Capítulo Dois.

Eu não sei o que deu errado, realmente não sei, mas acabei sendo posta num barco minúsculo ao lado de um semideus que tem o ego maior que os peitorais tatuados e com um galo que possui tendências suicidas. Não sei quantas vezes pulei no mar cristalino para salvar esse galo da morte, e novamente ele avançava em direção da beirada...

— Vem cá princesa, esse galo realmente não é comida? Ele está achando que é.— debocha Mauí me olhando de esguelha enquanto estava em pé perto do mastro, virado para o horizonte. — Sinceramente ele vai acabar te matando algum dia. —. “É, eu tenho essa consciência”. — Penso encarando o galo magro de olhar vazio.

—Mas então, Mauí — Pronuncio seu nome de forma dificultosa, apenas para provocar. — Qual é a sua? Quer dizer, eu sei da história, do roubo e tudo mais, mas... porque não pediu para os seus amigos deuses tirarem você daquela ilha? — A curiosidade devia estar visível em meus olhos, já que ele, após longas horas mirando o mar, fazendo piadinhas e cantarolando alguma música sobre agradecimentos, ele finalmente se virou para mim, me dando a visão de seu rosto de queixo anguloso e rechonchudo enquanto me analisava, lhe dando uma aparência séria demais. — Bom, digamos que eles não são muito meus fãs depois do que eu fiz, provavelmente acharam uma boa ideia eu passar um tempo lá para refletir, não tenho como saber já que não tenho contato a décadas mas acho que é isso. — Diz e novamente se vira, olhando para o céu que começava a ficar estrelado. — Estamos quase chegando, consegue ver aquela ilha com uma grande montanha no horizonte? ­— Pergunta se inclinando para o lado e apontando para um pequeno ponto escuro — Ali é a entrada para Lalotai, bem ali no alto... — Divaga enquanto me esforço para diferenciar a fina névoa do que ele queria me mostrar. Quando finalmente consigo ver, percebo que é realmente grande e não fazia a menor ideia de como iríamos escalar aquilo, Maui com certeza pensou algo parecido já que no segundo seguinte estava perto de mim com um jeito convencido — Opa, princesas não escalam e nem lutam contra caracóis xexelentos, você vai ficar aqui cuidando do nosso querido galinho — diz enquanto finalmente nos aproximávamos consideravelmente da ilha que parecia exalar perigo e por um segundo realmente achei que ela emitia um brilho roxo doentio em sua névoa — “Lalotai realmente é aqui.” — Pensei enquanto sentia um leve arrepio que começava a ser relativamente frequente desde que sai de Motunui para embarcar nessa jornada que por mais arriscada que fosse, meu ser a almejava e era por isso que eu iria até o final.

Essa montanha barra entrada era realmente maior do que eu imaginava, com várias pedras pontiagudas formando um tipo de escada primitiva onde a escalada era necessária. Enquanto Maui puxava o barco pela encosta da ilha, eu pulava para olhar mais de perto enquanto protegia HeiHei de uma possível morte envolvendo aquelas pedras que pareciam gritar “Perigo, se afaste!”, coloquei-o numa pedra perto da areia que considerei área segura enquanto Maui se aproximava com alguns grãos e colocava perto do galo para o entreter.

—Então... Maui, como vamos subir até lá? — Perguntei como não queria nada, já que sabia que ele não queria que eu fosse. — O que? Escalando aquelas pedrinhas ali e... Espera, eu vou e você fica aqui, tenho mais experiência com essas coisas do que você, princesinha. — Debocha enquanto sinto o sangue subir para minhas bochechas, dou as costas e começo a minha tentativa de escalar, enquanto escuto uma risada e percebo que ele está escalando também, já que passa do meu lado arqueando uma sobrancelha e mandando um beijinho no ar, enquanto literalmente saltava de uma pedra para outra. —“Que músculos e que força, ele realmente não é humano” — penso enquanto vejo ele subir até o topo em questão de segundos. Me esforço mais para conseguir o alcançar quando vejo uma mão estendida para mim, a pego e me sinto ser alçada para cima enquanto reprimo um grito pelo susto.

—Então, você conseguiu. Vamos entrar logo nisso pois quanto antes entrarmos mais rápido sairemos, — Diz enquanto me olha, após alguns segundos trocando olhares percebo que nada aconteceu e suspiro —Certo, e agora? O que precisamos fazer? — E a resposta a seguir me fez perder a cor do rosto de tão inesperada — Ah, agora eu só preciso do seu sangue — Diz como se o que precisasse fosse um simples fio de cabelo. — O que? — Eu realmente achei que fosse morrer, ele me olhou de uma forma que não sei explicar, mas senti o famoso arrepio que me acompanhava desde que saí de perto da minha família. Engoli um suspiro exasperado quando notei as feições duras se amaciarem e ele começar a rir. — O que é? Você realmente achou que eu ia te sacrificar? Você só precisa sair de cima da porta, querida princesa — Diz como se fosse óbvio. —“Mas de quê porta ele está falando? ” — Penso enquanto me afasto para perto de uma das bordas, não vendo nada no chão de pedra. Após eu pensar isso vejo ele assoprar o chão... sim, assoprar, um sopro tão forte que poderia me jogar de lá de cima fácil se eu não estivesse longe e após o vento sessar consigo ver desenhos no chão, formando um círculo perfeito que mais parecia uma boca de monstro pronta para nos engolir. Logo Maui entrou no centro do círculo e começou um tipo de ritual que consistia em uma dança engraçada e alguns gritos, no final de seu último grito escuto um barulho vindo do chão, um leve terremoto nos atinge e sinto o buraco se abrir, realmente formando uma boca cheia de dentes afiados e Maui olhar para mim, enquanto sua tatuagem que apelidei de Mini Maui fazia gestos para me aproximar do buraco e logo entendi o que eles iriam fazer, — “Não, não, não! Eu não vou pular lá dentro. Eles são loucos, eu tenho certeza..., mas e se eu não for? E se algo der errado? Que Te Fiti me ajude” — Penso enquanto vejo ele pular rindo e finalmente me jogo de olhos fechados no buraco escuro com o brilho levemente roxo fluorescente que vi ao redor da ilha mais cedo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.