Mudança

Capítulo 26


Sentia-me confusa, confusa e triste e por enquanto nada poderia mudar isto sob meu ponto de vista, aquilo era patético. Eu era patética.

Olhei pro teto do quarto tentando achar uma luz, algo que me devolvesse à mobilidade e a minha capacidade total de raciocínio. Nada. Mas não sentia por mim, sentia por Gabriel, eu queria sair daquilo não por mim, mais queria ser forte por ele, pra estar com ele, ser digna daquele sorriso torto e arrogante que ele me dava cada vez que me via; ouvir suas ironias e provocações agora me fariam ser mulher mais feliz do mundo.

Quando percebi lágrimas escorriam por meu rosto, aquela frustração me perturbava e eu começava a quere desistir, aceitar aquilo, mas não, eu não faria aquilo nunca!

Controlei-me o máximo que pude tentando realizar ações simples como movimentar minhas mãos, por exemplo, mas a cada tentativa eu me sentia mais frustrada. Tentei segurar minhas mãos mais o que consegui foi levar meu dedo a boca.

-Own, cadê sua chupeta bebê?-Nate perguntou da porta.

Olhei pra ele e eu nunca o tinha visto mais realizado, seus olhos brilhavam quando ele olhava pra mim, quase como ele próprio fosse meu pai. Ele veio se aproximando e me pegou no colo delicadamente até me ter em seus braços seguramente, como se ali fosse minha fortaleza. Eu odiava admitir, mas Nataniel depois de minha mãe sempre foi meu porto seguro.

Ainda em seus braços e vi seu relógio dourado, o que hoje de manhã tinha despertado minha patética curiosidade. Impulsionei meu corpo para seu braço na intenção de pegá-lo.

-Hey, o que você pensa que está fazendo?Assim não pode não, você cai amor. O que você quer?Meu relógio?Não pode, estraga.

Respirei fundo e olhei em seus olhos tentando convencê-lo, eu queria ver o tal relógio e não desistiria tão fácil. Cocei meus olhos e o envolvi numa tentava de abraço ainda olhando pro relógio. Ele se sentou lentamente na cama enquanto eu puxava seu pulso com o relógio e brincava por uns instantes, o relógio era lindo, parecia forte mais ao mesmo tempo feito pela mais delicada e habilidosa das mãos. Olhei pra ele segurando seu pulso e mostrando o relógio como se o pedisse, não pude deixar de sorrir quando vi sua cara de derrotado frente a minha persuasão.

-Ai, como você pode me manipular assim?Eu sou o mais velho por aqui, eu que devia te manipular e não o contrário- disse ele fingindo estar frustrado enquanto me entregava o relógio.

Quando peguei o relógio aquilo me fascinou, era como se aquilo fosse muito importante, muito fascinante, eu o virava nas mãos desajeitadamente com Nate apoiando por baixo. Tentei devolvê-lo a seu pulso, mas minha falta de coordenação não me ajudava muito.

-Quer por de novo no pulso do tato neném?O tato ajuda então, senão a correia vai estourar.

Ele pôs de novo o relógio, eu achei tudo àquilo fascinante até que reparei nos botões de sua blusa. Que merda!Essa minha fascinação por coisas idiotas estava me tirando do sério!

Puxei sua blusa mais pra perto e comecei a brincar com os botões,quando um deles saiu, eu fiquei feliz da vida, mas parece que Nataniel não.

-Ah Jenny, poxa vida, não pode fazer assim ó aí, estragou minha blusa, agora vou ter que pregar o botão!-ele disse já bravo.

Nunca tinha ligado pra isso, mais aquele estado de ânimo no meu irmão me deixou muito triste, eu não queria tirar o botão e nem deixá-lo bravo como o deixei. Num instante meus olhos estavam marejados enquanto minha cabeça pendia em seu peito, me senti como se aquilo realmente tivesse sido errado.

-Jenny, amorzinho não chora, depois eu conserto isso, fica assim não, tá tudo bem, ó eu não to bravo não, não precisa chorar por isso tá bom.

Ele se levantou comigo no colo e nem eu entendia aquele minha tristeza toda, mais aquilo na hora me pareceu ruim e eu não conseguia conter nem meus soluços e nem minhas lágrimas.

-Ei, já chega, não precisa ficar assim, eu não fiquei bravo, só fiquei com medo de você engolir o botão neném. Então, vamos tomar um banho?

Sem esperar minha resposta ele me levou até o banheiro, tirou minha roupa e me colocou na água morna me ensaboando enquanto me segurava por uma das mãos; toda vez que ele me olhava e sorria agora me parecia tão especial, tão... Sei lá, paternal.

Ele me enrolou na toalha me levando até o quarto. Chegando lá Le me deixou na cama enquanto me trocava. Colocou a fralda, um vestido rosa de mangas que era puro babado, uma meia calça branca e uma sapatilha com correias rosa, parecia que iríamos sair. Depois de me trocar ele foi até a mesa e pegou uma mamadeira e me deu enquanto sentava no sofá.

-Vamos sair, o que acha?Ver gente, fazer umas compras?Sara vai com a gente, e o Gabs também, o que você acha meu amor?-ele disse já se levantando comigo no colo.

Saímos da casa depois dele pegar minha bolsa, sua carteira e as chaves. Entramos no carro e eu ainda mamava, só que agora com dificuldade por que ele não segurava pra mim.

-Agente vai à casa da Sara tá bom amorzinho?Aí de lá nós vamos pro shopping com eles.

Por todo o caminho Nate me encarava pelo retrovisor sorrindo, eu já tinha desistido de minha mamadeira, já que não tinha a coordenação para segurá-la corretamente. Respirei fundo; mais essa não foi a coisa mais inteligente que fiz;o leite voltou na minha garganta me afogando como nunca antes. Eu puxava o ar em desespero enquanto só sentia o leite tentando sair. Senti o carro para e Nate me acudir bem a tempo, pois quase não sentia o ar dentro de mim.

-Jenny, Jenny você tá bem?-Ele perguntava me chacoalhando.

Finalmente o leite saiu da minha garganta e eu pude respirar aliviada nos braços de meu irmão.

-Menina, não me assusta desse jeito não que eu não agüento; bem não foi sua culpa, foi minha de ter te deixado mamar sem eu segurar pra você, aí você afogou não é?Desculpa amorzinho.

Passado o susto Nataniel continuou a guiar, só que agora me olhando a cada segundo parecendo preocupado e eu não só parecia como estava com fome. Meu corpo respondeu negativamente a isso me fazendo chorar enquanto entrávamos no estacionamento da casa da Sara.

-Hey, Nate, o que tá acontecendo aí?-Sara perguntou entrando ali.

-Acho que ela deve estar com fome, eu tentei deixá-la mamando na viajem e ela acabou se afogando um pouco. Mas e aí, cadê o Gabs?-Nate perguntou me pegando no colo.

-Tá lá dentro no cercado Nate, vamos entrar?

O chalé de Sara era incrível, era simples e muito aconchegante por dentro e por fora.

Olhei pra dentro do cercado e vi Gabs deitado brincando com um bichinho de pelúcia, quando me viu ele parou e me encarou com curiosidade. Desviei o olhar e minha fome novamente me denunciava.

-Sara, posso usar seu aquecedor pra esquentar a mamadeira dela?- Nate perguntou mexendo na minha bolsa.

-Claro Nate, me dá ela aqui e vai lá.

Sara e pegou nos braços e tentava me acalmar enquanto me embalava delicadamente. Aquilo me fez ficar muito mais irritada. Olhei pro lado e vi Gabs me encarando meio que sentado, quando eu olhei de volta ele sorriu e tentou me entregar seu urso.

-Olha aí Jenny, o Gabs não quer te ver triste, não precisa chorar já o Nate vem e te dá seu leite. Daí agente passeia tá legal?

Olhei pra porta e vi Nate chegando, sorri abertamente enquanto ele me pegava no colo.

-Chantagistazinha, só vem comigo quando quer alguma coisa não é?- ele brincou.

Mamei com afinco no colo de Nate até me sentir cheia e mais calma, eu odiava leite, mas já que não tinha opção...

Saímos todos da casa em direção aos carros, cada irmão mais velho guiaria seu carro e nós nos encontraríamos no shopping.

Uns quinze minutos depois os carros pararam em frente a um monte de lojinhas lindas cheias de coisinhas coloridas que na hora me fascinaram. Nate saiu primeiro do carro e me pegou no colo rapidamente, Sara demorou um pouco mais pra conseguir conciliar o carrinho de Gabriel com seu dono que não queria estar ali.

-Está com problemas Sara?-Nate brincou.

-Acho que sim, Gabriel não quer ficar no carrinho.

Olhei a cena direito e não pude deixar de rir. Gabriel grudado no cabelo de Sara pra sair dali era ótimo de se ver. Por mais que ele não estivesse totalmente consciente,seu mau gênio estava ali ativo e operante.

Ele deve ter percebido e olhou pra mim enquanto começava a rir junto. Os dois mais velhos não entenderam o porquê de nossas risadas, mais quer saber, nem eu me importava mais.

-Sabe, acho melhor botar a Jenny no carrinho também, acho mais seguro.

Nataniel me sentou de novo no carro enquanto abria o carrinho cor de rosa. Sorriu pra mim e me sentou no carrinho devagar, me encarando como se rezasse pra eu ficar ali.

-Olha aí Gabs, o que acha de cooperar como a Jenny hein?- Sara perguntou.

Gabriel me olhou e sorriu enquanto ficava sentado quieto no carrinho. Sara suspirou aliviada.

Entramos no lugar em meio a conversas e sorrisos de nossos irmãos e olhares curiosos com nossa presença. Lá dentro pude ver que eram nossa gente, vários bebês estavam ali no colo ou em carrinhos. Olhei tudo com curiosidade até que vi uma mulher me encarando com cara de besta.

-Oh meu Deus!Que neném mais fofo!É filha de vocês?-ela perguntou pra meu irmão.

-Não é minha filha, é minha irmã- ele explicou.

-Ah, explicada a semelhança então, mas que boneca é sua irmã- ele disse passando a mão no meu cabelo.

Continuamos olhando por tudo até que fomos parados por um rapaz que parecia feliz em nos ver ali.

-Hey Nate, que bom que veio!- ele exclamou alegremente- nossa, é essa sua irmã?

-É ela sim John, o nome dela é Jennifer- Nate respondeu orgulhoso.

-Oi gatinha, tudo bem?- ele perguntou enquanto brincava comigo.

Sorri pra ele abertamente, John me pareceu simpático sendo baixinho e naturalmente forte, e com o cabelo ralo e loiro.

-Cara, eu não vou agüentar,posso pegar ela um pouquinho?Que sorriso gostoso que ela tem. - ele disse sorrindo pra mim.

-Claro cara, mais cuidado viu?Ela é agitada. - Nate avisou.

John me pegou no colo rindo abertamente enquanto entrava comigo na sua loja e me mostrava tudo bagunçando as prateleiras com o que pareciam ser acessórios nela. Era tudo muito colorido e fascinante.

-Oh, john quem é essa?

Olhei pra trás e vi uma mulher com cabelos lisos e negros repicados ; vindo em nossa direção. Ela me parecia estranhamente alegre com o que via.

-Oi meu amor, essa é Jennifer, irmã do Nate. Bebê, essa é minha esposa, Alegra.

A garota sorriu ainda mais com o eu via e me tirou rapidamente dos braços de John me rodando rápido até parar e começar a me fazer cócegas, não tive como evitar gostar deles, me pareceu automático.

-Acho que perdi meu bebê aqui não é?- Nate brincou me pegando no colo enquanto abraçava Alegra.

-Oi Nate, quanto tempo, como vai?-Alegra perguntou- e como se atreve a não ter me mostrado essa coisinha gostosa antes hein?

-Chegamos faz pouco tempo Alegra; e ela não estava muito bem, mas agora está tudo bem, sabe, e vocês também podiam ter ido a minha casa, por que não foram hein?-Nate cobrou.

-Então estamos quites- John disse – olha aí o resto da minha família.

Olhei pra trás e pude ver várias pessoas vindo até nós, só não pude ver Sara e Gabriel ali.

Todos eles me encaravam, mais um em particular me fez ficar apreensiva, ele era imenso como uma montanha, me pareceu ameaçador e indestrutível,tinha uma mulher que precia mal humorada ao seu lado junto com outros dois que seguravam um "bebê" nos braços.

A garota me encarava com curiosidade explícita, tal era ela que me senti incomodada e escondi meu rosto nos braços de Nataniel.

-Olá Nate, como vai?-Perguntou o grandão- essa é sua irmã?

-É sim,Jennifer. -Nate respondeu.

-Que linda ela é!- disse a outra mulher.

-Acho que já vamos então – Nate disse parecendo tenso.

-Ah não Nate, vamos ficar assim por quanto tempo?- o grandão perguntou.

-Tchau Jeremy- disse Nate saindo comigo no colo.

Tudo foi muito rápido, Nate foi saindo, mais senti que uma mão o segurava ali.

-Cara; vamos conversar- disse Jeremy segurando seu braço com o que parecia ser força.

Olhei pra todos que agora nos encaravam e grudei em meu irmão, ele não saiu dali, olhei feio pra Jeremy que soltou o braço de Nataniel. Chorei na esperança dele ir embora dali.

-Nate, vamos- pediu Sara do lado de fora da loja.

Saímos em silêncio seguidos por olhares daquelas pessoas, entramos no carro sem Nate me dizer uma palavra ou sequer me olhar. Ele parecia irritado e se segurando pra não descontar tudo em mim.

Em casa foi tudo bem igual, não sabia o que tinha acontecido, mais por que meu irmão estava assim?Alguma coisa me dizia que era por causa daquelas pessoas.