Algo muito esquisito havia acontecido. Tentei me esforçar ao máximo para lembrar todos os detalhes do dia que eu não conseguia recordar, para ver se encontrava ao menos uma pista. Nada novamente. Tudo ainda estava confuso de mais, dolorido de mais e então achei um esforço besta e inútil ficar torturando minha memória que deveria estar exausta.

Exausta, esta palavra ecoou por um segundo e uma boa porção de recordações me lembraram que eu estava me sentindo muito cansada nos últimos dias, como se um deja vu da dor de cabeça me perseguisse a cada hora.

A partir daí não consegui lembrar mais nada, mas já estava me sentindo satisfeita com meu pequeno feito.

Fiquei sentada na saleta por um tempo. Eu poderia sair, dar uma volta, arejar, mas preferi ficar a só, no meu cantinho, poupando a cabeça.

Não demorou muito para que a solidão fosse interrompida novamente.

- Melinda? – ouvi meu nome e me virei para ver quem era.

- Oi... - murmurei entre um sorriso para inspetora.

- Está melhor?

- Estou sim, minha cabeça já nem dói mais! – na verdade a dor ainda estava ali, mas era bem pequena.

- Que bom que já está melhor, porque consegui falar com seu pai e de fato vai ser bem difícil alguém vir te buscar... Vamos pedir para um funcionário da escola te levar para casa. Nada de ônibus hoje mocinha!

Antes que eu pudesse fazer qualquer objeção ela já havia atravessado a porta novamente.

Que ótimo, eu simplesmente adorava ficar dependente dos outros.

Fique olhando fixamente para um ponto e percebi minha visão turvar. Um medinho arrepiou minha espinha e então me dei conta que era preciso botar o orgulho de lado um pouco. Eu não estava cem por cento ainda.

Oh Meu Deus, eu não estava cem por cento! E já era sexta feira! Sábado eu tinha a Olimpíada de Física e eu queria muito ir bem. Pelo menos era isso que meus flashes de lembrança me mostravam. Nem eu conseguia acreditar neles, mas eu só me via estudando, minha mente confusa aparecia em branco e do nada eu estava sentada em uma mesa lendo física.

Minha memória recente estava mal mesmo. Pois minha memória antiga me recordava muito bem que eu praticamente nem estudava Física. Bem, mas não iria discutir com isso. Se a lembrança está ali é porque ela aconteceu. Mesmo que eu não me lembrasse de ter sentido ela acontecendo.

Eram tantas lembranças assim. Insensíveis.

Fiquei presa a esse fato até então despercebido. No meio de toda a nebulosidade, no meio de toda a confusão, praticamente todas as cenas que vinham na minha cabeça eram no mínimo desconhecidas. Elas estavam ali, eu aparecia nelas, mas elas eram vagas dentro de mim. Apenas pequenos filmes sendo projetados e largados na minha cabeça.

Novamente, só podia ser culpa do desmaio e da batida de cabeça. Só.