No hospital, submeteram-me a raio-x para ver se eu tinha partido alguma coisa e depois fizeram-me uma ecografia aos músculos da perna para ver se algum ficou danificado.

- Tem apenas uma costela partida. Esta aqui mais a baixo. – Disse ele apontando. – De resto, não tem lesões graves. É normal que esteja dorida durante vários dias mas vai passar com o tempo. Aconselho, que repouse uma semana. Dificilmente vai conseguir andar de pé com as dores e recupera mais depressa se estiver em repouso.

- E o meu bebé? – Perguntei ainda preocupada.

- Pelo que vi na sua ficha, está a ser acompanhada por uma médica deste hospital, não é?

- Sim. – Respondi.

- É essa médica que a vai examinar. – Informou o médico. Só estamos à espera dela, ela está mesmo a vir. – Continuou.
Até preferia que fosse essa médica, já a conhecia. O médico acabou por se ir embora pois tinha mais casos para tratar. Passados uns minutos depois do médico sair do quarto, a minha obstrecta apareceu apressada.

- Boa tarde. Desculpe ter demorado, estava numa consulta. – Desculpou-se ela. Entrou uma enfermeira com a máquina de ecografia e meteu-a ao lado da minha cama.

- Doutora, diga-me que está tudo bem com o meu bebé.

- É isso que vamos ver. Sente alguma dor na barriga?

- Não. – Respondi sinceramente. Ela levantou-me a camisola e depositou o gel frio na minha barriga e começou a ver o meu bebé no monitor. Ela não disse nada durante algum tempo. – Então, doutora?

- Está tudo bem com o bebé. Se começar a sentir dores, ou com hemorragias, chame-me imediatamente. Vai ficar esta noite em observação, só por precaução. Se até amanhã de manhã, não houver alterações, eu dou-lhe alta.

- Está bem.

- Agora, vou ter que ir, mas quando acabar as consultas passo cá para ver como está.

- Obrigada, doutora. – Agradeci. Ela saiu do quarto e eu fiquei sozinha. Ainda estava com dores, não me tinham dado nada. Fechei os olhos e tentei esquecer a dor. Passado um quarto de hora, alguém bateu à porta do quarto. Pedi para entrarem. Era o Jasper e a Rose. Vinham os dois preocupados.

- Alice, o que é que os médicos disseram? – Perguntou o Jasper.

- Tenho apenas uma costela partida e vou ter que passar cá a noite. – Informei.

- E o Will? – Perguntou a Rose visivelmente preocupada.

- Por enquanto está bem. – Respondi sorrindo.

- Por enquanto? – Perguntou o Jasper.

- Por isso é que eu vou ficar cá de noite. A obstrecta quer que eu fique em observação.

- Está bem. Alice, o que aconteceu? Como é que chocaste com um adolescente a andar de bicicleta? Estavas a passar e ele foi contra ti? – Perguntou o Jasper.

- Não. – Respondi com a voz fraca.

- Então? – Perguntou a Rose.

- Foi a Maria. – Disse simplesmente.

- Ela estava no parque? – Perguntou o Jasper com raiva. Afirmei com a cabeça. - Ela empurrou-te?

- Sim. Ela queria aleijar o Will. – Expliquei com a voz fraca. Eles ficaram comigo até às oito. Depois tiveram que ir embora. O Jasper queria ficar comigo, mas eu queria que ele ficasse com a Amber e a Liv. Elas deviam estar assustadas, precisavam do pai.

- Alice, ficas mesmo bem, sozinha? – Perguntou o Jasper preocupado.

- Fico. Daqui nada vou dormir, estou cansada.

- E se acontecer alguma coisa?

- Não vai acontecer nada e se acontecer eu peço para te ligarem.

- Está bem. – Ele beijou-me ternamente. – Venho amanhã de manhã buscar-te.

- Está bem.

- Fica bem, Alice. – Disse a Rose dando-me um beijo na bochecha.

- Vou ficar. – Respondi.

Eles saíram do quarto e eu fiquei sozinha. Uns minutos depois vieram trazer-me o jantar e eu comi um pouco, de seguida, apaguei a luz e tentei adormecer. Não conseguia. Só conseguia pensar na Maria. Tinha medo do que ela podia fazer mais. Ela disse que acabaria comigo se fosse preciso e eu não tinha dúvidas de que ela o fizesse. Ela era louca o suficiente para isso. Remexi-me muito na cama e o medo começou a apoderar-se de mim. Estava sozinha e era de noite. De noite, o medo era muito pior. Por volta das dez da noite, abriram a porta. Assustei-me, não estava à espera de ninguém a esta hora. Era a minha médica.

- Desculpe, só consegui vir agora. – Explicou ela. Ela começou a olhar para as máquinas, às quais eu estava ligada e franziu a testa. – Está muito nervosa. O que se passa? – Perguntou ela.

- Medo… - Disse.

- De quê? – Perguntou. – Aqui no hospital está segura.

- Eu sei. Mas é que… - E contei a história toda, do que tinha acontecido e o que a Maria tinha feito, tanto comigo como com a Amber e a Liv. A médica escutou em silêncio. E quando acabei, olhou-me com compaixão.

- Já avisaram a polícia? – Perguntou.

- Já. Eles disseram que não podiam fazer nada por enquanto mas que estavam a tentar.

- Não sei o que lhe dizer mas tem que manter a calma. Estar nervosa durante a gravidez não é bom. Tente relaxar. Aqui no hospital está segura. Não deixamos entrar ninguém que não queira.

- Eu tento, mas o medo cresce dentro de mim.

- Quer tomar um calmante para conseguir dormir esta noite? É importante que descanse, tanto para cicatrizar os hematomas e a costela partida como para a gravidez. – Disse a médica.

- Pode ser. – Respondi. Eu não iria conseguir dormir, se não tomasse o calmante. Eu queria descansar, eu queria que esta gravidez corresse bem, não queria prejudicar o meu filho. A médica carregou no botão que chamava as enfermeiras e segundos depois, apareceu uma no
quarto. A médica pediu-lhe educadamente um calmante e ela foi buscá-lo
prontamente. Depois de o tomar, comecei a sentir-me sonolenta.

- Descanse. – Advertiu a médica.

-Está bem. – Disse começando a fechar os olhos. Acabei por adormecer num sono pesado. Sem sonhos. Acordei na manhã seguinte com a claridade a entrar pela janela. Tinha dormido bem e sentia-me
descansada. O corpo ainda me doía um pouco mas se eu ficasse parada numa posição ele não doía, só doía apenas quando me mexia. Passados uns minutos depois de ter acordado, a enfermeira veio trazer-me o pequeno-almoço e depois a médica veio ver como eu estava.

- Esteve tudo normal durante a noite. – Informou ela. – Vou-lhe dar alta. Mas se sentir alguma dor, ou vir que está a sangrar ou algo de estranho, venha directamente para o hospital. Eu estou aqui todos os dias. – Disse ela.

- Está bem. Obrigada, doutora.

- Descanse. Tem de ficar pelo menos uma semana em casa, em repouso. – Disse ela.

- Está bem, é o que eu vou fazer.

- Ainda bem. Vou preparar os papéis da alta para quando o seu marido chegar, poder ir logo embora. Já deve estar farta de hospitais.

- Um pouco. – Respondi com um sorriso pequeno.

- Então, adeus. – Disse ela saindo do quarto. Eu não me conseguia vestir sozinha. Tinha muitas dores. Por isso, acabei por desistir e fiquei à espera do Jasper. Ele iria ajudar-me. Por volta das onze da manhã, ele chegou ao quarto de hospital.

- Bom dia. – Disse beijando-me ternamente. – Como te sentes? – Perguntou.

- Bem. A médica já me deu alta.

- Porque não te vestiste?

- Não consegui. Tenho dores. – Respondi sinceramente.

- Eu ajudo. – Disse ele. Ele foi buscar a minha roupa e ajudou-me a vestir. De seguida, calçou-me e ajudou-me a levantar para sairmos do quarto. Os movimentos eram um pouco dolorosos mas tinham que ser. Eu ia para casa. Ele pôs-me no banco do carro e dirigiu devagar até casa. Em casa, estava lá a Esme com a Liv e a Amber. Estavam as três sentadas no sofá da sala a verem televisão. Quando me viram, vieram a correr mas não me abraçaram como costumavam fazer. O Jasper deve ter falado com elas.

- Estás bem, mamã? – Perguntou a Amber pegando na minha mão.

- Estou. – Respondi sorrindo. – A mamã está bem. Não é preciso preocuparem-se.

A Esme veio ajudar o Jasper a pôr-me no sofá. Sentada estava muito melhor que em pé. A Amber e a Liv sentaram-se uma em cada lado. A Liv estava com uma carinha assustada.

- A mamã está bem. – Disse acariciando a sua bochecha.

- Sério? – Perguntou.

- Sim. – Respondi apertando um pouco o seu nariz. Ela sorriu com o gesto.

Elas passaram o resto do dia ao meu lado. Eu tinha que repousar e elas não se importaram de ficar sossegadas o resto do dia, só para ficar ao meu lado. A Esme teve que se ir embora depois do almoço. À tarde vimos um filme, para elas ficarem entretidas e depois do jantar, eu já
me sentia cansada. O Jasper percebeu e levou-me para a cama. Quando estava quase a adormecer, ouvi a campainha a tocar e despertei. Passado uns minutos, alguém bateu à porta do quarto.

- Entre. – Disse. A Rose entrou no quarto.

- Olá. – Disse ela sorrindo mas ainda com o semblante preocupado. – Estás bem? – Perguntou.

- Estou. Só cansada e com um pouco de dores.

- Vou fechar a loja esta semana. Tu não podes ir trabalhar e eu também preciso de umas férias. – Disse ela.

- Tens a certeza, Rose?

- Sim, tenho. A de Seattle ainda está a aberta e não tenho tanto trabalho nessa.

- Está bem.

- Como está o meu sobrinho? – Perguntou ela sorrindo, levando a sua mão à minha barriga.

- Está óptimo. Estou tão aliviada por não ter acontecido nada com ele. – Desabafei. – Quando caí só me veio à cabeça o Will. Eu nem me importava com as dores.

- Eu compreendo, Alice. – Disse ela acariciando a minha bochecha. E ela compreendia mesmo. Ela também caiu na gravidez do Ray mas as consequências foram muito mais graves que as minhas.

- Rose… - Chamei-a.

- Sim?

- A Maria disse que acabava comigo se eu não deixasse o Jasper. Ela disse que me matava. – Disse já com o medo a notar-se na voz.

- Alice, já contaste isso ao Jasper?

- Não. Não consegui. Não lhe digas nada.

- Não estás a pensar ir-te embora, pois não?

- Não. Mas eu tenho tanto medo. Eu não consigo dormir de noite, Rose. – Continuei.

- Alice, nós estamos aqui para ti. Vai tudo correr bem e vais ter que contar ao Jasper. Ele precisa de saber.

- Eu sei, mas só o vou preocupar.

- Ele prefere estar preocupado e saber que estás em segurança. – Disse ela. Era a mais pura das verdades.

- Está bem, eu vou contar-lhe. – Disse-lhe.

- Promete-me!

- Sim, eu prometo-te que lhe vou contar.

- É melhor assim, Alice. – Disse ela. – Amanhã queres que eu venha para aqui? Para te ajudar? – Perguntou.

- Não é preciso. Como disseste, precisas de férias.

- Vais ficar com quem? – Perguntou.

- Sozinha. O Jasper precisa de ir trabalhar.

- Alice, é que nem penses que vais ficar sozinha. Eu venho. Trago a Amy e o Ray para a Liv ter alguém com quem se entreter.

- Ó Rose, não é preciso. – Disse-lhe.

- É sim senhor. Nada de resmungar. Eu venho e ponto final.

- Está bem. – Disse vencida.

- Assim está melhor. Vá, agora tenho de ir. A Amy e o Ray devem estar à minha espera para se irem deitar. – Informou-me ela. – Até manhã.

- Até manhã. – Respondi. Ela deu-me um beijo na bochecha e saiu do quarto. Eu fechei os olhos e cai no sono. Um sono um pouco atribulado. Não parava de pensar na Maria e o que é que ela iria fazer
tanto comigo, como com os meus filhos. Estava com tanto medo. Eu só queria que ela nos deixasse em paz.