Acordei com o raio de luz que cobria parte do amplo espaço de minha cama. Espreguicei-me e observei em volta, para certificar-me de que não tinha sido apenas um sonho. Tudo estava em seu devido lugar, pelo que percebi. Reparei que não tinha colocado meu pijama. Encontrei um vestido vermelho sobre a cama. Meus olhos se arregalaram e uma pequena luzinha de esperança se iluminou dentro de mim. Era o vestido do sonho. Precisei de um momento para refletir e decidi que este era um vestido mais social que deveria ser usado em outra ocasião.

Peguei minha mala e posicionei-a sobre a cama. Abri-a e de lá, tirei meu vestido branco de cetim. Sempre em meus aniversários, meus pais me davam algo especial. Meus olhos se encheram de lágrimas novamente e resisti ao impulso de ficar deitada chorando o dia todo. Eu não quero ser apenas a pobre e patética garota órfã que tia Elisabeth tinha sido obrigada a acolher. Peguei meu lenço branco e enxuguei minhas lágrimas. Eu tinha certeza de que cada vez que usasse aquele vestido, recordaria-me de meus queridos pais. Decidi parar de refletir, do contrário não conseguiria impelir o impulso de me trancar no quarto o dia inteiro.

Vesti o vestido branco de cetim com cuidado, procurei um espelho no imenso quarto e me espantei. Eu tinha uma imensa mesa, que estava localizada sob o espelho, onde continha diversos produtos de beleza. Examinei meu vestido. Estava ótimo. Observei meus cabelos. Os cachos ruivos estavam um pouco desalinhados. Peguei minha escova de cabelos e penteei-os devagar. Estavam perfeitos. Fui procurar um banheiro. Achei um incluído no meu quarto e entrei. Pensei que nada pudesse superar meu quarto neste lugar, mas eu estava enganada. Havia uma imensa banheira, maior que minha cama, outro grande espelho, que exibia meu corpo por completo, um chuveiro, o vaso sanitário e uma bela pia com contorno de vidro.

Cheguei perto da pia e lavei meu rosto. Peguei minha escova de dente que estava na mala e escovei-os cuidadosamente. Examinei-me novamente no imenso espelho e gostei do que vi. Pronto. Agora eu estava apresentável.

Respirei fundo e abri a porta. Desci cada uma das escadas até encontrar a sala para as refeições. Tia Elisabeth estava lá, a minha espera, obviamente, pela cara que fez quando me viu.

- Olá, Rose.

-Oi.

- Achou seu novo quarto adequado, minha querida?

- Claro.

-Por que não se junta a mim para o café da manha?

Sentei. Charles veio até nós.

- Srta. Boursier, Sra. Boursier, o que gostariam para o desjejum?

- Omelete - respondi de imediato.

- Chá de camomila.

-Perfeitamente.

Tomamos o café em silêncio, até que Elisabeth interrompeu o silencio.

- Rose, gostaria de informá-la de uma regra importantíssima.

Esperei.

- Você não deve saber, mas o nosso vale tem esse nome pela Floresta La Luna.

Ergui uma sobrancelha. Não estava entendendo aonde tia Elisabeth estava querendo chegar.

- Peço que fique longe da floresta... não pergunte o motivo, só obedeça.

Assenti calmamente. Mas, no meu subconsciente, eu não estava tão calma quanto queria aparentar.

Terminamos o café no mais completo silêncio. Pedi licença, me levantei e fui procurar Charles. Tinha certeza que ele teria as respostas para minhas perguntas.

Subi as escadas calmamente, à procura do mordomo,e logo descobri onde ele estava. Charles estava no porão, limpando teias de aranha com um espanador e varrendo o pó. Decidi interrompe-lo.

- Charles.

- Srta Boursier. – respondeu automaticamente, virando-se para mim.

- Rose – corrigi.

- O que está fazendo aqui? – perguntou com um tom mal disfarçado de desconfiança na voz.

- Procurando respostas.

- Para obtê-las, é necessário fazer as perguntas.

- Por que Elisabeth não permite as idas à floresta La Luna?

Ele engoliu em seco.

- Não tenho permissão para falar sobre isso.

- Se não quer me falar, então é porque tem algo sério envolvido nisso. Charles, se não me falar, obviamente terei conclusões erradas. – respondi, desafiando-o.

- Fique longe daquela floresta. É tudo que precisa saber.

Abandonei a sala muito irritada por não ter obtido minhas respostas. Já estava me cansando disso. Nem Elisabeth nem Charles me falaram o que existe naquela floresta. Fico me perguntando se existe algo realmente perigoso lá. Não tenho como saber, já que nunca estive lá.

Mas como minha tia sabe se há algo lá e eu não? Só existem três opções para essa pergunta.

Primeira opção: Minha tia já esteve em La Luna e, por algum motivo que desconheço, não quer voltar e não quer que ninguém passe pela mesma experiência que ela.

Segunda opção: As pessoas desse vale são muito supersticiosas e tem várias lendas e mitos sobre alguma anomalia que vive naquela floresta, ou simplesmente, da floresta em si.

Terceira opção: Algum habitante dessa vila já passou por uma experiência horrível nessa Floresta e, para não ocorrer novamente, a população proíbe todos de entrarem em La Luna.

Qualquer uma das três opções tinha algo em comum: algo horrível aconteceu com alguém. Mas talvez, havia uma leve possibilidade de eu estar exagerando e não haver nada de especial naquela floresta, e tia Elisabeth, assim como Charles, sentia-se responsável por minha segurança e só estava exagerando um pouquinho quanto a ela.

Por algum motivo, não consegui acreditar nisso. Não, havia sim, algo especial em La Luna, e era completamente necessário o meu entendimento desse fato. Eu podia sentir isso.

Decidi que a única maneira de descobrir qual das minhas opções estava correta, ou qualquer alternativa, era preciso haver a minha ida à floresta. Só restava uma pergunta que não queria calar. Como eu conseguiria sair da mansão sem ser vista por tia Elisabeth ou Charles? Quero dizer, pelo que sei, tia Elizabeth sai bastante a negócios. No caso, Charles seria um problema. Caso ele me visse, logo iria informar meu passeio secreto à tia Elizabeth, e ela me ordenou claramente que mantivesse distancia da floresta.

Mas não importa. Se eu for cuidadosa, tia Elizabeth nunca vai ter conhecimento da situação. Eu disse “se”. De qualquer maneira, como estamos em época de férias não tenho qualquer desculpa para sair, e se eu pedisse licença ficaria obvio de imediato que eu iria a La Luna, com meu curioso e implicante interesse com ela.

Mas agora eu já havia me prendido a essa decisão, e nada mudaria meu ponto de vista, o mais importante que fosse.Eu iria a floresta amanha, ao entardecer. Acordaria de manhã e efetuaria os preparativos para o pôr do sol. Meu comportamento não revelará minhas intenções, eu espero.