Narradora P.O.V.:

Tinham saído dos túneis, agora andavam junto com uma multidão, ninguém dava atenção a eles, mas mesmo assim Katherine não gostou de ficar tão exposta, só de ver tantas pessoas estranhas a sua volta, algumas com máscaras, lhe dava falta de ar, sentia-se encolhendo cada vez mais, mas sabia que não estava diminuindo de verdade, pois as pessoas esbarravam nela cada vez mais frequentemente.

Vendo isso Gally rapidamente pegou sua mão e a fez ficar o mais perto possível colocou sua mão entrelaçada com a dela dentro do bolso de seu moletom e Kathy segurou o braço dele com a outra para ter certeza de que não desgrudaria.

Depois de passarem pelo mar de gente, chegaram até uma parte mais calma da cidade, a frente deles diversos prédios de vários tamanhos e todos iluminados. Mesmo sabendo que aquilo tudo tinha sido construído para um objetivo tão cruel, Katherine tinha que admitir que era deslumbrante. Já tinha soltado a mão e o braço de Gally, deu alguns passos para frente, os olhos brilhando.

Gally a vendo agindo como uma criança deu um pequeno sorriso, estava distraído olhando para ela até ser interrompido pela fala de Newt.

— Estamos bem longe da clareira. – comentou também maravilhado

— É melhor sairmos das ruas. – disse Gally - Sei que é difícil, mas finjam que já viram tudo isso.

Foram andando pela cidade se esgueirando pelos cantos para não serem vistos por ninguém, até que chegaram onde queriam.

— Newt, eu te dou impulso. – disse Gally

Newt foi o primeiro a subir, Thomas era o próximo, mas não aceitou a ajuda de Gally. Katherine soltou uma risadinha que não passou despercebida pelo loiro, mas assim que se olharam ficaram sérios, rapidamente para acabar com aquele constrangimento ela apoiou uma mão no ombro dele e um pé em suas mãos, assim ela também subiu, seguida por ele.

Subiram por muitas escadas até chegarem ao lugar certo, de frente para o prédio principal.

— Ali está, se o CRUEL estiver com Minho, é ali que estão o mantendo. – informou Gally

Ele tirou um telescópio escondido e o posicionou num lugar específico.

— O Lawrence tenta achar uma entrada há anos. – disse olhando no telescópio – É entupido de soldados, vigilância para todos os lados, sensores em todos os andares.

— Parece uma fortaleza. – comentou Newt

— Bom, disse que tinha um jeito de entrar. – falou Kathy olhando para Gally – Como?

— Talvez eu tenha. – disse coçando o pescoço incerto

— Talvez? O que quer dizer com isso? – reclamou Thomas

— Dê uma olhada. – se afastou do telescópio

Thomas foi em direção ao objeto, olhou por ele e pareceu entender o que Gally queria dizer.

— Eu disse que havia uma entrada, não que você ia gostar.

Katherine olhou pelo telescópio para ter certeza de suas suspeitas, e não gostou nada do que concluiu.

— Sempre ela, sempre está envolvida, assim que estiver perto o bastante dessa cretina vou socar tanto aquele rosto de nojenta que não vai ser reconhecida.

Os três olharam pra ela com olhos esbugalhados.

— Que foi?

— Kathy sei que está com raiva pelo que ela fez, mas...

— Mas nada Thomas! – interrompeu com um tom mais alto – Depois de tudo o que ela fez conosco, o que está fazendo com o Minho, o que ela fez comigo... ainda vai defende-la?

— Talvez ela possa...

— Ainda tem esperanças nela não é? Acha mesmo que ela se arrepende do que nos fez? E não digo somente pelo que fez no abrigo do Braço Direito, mas desde o que ela fez no labirinto, antes de vocês dois serem postos lá.

Thomas não disse nada, só olhou para baixo um pouco pensativo e triste.

— Posso apostar que ela não tem nem um pingo de remorso pelo que fez com os meus amigos. – agora ela segurou no ombro dele o fazendo a olhar nos olhos

— Portanto, não me faça ter piedade de quem não teve nem o mínimo disso com os que amo.

Um silêncio constrangedor tomou conta do lugar.

— Se já acabamos aqui acho melhor voltarmos pro esconderijo.

Sem esperar resposta Katherine saiu andando pelas escadas.

Katherine P.O.V.:

Já estávamos de volta ao esconderijo do braço direito, decidimos começar a planejar tudo quando amanhecesse cada um arrumou um lugar para dormir. Deitei ao lado de Newt, estava preocupada com ele, algo estava errado e temia que minha intuição estivesse correta.

— Finalmente vai dormir depois de tanto tempo? – disse ele zombeteiro

— Ha ha ha, muito engraçado.

— Tenho que fazer o papel do Minho enquanto ele estiver fora.

Dei um sorrisinho, mas ele se desfez rapidamente.

— Você está bem mesmo, não é? – perguntei

— Estou sim.

Mesmo não acreditando muito deixei essa assunto pra lá, só fiquei ali observando os traços de seu rosto, acariciando seus cabelos, ele estava caindo de sono.

— Você tem os olhos da nossa mãe. – sussurrei

— Lembra-se dela?

— Pode parecer estranho, mas toda vez que penso nela, vejo um rosto borrado, a única coisa que consigo distinguir são os olhos, e são iguais aos seus.

— Que legal.

Newt bocejou e fechou os olhos indo para um sonho profundo.

— Bons sonhos Newtie.

Lhe dei um beijo na testa e me levantei, não iria conseguir dormir tinha muitos pensamentos me perturbando. Fiquei vagando pelo esconderijo, tudo muito silencioso, subi um dos prédios até chegar na laje, me sentei na ponta com meus pés pendendo pra fora.

Olhando as estrelas relembrei tudo o que aconteceu hoje, o incidente com os cranks no túnel que levava a cidade, as máquinas atirando nas pessoas para não ultrapassarem os muros, o nosso “sequestro” seguida pela descoberta que Gally estava vivo, meus pensamentos se detiveram ali.

Depois de tanto tempo me martirizando por tê-lo deixado no labirinto e por isso ele foi picado e os seguiu acabando por matar Chuck, depois de dias chorando sem que ninguém visse, toda a dor da saudade, da culpa, a volta dos antigos pesadelos e a chegada de novos, agora descobria que ele estava vivo, o amor de minha vida estava ali e não tinha coragem nem de olhar para ele por mais de dez segundos.

Sabia que tinha que conversar com ele, mas será que ele ainda sentia o mesmo de quando estávamos na clareira?

Balancei a cabeça e voltei a olhar para as estrelas, me lembrei de quando vi Teresa naquele prédio. Admito que possa ter exagerado dizendo que acabaria com a cara dela, mas tenho meus motivos, pelo menos um soco que eu desse nela já estaria feliz.

— Pelo jeito você ainda não dorme direito.

Dei um pequeno pulo, era Gally, estava tão concentrada que nem o ouvi chegando. Ele sentou ao meu lado na beira do prédio.

— Tive um dia agitado com muitas novidades, ainda não consegui digerir tudo. – olhei rapidamente para ele e depois me voltei para as estrelas

— Acho que... precisamos conversar. – ele disse lentamente e coçando o pescoço

— Também acho.

Olhamos um para o outro, mas as palavras não saíam. Parece que ficamos assim, em silêncio, por uma eternidade, até que ele começou a falar.

— Sobre o Chuck... consegue me perdoar?

— Gally não foi sua culpa...

— Foi sim, fui muito cabeça-dura, se tivesse ido com vocês talvez eu não tivesse sido picado e não ficaria no controle do CRUEL, Chuck estaria aqui e...

— Não foi culpa sua, tudo o que aconteceu foi por causa do CRUEL, eles fizeram isso conosco, nos colocaram lá, nos usaram como ratos de laboratório. – olhei bem fundo em seus olhos e peguei a sua mão – Eles mataram Chuck, e Ben, Alby, Clint, Jeff, todos eles, foram tirados de nós por causa do CRUEL. Não volte a se culpar desse jeito...

Enquanto olhava para ele, acariciava sua mão, podia ver que seus olhos estavam marejados, também fiquei admirando os traços de seu rosto, ele estava diferente, com um rosto mais maduro e tinha certeza que não era só por fora que tinha mudado, por dentro também, não era mais o garoto valentão da clareira.

— Senti muito a sua falta Kit Kat. – lágrimas começaram a cair dos olhos dele

Eu soltei uma risadinha com a menção do apelido que ele tinha me dado.

— Também senti a sua. Principalmente quando acordava dos pesadelos... às vezes parecia que meu cérebro esquecia que não estava mais na clareira e quando via que tudo no pesadelo tinha realmente acontecido... doía muito saber que você não estava mais lá.

— Mas agora estou aqui, não vou mais a lugar algum, prometo.

— Bom mesmo, porque você não vai sair do alcance dos meus olhos nunca mais.

Nós rimos e o silêncio voltou, mas sentia que tinha mais uma coisa que ele queria perguntar.

— Desembucha vai.

Ele suspirou fundo e começou a falar.

— O que a Teresa fez com você? Quer dizer eu entendi a parte sobre o esconderijo do Braço Direito, mas e a outra vez? Antes do labirinto.

— Algumas das minhas lembranças voltaram, uma delas foi que quando eu e Newt fomos mandados para o CRUEL, eles nos separaram e por algum motivo acharam que eu fosse especial e comecei a trabalhar para eles, como Thomas e Teresa. Mas eles tomavam muito cuidado comigo, ainda não tinham certeza que eu estava totalmente do lado deles, então depois que mandaram Alby para o labirinto eu percebi o que estavam fazendo, comecei a tentar mandar algumas crianças para o braço direito, consegui fazer isso com algumas, mas a Teresa acabou descobrindo. Ela contou para os chefões e sugeriu que me mandassem para o labirinto, mas antes de me enviarem pra lá eles precisavam saber para onde eu tinha mandado as crianças, então eles tentaram tirar essa informação de mim do melhor jeito que eles sabem, espancando.

Tive que respirar para poder continuar falando, ele percebeu que era algo difícil pra mim, virou seu corpo em minha direção e segurou minha mão entre as suas.

— Eles me bateram diversas vezes pra que eu falasse, mas não conseguiram me tirar nenhuma informação, eu não ia contar nada porque Newt estaca no grupo que mandei para o Braço Direito antes de ser descoberta, então sabia que ele estava seguro, poderia morrer ali, mas não abriria a boca, mas a Teresa conseguiu pegá-los antes que estivessem longe o bastante e me ameaçaram que se não contasse para onde os estava enviando eles o matariam, então não tive escolha... foi assim que acabei no labirinto e a origem do meu ódio por ela.

— Mesmo não gostando da Teresa, não pensei que ela fosse capaz de fazer algo assim com qualquer pessoa.

— Nós nunca nos demos muito bem, acho que ela tinha ciúmes porque eu era muito amiga do Thomas.

— Ah... então... quer dizer que vocês eram amigos...

— Não Gally, nós não éramos, nós somos amigos, e somente isso.

Agora eu olhava para ele com um olhar divertido e sorrindo, ele sempre ficou com uma cara engraçada quando estava com ciúmes.

— Posso perguntar uma última coisa? – agora ele parecia bem sério

— Claro.

— Você... ainda me ama?

Podia ver que tinha medo em seus olhos e ansiedade por minha resposta.

— Nunca deixei de te amar Gally... mesmo pensando que estivesse morto.

Aproximei-me dele acariciando sua bochecha, meus olhos alternavam entre os seus e sua boca, ele fazia o mesmo, fui chegando mais perto até encostarmos nossos lábios, os olhos fechados.

Não pensei que sentia tanta falta daquele toque, podia perceber que ele sentia o mesmo, uma das minhas mãos estava em seu pescoço e a outra passava em seu cabelo curto, ele também entrelaçava uma mão entre os meus fios e a outra estava em minhas costas para me trazer para mais perto, parecia que tinha medo que eu virasse fumaça.

Nossos lábios se encaixavam perfeitamente, timidamente pedi passagem com a língua e ele concedeu, não sei por quanto tempo ficamos assim, lentamente acariciando um ao outro, mas foi o melhor momento desde que pensei que o havia perdido.

Nos separamos lentamente, encostamos nossas testas, um pequeno sorriso nos nossos lábios. Abrimos os olhos, ele pegou meu rosto em suas mãos e começou a distribuir vários selinhos por todo ele me fazendo rir.

— Eu te amo... amo muito... muito... muito... muito... – dizia entre os beijos em meu rosto

— Eu também te amo. – respondi rindo depois que ele terminou

Voltamos para onde os outros estavam dormindo, deitei novamente perto de Newt e Gally se deitou ao meu lado, estávamos de frente um para o outro.

— Gally...

— Sim.

— Quero que saiba, que não importa o que diga, vou fazer tudo para trazer o Minho de volta e que quando invadirmos aquele lugar não vou ficar esperando aqui sentada enquanto vocês partem pra ação, não quero perder mais ninguém. – sussurrei

— Eu já imaginava isso, nunca pensei ao contrário, você sempre estava envolvida nos problemas. – ele riu

— Não tenho culpa se sou tão atraente para eles. – nós dois riamos agora, bem baixinho

— É melhor você dormir agora.

Ainda estava apreensiva por causa dos pesadelos, e ele percebeu.

— Não se preocupe, dessa vez estamos juntos, mesmo que os pesadelos venham, temos um ao outro.

Assenti e cheguei mais perto dando um último beijo antes de deitar no peito dele, enquanto caia no sono ouvindo as batidas de seu coração, ele acariciava minhas costas, sentia como se fossem os velhos tempos na clareira, pela primeira vez em meses finalmente não fui atormentada por pesadelos.