Mundo dos Sonhos

Open e uma caroninha


Parte 1

Meu despertador não tocou como devia tocar toda manhã de aula. Quando minha mãe me acordou eu estava extremamente atrasada.

- Ai não, ai não. – dizia pulando ao mesmo tempo, tentando colocar minhas meias o mais rápido possível. – Hoje tem entrega do trabalho de História e o professor Emmanuel não permite atrasos. – olhei para minha mãe que ria de mim

- Ri mesmo! Eu estou desesperada e você se divertindo com isso. – falei brava.

- Calma Mel, já está tudo pronto, seu pai está te esperando lá no carro, termine de se trocar e desça. – disse ela apontando para a porta. – Você vai comendo seu café da manhã no carro.

Devorei um lanchinho enquanto meu pai brigava com o motorista da frente, que havia parado no meio da rua, esperando uma vaga ser desocupada. Cheguei à escola e entrei como um relâmpago, rezando para que o professor não tivesse entrado ainda.

Quando atravessei a soleira, veio um alívio. Não havia começado a aula e tudo estava como sempre.

Comecei a olhar para ver se havia algum lugar vago e cai na risada ao me deparar com uma cena. Jô e uma das gêmeas Akari estavam brigando para ver quem havia guardado um lugar primeiro. Com certeza, minha amiga percebeu que eu estava atrasada e resolveu guardar um lugar para mim. Cheguei perto das duas e, ao me ver, Joana puxou meu braço com força e me colocou sentada na cadeira.

- A Mel chegou primeiro. Ela senta! – disse Joana com um ar autoritário.

- Está bem... - suspirou a gêmea olhando para mim. – Oi Mel, pode se sentar, eu arranjo outro lugar.

- Obrigado! – respondi.

Dia normal, sem muitas novidades. De vez em quando, meu olhar se voltava pela sala. Nenhuma vez meus olhos se cruzaram com os de Daniel. Isso de certo modo foi um alívio, pois não sei de que cor eu ficaria se ocorresse.

Novamente Química na última aula. Acho que era uma tortura que iria ter que agüentar durante todo o ano, sendo salva sempre pelo sinal, que soava como um super herói para mim.

Fui para o ponto de ônibus como de costume, porém, ao chagar no banco de cimento, Daniel já estava lá.

- Nossa, chegou cedo hoje! – exclamei um pouco sem jeito.

- É que não preciso me despedir de metade da sala. – disse ele rindo.

- Hei! Eu não falo tchau para metade da sala... Só para alguns amigos. – falei tentado me justificar.

Ele ficou olhando para mim por um instante, com um sorriso nos lábios.

-Que foi? Você está aqui há um mês! Com certeza no próximo semestre você já vai perder o ônibus, porque ficou se despedindo da galera! – exclamei com um tom que soou engraçado.

- Nossa, eu não ouvi isso! Você está ficando louca, não é? Acha que eu vou estar tão popular assim só no próximo semestre? – Sinceramente, pelo o que me conheço, consigo com mais duas semanas! - disse soltando uma grande risada que eu não me contive em acompanhar.

- Ah! Mas é muito convencido mesmo! Onde já se viu? – balancei levemente a cabeça, como se desaprovasse ironicamente a situação.

- Você que começou! – Falou ficando pé ao mesmo tempo.

Também fiquei de pé, pois o ônibus se aproximava.

- É tão estranho, sabe. – murmurei sentando-me em um banco.

- O quê? – indagou, sentando–se do meu lado.

- Isso! Para mim é engraçado. – Até esses dias eu estava jurando que não iria mais trocar sequer uma palavra com você... E olha hoje! Já estamos rindo novamente. – falei com um sorriso tímido.

- Que bom! Porque se você não falasse mais comigo, eu iria me sentir muito culpado mesmo, principalmente devido à droga do motivo que causou tudo isso! – exclamou com um tom meio inconformado.

Nesse momento a idéia de perguntar aquilo que já estava coçando minha língua veio à tona. Mas novamente não era o momento. Segurei para não falar.

- Ai ai... E aí, o que você faz da vida além de estudar? – perguntou ele, com certeza, devido ao meu silêncio.

- Não faço muita coisa... Jogo Tênis e faço Inglês. – respondi.

- Você joga Tênis? – disse espantado.

- Não sabia que eu possuía uma cara de sedentária tão grande. – ri.

- Você não tem cara de sedentária, mas nunca imaginei que você jogasse Tênis. Adoro ver campeonatos pela TV. Wimbledon, Roland Garros... – voltou os olhos para mim. – Esse esporte me encanta.

Essa última frase foi dita tão suavemente, como se ele não se referisse apenas ao esporte. Demorei um pouco para desviar meu olhar dos olhos azuis que me fitavam, mas balancei levemente a cabeça e voltei ao assunto.

- Realmente é fascinante. Um momento de descontração para mim. – disse animada. – E você, o que faz de bom?

- Adoro futebol! – riu. – Treino na categoria Júnior do time de Bráscuba.

- Novidade um menino que goste de futebol. – falei em tom obvio.

- Mas eu não faço só futebol. Também sou músico.

- Sério? – agora quem fez cara de espanto fui eu.

- Não sabia que eu possuía uma cara anti-musical tão grande! – exclamou ele.

Rimos juntos.

- Você até que tem uma cara de músico, sabia? O que toca? – perguntei.

- Guitarra. Toco em uma banda. – falou ele sorridente.

- Banda? Então você já deve tocar muito bem!

- Quer apreciar o meu som? – indagou fazendo uma voz engraçada.

- Adoraria. – disse derretidamente ao olhar para seu rosto.

Fizemos uma pausa nos olhando até ele começar a falar.

- Sexta feira à noite, nós vamos nos apresentar no Open. Se você quiser ir... Precisamos lotar a casa para podermos voltar outro dia.

- Sexta à noite. – pensei por um segundo. – Acho que vai dar sim e, se é para encher, vou comentar com alguns amigos!

- Isso, façaesse imenso favor para mim! - disse ele alegre.

- Está bem vou avisar sim. – respondi ficando de pé. – Já vou então. – olhei para fora e vi meu ponto se aproximando. – Até mais.

- Tchau... Mel...