Murmúrio

Dia das bruxas - Parte I


5 º Dia.
Marcie havia deixado um convite em meu armário. Era um convite roxo, revestido de veludo preto por dentro. Abóboras com sorrisos medonhos estampavam o envelope. Halloween, só de pensar na palavra meu corpo inteiro estremecia. Por algum motivo essa data me lembrava tradições, nefilins, as coisas que eu estava tentando evitar.
- Você vai? - Vee me perguntou ao final da aula.
- Não sei ainda. E você? - Eu não dava a mínima para as festas de Marcie.
- Eu odeio aquela vadia, mas festas são festas. - Ela fazia um barulho alto com seu chiclete. Mastiga, estica, enche e estoura. - Que tal um pulo na loja de fantasias?
- Eu adoraria, mas não estou me sentindo muito bem desde ontem. - Não era mentira. - Se você for, escolha uma pra mim, tudo bem? - Meus olhos imploravam. - Você sabe meu número, e desde que não seja muito cara e não chame atenção, confio totalmente em seus dotes.
- Ok, baby. - Vee adorava quando alguém elogiava seu gosto para roupas. - Comprarei e depois te ligo.
Dirigi até em casa, sem prestar muita atenção no caminho.
- Nora? - Minha mãe apareceu, entre risadas.
- Sim. - respondi. - O que houve?
- Temos visita. - Eu não precisava nem chutar. Segui até a cozinha.
- Olá, Scott. - Acenei com a cabeça. Mas não foi o suficiente, não pra ele. Scott me puxou para um abraço e beijou minha testa.
- Como foi a aula? - Ele parecia realmente interessado.
- Boa. - Independente se eu tivesse morrido de rir com Vee, aprendido algo interessante ou apenas passado o dia contando quanto demorava para o ponteiro do relógio dar uma volta, eu sempre dizia que a aula foi boa. - Olha o que recebi. - Coloquei o convite em cima da mesa.
- Marcie Millar… - Scott sibilou como se tentasse se recordar do nome. Um choque atravessou seu olhar e eu apenas confirmei com a cabeça.
- Se quiser ir, Nora. - Blythe começou. - Eu não me importo.
- Eu vou. - Falei. - Desde que Scott vá comigo. - Se era pra por a mão no fogo, por que não por o corpo inteiro logo? Isso teria que ter algum resultado.
- Ta falando, sério? - Ele parecia surpreso. Seu sorriso se estendeu de orelha a orelha, parecia uma criança.
- Uhum. - Concordei, abri a geladeira e peguei uma maçã. - Vee foi ver nossas fantasias.
- E eu vou procurar as minhas. Se importa, Blythe? - Scott disse, levantando-se e dando um abraço de urso em minha mãe.
- Claro que não, Scott. - Ela retribuiu, pareciam até melhores amigos. - Volte sempre, gosto de tê-lo aqui, Nora precisa de boas companhias.
- Tchau, Grey. - Scott andou em minha direção e procurava minha boca.
- Mas que droga é essa? - Perguntei, com a boca cheia e os olhos arregalados.
Ele e minha mãe caíram na gargalhada.
- Eu não disse, Blythe? - Por que ele estava se referindo a minha mãe assim?
Ela apenas riu. Scott beijou minhas bochechas e prometeu um telefonema a noite.
- Viraram amigos? - Havia uma nota de sarcasmo em minha voz e minha mãe percebeu.
- Sempre fomos. - Ela sorriu amigavelmente. - Você deveria dar valor. Ele é um ótimo rapaz, já cogitou a ideia de virarem namorados?
Me engasguei com um pedaço de maçã.
- Nem repita isso, mãe. - Eu estava enchendo um copo com água, para desentalar o pedaço da fruta que havia agarrado em minha garganta.
Peguei a bolsa e o convite e subi para o meu quarto, considerando as chances de Patch estar nessa festa. Meu interesse estava aumentando, peguei o telefone no bolso da calça e disquei desesperadamente.
- Vee? - Ela atendeu no primeiro toque, como sempre. - Já comprou as fantasias? - Minha voz transbordava a ansiedade .
- Já, baby. - Ela fazia aquele barulho irritante com o chiclete. - Será que vai ter caras gatos?
- Pior que vai. - Eu ri. - Convidei Scott.
- Você, o que? - Vee deu um berro do outro lado da linha. - Mande ele levar Jason.
- Ok.
- Você vai se arrumar aqui, certo? - Acho que havia alguém mais empolgada que eu. - Comprei alguns acessórios e pretendo fazer você arrasar.
- Vou sim. Tenho que ir, Vee. Amo você. - Eu estava tentando imaginar qual seria a fantasia que Vee havia comprado.
- Também te amo, baby. - Ela fez aquele barulho irritante com o chiclete, antes de desligar.

Eu sabia que não havia uma grande chance, mas era considerável. Eu esperava encontrar Patch, e levando Scott isso seria mais fácil. Parte de mim estava se sentindo mal. Eu estava usando Scott? Claro que não, eu gostava da sua companhia e se ele atraia Patch, que mal havia? Nenhum. E lá se vão dois coelhos com apenas uma cajadada.