir.
- Porque o Will e a Amber puxaram ao papá e tu puxaste à mamã! – Expliquei-lhe.
- Ahh! – Disse ela parecendo ter percebido. – Então se eu puxei a ti, não me importo de não ser loira. – Agora, eu e o Jasper rimo-nos. Fiquei mais um pouco ao pé das minhas princesinhas. Quando estava perto da hora do lanche, o Jasper teve que levá-las para casa da Esme. O Emmet e a Rose estavam na sala de espera para me visitarem. Eu despedi-me delas, mesmo que a Amber ainda estivesse a dormir e depois fiquei com a Rose e o Emmet enquanto o Jasper não chegava.
- Alice! – Exclamou o Emmet num tom brincalhão. – Como estás? – Perguntou.
- Estou bem. E tu?
- Também. – Ele também me parecia um pouco cansado. Ele tem estado a tomar conta das crianças por isso compreendo. Não queria estar a causar isto tudo à minha família.
- Rose, como é que vai ser com a loja? – Perguntei agora lembrando-me disso. Ela não poderia ir para a loja sozinha. Teria imenso trabalho.
- Vou fechá-la por um tempo. Também preciso de umas férias. A de Seattle vai ficar aberta por isso não há problema. – Concordei com ela. Não queria que ela fosse trabalhar sozinha para a loja. Falámos durante a tarde toda acabando por passar o resto da tarde com o Emmet e a Rose porque o Jasper só chegou à hora do jantar.
Depois de jantar, sentia-me muito cansada, por isso, acabei por me deitar e adormecer, de seguida.