Embora as meninas vissem a silhueta escura que, claramente, pertencia ao Fantasma, não conseguiram acreditar em seus olhos. O homem, que normalmente apresentava-se envolto por toda sua glória mascarada, agora tremia com seus próprios soluços de tristeza. Encolhido no chão de seu covil subterrâneo, o Fantasma murmurava coisas sem sentido em meio a suas lágrimas.

Sem que a tivessem visto antes, surgiu repentinamente a figura de Madame Giry, correndo em direção ao Fantasma no chão, tentando consolá-lo.

Anna olhou assustada para Meg. Não vira Antoinette antes e tinha medo de que a mãe de Meg se zangasse por estarem ali.

—Desde quando sua mãe está atrás de nós?

—Não faço ideia. - Meg sussurrou, enquanto as duas lentamente se dirigiam para junto de Antoinnete e do Fantasma, mantendo alguma distância, sem serem notadas.

—É por causa de Christine, não é? - elas ouviram Madame Giry indagar enquanto ajudava o mascarado a se sentar numa cadeira de mogno e dava-lhe alguns tapinhas de consolo em suas costas.

O Fantasma apenas assentiu, tentando se recompor.

—Querido, não fique assim! Você é um homem de grande valor. Se ela quis partir com Raoul, não te merecia.

—Christine não me merecia? - o Fantasma da Ópera replicou, entre lágrimas, fungando sutilmente. -Eu é que nunca a mereci. Sou apenas um monstro, Antoinette! Uma criatura asquerosa... Que direito eu posso ter de macular uma garota tão inocente como a minha pequena Christine? – ele escondeu o rosto em suas mãos compridas, tentando suprimir seus soluços. – Mas mesmo assim, será que não tenho o direito de me sentir traído? Eu a amei desde que ela era uma criança, eu a amparei e ensinei, fiz dela a cantora mais conhecida de Paris. E ela simplesmente foi embora, deixando seu anjo para trás – ele já não apoiava a cabeça nas mãos, mas se mantinha cabisbaixo, o olhar desamparado -, expondo-o na frente de toda a cidade.

Madame Giry, aflita, emocionou-se ouvindo o desespero de seu amigo, aflita. Não havia nada que ela pudesse dizer para confortá-lo. Anna, mais uma vez, suspeitava de que Antoinette nutria fortes sentimentos pelo Fantasma, mas não sabia dizer se eram sentimentos de amizade ou algo mais.

As garotas, Meg e Anna, ainda estavam paradas e silenciosas, o que não as impediu de serem notadas.

—O que estão fazendo aqui? Eu pensei ter dito para não voltarem! - disse o Fantasma, levantando um pouco a voz e olhando para as duas meninas.

Meg se adiantou:

—A culpa é minha. - Ela olhou para a mãe, tentando não ser repreendida, mas sabendo que não poderia mentir - Eu trouxe Anna para cá a força, ela não queria. Eu só queria ver se estava tudo bem.

—É verdade? - Madame Giry e o Fantasma perguntaram juntos, e Anna somente assentiu, assustada e confusa.

—Pois bem, voltem para seus quartos. - Madame Giry disse, - Meg, eu falo com você mais tarde.

—Mas, mãe...- Meg começou.

—Rápido!

Meg começou a correr de volta, e Anna se esforçou ao máximo para acompanhar o ritmo. Quando chegaram à superfície, a morena ofegava, sentindo uma pontada de dor no abdômen, causada pela corrida. Elas se dirigiram a seus quartos, torcendo para que aquela noite fosse mais calma que a noite anterior.

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O Fantasma da Ópera ainda estava abalado, mas as tentativas que Madame Giry fazia para tentar acalmá-lo finalmente começavam a funcionar. Ela era a única pessoa que não a abandonaria, disso ele tinha certeza. Já se fazia muito tempo, décadas, que ela o ajudava. Era o mais perto que ele já havia chegado de ter um amigo. Sua filha, Meg, também era influenciada por ele, ainda que de longe - o Fantasma sabia disso. Percebia que a menina se importava e tentava protege-lo, assim como a mãe o fazia.

No entanto, o que mais tomava seu pensamento naquele instante, além da dor constante pela partida de Christine, era aquela garota, Anna.

—Antoinette, aquela garota que está sempre com Meg. Anna, acho que é seu nome. De onde ela veio?

Giry incomodou-se com a possibilidade de estar surgindo no Fantasma alguma curiosidade por sua nova protegida. Anna nada sabia do mundo, e Antoinette não queria que seu amigo tivesse o coração partido novamente.

—É mesmo, esqueci de contar-lhe sobre isso. Os ciganos estavam na cidade. Encontrei Anna e seu amigo, Lui, na mesma atração em que você costumava ficar. No caso de Anna, a deformação era apenas uma maquiagem muito bem feita. Lui não teve a mesma sorte.

Eu não tive a mesma sorte. - o Fantasma murmurou, sem saber o que mais pensar.

—Erik, não sei se podemos mesmo chamar isso de sorte. É uma crueldade ser obrigada a passar a vida inteira sendo julgado por algo que não é. Você sabe muito bem disso.

O Fantasma assentiu.

—É por isso que ela está sempre com os olhos tão tristes. - ele concluiu.

—É.