Momentos Com Gally

Estou morta (Traz ele de volta 2)


Acordei com luz em meus olhos. Meu corpo estava dolorido, um dos meus braços estava com um curativo. Tinha levado um tiro de raspão.

Por 1 segundo pensei que tudo não passou de um sonho, mas ao lado da cama improvisada em que me encontrava estava a faca que tinha tirado do corpo do meu irmão.

Era tudo verdade. Newt tinha morrido. Eu não consegui salvá-lo.

Encarando aquela arma, meus olhos começaram a ficar molhados, não demorou muito para as lágrimas começarem a cair sem parar e minha visão ficar embaçada.

Me lembrei do dia anterior, ou melhor da madrugada, quando chegamos àquele lugar e insisti que enterrássemos meu irmão. Eu disse que mesmo que ninguém quisesse me ajudar eu mesma cavaria e faria todo o processo.

Mas parece que eu não era a única que não dormiria tranquila se não fizesse isso por ele. Os garotos me ajudaram e quando terminamos só lembro de ficar ajoelhada na frente de sua cova chorando.

Gally deve ter me trazido pra cá e garantido que cuidassem de meus ferimentos.

Ouvi alguém entrar na tenda, eu estava de costas, mas reconheci pela voz.

— Kathy... – era Gally

Me virei para ele ainda chorando. Gally se aproximou e deitou comigo. Minha cabeça se apoiou em seu peito, meus punhos fechados com sua camisa. Ele me abraçava e tentava me consolar passando as mãos por minhas costas. Não sei quanto tempo fiquei ali, mas quando me afastei havia uma grande parte da camisa dele que estava molhada.

— Desculpa... – eu disse passando a mão pelo molhado

— Não tem problema. Sente dor em algum lugar?

— Tudo dói... mas meu coração é o que está pior... – eu disse com voz embargada

— Eu sinto muito Kathy... – ele acariciou meu rosto – Nem consigo imaginar o que você está sentindo... Newt era um dos meus melhores amigos...

— Eu gritei com Thomas... eu acusei ele... disse que ele era culpado... não devia ter feito isso...

— Ele vai entender, você estava fora de si, era compreensível você reagir assim. Pode pedir desculpa pra se sentir melhor.

— A culpa foi minha Gal...

— Não fale assim Kit Kat...

— Mas, é verdade... Minho deveria ter levado o soro, ele é mais rápido do que eu... ele teria chegado a tempo...

— Kathy, você estava correndo mais rápido que qualquer corredor que eu já vi na clareira, nem Minho estava conseguindo te acompanhar... a culpa não é sua... Newt já devia estar se transformando, e acabou daquele jeito... a culpa não é sua...

— Eu estou morta Gally... – sussurrei

— Kathy...

— Newt era a pessoa mais importante pra mim... e agora ele se foi... minha vida acabou quando ele se foi...

— Kathy, olha pra mim... – ele pegou meu rosto para encará-lo – Eu sei que Newt era muito importante na sua vida, afinal, ele era seu irmão, mas você não está sozinha... não está Kathy... Newt não iria gostar de te ver assim... eu perdi muitos amigos, perdi Newt que era como meu irmão... não posso perder você também Katherine... – ele também começou a chorar – Por favor Kathy, eu te amo... não posso viver sem você...

Dessa vez eu que tentei consolá-lo. O abracei muito forte, seu rosto ficou na curva do meu pescoço enquanto eu acariciava seus cabelos.

— Sei que vai sentir falta dele, e que ainda vai chorar muito de saudades, mas Newt não iria gostar de te ver assim pra sempre... sei que está machucada, mas não desista Kathy, por favor...

— Vou tentar Gal... por ele... por você... pela nossa família...

Depois de mais um dia de choro, eu já estava em condições de sair daquela tenda e socializar com os garotos. Estava ansiosa para ajudar em qualquer coisa. Não direi que já estava conformada com o que aconteceu, nem que não choraria mais, mas eu não podia ficar parada. Newt iria querer que eu lembrasse dos bons momentos e guardasse ele com carinho no meu coração.

Meu coração ainda estava quebrado, mas Gally e os outros me ajudariam a colar os pedacinhos, e as lembranças de Newt seriam a minha cola.

Depois de 2 dias que tínhamos chegado ao Refúgio Seguro, Thomas finalmente acordou. Eu estava ajudando Gally, quando o avistei ao longe andando, cheguei perto quando Minho o estava abraçado. Ele percebeu a minha presença e se afastou um pouco de Minho.

Eu me aproximei até fica a sua frente.

— Kathy... – disse com a voz rouca de falta de uso – Me desculpe...

Antes que ele pudesse continuar eu pulei em cima dele o abraçando muito forte.

— Desculpe pelo que fiz...

— Não, não não... – eu o interrompi – Não foi sua culpa Tommy, me desculpe pelos horrores que eu disse... sinto muito mesmo... Newt gostava muito de você...

— Ele tinha muito orgulho de você...

Nos afastamos e sorrimos um para o outro, mesmo com lágrimas nos olhos, mesmo com os corações apertados, sabíamos que juntos as coisas iriam melhorar.

— Nós percorremos um longo caminho juntos. Muitos se sacrificaram para tornar este lugar possível. Seus amigos e sua família. Então, isto é para aqueles que não puderam estar aqui. Isto é para os amigos que perdemos. Este lugar é pra vocês. É tudo para nós. Mas aquilo, aquilo é pra eles. Portanto, no seu tempo, do seu jeito, venha fazer a sua paz. E bem-vindos ao Refúgio Seguro.

Este foi o maravilhoso discurso do Vince. As palavras dele foram muito bonitas, fez com que eu sentisse que ainda havia esperança em mim.

Mesmo que eu tivesse perdido tantas pessoas, muitas também entraram na minha vida, mas mesmo assim não me esqueceria daqueles que se foram e um dia eu não sofreria tanto como ainda sofro agora. Minhas cicatrizes iriam cicatrizar, mas ainda levaria tempo, eu ainda não estava pronta para aceitar a paz.

Fiquei observando as pessoas a minha volta. Todos com um copinho na mão, conversando, sorrindo, dando risada... parecia a clareira, mas com mais pessoas, principalmente garotas. Tínhamos até nossa querida fogueira.

Gally e Caçarola eram os que mais pareciam animados com aquela fogueira, eles conversavam e lembravam de momentos na clareira, Gally estava pensando em voltar a fazer sua bebida misteriosa, eu não sei se concordava com isso...

Vi Minho e Thomas um pouco afastados e acenei para eles, que o fizeram de volta. Eu ainda não conseguia ser aquela garota determinada e faladeira de antes, falei bem pouco esses dias, mas eles me entendiam e não tentavam me apressar.

Quando Minho se juntou a nós começamos a conversar sobre nossa época na clareira. Os meninos começaram a zoar o Gally com o quanto ele parecia um cachorrinho carente quando eu não tinha tempo pra dar atenção pra ele. Eles até me revelaram as vezes em que ele comentou sobre mim e até relembrei a vez que Caçarola tinha quase me visto tomando banho e o Gally quase o encheu de pancada.

Foi um momento gostoso, até dei boas risadas.

Chegou um momento que vi Gally se afastar, fiquei só observando, talvez ele precisasse de um momento sozinho. Ele se aproximou da pedra que Vince tinha mostrado mais cedo, eu sabia o nome que ele esckjyreveria.

Assim que vi que ele tinha acabado e só estava limpando e encarando o nome eu me aproximei e o abracei por trás.

— Tá bem? – perguntei na sua orelha

— Agora sim.

— Ele gostava de você, sabia? Mesmo você sendo ranzinza, ele admirava a sua força.

Gally soltou uma risada fraca e olhou para as ferramentas nas suas mãos. Eu o abracei mais forte, passei a mão por seu peito para tentar aliviar a dor que devia estar sentindo, dei um beijinho em seu pescoço e senti seu cheiro.

— Ele teria orgulho de quem você se tornou. – eu sussurrei

— Obrigado... vai escrever também? – disse me oferecendo as ferramentas

— Ainda não posso ficar em paz com Newt, mas... tem outra pessoa que eu preciso deixar ir...

Me aproximei da grande pedra e comecei a escrever.

Chegando nas últimas letras as ferramentas já estavam tremendo por causa de minhas mãos e eu nem tinha percebido que tinha segurado o ar até soltá-lo quando terminei. Limpei o pó do nome e me afastei até encostar no peito de Gally e ele me abraçar como eu tinha feito. Ficamos observando os nomes que cada um tinha feito.

Chuck

George

— Ele também ficaria orgulhoso de você... – disse no meu ouvido

— Você nem o conheceu... – disse confusa

— Não estava falando do George.

Newt

— Acha mesmo? – perguntei

— Com toda a certeza. E ele não seria o único, todos os garotos estariam. Assim como todos nós aqui estamos.

Deixei as ferramentas no lugar delas e me virei para ele. Como sou mais baixa, abracei sua cintura e coloquei o rosto em seu ombro enquanto ele abraçava os meus.

Depois de um tempinho ele se afastou um pouco e fez com que o encarasse. Olhou nos meus olhos, depois os lábios, os olhos de novo... acariciou minha bochecha e então, me beijou.

Foi delicado e sem pressa. Queríamos aproveitar cada segundo que nos foi roubado, mas nosso paraíso foi interrompido, adivinha por quem.

— Kathy!

Se você pensou Thomas, eu te devo uma bebida do Gally.

Ele se aproximou de nós como se não tivesse nos interrompido, e apesar de Gally parecer estar furioso, ele não disse nada.

— Kathy, eu... só queria te dar isso. Newt pediu que eu entregasse, mas como fiquei desacordado só lembrei agora quando Minho me devolveu...

Ele me entregou um cilindro minúsculo amarrado a um cordão.

— Obrigada Tommy...

Ele assentiu e voltou para junto dos garotos. Percebi que o objeto tinha uma tampa, tirei a e vi que tinha um papel ou vários lá dentro. Era uma carta.

— O que é? – perguntou Gally

— Algo que eu ainda não estou pronta pra ver. – disse guardando aquilo no bolso da calça

— Bom... dê tempo ao tempo. – disse ele – E... onde estávamos antes daquele mértila aparecer? – disse me abraçando de novo

— Hum... sabe que eu esqueci? Que tal você me ajudar a lembrar fazendo tudo de novo, desde o começo?

— Acho que posso fazer isso, mas... em um lugar que não tenhamos interrupções.

— Concordo plenamente.

Peguei sua mão e comecei a correr pela praia até chegarmos numa parte em que não nos achariam tão fácil.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.