Ele me olhou e não disse nada, e eu, por algum motivo, não conseguia me levantar. Ficamos nos encarando por alguns segundos, até eu cair em si e me levantar rapidamente de seu colo, me sentando em devido meu lugar.

Justin limpou a garganta e disse: - Presta atenção por onde anda garota! – passou as mãos pelo cabelo. Parecia nervoso.

- Não vê que eu não cai de propósito? – disse apertando meu sinto. – Se não reparou, estamos numa turbulência... – logo uma outra onda de turbulência nos atinge e eu seguro no assento, procurando apoio.

Depois da turbulência, no nosso setor, pediram para apagarem as luzes, o que facilitou para pegar no sono. Mas eu não estava com sono. Não podia mexer no celular, o que estava me deixando entediada.

Peguei o fone, encaixei em minha cabeça e liguei a pequena TV a minha frente. Havia vários filmes para escolher, mas nenhum de meu agrado. Desliguei a TV e suspirei frustrada.

- Você poderia estar tendo altas conversas com sua amiga... Mas preferiu a minha companhia... – disse ele debochado. – Por que não admite que me ama?

Ah, que insolente! Como pode debochar de mim assim?

- Se você soubesse o que sinto por você, nem passaria do meu lado, pra não correr o risco de eu esfolar sua cara no asfalto! – disse mal humorada e peguei minha coberta para se cobrir, já que fazia um pouco de frio. Ele riu claro.

Passando um tempo, notei que ele tremia de frio, pois o inútil estava sem blusa e procurava algo dentro da mochila.

- Droga! – exclamou.

- Eu divido com você, se quiser...

- Não, obrigada...

- Então passe frio, ué... – debochei.

- Não vou passar frio! Esqueceu que eu tenho uma namorada? E que ela com certeza, trouxe a minha coberta? Porque ela é muito atenciosa, linda...

- Já foi lá ver?! – disse com raiva. Que garoto idiota, eu não quero e não preciso saber o que ele acha dela.

Ele se levantou e caminhou até o assento de Victória. Não demorou muito e ele voltou com a cara fechada.

- Ela esqueceu na mala... Droga... – se senta com raiva no assento.

- Desculpa, mas eu ri. – disse rindo da cara dele. – Pensei ter ouvido você dizer que ela era atenciosa. – ri de novo.

- Fica na sua! – bateu com o cotovelo em meu braço de leve.

- Ah... – fiz cara de indignada. – Posso te processar por agressão sabia?

Ele me olhou e ficou me encarando por alguns segundos como se eu fosse alguma tonta e logo soltou um riso.

- Já te disseram que você é doida? – perguntou.

- Não que eu me lembre. – rimos. Era até estranho nós dois rirmos juntos da mesma coisa.

- Victória não é assim... – disse baixinho, mas eu ouvi!

- O que? – perguntei para ter certeza.

- Ela é fechada, na dela. Não gosta de muito contato, muita brincadeira... É um saco. Muito nojentinha com tudo...

- Uau, falando mal da sua própria namorada, justo para a sua inimiga mortal?!

- Se você abrir o bico para alguém, eu esgano você!

- Tá, sei... – ri. – Ah, como essa coberta é boa... Quentinha... – disse me aninhando mais na coberta e colocando os pés em cima do assento.

Logo ele me olha e suspira.

- Está bem... – disse ele e eu sorri vitoriosa.

Não que eu quisesse dividir a coberta com ele, talvez eu quisesse um pouco, mas a questão é que ninguém merece passar frio, é uma das piores coisas, e ainda teríamos umas longas horas pela frente. Não tenho o coração tão frio assim.

Abri mais minha coberta e dividi com ele, mas era pequena demais para ir de um lado a outro, então ele ergueu a divisória dos nossos assentos, fazendo com que o mesmo se tornasse praticamente um só e chegou mais perto de mim, fazendo a coberta nos envolver por completo.

Ao lado dele, senti uma paz de espirito tão grande. Por mim, viajaria o ano inteiro nesse avião, desde que ele estivesse comigo.

Justin começou a respirar ofegante.

- Você está bem? – perguntei o encarando.

Ele apenas me encarava naquele meio escuro que estava no avião. Ele foi chegando mais perto, podia sentir sua respiração pesada bater contra meu rosto, mas eu não conseguia afastar. E então, quando sinto seu lábio tocar o meu, tudo pareceu parar. Literalmente. Um flashback passou por minha mente, e eu entendi que não importa o que eu faça, meu coração será para sempre dele e que eu tenho de parar de perder tempo! Eu tenho que lutar pelo que eu quero! Eu quero ele, e eu vou ter!

Os pelos de meu corpo se eriçaram assim que ele passou a mão lentamente pela minha nuca, um arrepio me subiu a espinha e investi no beijo, fazendo o mesmo de calmo, se tornar apressado e preciso. Nos beijávamos como se não houvesse amanhã. Não me importava com quem pudesse nos ouvir, nos ver, nos xingar. O que importava naquele momento era nós dois, juntos novamente.

Nos separamos por falta de ar e ele me olhou.

- Isso nunca aconteceu! – disse sério, tentando regular sua respiração.

- Nunca... – concordei segurando o riso.

Não demorou muito e ele soltou um riso nasalado e eu o acompanhei. Ele tem que ser meu novamente!

....

- Demi? – me chacoalhava Sylwia. – Vamos? Vai ficar aqui no avião? – perguntou.

- O que? – perguntei incrédula, olhando em volta. Todos já estavam saindo. – Ah, vamos...

NÃO PODE SER! FOI UMA PORRA DE UM SONHO AQUELE BEIJO? QUE DROGA! QUE DROGA! QUE DROGA!

- Demi? – chamou Dom. – Está bem?

- Sim! – respondi seca. Não podia acreditar que aquele beijo fora um sonho.

- Íh... a viagem te deixou mal humorada, hein? – constatou Sylwia.

- Muito! – exclamei andando na frente.

Pegamos o ônibus que estava nos esperando na frente do aeroporto e partimos para o acampamento. Estava novamente sentada ao lado de Matheus. Na verdade, me sentei num banco sozinha, já que Sylwia se sentou com Dominik. Então ele ficou me procurando no ônibus, e claro que eu estava abaixada, escondida e quando ele me achou, ele se sentou ao meu lado e perguntou se estava me escondendo dele. Disse que não obvio e agora ele não para de falar e eu estou quase dando um beijo de verdade nessa boca linda que ele tem!

Meu Deus, o que estou pensando?! Não posso desejar duas pessoas ao mesmo tempo! Demetria, o que você está fazendo?!

Fiquei quieta o resto da viagem e quando chegamos, foi maravilhoso o ar que aquele lugar tinha. Havia cavalos, eu amo cavalos. Aquele era o lugar perfeito para eu conseguir pensar no rumo que eu tenho que tomar em minha vida.

Entramos e arrumamos nossas coisas em nossos chalés. Infelizmente Victória e uma amiga dela, chamada Missy iriam ficar comigo e com Sylwia. Que sorte a nossa!

Dominik iria ficar com Justin e mais dois garotos, um deles sendo namorado de Missy.

Tomamos um banho e fomos jantar. No hall, Matheus chamou nossa atenção novamente.

- Então, galera, como fomos os primeiros a chegar, amanhã eu quero que Demetria e Justin vão na entrada receber os outros. E o resto de nós, vamos preparar um luau com direito a fogueira e tudo. Depois quando vocês dois voltarem com os outros, se dirijam, apenas os dois, para a beirada da praia que é para aquele lado. – disse apontando com a mão. – Cada sala terá suas “festinhas”. Por exemplo, o luau de amanhã, é uma festa particular nossa, da nossa sala. Caso alguém de outra sala queira ir para a festa de outra classe, tem que pedir ao professor responsável e se ele concordar, podem ir. Caso contrário, se contentem com a festa designada a vocês. No nosso último dia aqui, terá uma superfesta e a classe ganhadora das competições, ficará responsável por organizar a festa. E a classe ganhadora, irá ganhar uma viagem de uma semana para Bahamas.

Todos vibraram. A ideia parecia ótima.

Terminamos nosso jantar e fomos cada um para seu chalé, descansar da viagem cansativa que tivemos.

Estava deitada na cama com Sylwia, conversando. Havia duas camas, uma do lado da outra e duas meio que penduradas na parede, para ter acesso a elas, tinha que usar uma pequena escada que havia no canto superior da mesma. Nós ocupamos as duas de escada.

Logo ouvimos alguém bater na janela. Victória correu feliz em direção a mesma e abriu, vendo quem batia. Era Justin, o namorado de Missy e Dominik.

- Dom?! – exclamou Syl indo até a janela.

Eu fiquei em minha cama, e eles ficaram conversando sobre algo, pareciam estar resolvendo alguma coisa. Logo Syl volta.

- Demi, se importa se eu for com eles, dar uma volta com Dom? – perguntou.

- Claro que não, Syl. Vai lá. – sorri. – Tenho que ligar para minha mãe mesmo. – menti.

Assim que as meninas pularam a janela, me deitei na cama relaxando o corpo cansado pela viagem e deixei que minha mente vagasse para longe, em meio a um bilhão de pensamentos.