O vi adormecer tantas vezes, mas nunca o vi adormecer ao meu lado, com os braços agarrados ao redor da minha cintura e embora sua expressão estivesse tranquila, existia aquela coisa de que, quando acordasse, não me encontrasse mais aqui e por isso tinha os braços passado em minha cintura.

Depois da virada do ano, senti imensa vontade de ir embora, de lhe deixar novamente e o motivo sempre me fogia da cabeça. As vezes era porque tive medo, e por Deus, como sinto medo ainda! Outras vezes era porque não me senti merecedor ou preparado para este turbilhão de sentimentos em meu peito. E, na maioria das vezes, quis ir embora porque não pertenço a este lugar movimentado, onde as pessoas vivem em paz e sorrindo ao darem "bom dia"... Mas, sempre que olhava para seu rosto e via as marcas rosadas em sua pele, eu desistia... Desistia de tudo e só pensava em querer estar ao seu lado.

Se ao menos eu desse um passo mais rapido...
Se ao menos eu desse um passo mais lento...
Então nós poderíamos ter evitado nosso encontro doloroso.

Shion, eu o machuquei centenas de vezes e o vi chorar mais centenas de vezes, então eu deveria ficar mesmo aqui? Deveria mesmo olhar para seu rosto adormecido? Esta bela expressão, calma... Eu deveria mesmo vê-la?

O sentia se agitar levemente, me puxando para mais perto e talvez aquela fosse a resposta que eu precisava para acalmar meu coração, mas ele estava tão inquieto.

Não adianta mesmo empurrá-lo para fora,
Agora eu não posso deixar você ir.
Mesmo se você quer chorar, chore em meus braços
Porque eu vou morrer sem você

Se não fui embora ainda, é porque não conseguirei mais viver sem você... Ou sem o seu sorriso. Ou sua mania de querer ler todos os livros do mundo... Ou... Ou simplesmente de você.

Acho que não preciso perguntar se posso ficar, porque a resposta sempre será sim. Porque é para você que estarei fazendo esta pergunta e não para a Guarda Cães ou para sua mãe... E mesmo que ela dissessem sim, não seria o seu sim. E mesmo que você não me diga verbalmente, ainda sim é o seu sim que tem me feito ficar.

Mesmo quando o mundo virou as costas para mim,
Você ficou ao meu lado
E as unicas coisas que te dei foram cicatrizes.
Eu nem sequer tenho o direito de prender você.

Novamente se movia por baixo das cobertas, soltando minha cintura e virando para o lado oposto, os olhos estavam fechados e a respiração continuava leve e calma. Automaticamente, levava minha mão direita sobre seus cabelos brancos e sorria leve ao constatar que o preferia com essa cor do que com o castanho. Ficava mais meigo...

Mesmo que não tenha sido muito a minha culpa, não consigo me sentir menos culpado pelo fato de ter te enfiado neste meio. Talvez Safu não tivesse tido o destino que teve e nem a No.6. E talvez você estivesse casado e com filhos... Mas tudo o que fiz fora mudar o rumo de tudo isso...

E, estranhamente, me prender em você.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.