Os meus pais chegaram, dez minutos depois da chamada. A minha mãe aparentava ter estado a chorar e o meu pai tinha o rosto coberto de preocupação. Eles sentaram-se connosco na sala de espera e ficámos à espera que o médico dissesse algo. A minha mãe percebeu logo o que se passava com a Rose. Percebeu que estava a rever o dia em que foi trazida de urgência para uma cesariana. Ela levantou-se de onde estava e sentou-se do outro lado da Rose. A Rose desabou no colo dela. Nunca tinha visto a minha irmã assim. Levantei-me de onde estava e fui ter com o meu pai. Ele passou-se os braços pelos ombros para mostrar que estava ali para mim e foi aí que em também desabei.
- Eu não posso perde-los pai. Eu não posso… - Disse começando a chorar. Eu estava a controlar-me para reconfortar a Rose, mas eu não consegui controlar-me mais.
- Eu sei, filho. Tens de ser forte. Vais ter que passar por isto, de cabeça erguida.
– Eu não vou conseguir. – Disse desesperado. Eu sentia-me tão impotente, tão culpado.
- Claro que vais, filho. Eu sei que tu és capaz disso. – Disse ele para me acalmar. Chorei mais um bocado no ombro dele. Ele não disse mais nada. Apenas esteve ali a apoiar-me. A dar-me força para conseguir ultrapassar isto.
Passada uma meia hora, veio uma enfermeira à sala de espera. Eu ainda estava ao pé do meu pai, mas já não chorava.
- Está aqui alguém da família da Alice Cullen? – Perguntou ela.
- Nós somos! – Disse levantando-me. Ela começou a andar na nossa direcção e parou bem à minha frente. – Sou o marido da Alice Cullen. Como é que está a Alice e o Will? – Perguntei.
- O seu filho já nasceu. Nasceu de cesariana, como tem apenas sete meses e meio, está numa incubadora a receber ventilação para o ajudar a respirar, mas está tudo bem com ele. A sua mulher ainda está ser operada. Tem uma grande hemorragia no útero e o médico está a estanca-la para depois pudor cose-la. Ela chegou mesmo a tempo ao hospital, o deslocamento da placenta era muito grave. Quando a sua mulher sair do bloco operatório o médico vem avisá-lo. – Explicou ela. Mas nesse momento chegou outro médico à sala de espera e veio ter connosco.
- Boa tarde, eu estou a ajudar médico que está a tratar da sua mulher e ele pediu-me para vir cá para lhes dar notícias sobre o estado da Alice.
- Como é que ela está? – Perguntei desesperado. A enfermeira apenas disse que tinha uma grande hemorragia, isso, eu sabia. Eu queria saber mais pormenores.
- Como o senhor já deve saber, o seu filho já nasceu e está estável mas o estado da sua mulher é grave, muito grave. A hemorragia é muito intensa e estamos a fazer de tudo para pará-la. Estamos a esgotar todos os meios para isso. – Explicou o médico.
- O que quer dizer? – Perguntei já a pensar no pior. Ela não podia morrer. Não a Alice. Eu precisava dela. Eu estava com tanto medo de a perder. Era este sentimento que a Alice falava. Era isto que ela sentia. Ela tinha razão. Eu não compreendia o que ela estava a sentir. Mas agora compreendo. Eu estava com um medo inexplicável só com a hipótese de ela morrer. Eu estava a dar-me conta que a ideia de perder a Alice estava a tornar-se real e não apenas uma ameaça.
- Nós queríamos pedir a autorização de fazer algo extremo se necessário. – Disse o médico.
- Algo, extremo? Como assim? – Perguntei completamente em pânico.
- Retirar o útero. Só queríamos ter a permissão se for necessário. Ainda estamos a tentar estancar a hemorragia. – Ouvi a Rose a chorar ainda mais. Ela estava a reviver aquele dia, que foi um inferno para ela. Ela não queria que a Alice sofresse tanto como ela sofreu. Que passasse pelo que ela passou. Eu também não queria, mas preferia ter a minha mulher, viva e sem útero do que morta.
- Façam de tudo para a salvarem. Eu só a quero viva. – Pedi desesperado.
- Vamos fazer todos os possíveis. – Disse ele sendo sincero. Reparei que o médico fez sinal para o meu pai. O médico saiu de ao pé de nós e depois o meu pai também acabou por sair. Achei estranho e acabei por segui-los.
- Já venho. – Disse para a minha mãe e a minha irmã. Segui pelo caminho que o meu pai seguiu. Ele estava a falar com o médico que veio falar connosco junto a umas portas que davam para os blocos operatórios.
- Carlisle, é melhor começares a preparar o teu filho. O caso da Alice está bem grave. Não estamos a conseguir respostas nenhumas aos tratamentos. Ela continua a sangrar. Estamos a esgotar todas as possibilidades. A hipótese de ela morrer é muito alta, neste momento.
- Doutor, por favor, não a deixe morrer. Ela é a minha vida. É por ela que eu respiro, é por ela que o meu coração bate, é por ela que eu me levanto todos os dias e enfrento o mundo, é por ela que eu ainda não desisti da minha vida. Se ela morrer eu morro a seguir. Além daquele filho, nós temos duas meninas lindas. Eu não sei o que fazer se ela morrer. Nem sei como hei-de explicares-lhes o que aconteceu à mãe, eles são tão pequeninos. – Disse desesperado para o médico. Tanto ele como o meu pai estavam surpreendidos por eu estar ali. – Eu sei que a Alice é apenas uma paciente, para si, igual a muitas outras. Mas para mim não, para mim a Alice é o centro do Universo, o meu mundo gira em torno dela. A Alice é a minha pessoa. Foi por ela que eu me tornei um pessoa diferente, para ser um bom pai, para ser um bom marido. Não a tire de mim. Não a tire, por favor. Eu necessito dela. Eu preciso dela para continuar a viver. – Continuei completamente desesperado. Acabei por me encostar a uma parede e escorreguei por ela, sentando-me no chão. As minhas pernas não estavam a funcionar. Sentia-as fracas e sem força. Precisava de me sentar. As lágrimas invadiram outras vez as minhas bochechas e não me conseguia conter.
- Jasper, nós estamos a fazer de tudo ao nosso alcance para a salvar. – Disse o médico. – Agora, vou lá para dentro, continuar a salvar a sua mulher. Não posso ficar mais tempo. – Disse ele. – Vai ficar tudo bem. Tem a minha palavra, que a vai ver muito em breve. – Completou o médico entrando na porta a que estava encostado, indo para o bloco operatório. Encostei a cabeça aos joelhos e continuei a chorar. Eu tinha que deitar tudo cá para fora, queria livrar-me deste medo que me consumia e da culpa que queimava o meu peito.
- Filho. – Disse o meu pai sentando-se ao meu lado. – Tens de ter esperança que tudo vai correr bem. Tens de pensar que ela vai sobreviver.
- Eu estou com tanto medo, pai. – Desabafei.
- Eu sei, filho. – Disse ele simplesmente.
- A culpa é toda minha. Se não tivesse começado a discutir com ela, ela não estaria aqui. Se eu tivesse ido atrás dele e não tivesse deixado ela levar o carro, ela não estava nesta situação. Se eu tivesse acreditado nela, nada disto aconteceria. A culpa é toda minha, pai. Eu sou o culpado por a Alice estar quase a morrer.
- Não, filho. Tu não és o culpado. A única pessoa que tem culpa em tudo isto, é a Maria. Nem tu nem a Alice têm culpa. Por isso, não te culpes, meu filho.
- É difícil, pai.
- Eu sei, mas também quem disse que a vida era fácil? Ninguém. Levanta-te e ergue a cabeça. Tens de ser forte nos próximos momentos que aí vêem. Tens de ser corajoso. Olha para a Alice! Já passou por tanto na vida e a vida dela não foi fácil. Mas continua ali a lutar para sobreviver. Continua a lutar para ficar connosco.
- Tens razão, pai. – Disse limpando as lágrimas que estavam nas minhas bochechas. – Tens razão. – Levantei-me para ficar ali à espera que o médico voltasse com notícias. O meu pai também se levantou e pôs-se ao meu lado. Esperámos ainda um bocado, passada uma meia hora, o médico e a enfermeira voltaram a sair. – Então doutor? – Perguntei ansioso e com medo do que ele tivesse para dizer.
- Conseguimos estabiliza-la. – Disse ele. Suspirei aliviado. – Já parámos a hemorragia e agora só falta cose-la. – Explicou o médico.
- Obrigada! – Disse abraçando o médico. – Muito obrigada, doutor! Não sei como hei-de agradecer.
- Basta ser feliz com a sua família que já é um grande agradecimento para mim. – Disse ele sorrindo. Sorri também para ele. – Quando ela for para um quarto, o outro médico vem avisá-lo. Agora, tenho que ir para outra cirurgia.
- Doutor, quando é que posso ir ver o meu filho? – Perguntei antes de ele se ir embora.
- Pode ir agora. A enfermeira leva-o lá. – Disse ele voltando a entrar para o bloco operatório. – Olhei para o meu pai e ele estava tão feliz quanto eu.
- Vai, Jasper. Vou ter com a tua mãe e a tua irmã para lhes dar as últimas notícias.
- Está bem. – Disse sorrindo para ele.
- Jasper! – Chamou a Alyson vindo ter comigo. – Eu vou ter que ir. Dê as melhoras à Alice. – Disse ela para mim.
- Tudo bem, eu dou. Muito obrigada, outra vez. Se não fosse a senhora nem a Alice nem o meu filho sobreviveriam. Muito obrigada.
- De nada. – Disse ela sorrindo, virando-se para sair do hospital. Segui a enfermeira, até ao berçário onde estavam os recém-nascidos. Entrámos por uma porta, meio escondida e depois ela levou-me até uma incubadora que tinha um bebé loirinho lá dentro. Ela pegou num papel e escreveu “Will” e depois colou à incubadora.
- Este é o seu filho. – Disse ela sorrindo levemente. Ele era tão pequenino. – Pode tocar-lhe, ele não morde. – Disse ela rindo um pouco. Eu estava deslumbrado a olhar para ele. Ele era lindo. Tinha o cabelo loiro e os olhos castanhos. Dos nossos três filhos, foi o único que saiu com a cor de olhos da Alice. Adorei isso. Meti a mão dentro da incubadora e mexi na sua mãozinha. Era tão pequenina. Ele apertou-me a ponta do dedo e eu sorri. Queria que a Alice estivesse aqui para ver o nosso filho.
- Quer alimentá-lo? – Perguntou a enfermeira.
- Ele não devia mamar da Alice? – Perguntei.
- Sim, convém, mas a mãe não pode dar de mamar neste momento e ele tem de ser alimentado. Usamos leite em pó próprio para recém-nascidos e um biberão. – Explicou a enfermeira.
- Quero. – Respondi sorrindo. Ela foi até à incubadora e tirou o Will de lá, depois passou para o meu colo. Peguei-lhe cuidadosamente e sentei-me numa poltrona que lá havia. Depois a enfermeira foi buscar o biberão com o leite e quando ela mo passou eu alimentei-o. O meu filho era lindo. Enquanto estava a amamentá-lo, a minha mãe apareceu.
- Ele é tão lindo. – Disse ela acariciando a sua bochecha. – E pequenino. – Completou ela.
- Pois é. – Disse olhando deslumbrado para ele.
- O médico já veio falar connosco. – Informou-me ela.
- O que é que ele disse? – Perguntei tirando o biberão vazio da boca do Will.
- Disse que ela já estava estável e que já estava bem. Agora precisa de repouso, muito repouso, para recuperar, visto que o deslocamento da placenta foi muito grave. – Disse ela. – E que ela só deve acordar amanhã.
- Ainda bem.
- Ela está a receber transfusões de sangue. Ela perdeu imenso sangue devido ao deslocamento da placenta.
- Já a foram ver? – Perguntei.
- Não, estamos à tua espera.
- Deixa só adormecer o Will. – Disse levantando-me. Andei de um lado para o outro com ele ao colo para o embalar. Ao fim de um bocado ele começou a fechar os seus olhinhos e depois acabou por adormecer. Voltei a mete-lo na incubadora e tapei-o com o lençol. Acariciei a sua bochecha e sai do berçário com a minha mãe. – Sabes em que quarto é que ela está?
- No 21, neste piso no lado da maternidade.
Fomos ter com a Rose e o meu pai à sala de espera e depois fomos até ao quarto da Alice. Ela estava a dormir, tal como o médico dissera. Ela tinha um corte na cabeça mas de resto não tinha mais nada. Fui até ela e pus uma mecha de cabelo que estava caída nos olhos, atrás da orelha. Ela era tão importante para mim. Estava tão feliz por ela estar bem. A minha família esteve lá mais um bocado mas depois acabou por ir embora. Já estava tarde. A Rose disse que ficaria com a Amber e a Liv. Puxei a poltrona para o pé da cama onde a Alice estava e peguei na mão dela. Tudo tinha que correr bem daqui para a frente.
Mais tarde, voltei para ir ver do Will e para o alimentar outra vez. Quando cheguei lá, ele estava entubado. Ele antes tinha apenas máscara. Procurei pela enfermeira para lhe perguntar o que tinha acontecido.
- Porque é que ele está entubado? – Perguntei quando encontrei a enfermeira a tratar de outro recém-nascido.
- Não conseguia respirar. Os pulmões dele não desenvolveram ainda o suficiente e a máscara não estava a dar resultado. Os níveis de oxigénio continuavam muito baixos. Tivemos que o entubar. Ao fim de alguns dias, ele já se deve aguentar com a máscara, mas agora o melhor para ele é estar entubado.
- Como é que o alimentam? – Perguntei preocupado.
- Está a soro. Não se preocupe, vai correr tudo bem. É normal, ele estar entubado com os meses que tem. Saiu muito cedo do ventre. – Explicou a enfermeira.
- Obrigada. – Disse virando-me para ir ter com o Will. Ele estava a dormir. Não gostava de o ver entubado e com agulhas no corpo, mas era para ele melhorar. Peguei na mãozinha dele e acariciei-a durante um bocado. Depois acabei por voltar para o quarto da Alice. Era difícil, tê-los em sítios diferentes do hospital, eu não queria deixar nenhum sozinho. Já estava tarde, mas eu queria saber como estavam as minhas princesinhas. Decidi ligar à Rose. De certeza, que ela ainda estava acordada. Peguei no telemóvel e marquei o número dela. Ela atendeu ao segundo toque.
- Rose, desculpa se estavas a dormir.
- Não, ainda não estou. – Disse ela baixinho.
- Como é que elas estão? – Perguntei preocupado.
- Mal, principalmente a Liv. A Amber tenta esconder para estar lá para a Liv mas eu percebo que ela também está a sofrer com isto. Contei-lhes há bocado e desde aí a Liv não pára de chorar, acabei de conseguir adormece-la.
- A Amber já está a dormir?
- Já, adormeceu a chorar. - Informou-me a Rose. Saber que as minhas princesinhas estavam a sofrer deste jeito, fazia-me sofrer também. Eu queria estar lá para elas mas também precisava de estar aqui para a Alice e o Will. – Como é que está a Alice?
- Na mesma, ainda está a dormir. – Respondi.
- E o Will? – Perguntou.
- Piorou. Está entubado e a soro. Não consegue respirar sozinho. A enfermeira disse que os pulmões não desenvolveram o suficiente mas que ao fim de alguns dias, já o vão desentubar.
- Coitadinho. – Disse ela.
- Rose, como é que estás? – Perguntei. Ela estava tão mal quando estava aqui. Depois ela foi-se embora e não lhe perguntei como é que ela estava.
- Aliviada por a Alice não ter de passar pelo mesmo que eu.
- Foi um dia difícil para ti, não foi?
- Foi. Foi como se eu estivesse a reviver tudo o que me aconteceu. Como se tudo tivesse a acontecer de novo. – Disse ela com a voz embargada.
- Está tudo bem, agora, Rose.
- Eu sei.
- Vai descansar, tu precisas.
- Sim, descansa também, vêm aí momentos difíceis. – Disse ela. – Beijinhos.
- Beijinhos. – Despedi-me desligando o telemóvel. Pus o telemóvel no bolso e sentei-me na poltrona. Acabei por adormecer ao fim de uns minutos.