Devia faltar uma hora ou duas até o pôr do sol, quando comecei a andar sem saber o porquê, caminhando entre as árvores, sentindo a leve brisa batendo no rosto com leveza e precisão, refrescando a mente. Deixei essa sensação percorrer por meu corpo. Até que eu vi.

Tudo o que vi até agora, nada se comparava ao que estava diante de mim. Era pequena, porém fantástica.

Estava a dez passos dela e percorri o espaço vagarosamente, desfrutando do momento. Era o meu momento. De mais ninguém.

A cada passo que me aproximava mais da campina, era como o batimento de um coração que estava adormecido há anos, agora funcionando como nunca esteve antes.

Inspirei devagar, sentindo o cheiro delicioso que vinha da campina. Lembrava-me o cheiro do início da primavera, apesar de estarmos em um inverno congelante.

Haviam dentes-de-leão brancos que cobriam toda a campina. Agora eu estava a apenas dois passos dela. Dei mais um passo. O cheiro tornou-se mais intenso, e invadiu meus pulmões, me dando a sensação de conforto e tranqüilidade.

Finalmente, dei o último passo que me levaria à campina. Enterrei meus pés nos dentes-de-leão e saí andando, triunfante, enquanto eles chegavam até o meu joelho.

Virei para o inicio da campina- por onde eu entrei- e fechei os olhos. Mais devagar do que o necessário- exagerando novamente-, abri meus braços e fechei as pernas. Respirei fundo e me joguei para trás.

Senti um friozinho na barriga, mas quando cheguei ao meu destino já havia me esquecido de qualquer sentimento desagradável em toda a minha vida.

Os dentes-de-leão fizeram leves cócegas em meu corpo. Era bom.

Um dos dentes-de-leão içou vôo. Peguei-o rapidamente e sorri. Abaixei-o para examiná-lo e depois o ergui, em um ponto que pude ver o sol se pondo devagar. Desviei minha atenção do sol e puxei o máximo de oxigênio que meus pulmões permitiam. Aproximei a pequena flor de meus lábios e o soprei, enquanto fazia o desejo de encontrar a criatura essa noite.

As pétalas longas e brancas foram subindo em conjunto, depois se separando aos poucos. Cada parta tomando seu próprio caminho. Isso me transmitiu uma sensação de liberdade.

Voltei minha atenção para a campina. Era o meu lugar especial. Eu poderia ficar lá para sempre e nunca me cansar dela.

Mas infelizmente eu tinha responsabilidades em casa. Não podia simplesmente dar as costas a tudo e esperar que desse certo. Além do mais, eu só estava na vila há três dias, e só tive um para desfrutar do meu quarto e banheiro na mansão.

De qualquer maneira, eu voltaria para cá todos os dias, quando a lua já estivesse em seu lugar de costume no céu. Eu inventaria qualquer desculpa para sair de casa e aqui permanecer por muito tempo. Não importa o preço que pagarei. Quando se quer realmente algo, e isso se torna o motivo de sua existência, não há nada que você não faça para que isso continue.