– Está sem ar, Emma? – provocou Christine, rindo e tirando da frente do rosto uma mecha rebelde – precisa descansar um pouco?

– Estava sendo educada e lhe dando uma vantagem, Christine de Guise! – respondeu a outra, mudando a raquete de mão – Agora vou jogar de verdade!

As duas moças riam e se provocavam durante seu jogo de tênis, realmente entusiasmadas, enquanto Vivienne era mimada pela senhora Elsa – uma mulher de quarenta anos, cabelos muito claros, roliça e simpática, que já tinha netos mais velhos do que a pequenina - a aia de Emma, desde a infância desta. Estavam empatadas, com um set de vitória para cada uma, quando resolveram parar um pouco; sentaram-se junto a Elsa, que entregou Vivienne para a mãe, comentando:

– Ela é uma criança maravilhosa, Madame de Guise. Tem sorte em ter uma filha tão doce e bonita.

– Obrigada. – respondeu a jovem, beijando a fronte do sorridente bebê. Emma se aproximou, e a pequena lhe estendeu os braços, indo para o colo da “tia”, que riu:

– Você é uma pequena manipuladora, sabia? Coloca-nos a todos no bolso! – a criança sorriu, como se entendesse o que lhe era dito, e fez força para ficar em pé naquele colo carinhoso – ah, mas seu pai vai sofrer muito em suas mãos, Vivienne!

– E por falar nisso... – começou a soprano, soltando os cabelos da trança que fizera para jogar – onde estão nossos maridos?

– Viktor ainda não engoliu a derrota para Erik... Devem estar se matando em algum lugar do pátio de esgrima. – respondeu a outra, tentando soltar o cabelo das mãozinhas de Vivienne que, usando o ombro da “tia” para se manter ereta, parecia encantada com os cachos louros da mulher – quer me devolver meus cabelos, por favor?

– Vivienne... – censurou Christine, pegando a filha com um sorriso – os cabelos, não, querida! – a garotinha, se é que isso era possível, tinha expressão travessa, e desviou a atenção das melenas de Emma para as da mãe, que riu e a beijou – Manipuladora. Mas está se saindo igualzinha ao pai! Não fica satisfeita em parecer com ele só fisicamente? – e sussurrou baixinho para a pequena – Está proibida de sair por aí enforcando as pessoas!

Uma brisa fria começou a soprar, e a senhora Elsa – próxima que era de Emma, da qual cuidara desde bebê – tratou de usar sua autoridade com as moças:

– Vamos para um lugar aquecido, crianças! O bebê não pode tomar esse vento, e nem vocês duas, com o corpo quente depois de se exercitar!

– E nossos esposos? Não vão nos procurar aqui? – perguntou Christine, juntando as coisas de Vivienne.

– Ah, eles as encontram depois! – e ralhou – mas andem logo! Quando resolverem sair do vento, já estarão doentes!

Sob as zangas da senhora, as duas jovens seguiram para o salão de jogos das damas. Era um ambiente muito amplo, duplamente revestido em madeira, de chão acarpetado num tom bordô, com várias mesas de madeira escura, quatro lareiras grandes que lançavam calor para dentro do lugar, e poltronas confortáveis perto destas. Algumas estantes de fino gosto eram ocupadas por livros, e a iluminação era feita por velas apoiadas em dezenas de candelabros espelhados, os quais multiplicavam a luminosidade, lançando-a para todos os lados. Entretanto, não havia ninguém além do trio, ali; à medida que o inverno chegava, o clube ia sendo menos freqüentado, até fechar durante as nevascas de fevereiro, para só reabrir já nos idos de março.

Enquanto Emma e Elsa se desafiavam num jogo de cartas que rendia muitos risos, a soprano se acomodou numa poltrona e, lançando uma manta sobre o ombro para se cobrir, tratou de amamentar sua filha. Embora a maior parte das damas preferisse pagar amas-de-leite para seus filhos, ou usar mamadeiras – especialmente com bebês já na casa dos cinco meses, como Vivienne – ela não abriria mão daquele momento que pertencia apenas às duas, quando a jovem mãe podia sentir seus laços com a filha se tornando cada dia mais fortes. Era um instante especial, só delas, e não deixaria isso de lado por simples convenção social. Tolas das outras mães, que não desfrutavam de tais momentos de carinho com seus bebês.

Com sua fome saciada, a criança não dava mostras de querer dormir; ainda que seus olhinhos se fechassem de sono, ela brigava para se manter acordada, ansiosa por ver tudo à sua volta, já resmungando e irritada por não conseguir. A mãe a embalou nos braços, “ralhando”:

– Quer parar de bagunça? Já brincou o bastante, querida... Agora, trate de dormir, e descansar. Eu estou aqui, com você. – e começou a cantarolar baixinho uma canção que aprendera no teatro, com Madame Giry:

Berceuse - Céline Dion

Chut. Chut, faut pas te réveiller. (Shhh. Shhh, não precisa acordar)

Je voulais juste t'embrasser (Eu queria apenas te beijar)

Te regarder encore une fois (Olhar para você mais uma vez)

Pour t'emporter avec moi (Para te levar comigo)

Là où je vais chanter (lá, onde vou cantar)

Maman t'aime (Mamãe te ama)

Surtout ne me regarde pás (Não olhe para mim)

Surtout ne me tends pas les bras (Não me estenda os braços)

Ne pleure, ne pleure surtout pás (Não chore, não chore)

Je vais rester et je ne peux pás (Eu queria ficar, mas não posso)

Maman t'aime (Mamãe te ama)

Que je t'aime (Como eu te amo)

Je le sais, je te fais de la peine (Eu sei, eu te faço sofrer)

Mais je t'emmène avec moi sur scène (Mas eu te levo comigo para o palco)

Et si le public m'ovationne (E se o público me aplaude)

C'est parce que t'es avec moi, mon amour. (é porque você está comigo, meu amor)

Maman t'aime (Mamãe te ama)

Je t'aime (Eu te amo)

Não demorou muito para que, com os olhos pesados de sono e cansaço pelo dia agitado, a pequena dormisse profundamente, sua mãozinha segurando com força o vestido da mãe. Em absoluto silêncio, Emma se aproximou e, sentando-se ao lado da amiga, perguntou:

– Como é a sensação?

– Como assim? – tornou a outra, num sussurro.

– Ser mãe. Qual é a sensação?

Os olhos da soprano se perderam em algum ponto muito distante, seu rosto esboçando um sorriso enquanto se lembrava do dia em que descobrira estar grávida... Fora uma sensação diferente de qualquer outra. Como poderia explicar a sensação a alguém que ainda não experimentara a maternidade?

– É ter seu coração batendo fora do peito. – respondeu, afinal – Ela é tudo para mim... Um amor tão grande, tão desprovido de razão... Um amor que não precisa de palavras, de motivos, de nada além de si mesmo. – e acariciou seu bebê adormecido – Você ainda vai compreender, Emma.

A sueca sorriu com olhos sonhadores... Sim, um dia ela compreenderia... E queria muito que este dia não estivesse longe.

*

Como a Srª Karlson dissera, Viktor de fato tentara uma revanche contra o Fantasma, para tentar uma vitória com as espadas. Sua ilusão não durou muito tempo, antes que Erik o lançasse ao chão com uma elegante torção de punho que tirou o equilíbrio do outro.

– Desiste, Viktor? – perguntou o Anjo, com um sorriso esboçado.

– Nem pensar – respondeu o outro, levantando-se de um salto e voltando à luta. Não encontrava um adversário tão bom há muito tempo, e estava se divertindo muito!

O embate recomeçou, agora com o sueco ainda mais empenhado em se esquivar aos golpes do amigo e devolvê-los um por um, buscando uma brecha nas ágeis defesas do outro que lhe permitissem desarmá-lo. Foi apenas após dez longos minutos que, afinal, o homem de cabelos dourados teve a chance que queria: com uma investida rápida, deslizou sua lâmina contra a do mascarado até que as empunhaduras se prendessem uma à outra. Tentou arrancar o florete da mão do outro com um girar do pulso, mas Erik conhecia aquela tática, e apenas acompanhou o girar do próprio braço com o corpo, na intenção de usar o impulso ganho para uma rasteira que mandaria Viktor outra vez ao chão. Entretanto, não foi como o Fantasma esperava...

Durante o movimento, a guarda da espada de Karlson se enroscou à beira da máscara do músico, arrancando-a do lugar. Guiado pelo puro instinto, o Fantasma agarrou a peça com ambas as mãos antes que ela caísse de seu rosto, usando o ombro para empurrar Viktor e afastá-lo de si, afastando-se então como um animal selvagem. Surpreso com a reação do amigo, o Sr. Karlson viu que o outro homem estava trêmulo e levava as mãos ao rosto, segurando a máscara contra a face como se sua vida dependesse disso. Mas o que teria acontecido a ele para que tivesse tal horror a expor as próprias feições?!

Aproximando-se do Fantasma, Viktor perguntou, cauteloso:

– Erik? Você está bem?

– Estou – respondeu o outro, recompondo-se após se certificar de a máscara estar bem colocada no lugar – perdoe-me por isso.

– Não, eu que peço perdão... Não pretendia causar-lhe nenhum constrangimento.

– Não causou. Esqueça isso. – respondeu Erik, pegando sua espada no chão e guardando-a na bainha – Nossas damas devem estar nos aguardando.

A dupla embainhou as armas e as guardou em seus respectivos estojos, colocando então os casacos e deixando o salão de esgrima; o vento lá fora estava forte e intenso, o que fez Viktor comentar:

– Emma e Christine devem ter saído do vento e ido para um lugar aquecido. Creio que estejam no salão de jogos.

O músico anuiu, concordando, e seguiu ao lado do amigo em absoluto silêncio, enquanto cruzavam o campo gramado. Havia uma tensão formada no ar após o desagradável incidente, e o sueco tentou se retratar:

– Não quero que o ocorrido prejudique nossa amizade, De Guise. Perdoe-me.

– Não tem que pedir perdão. Foi um acidente. – tornou o outro, seco.

– Ainda assim, está agindo como se eu houvesse atirado em você. – e em tom muito sério – Não sei o que está embaixo da máscara, Erik, e pouco me importa em saber. Somo amigos, e nada que você possa querer esconder vai mudar isso. Eu o respeito por quem é. – e estendeu a mão – tudo bem entre nós?

Após um segundo de hesitação, o Fantasma sorriu e apertou a mão do outro; retomaram o caminho, agora com ar mais leve entre ambos. Enquanto seguiam, Karlson começou:

– Posso fazer uma pergunta?

– Já está fazendo, mas pode fazer outra. – brincou Erik.

– Por que tanta aversão a deixar que vejam seu rosto?

Certa tensão se instalou outra vez, antes que o artista respondesse:

– Só houve duas pessoas que viram meu rosto e me trataram como um ser humano. Uma delas foi Christine. Os demais... Bem, seres humanos podem ser muito cruéis.

Passavam agora pela beira de um córrego largo, e começaram a margeá-lo em direção à ponte. O homem de cabelos claros deu seguimento à conversa:

– Sei bem disso.

– Sabe mesmo? – perguntou Erik, cético.

– Esta gracinha aqui – o sueco apontou para a cicatriz rosada que ia da têmpora ao lábio esquerdo, passando rente ao olho e fendendo levemente a boca – ganhei com oito anos. Caí do cavalo sobre uma estaca de madeira. Quase morri, e isso ficou bem feio... No começo, meus pais queriam me manter em casa, para minha segurança. Quando cicatrizou, voltei à escola... mas não foi a mesma coisa. Chacotas aonde ia, apanhava de outros rapazes, era ridicularizado pelas meninas... Até mesmo parentes menos próximos me evitavam, e olhavam com nojo.

Erik arqueou as sobrancelhas, surpreso... Viktor não parecia alguém que já houvesse sofrido rejeição, com seu modo expansivo e confiante de ser. Interessado, perguntou:

– E como lidou com isso?

– Como uma criança lida? Comecei a me esconder em casa, me trancava no quarto... Meus pais queriam me respeitar, mas meu avô viu que aquilo me levaria a um destino ruim. Um dia, ele me obrigou a voltar à escola, e quando cheguei chorando, disse que eu não poderia fugir do que eu era. Havia duas opções: me esconder pelo resto da vida, ou me aceitar e fazer das cicatrizes minha armadura. Eu poderia me ver como um coitado deformado, ou como alguém que sobrevivera a algo que mataria qualquer outro. Eu podia ser uma vítima, ou um guerreiro. Escolhi a segunda opção.

– E Emma?

– Durante a adolescência, achei que mulher alguma iria olhar para mim. E realmente, nenhuma olhava. Eram meninas fúteis, garotas que só se interessavam pela aparência; conheci minha mulher quando contava vinte anos, e ela, quinze... Conversamos durante uma festa, e fiquei encantado por ela. Passamos a nos encontrar, e... Bem, estamos casados há cinco anos. – Viktor fez uma cara marota – e você com sua Christine?

Erik suspirou e esfregou a nuca, levemente constrangido... Sem querer tocar no próprio passado antes de sua mulher, resumiu a história como podia:

– Eu vivia recluso no teatro onde morava. Um dia a ouvi cantar, ainda criança... Tinha uma belíssima voz. Tornei-me seu professor e, quando ela cresceu, nos apaixonamos. Ela não é só uma mulher linda com uma bela voz... É inteligente, curiosa e tem enorme coragem. Eu a admiro e me orgulho dela. Também é travessa como uma criança, está sempre a pregar peças.

– Então, que Deus nos livre de nossas esposas começarem a tramar algo juntas! – declarou Karlson – Melhor as encontrarmos logo, ou terão algum plano diabólico formado!

Os dois sorriram e se dirigiram para o salão de jogos, onde suspeitavam que as damas estariam. De fato, lá elas estavam, entretidas com charadas – um jogo bastante comum para tardes frias - enquanto a pequena Vivienne dormia.

Cada homem se aproximou de sua esposa e a tomou nos braços, beijando-lhe o rosto; o Anjo contemplou longamente a filha adormecida, com um sorriso terno no rosto. Pensava no que Viktor lhe contara, e meditava a respeito... Sim, ele tinha duas escolhas: ser para sempre alguém recluso e fechado, que fugia do mundo e dele se escondia, ou podia simplesmente aceitar o que era e fazer de si mesmo alguém de quem sua esposa e filha se orgulhariam. Afinal, se continuasse a se ocultar para sempre, quem defenderia Christine? Quem protegeria Vivienne? Ele já fugira de si mesmo por tempo demais... Estava na hora de se aceitar, e de ser o homem que sua família precisava que fosse. Por elas, e nada mais, ele tomaria a mais difícil decisão de sua vida.

POV Erik

Quando fui até Christine, pretendia levá-la para casa; meus planos, contudo, foram frustrados pela chuva intensa que começou a cair, impedindo-nos de ir até os estábulos onde nossa carruagem aguardava. Assim sendo, sentamo-nos com os Karlson e a Sr.ª Elsa Herrsig – que tinha um enorme sorriso enquanto deixava minha filha dormir em seu colo – perto da lareira. Mas que terra fria! E como a temperatura caíra depressa...

Enquanto aguardávamos que a chuva melhorasse, perdidos em conversas acerca de história européia – o que dava margens para piadas ocasionais – uma jovem – saída não sei de onde – se aproximou e nos ofereceu algo para beber. Christine, Frau Herrsig e Emma aceitaram chá de especiarias, Viktor pediu por hidromel, e eu me contentei com vinho temperado; retomamos nosso assunto e, em algum momento, a conversa recaiu sobre a história russa, mais especificamente sobre a rainha Catarina. Com seu senso de humor onipresente, o Sr Karlson começou:

– Há uma história sobre a imperatriz. – Emma revirou os olhos e sorriu, como se já esperando uma piada ruim – dizem que ela viajou em um navio, e manteve um diário relatando a viagem. Só três páginas foram encontradas...

– Ah, não, lé vem Viktor! Querido, são piadas de salão, e não piadas de saloon, por favor! – mas seu marido apenas riu e prosseguiu:

– A primeira datava do primeiro dia de viagem – e narrou – “Meu diário: estou comodamente instalada em minha suíte, esplendidamente acomodada. A criadagem é muito eficiente e gentil, e tenho absolutamente tudo de que preciso.” A segunda página datava do sétimo dia de percurso: “Meu diário, estou realmente apreensiva... O capitão do navio, um senhor de meia-idade muito bem apessoado, começou a tentar aproximar-se de mim. Permiti-lo, uma vez que se tratava de alguém muito agradável, e conversamos alegremente. Entretanto, hoje ele me disse que me deseja, e que, se eu não o servir esta noite, afundará o navio. Não sei o que fazer”. A terceira e última página era datada do dia seguinte, e continha apenas quatro palavras: “Meu diário, salvei o navio!”. – e assim dizendo, caiu na risada. Nenhum de nós conseguiu ficar sério (era sabida por todos a fama da rainha de obter amantes aonde ia), mas Emma corou e lhe deu um tapa na cabeça, exclamando:

– Mas você não toma jeito! – olhei para minha amada esposa, e ela também ria, então decidi fazer um comentário para provocá-la:

– Não vejo nada de mais! Ela estava sendo altruísta! Oras, quantas vidas não salvou, afinal? – senti um tapa de minha mulher em meu ombro, e gargalhei ao ouvi-la ralhar:

– Mas está pondo suas asas de fora, senhor Fantasma! Vou te proibir de andar na companhia de Viktor! Ele é péssima influência para você!

Esse foi apenas um dos episódios da tarde; até mesmo a severa Frau Herrsig participou, ralhando quando achava que ríamos alto demais. A noite já caía quando a chuva passou, deixando-nos ir para casa. Estávamos felizes, e havia uma leveza nova no ar. Fora maravilhoso ver minha Christine tão relaxada, tão alegre, sem tentar manter falsas aparências ou assumir o papel de perfeita dama... Eu mesmo já não era o homem que deixara Paris. Fora capaz de rir, de brincar e de me sentir, pela primeira vez na vida, apenas um ser humano.

*

Já em casa, jantamos a deliciosa refeição deixada para nós por Frau Herrit – criada da casa que havíamos alugado, e que muito se afeiçoara a Christine, como todos os outros que a conheciam. Depois disso, banhamos Vivienne e brincamos com ela por um longo tempo; contamos-lhe histórias, deixamos que engatinhasse pelo tapete da sala, e coloquei-a em meu colo enquanto tocava piano, deixando que ela corresse as pequenas mãos roliças pelas teclas. Era impressionante o modo como minha filha - em vez de martelar as teclas como o fariam a maior parte das crianças – tocava nota por nota, prestando atenção a cada som. E se já o fazia com seis meses de vida, o que não faria quando fosse uma moça?!

Já era noite alta quando conseguimos cansá-la o bastante para que dormisse; enquanto minha mulher ia se banhar, eu fiquei a embalar nossa filha nos braços, cantando para ela – adorava fazer aquilo. Minha menina, minha filha, minha pequena... Meu coração batendo fora do peito. Como era possível amar tanto algo tão pequenino?!

Fiquei longos minutos a contemplar-lhe as feições: os cabelos negros – tão escuros quanto os meus – e cacheados como os da mãe, a pele muito clara, o narizinho arrebitado de Christine. Seus lábios prometiam ser cheios, o superior mais fino que o inferior, e vermelhos. E os olhos, grandes e amendoados, que agora estavam fechados mas, quando abertos, tinham a cor da grama de verão. Ela era perfeita. Perfeita em todos os aspectos. Minha Vivienne.

Finalmente minha musa veio se juntar a nós e, continuando minha canção, pegou o bebê nos braços, levando-a para o berço e acomodando-a. Ficou ali, balançando o berço suavemente, e não resisti a me sentar e fazer um esboço daquela cena; ficou um bonito desenho, mas nada poderia retratar com perfeição todo o encanto e magia que havia naquela cena que se me tornara mais preciosa do que o próprio ar que respirava. Qual das duas eu amava mais? Impossível dizer, pois eram amores igualmente intensos, ainda que totalmente diferentes.

Mirácle - Céline Dion

you're my life's one miracle (você é o milagre de minha vida)
everything I've done that's good
(tudo o que eu fiz de bom)
and you break my heart with tenderness
(e você quebra meu coração com doçura)
and I confess it's true
(e eu confesso que é verdade)
I never knew a love like this 'til you
(Eu nunca conheci um amor como esse, até agora)
you're the reason I was born
(Você é a razão pela qual eu nasci)
now I finally know for sure
(Agora eu sei com certeza)
and I'm overwhelmed with happiness
(E estou coroado de felicidade)
so blessed to hold you close
(Tão abençoado por abraçá-la forte)
the one that I love most
(Aquela que eu mais amo)
though the future has so much for you in store
(Embora o future guarde muito mais para você)
who could ever love you more?
(Quem poderia amá-la mais?)
the nearest thing to heaven
(A coisa mais próxima do céu)
you're my angel from above
(Você é meu Anjo)
only God creates such perfect love
(Somente Deus criaria tão perfeito amor)
when you smile at me, I cry
(quando você sorri para mim, eu choro)
and to save your life I'd die
(para salvar sua vida, eu morreria)
with a romance that is pure in heart
(com um romance que é puro de coração)
you are my dearest part
(você é minha parte mais querida)
whatever it requires
(Não importa o que isso requira)
I live for your desires
(eu vivo por seus desejos)
forget my own, your needs will come before
(esqueço de mim, suas necessidades vêm antes)
who could ever love you more?
(quem poderia amá-la mais?)
there is nothing you could ever do
(não há nada que você possa fazer)
to make me stop loving you
(para me fazer parar de te a mar)
and every breath I take
(e cada respiração)
is always for your sake
(é sempre por você)
you sleep inside my dreams and know for sure
(você dorme em meus sonhos, e sei com certeza)
who could ever love you more?
(quem poderia amá-la mais?)