Eu costumava a me sentir solitária, e diferente de todas as outras meninas da minha idade. Eu me sempre me senti descolada, já cheguei até cogitar a hipótese de ter algo de errado comigo. Vee é a minha melhor amiga, disso não tenho dúvidas. Com ela minhas diferenças ressaltam, mas de uma forma tão boa que não consigo compreender.
Às vezes paro para pensar em tudo que já passei com Vee, os risos, as teimosias,a vez em que nos perdemos na praia, as noites em que ligamos a música nas alturas e cantamos da forma mais desafinada possível, os meninos que ela sempre me arrumava e até mesmo os desentendimentos. Eu já não conseguia viver sem Vee e não conseguiria nunca, mas eu sei que esse momento uma hora iria chegar. Meu coração murchava só de imaginar.
- Ah! Eu adoraria, Vee! - Respondi ao telefone. Ela havia me convidado para tomar um café. - Vou me arrumar e te encontro daqui a uma hora.
Estacionei o carro, Vee não estava me aguardando nas mesas. Ela estava em pé ao lado do Neon, os braços cruzados sobre a barriga e um olhar perturbado.
- Ei… tudo bem? - Saltei imediatamente e andei em sua direção.
- Baby! - Ela gritou, me abraçando. - Eu achei melhor uma mudança de planos, topa? - Ela disse me mostrando uma daquelas sacolas de papel para viagem.
- Claro. - Eu disse. - Onde vamos?
- Dar uma volta. - Ela ajeitou a bolsa no ombro e pegou em minha mão. Seus dedos estavam frios e pegajosos, ela estava nervosa. Alguma coisa havia acontecido.
Ela andou na minha frente em silêncio. Fomos até uma parte deserta, perto do final da praia. Eu me sentei e observei o céu, de onde eu estava eu podia ver um pedaço do Arcanjo. Um calafrio percorreu minha coluna. Patch.
Vee não se sentou, ela continuou de pé observando a marola azul que ia e vinha. A água parecia gelada, a maresia estava tornando minha boca seja e pegajosa, abri a sacola e peguei um milkshake .
- Então… - Comecei. Levei o canudo aos lábios, o conteúdo rosa estava congelado e muito doce. Minha cabeça doeu.
Vee não disse nenhuma palavra.
- O que está acontecendo? - Perguntei, colocando o copo de volta na sacola e voltando minha direção pra ela. - Nem parece a Vee que conheço.
- Nora, eu… - Ela se virou. Seu rosto estava vermelho e eu podia ver que ela se segurava para não chorar. Eu queria abraçá-la mas antes entender o motivo de tudo isso.
Eu não sabia o que esperar, não sabia o quanto seriam pesadas as palavras que sairiam de sua boca e o quanto elas me atingiriam, mas eu sabia que Vee não era de fazer tempestade em copo d’água.
Ela tinha virado seu corpo completamente e me encarava. Eu já estava me levantando, quando ela abriu a boca, mas não estava pronta para falar.
- Vee… o que quer que seja você sabe que deve me falar. - Eu escolhia as palavras. - Quero ajudar você.
Ela sorriu e pousou as mãos na barriga.
- O problema é esse? - Eu soltei uma risada, não estava acreditando que ela estava cismada com o corpo novamente. - Você está linda…
- Eu acho que estou grávida. - Ela me interrompeu.
Todos os meus sentidos ficaram completamente inertes. Um zumbido preencheu meus ouvidos, minha boca tinha secado novamente. Eu só vi o céu tomar forma sobre mim, as nuvens fofas e transparentes. Meu corpo havia tombado, assim como todas as chances que eu tinha de conseguir falar algo nesse momento.
É, as coisas realmente podem piorar.