“O rosto de Erik se contorceu numa careta de desagrado. Ele não concordava em nada com Mme. Giry, não era justo que Anna não soubesse sobre sua própria gravidez. Além do mais, ele não fazia ideia de que Anna estava nesse estado.

–Como ela ficou tão doente? – ele questionou.

–Não tenho certeza. Imagino que a depressão tenha sido desencadeada por causa das ações do rapaz, Lui. Ela se trancou no quarto por semanas, presumo que mal tenha saído pra se alimentar... Daí a anemia. Ela está esquálida, Erik, quase não a reconheci. Talvez você pudesse tentar convencê-la a se alimentar direito, tenho certeza de que ela vai ouvi-lo.

–Não, Antoinette, não adianta. Anna está furiosa comigo, e tem todo o direito de estar... Ela não vai ouvir nada do que eu tenho para dizer.

–Ora, não custa nada tentar. Vamos, Erik.

Ele suspirou. Ser rejeitado novamente por Anna seria dolorido demais... Mas se fosse para o bem dela e do bebê, valeria a pena tentar. Erik assentiu com a cabeça, levantando-se do sofá. Pegou o colete e o sobretudo que estavam dobrados sobre o braço do sofá e os vestiu. Endireitou a máscara sobre o rosto, ajeitou o cabelo.

–Então vamos logo – ele pediu -, antes que eu mude de ideia.”

–Anna? – Mme. Giry bateu na porta pela terceira vez. –Eu trouxe comida.

–Eu não estou com fome. –veio a resposta do outro lado da porta.

–Anna, eu achei que já tivéssemos passado dessa fase. Você vai comer nem que eu tenha que arrombar essa porta.

Depois de um momento, Antoinette e Erik ouviram o barulho da chave virando na fechadura e a porta se abriu, revelando a nova versão esquálida de Anna. Ao avistar o Fantasma, os olhos da menina se arregalaram e ela se voltou a Mme. Giry.

–O que ele está fazendo aqui?-perguntou, ultrajada.

–Ele veio te ajudar, minha querida.

–Eu não quero a ajuda dele. – Anna já ia fechando a porta, quando Erik se meteu no caminho, entrando no quarto.

–Anna, espera. A gente precisa conversar. – ele fechou a porta atrás de si, deixando Mme. Giry para trás, no corredor.

–A gente não precisa, não. Você só vai falar um monte de baboseiras pra tentar ficar comigo e Christine ao mesmo tempo. Eu já entendi isso, Erik.

–Que absurdo, Anna! Escute, eu admito que dormi com Christine por vontade própria. Isso não significa que eu nutra quaisquer sentimentos por ela, significa apenas que eu estava carente e confuso, achando que nunca teria uma chance de ter você de volta.

–E nunca vai ter mesmo! – ela interrompeu, ao que o Fantasma suspirou, contrariado.

–Olha, Anna, não é por isso que eu estou aqui. Antoinette achou que talvez você fosse me escutar. Ela está muito preocupada com a sua saúde, e me pediu que viesse conversar sobre isso. Eu te amo, Anna, e só quero o que é melhor pra você. Então, será que você não pode tentar se cuidar? Se você começar a se alimentar direito, provavelmente vai se recuperar logo.

Anna revirou os olhos, mas não discordou. Pensou por um momento e disse:

–Tudo bem, Erik. Se eu prometer que faço isso, será que você pode ir embora logo?

Erik hesitou, chateado por ela estar tão decidida a manter distância, mas acabou concordando com a cabeça.

–Então tá, eu prometo. Agora, vai.

–Anna, será que a gente não pode ter uma conversa um pouco mais civilizada sobre tudo o que aconteceu com a gente? – ele pegou a mão dela devagar, receoso de que ela não permitisse o contato.

–Eu não tenho nada pra dizer, Erik. – Anna suspirou.

–Mas eu tenho, Anna. Será que o que eu fiz foi mesmo tão errado? Eu sentia sua falta e acabei cedendo aos caprichos de Christine. Você também tentou me substituir, lembra? Ou você realmente achou que sentia algo por Lui? Eu não estou te pedindo perdão, embora eu tenha te perdoado, eu só quero poder te ajudar a se curar. Tudo bem?

A menina sabia que Erik tinha razão, é claro. Ela nunca sentira nada por Lui e os dois sabiam muito bem disso. Respirou fundo, soltando um suspiro.

–Tudo bem, Erik. – ela enlaçou os dedos nos dele, um pouco insegura sobre o movimento – Obrigada.

Ele deixou um sorriso escapar, percebendo que o coração de Anna parecia finalmente estar se amolecendo. E era verdade. Ali, com a mão de Erik sobre a sua e o corpo dele tão perto do seu, a menina percebeu como sentia falta daquele calor que emanava dele. Ela ainda o amava.

Sem aviso prévio, Anna usou o pouco de força que tinha para puxar Erik mais para perto numa tentativa de abraço. Os braços dele logo a aninharam em seu peito, por mais que ele estivesse surpreso com as ações dela. Não demorou muito para que ele começasse a sentir algo molhar sua camisa e ouvir a respiração afetada da menina.

–Anna? Está tudo bem? – perguntou preocupado.

Ela afastou o rosto do peito dele, secando as lágrimas que caiam pelo rosto.

–Tá tudo bem... – Ela sussurrou. –Acho que eu só não tinha percebido como você fez falta pra mim, Erik. – ela deu um sorriso fraco. – EU estava com saudades.

Erik pegou uma mecha dos cabelos negros dela que caíam desajeitados sobre o rosto, prendendo-a atrás da orelha e sorrindo também, uma melancolia estranha nos olhos. Secou o resto das lágrimas do rosto dela com o polegar.

–Eu também senti sua falta, Anna. Mais do que você imagina.

Erik começava a aproximar seu rosto do dela, lentamente, como que com medo de ser rejeitado, quando alguém bateu na porta.

–Anna? Erik? – a voz de Mme. Giry se fez ouvir do lado de fora do quarto. –Tudo bem aí dentro?

–Sim, Mme. Giry. – a menina respondeu, se distanciando um pouco do Fantasma.

–Posso entrar? Eu trouxe comida.

–Tudo bem, entre.

Assim, com uma bandeja repleta de diversos tipos de alimentos, Mme. Giry abriu a porta, desajeitada, e entrou no quarto. Depositou a refeição na mesinha ao lado da cama.

–Precisa de mais alguma coisa, Anna? – ela perguntou, observando os dois com cautela para ter certeza de que estavam conversando pacificamente, e não brigando.

–Não, Mme. Giry, muito obrigada. – a menina sorriu ao que a outra se espantou, logo deixando o quarto, imaginando o motivo por trás do bom-humor repentino de Anna.

–Fica aqui comigo? – ela pediu a Erik assim que Antoinette fechou a porta.

–Sempre. – ele respondeu com um sorriso no rosto.