O dia passou de forma estranha. Hannah permaneceu em seu quarto e não saiu sequer para comer. Depois de algum tempo esperando a garota, Darcy desistiu e resolveu sair para espairecer.

Preciso resolver minha situação com Anne, pensava. Eu não pretendo ter um relacionamento com ninguém. Eu até pensei que poderia... Mas o que desejo mais que tudo é voltar para o meu mundo, para o meu lugar. Eu jamais poderia abdicar da minha vida para viver a mentira que estou vivendo agora. Não posso...

Em um gesto lento e desanimado pegou o celular e fez a chamada.

— Darcy?

— Oi Anne. Tudo bem? Será que podemos nos encontrar?

— Claro que sim Willian. – Anne estava radiante.

Willian... Isso o fez lembrar de Hannah e o quanto estava magoada com ele.

— Por que você não vem até minha casa? – perguntou animada.

— Tudo bem. Pode me passar o endereço?

— Claro. É...

Alguns minutos depois Darcy seguia para o apartamento de Anne.

Enquanto isso Anne se arrumava para recebê-lo. Darcy era um ótimo partido e ela estava disposta a agarrá-lo de qualquer maneira. Quando a campainha tocou, ela correu para a porta com um grande sorriso no rosto.

— Querido, - disse ao abrir – por favor, entre. Fique a vontade.

Darcy cumprimentou com um gesto de cabeça e entrou no apartamento.

— Anne, precisamos conversar.

— Claro. Por favor, sente-se. Aceita beber alguma coisa?

Darcy sacudiu a cabeça enquanto olhava Anne. Era uma mulher absolutamente fantástica. Aquela beleza clássica que fazia os homens se virarem para vê-la e se fosse em seu próprio mundo receberia incontáveis pedidos de casamento. E era uma mulher apaixonada. Darcy não podia negar. Ele não era virgem, mas nunca em sua vida tivera uma mulher tão desinibida ou fogosa como Anne em seus braços. Mas mesmo com tantas qualidades, quando olhava a belíssima mulher a sua frente só conseguia enxergar o rosto sofrido de Hannah, seus olhos antes tão brilhantes, completamente sem vida. É culpa, pensou. Mas como que para contradizê-lo lembrou-se de Hannah com sua camiseta. Ela não tinha o corpo escultural de Anne, mas enquanto que mal se lembrava de como esta ficara em sua camiseta, não conseguia esquecer como Hannah ficara. Logo que a garota saiu para correr, Darcy foi ao banheiro e resgatou a peça do cesto de roupas. Quantas noites não dormiu com ela, apenas para sentir o perfume suave de Hannah? Algo muito diferente da sofisticada fragrância que Anne usava.

— Anne, eu sinto muito o que aconteceu noite passada. Eu acho que bebi um pouco além da conta e não agi como um cavalheiro.

Anne ficou pálida.

— Não estou entendendo Darcy. A noite passada foi excelente. Você foi um amante e tanto.

Darcy corou com o comentário impróprio.

— Não vai mais acontecer Anne.

— O quê? – seus olhos agora exibiam um brilho raivoso – Você não pode ter mudado de idéia sobre a gente só pelo que aconteceu esta manhã. Aquela menina precisa entender que você não quer nada com ela. Por favor Darcy, seja razoável.

— A Hannah não tem absolutamente nada a ver com a situação.

— E você quer que eu acredite nisso? Aposto que aquela garota mimada encheu sua cabeça contra mim. Ela é uma pirralha mimada, que não sabe com que está se metendo.

— Anne, entenda por favor. Não tem nada a ver com Hannah. Sou eu que não estou preparado para assumir um relacionamento.

— Aquela criança egoísta. Será que ela não percebe que você jamais poderia vê-la como uma mulher? Ela é baixinha, magrela, tem um cabelo tão sem graça e as roupas que veste? Parece uma garota de 18 anos. Como uma menina daquelas espera prender um homem como você? É patético.

— Você está passando dos limites. – Darcy levantou-se num sobressalto.

— Pelo amor de Deus Darcy. Será que você não enxerga o jogo sujo daquela estúpida? Você acha que ela poderia competir comigo?

— Vou pedir que deixe Hannah fora disso. – a voz de Darcy soou gélida.

— Olhe para mim querido. Eu sou uma mulher. Uma mulher de verdade para um homem de verdade. Meus cabelos são naturalmente bonitos, meus olhos são azuis e meu corpo... Nem se fala. Como você pode deixar aquele ratinho insignificante de cabelos e olhos castanhos se intrometer entre nós?

— Acabou? – Darcy não elevou seu tom de voz, porém falou de maneira tão fria e seca que imediatamente fez Anne calar.

— Você tem razão Anne. – continuou no mesmo tom – Hannah é uma garota comparada a você e toda a sua sofisticação. Ela não faz o tipo mulher fatal, diferente de você. Ela é delicada e desastrada ao mesmo tempo. É inocente, vulnerável e ao mesmo tempo é tão forte e independente. – a voz de Darcy ia mudando conforme ele falava de Hannah.

— Ora Darcy, e que homem gostaria de ter uma garotinha inocente e vulnerável no lugar de uma mulher? – indagou sarcástica.

— Eu quero os dois. – disse Darcy sem pensar – Se eu pudesse... - respirou fundo - Eu gostaria de ter os dois...

Anne olhava para ele sem entender.

— Como eu disse, Hannah não tem a sua sofisticação. Mas ela é sexy sem querer. E quando quer... Deus me ajude - murmurou lembrando-se da festa.

— Darcy...

— Não Anne, me deixe terminar. Enquanto você passou os últimos minutos denegrindo-a, ela não disse uma palavra contra você hoje. Ela não gostou de eu ter levado você para casa, o que é óbvio. É a casa dela. Mas ela não disse nada que pudesse ofendê-la. Mesmo com toda raiva e mágoa, nem a mim Hannah ofendeu. Ela se sentiu traída pela minha atitude, mas nem assim ela foi capaz de me ofender. – passou a mão entre os cabelos em desalinho.

Anne percebeu que deveria mudar sua atitude.

— Sinto muito Darcy. Acho que me exaltei. É que não entendo. A noite passada foi maravilhosa e agora você vem com essa história. Eu não entendo...

— Me desculpe Anne. Eu fui um tolo e um canalha. Eu não deveria ter me aproximado de você sabendo que jamais poderíamos ter algo sério.

— Willian...

— Não me chame de Willian. – disse raivoso entredentes – Quantas vezes terei de dizer isso? Você não tem esse direito. Ninguém aqui tem. Talvez apenas uma pessoa tivesse, mas eu já lhe neguei isso.

— Darcy, - Anne desistiu de manter a compostura – você está passando dos limites.

— Tem razão Anne. Estou mesmo. Como eu disse foi um erro o que aconteceu.

— Você... – desacostumada com a rejeição Anne mal conseguia se pronunciar – Você diz isso pela Hannah?

— Em partes.

Vendo que sua atitude magoava aquela mulher, Darcy decidiu que no mínimo deveria ser sincero. Não poderia ser jamais com Hannah, mas pelo menos uma vez poderia dizer.

— Eu estou apaixonado por ela.

Anne sentiu-se no fundo do poço. Como um homem poderia preferir aquela garota a ela?

— Apaixonado? E por que vocês não estão juntos? É mais que óbvio que ela também está.

— É mais complicado do que você pensa Anne. Eu jamais poderia estabelecer um relacionamento sério com mulher alguma. Não desejo me comprometer.

— Nem mesmo com ela? – Anne agora estava curiosa.

— Principalmente com ela. Eu não pretendo ficar aqui muito tempo. Em breve vou embora. Eu prefiro fazê-la sofrer agora acabando de uma vez com suas esperanças, que deixá-la pensar que poderemos ficar juntos e depois partir.

De repente Anne entendeu.

— Você me usou Darcy. – não era uma pergunta.

— Anne... – Darcy estava desolado, em um único dia magoara duas mulheres que gostavam dele.

— Você me usou. – Anne não conseguia acreditar – Você queria afastá-la e me usou para isso. Você sabia qual seria a reação dela ao me encontrar lá...

Anne tinha os olhos rasos de lágrimas.

— Saia daqui Darcy. Eu não quero ver você nunca mais.

— Eu sinto muito Anne.

— Agora! – abriu a porta para ele.

Anne bateu a porta com força após a saída de Darcy.