Lui finalmente conseguira entrar num acordo com Raoul. O menino não apreciava todos os ternos formais que o visconde possuía, então concordaram que uma calça preta e uma camisa, branca e elegante, porém desacompanhada que qualquer gravata ou paletó. Ele ainda estava confuso quanto ao que se passara alguns momentos atrás: não conseguia tirar a imagem da amiga do pensamento. Ela era tão bonita! Lui queria encará-la até que cada feição, cada detalhe de seu rosto estivesse registrado em sua mente.

Vestiu-se, deixou os cabelos despenteados, acreditando que isso lhe acrescentaria um certo charme, e foi procurar sua amiga. Saiu pelos corredores longos e desconhecidos, ignorando as perguntas do visconde e os olhares de Christine. Ele não conhecia o Teatro, portanto limitou-se a vagar, sem saber para onde ia, até que o destino o levasse à menina. Finalmente encontrou quem estava procurando. Ela estava acompanhada por Madame Giry, claro. As duas estavam sentadas num banco, bem embaixo de um dos camarotes, no que parecia ser o salão principal do Teatro. Dezenas de fileiras de cadeiras, suntuosamente revestidas em veludo avermelhado, enchiam o ambiente. O palco, logo a frente, grandioso, estava parcialmente omitido por trás de cortinas pesadas, também vermelhas.

Lui se aproximou das duas mulheres, novamente examinando, maravilhado, o rosto dela. Madame Giry percebeu sua presença, pelo som distraído de seus passos, antes que ele dissesse qualquer coisa.

Oi, Lui. - Madame Giry disse, em alto e bom som, virando-se em seu assento para olhar o menino.

Oi. - ele respondeu, sorrindo. Diferente de Anna, Lui não tinha grande timidez. Costumava ir a muitas festas e eventos quando os pais estavam vivos, e adorava conversar e conhecer pessoas. O tempo passado com os ciganos não fora o suficiente para esmagar seu espírito. - Sobre o que estão conversando?

—Estávamos pensando em um nome para a sua amiga.

—É mesmo? Chegaram a algum acordo? – Lui ansiou por saber qual nome poderia ser bom o suficiente, combinando com aquela menina tão bonita.

A menina anuiu com a cabeça, timidamente, o brilho nos olhos denunciando sua alegria por ter, finalmente, um nome, embora ela não sorrisse.

—Anna. – ela disse, quase sem volume.

Anna. Combinava com ela. O menino apreciou, sorrindo para a amiga.

—Anna. - Lui repetiu, sentindo o nome na língua. - Combina com você.

A garota baixou os olhos pro chão, escondendo as bochechas rosadas.

—Obrigada. – sussurrou.

Madame Giry pigarreou.

—Crianças, hoje à noite teremos uma estréia aqui na Ópera. Gostariam de assistir comigo?

—É claro! - Lui disse.

—Ótimo, ótimo. Será as oito horas, pontualmente. Agora, acho que devo lhes apresentar a minha filha, Meg. Assim poderão interagir com alguém da idade de vocês.

Meg era uma adorável garota, loira de grandes olhos castanhos. Era também muito agitada, parecia não conseguir parar de falar. Anna apreciou essa qualidade, pois quanto mais Meg falasse, menos ela própria teria que fazê-lo. Lui não gostou tanto do jeito da garota, à princípio, incomodando-se com aquela tagarelice.

Meg apresentou-os a alguns de seus amigos - Beaumont, extremamente alto; Catherine, irmã mais nova de Raoul; Belle, uma exímia dançarina, assim como a própria Meg, e Arton.

Passaram o resto da tarde juntos, conversando, a não ser por Anna, que se mantinha afastada do grupo, observando e não dizendo uma palavra sequer. Conhecera em um dia mais pessoas do que no resto de sua vida. Foi só quando chegou a hora de se preparem para assistir à ópera – Dom Juan Triunfante – que o grupo se dissolveu e a conversa, finalmente parou.