—Ariel Mikaelson! - Maggie grita irritada.

Desci as escadas apressada, até onde eu me lembro, não fiz nada de errado dessa vez.

—Maggie? - disse, usando meu tom mais gentil.

—Você ainda vai me deixar louca - ela resmungou ranzinza- você quer me contar alguma coisa? A diretora da sua escola me ligou.

—Eu não fiz nada- me defendi, fazendo minha melhor expressão de inocente.

—O laboratório de química explode, a biblioteca pega fogo, uma líder de torcida quebra as duas pernas, a professora tem um surto psicótico - ela foi listando, eu apenas me encolhi- e todas as vezes você estava envolvida, e agora essa...

-Eu só estava no lugar errado, na hora errada - disse dando de ombros- e dessa vez nem foi culpa minha, eu só corrigi aquela idiota, quer dizer, ela é professora de literatura, deveria saber mais sobre os clássicos.

—Bem, essa sua gracinha te custou três dias de suspensão- ela disse irritada - Elijah vai ficar decepcionado.

—Já faz um mês que ele não da sinal de vida - disse irônica, mas no fundo aquilo doía em mim- acho que ele esqueceu de mim.

—Não diga isso, Ariel - Maggie disse, ficando séria de repente- ele nunca se esqueceria de você, ele só anda ocupado.

—Ocupado com o que?- perguntei, mesmo sabendo que era inútil.

—Já conversamos sobre isso, você não precisa saber de...

—Isso é frustrante, ele sempre some por muito tempo, e nunca me conta nada- desabafei, sentindo as lagrimas se formarem- isso é tão injusto.

—A vida não é justa, minha querida - Maggie disse, beijando minha testa- ele vai voltar, ele sempre volta.

Me sentei no sofá, enquanto Maggie foi pra cozinha, fazer o jantar.

Só Deus sabe o quanto eu sinto falta dele. Desde de que eu me lembro, ele sempre esteve lá, cuidando de mim. Foi ele que me ensinou a ler, tocar piano, a gostar dos clássicos literários. Sempre soube que havia segredos, sobre ele, sobre mim, mas não me importava muito, afinal, sua presença era o suficiente pra mim.

As vezes ele ficava fora alguns dias, semanas, e então meses. Ele não ligava ou dizia quando voltaria.

Isso me deixava aflita, e se ele nunca voltasse ? E se eu o perdesse para sempre?

Elijah era um ser único, sempre com seus ternos, elegante, e quando ele sorria pra mim, algo se aquecia no meu peito.

Eu sabia que ele me via como uma filha, sim, esse era uma fato bem frustrante pra mim.

Mas um dia ele me veria com outros olhos, tenho esperança que sim. Isso é claro, se ele voltasse.

—Pare de se lamentar e venha me ajudar com o jantar - Maggie gritou da cozinha.

—Nada melhor do que ser feita de escrava, pra me distrair - resmunguei, me levantando.

—Eu ouvi isso!- ela disse, rindo.

...

Me revirava na cama, já era de madrugada, mas eu não conseguia dormir de jeito nenhum.

—É pedir demais uma boa noite de sono?- sussurrei contra os travesseiros.

Me levantei, segui pelo corredor escuro.

Sorri. Antigamente eu tinha medo de andar aqui sozinha, então Elih pegava na minha mão, e me acompanhava.

Era fácil andar pelo escuro quando eu sabia que ele estava ali pra me proteger dos monstros. Mas agora ele não estava, apenas ignorei as sobras estranhas, e desci as escadas.

Fiquei encarando a geladeira aberta, como se aquilo fosse resolver alguma coisa.

—Não é muito tarde pra você estar acordada, pequena ? - ele disse.

E como se num passe de magica, todas as minhas frustrações desapareceram.

—Você voltou - sorri, indo abraça-lo.

—Eu sempre volto - ele disse, sorrindo.

Eu não gostava muito de abraços, mas com Elih era diferente. Não havia coisa melhor no mundo do que estar envolta de seus braços.

—Senti saudades- disse, minha voz sendo abafada contra o tecido de seu terno.

Aspirei seu perfume, ele tinha cheiro de...lar. Ele beijou minha testa.

—Eu também senti a sua- ele disse.

Lindos olhos castanhos, confere. Sorriso que deixa que nem idiota, confere. Ainda incrivelmente atraente, confere. Foco, Ariel.

—Conta uma história pra mim dormir?- pedi.

—Você não está meio velha pra isso?- ele disse divertido.

Quando ele me contava histórias pra dormir, era o único momento que eu podia ter com ele, só nós dois. Nunca me cansaria disso.

—Não - dei de ombros, e então bocejando- você sempre conta as melhores histórias.

Ele assentiu, dando aquele sorriso que eu amava.

Ele narrava a história de uma princesa valente, e eu só tentava manter meu olhos abertos.

Adormeci, ao som de sua voz.