Mudança

Cap.2 : não deu


Eu corri sem medo,me senti bem e feliz;não sabia como seria,mas esperava que fosse bom.

Enquanto corria eu escutei um carro chegando perto,me impulsionei ao limite,meu peito doía e comecei a reduzir,pouco depois eu me sinto sendo jogada no chão brutalmente,era Nataniel,que merda!pelo visto não deu.

-Você tá ficando louca?!Qual é seu problema sua mal agradecida?! -gritava ele.

-Qual é o seu problema?me solta,me deixa,ai! -eu esperneava.

-Você já me irritou demais garotinha,agora cala a boca,eu vou te prender aí e você vai ficar calada! -gritava ele enquanto me jogava na cadeira.

Eu não tinha ação,não estava acostumada a correr assim e meu peito doía muito,não consegui retrucar.Por enquanto eu estava derrotada.

-Olha garota,você tá me causando problemas demais,eu só não ligo pro pai por que a tia tá doente e ele tá super ocupado.Você não reconhece o que tem.

Sempre quis me sentir normal,ser uma adolescente que saía à noite com as amigas e tals,tentei até fazer amizade com o povo da vila,mas não deu.Perto de outros eles eram bebês,eu conhecia a maioria deles da escola normal,mas nenhum deles se falava lá,eles também não tinham coragem de resistir,sabe,eu lembro quando disse um não firme pela primeira vez...

Já estava na hora do almoço e minha mãe (pra variar)estava comigo no colo,quando ela foi me colocar na cadeira pra comer eu me levantei e gritei não com toda minha força.Meu pai silenciosamente se levantou,me pegou pelo braço e me levou até meu quarto sem nada dizer.Chegando lá ele me olhou e me deu um tapa do qual penso que dói até hoje.Pros amigos dele ele sempre diz que sou a princesa,pois bem,eu me sinto uma prisioneira aqui.

-Oh...que bom que você se acalmou,posso saber o que te deu? -Disse Nataniel reduzindo de novo,eu tive que pensar rápido,pois a mão dele não era nada leve.

-Eu vi um bicho -disse eu com voz inocente.

-Mas saiu do carro,isso não foi legal,acho que alguém aqui merece uma punição pra não me desobedecer de novo não é? -perguntou ele encostando.

Me resignei,pensei que seria fácil,mas não foi assim,eu estava tão nervosa que comecei a me sentir muito molhada,a merda da fralda tinha vazado.Foi o que bastou,essa era a solução que eu tanto odiava mas era necessária.

-Tato,me troca? -pedi baixinho olhando docemente em seus olhos mais amaldiçoando minha covardia por dentro. - Eu não faço mais -pelo menos por enquanto seu babaca!

-Promete?

-Sim.

-Viu como é bom me obedecer?tá bom,eu te troco antes que passe na sua roupa,ah!que merda Jeh,já começou,vou ter que te trocar inteira.

Ele deu a partida,não entendi nada.

-Calma que o mercado tá aqui já meu bem,lá eu te troco toda.Menina maluca,que bicho era aquele que você viu mesmo?

-Não sei direito,talvez um cachorro sei lá.

-Papai já disse que você é muito nova pra ter um cachorro bebê,você pode se machucar.

-Babaca - murmurei.

-O que?

-Da vaca tato,leite - disse eu querendo me matar por isso.

Eles colocavam no leite um negócio estranho que me deixava meio mole e sem conseguir falar,me controlar ou me mover direito.

-Agora não,depois na viagem eu te dou seu leite tá bom?

-Tá certo.

Entramos no estacionamento e ele me pegou no colo,eu ainda estava cansada da corrida e por isso não queria andar.Não tive opção a não ser aceitar.De novo.

-Chegamos,mas você não vai ganhar nada já que foi malvada -ele me provocava. -Ah,vou te levar no fraldário primeiro senão você vai ficar assada,viu como eu sou bom pra você?

Não respondi,ele só me levava mercado adentro e eu podia ver outros como eu,uns resignados,outros com tédio,não importava,era sempre a mesma coisa.Nate me colocou no trocador e foi tirando meu macacão devagar até que eu fiquei só de fralda e sutiã.Tinha um garoto do meu lado,ele estava quieto,mas parecia...diferente.

Nataniel me trocava alegremente.Que babaca.Eu só queria ver melhor o garoto que estava sendo trocado pela mulher.Do nada eu ouço um choro baixo,era ele,me enganei;ele é como os outros.

A mulher o levantou e o pôs no carrinho,o garoto era magro e de olhos claros.Era lindo,se não fosse um babaca.

Ele começou a me olhar intensamente,deu os braços para a mulher que o pegou e começou a me olhar enquanto meu irmão colocava um vestido ridículo em mim.O garoto me especulava,não dei bola,ele continuava parecendo diferente,mais desperto do que os outros mais como...eu.

Nataniel ia saindo quando virou e olhou a mulher que tinha o garoto no colo,ela era alta e parecia forte, pareceu-me que ele a conhecia.

-Hey Nate,oi essa é sua irmã? -a mulher perguntou e ele assentiu -oi sou a Sara,eu estudo com seu irmão,que linda que ela é Nate,deixa eu pegar ela um pouquinho?

-Pode pegar sim,ela é bem comportada- disse ele me beliscando na perna.

Ela colocou o garoto(que ainda me encarava)no trocador e me pegou no colo meio de lado,parecia que queria que eu dormisse.

-E aí cara,que fofa ela,ela já fala?

-Não muito -disse ele me encarando feio.

-Já o Gabs de vez em quando tem uns problemas com a boca -disse ela encarando o garoto que se encolheu-Gabs,olha aqui uma neném,ela é mais nova que você.

O garoto me olhou diretamente e eu contrinuei muda,sabia que se falasse não teria boas consequencias,o garoto desatou a falar.

-Foda-se,ela só é mais uma tapada com todos aqui.

A mulher me passou rápido para Nataniel e deu um tapa na boca do garoto que doeu até em mim,ela se desculpou e saiu.Sabe,eu admiro a coragem desse garoto,com certeza ele é...diferente.

-Viu como é feio ser assim?Agora vem,eu acho que daqui a pouco ele se comporta né bebê?E ó,não repete nada disso,que é feio - disse ele sério -você sabe que se papai souber aquilo lá vai ser refresco né?

Aquilo não sei o por que mais me deu uma coisa estranha,desatei a chorar quieta,Nataniel parou de andar e agora olhava pra mim.

-O bebê,ele te assustou?Own,não fica assim não,ele vai ficar melhor,olha só,ele já tá voltando com a tata dele,não fica assim não.

Eles voltaram ao nosso encontro e o garoto não reagia,ele me olhava om olhos vazios,e eu vi o por que,era uma coleira de choque,eles geralmente usavam isso em "crianças desobedientes", vi isso ser usado muitas vezes; meus pais fazem o máximo para não usar isso em mim,e eu faço o máximo pra não precisar.O garoto agora estava mais desperto mas não falava,só chupava chupeta quieto.

-Tá tudo bem agora viu? -Nataniel apontava para o garoto -você tem sorte de eu não ser como ela -ele me sussurrou.

Nenhuma palavra sobre o assunto foi repetida,ambos nós estávamos no carrinho calados,ele por causa do choque,e eu com medo de tomar um daqueles.Os dois pararam e nos deixaram nos carrinhos enquanto buscavm carne,ele virou e agora me encarava.

-Olha,vi que você não é assim,por que se resigna desse jeito? -ele sussurrava.

-Pra não acabar como você -eu respondi.

-Covarde - ele retorquiu.

-Eu sei -sussurrei de volta.

Nataniel mais me olhava do que prestava atenção na mulher,eu via que ele se esforçava pra não me punir,o que segundo esse povo louco eu merecia e muito.

Me distraí e comecei a ignorar o garoto,depois de hoje era melhor eu abaixar a bola um pouco.Comecei a ficar com sono enquanto Nataniel comprava o que faltava.Saímos do mercado junto com Sara e o garoto que agora ia calado.

-Que boazinha que ela é -me disse Sara.

-Você não sabe o quanto -ironizou Nataniel.

Saímos de lá e eu não conseguia tirar da cabeça todo o resto,Nataniel também não falava nada.Segundo eles minha família era liberal demais,sabe,eu entendo o garoto,se eu já me sinto presa imagine ele com uma coleira de choque coçando pra ser ativada em seu pescoço?

Sabe,pela primeira vez eu fiquei agradecida em ficar quieta.